Evidências do papel dos fonemas no ensino de crianças

Evidências do papel dos fonemas no ensino de crianças

Desenvolver a leitura e a escrita de uma criança depende muito do quanto ela aprende sobre o som das letras – os fonemas. Quem traz essa evidência científica é o Alexandre Lucas de Araújo Barbosa, mestre em Fonoaudiologia especializado em Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Lucas é um dos pesquisadores do Laboratório de Linguagem Escrita, Interdisciplinaridade e Aprendizagem (LEIA), que entre outros tópicos estuda também a importância do desenvolvimento da oralidade para o aprendizado de leitura e escrita. Conversamos com ele no SSSR 2019, evento alfabetização no Canadá com especialistas do mundo todo.

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No próximo vídeo, no Blog da Escribo vamos falar sobre como a pesquisa do Lucas foi posta em prática e de que forma vem refletindo na educação das crianças que ele acompanha. Toque no sininho ao lado e assine as notificações para ficar por dentro das principais novidades. Até mais!

#EvidênciasEscribo: descubra os contrastes entre os ensinos público e privado no Brasil

#EvidênciasEscribo: descubra os contrastes entre os ensinos público e privado no Brasil

A partir de hoje, você conhece aqui as #EvidênciasEscribo, uma série de descobertas interessantes sobre a realidade das redes de ensino pública e privada no Brasil. Esse estudo é parte da pesquisa de Américo N. Amorim, doutor em Educação pela John Hopkins University. O estudo foi feito com 749 estudantes de 62 turmas localizadas em cinco cidades diferentes.

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Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)
Equipe de professores(as) leva em consideração minhas ideias
Diretor(a) sempre avisa quando surge curso de aperfeiçoamento

Carga horária semanal numa mesma escola
Participo das decisões relacionadas com meu trabalho
O diretor me anima e me motiva para o trabalho

Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)

*Fonte: Prova Brasil 2017. **Fonte: Amorim, 2018.

Na nossa pesquisa, metade dos(as) educadores(as) das escolas privadas pede a cópia de texto toda semana. Os números são bem diferentes na rede pública: de acordo com a Prova Brasil 2017, cerca de 51% dos profissionais trabalha atividades de cópia todos os dias enquanto 32% adotam a prática semanalmente.

Será que as crianças aprendem mesmo com os exercícios de copiar? Quais informações realmente se convertem em aprendizado? Os dados da pesquisa sugerem que enquanto muitas escolas públicas focam nas tarefas de cópia, as particulares tendem a ampliar o leque de estímulos às crianças.

Por experiência, podemos afirmar que nossos filhos aprendem com mais facilidade quando as aulas trabalham diferentes aspectos com estímulos audiovisuais (por exemplo, vídeos, imagens, contação de história), práticos (música, dança) e lúdicos, como por exemplo os jogos educativos do Escribo Play.

As atividades de cópias podem ser úteis quando não são atividades meramente mecânicas: elas precisam fazer sentido para a criança, estar contextualizadas e adequadas à proposta pedagógica da escola.

Equipe de professores(as) leva em consideração minhas ideias

*Fonte: Prova Brasil 2017. **Fonte: Amorim, 2018.

Na rede pública, cerca de 37% das entrevistadas acredita que as equipes de professores sempre levam em consideração as ideias propostas em reuniões, além de ações cotidianas. O número sobe para 48% entre os professores da rede privada que enxergam suas ideias como sempre bem-vindas.

Assim como é importante para as crianças viver em comunidade, os números provam como é indispensável que os professores estimulem entre si o senso de coletividade. Equipes que constroem juntas planos para o futuro tendem a criar estratégias pedagógicas mais assertivas e com mais resultados satisfatórios.

Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)

Nas escolas públicas, a pesquisa constatou que para 33% dos entrevistados o(a) diretor(a) sempre informa os(as) professores(as) sobre as possibilidades de aperfeiçoamento profissional. Esses diálogos sempre ocorrem para 46% dos entrevistados de escolas particulares.

*Fonte: Prova Brasil 2017. **Fonte: Amorim, 2018.

Esse é um dado interessante para os gestores escolares porque indica duas coisas: primeiro, é um lembrete de que profissionais qualificados podem ser mais produtivos e portanto mais satisfeitos com o cotidiano escolar.

Segundo, uma formação atualizada pode gerar resultados positivos e facilitar o aprendizado das crianças. Portanto, é essencial que tanto escolas públicas quanto particulares se empenhem em manter uma comunicação aberta sobre as oportunidades de aperfeiçoamento dos professores e coordenadores.

Carga horária semanal numa mesma escola

*Fonte: Prova Brasil 2017. **Fonte: Amorim, 2018.

Cerca de 28% dos entrevistados de escolas privadas trabalham mais de 40h numa mesma escola, por semana. O número cai para 7% na rede pública. O cálculo considera horas acertadas em contrato (horas-aula e horas destinadas a atividades).

Para nós da Escribo, professores(as) com jornadas menores podem organizar as atividades diárias/semanais da forma mais adequada às suas realidades, o que gera mais qualidade de vida para os professores, maior rendimento e reflete de forma positiva no aprendizado das crianças.

Participo das decisões relacionadas com meu trabalho

*Fonte: Prova Brasil 2017. **Fonte: Amorim, 2018.

As escolas públicas seguem no caminho certo: cerca de 46% dos(as) professores(as) da rede afirmam poder decidir e definir ações ligadas ao trabalho realizado no dia-a-dia. Em comparação, o sentimento é compartilhado por 30% dos(as) educadores(as) de escolas particulares.

É interessante que o(a) professor(a) tenha voz no processo decisório. Porém, também é importante que o(a) profissional saiba escutar as sugestões e o direcionamento dos profissionais de coordenação e direção, que são mais experientes e podem ajudá-lo(a) a aperfeiçoar as suas práticas de ensino e aprendizagem.

O diretor me anima e me motiva para o trabalho

Em escolas da rede pública, cerca de 35% dos entrevistados afirmam que, nesta escola, a diretoria se empenha em motivar a equipe de professores(as). O número de profissionais animados sobe para 63% nas escolas privadas.

Além da necessidade do incentivo à capacitação, já citada, também é importante oferecer uma estrutura de apoio às propostas de aula do educador, acompanhar as suas atividades e necessidades e estimular a liberdade de ensino – afinal de conta, cada professor(a) tem uma sensibilidade e estilo únicos de ensino.

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Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

É com orgulho que anunciamos a chegada da Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia! Lançada em maio de 2019, a Revista é especializada na divulgação de artigos científicos sobre processos de aprendizagem, inovações educacionais, jogos educativos e o papel deles no aprendizado das crianças da educação infantil e do ensino fundamental. O primeiro volume já está no ar.

Com uma linguagem acessível a todos, publicamos pesquisas e sínteses de evidências científicas sobre o aprendizado disponíveis nos mais prestigiados periódicos científicos do mundo, que antes não eram lidas no Brasil por serem em inglês e usarem termos muito técnicos.

Assim, a nova geração de educadores cursando licenciaturas, pedagogia, psicologia cognitiva e áreas afins têm acesso facilitado a uma bibliografia atualizada através da nossa Revista. Dessa forma, buscamos oferecer o estado da arte das pesquisas de diversas disciplinas que se relacionam com o campo da educação e do aprendizado, especialmente a neurociência, psicologia, computação, design e educação.

Fique à vontade para “folhear” os conteúdos, citar os artigos na sua pesquisa ou até mesmo submeter a sua própria produção. Acesse a Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia em escribo.com/revista. 😉

Alfabetização no Brasil: O que deve ser levado em conta nas intervenções para melhoria do aprendizado

Alfabetização no Brasil: O que deve ser levado em conta nas intervenções para melhoria do aprendizado

Neste texto, vamos resumir e analisar os fatores que contribuem com o insucesso na alfabetização, indicando quais deles podem ser objeto de intervenções de gestores educacionais e professores. Boa leitura.

Pontos principais
Pais:
não deixem de participar da vida escolar dos(as) filhos(as): como reforço ao aprendizado, frequentem eventos escolares e cultivem o hábito de leitura junto às crianças.
Professores:
é importante se avaliar e entender de que forma os hábitos (leitura, motivação, sensação de adequação, por exemplo) de quem ensina reflete no aprendizado das crianças. Isso deixa as turmas mais próximas aos(às) professores(as).
Gestores escolares:
procurem, sempre que possível, atentar para a estrutura da escola (materiais educativos, salas, banheiros) e estar sempre próximos dos(as) alunos(as). Esse envolvimento favorece o sucesso das atividades em aula.

O fraco desempenho dos(as) estudantes em leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental é um sério problema para o sistema educacional brasileiro. Segundo as avaliações nacionais [1]:

  • 66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
  • 85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.

Esse problema também chega ao ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. É dentro desse contexto que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os alunos do ensino fundamental no Brasil.

O fracasso no aprendizado de leitura e escrita, uma questão estudada por várias disciplinas

A perspectiva histórica

Os livros de alfabetização das séries iniciais podem ser de grande importância para entender os baixos níveis de desempenho dos alunos. Esses livros surgiram por volta de 1890 e muitos professores ainda os utilizam como o seu principal guia – um reflexo dos embates metodológicos que ainda ocorrem no campo da alfabetização [3].

Desde 1980, o paradigma educacional mais importante no Brasil é o construtivismo, que foi fortemente promovido pela academia e pelo governo até 2018. Infelizmente, com base no pressuposto de que os alunos devem construir seus conhecimentos, uma grande parte dos educadores brasileiros esquece de dar atenção especial a concepção e planejamento das experiências didáticas que irão oferecer aos seus alunos [4]. Essa deficiência pode ser uma das razões que explica a falta de um método de alfabetização que seja reconhecido como efetivo nos anos iniciais [4]. Dentro deste contexto, a abordagem fonética começou a se proliferar depois dos anos 2000. Seus críticos, no entanto, dizem que é muito mecânica e não torna as crianças cidadãos alfabetizados e letrados [3].

Antropologia e o “jeitinho” na educação

Uma análise antropológica nos leva a crer que certos(as) professores(as) usam o “jeitinho brasileiro” quando deveriam adotar, por exemplo, práticas de letramento. Eles fingem estar de acordo e parecem ensinar pelo viés do letramento mas, na verdade, faltam componentes essenciais para uma proposta letrada. A pesquisa etnográfica revelou um processo desanimador em que professores e escola segregam alunos que não atendem aos padrões de comportamento e desempenho [5].

Raça, classe, gênero e sua influência no ensino

A perspectiva sociológica fornece uma visão interessante sobre a desigualdade socioeconômica e racial que ainda afeta os(as) alunos(as) dos anos iniciais. Também revelou o fato de que o censo brasileiro não é um instrumento confiável para avaliar a alfabetização porque é baseado apenas na resposta “sim” ou “não”. Em vez disso, futuros estudos devem se concentrar em dados de avaliações nacionais para avaliar a situação racial, socioeconômica e as lacunas de aprendizagem.

Relações entre educação e a economia

O aprendizado na educação infantil, o histórico familiar e o envolvimento dos pais são os principais fatores que influenciam o desempenho durante a alfabetização [6]. Enquanto isso, as famílias analfabetas experimentam alguns benefícios excepcionais quando seus filhos aprendem a ler e escrever, incluindo melhorias na saúde e na renda [7].

Leia mais

Artigo: Desenvolvimento cognitivo, Vygotsky e o aprendizado na alfabetização.
Artigo: Pedagogia, alfabetização e letramento nas escolas brasileiras, evolução histórica Artigo: Progressão automática + exclusão escolar oculta: duas das principais causas do baixo nível de aprendizado na alfabetização.
Artigo: desigualdade social, alfabetização, letramento e a importância da avaliação nacional de alfabetização.
Artigo: Escrever, desenhar e brincar, fontes indispensáveis de aprendizado
Artigo: Investir na educação é transformar a realidade das famílias brasileiras

Principais fatores dos baixos níveis de alfabetização

Escola, família, professor e aluno foram as quatro dimensões identificadas para organizar causas e fatores ligados aos baixos níveis de aprendizado de leitura e escrita na alfabetização.

Visando demonstrar potenciais ações que podem ser conduzidas por gestores educacionais e professores, fizemos uma classificação das causas que contribuem com o baixo nível de aprendizado. O nível de importância para cada fator foi atribuído de acordo com uma regra simples: o que influenciava diretamente a aprendizagem tinha grande importância. Fatores de segunda ordem, como a contribuição do(a) diretor(a), tinham importância moderada. Duas características foram observadas para definir se um fator tinha resultados interessantes em menos de um ano letivo (acionável): o tempo de resposta e o custo da intervenção.

A Escola

A primeira dimensão é a escola, que inclui um fator que não é acionável facilmente: a infraestrutura física fraca (falta de banheiros e salas de aula adequadas). Apesar disso, dois pontos são acionáveis. O primeiro é uma administração frágil, com diretores pouco engajados e pouco hábeis [8]. O segundo envolve materiais escolares inadequados de baixa qualidade ou em falta; jogos infantis, quadros brancos e tecnologias educacionais. Em um país onde a formação de professores é tida como deficiente em pedagogia, os livros didáticos e tecnologias educacionais podem desempenhar um papel relevante nas atividades em sala, indicando que esse é um fator importante [9].

A Família

A segunda dimensão é a família. Aqui, um ponto muito importante não é acionável: pobreza e baixo capital social. Quase 82% das famílias de estudantes brasileiros vivem com menos de R$ 2.364 por mês [10]. A falta de formação também tem importância moderada – 56% dos pais não concluíram o ensino médio [10]. Há inclusive uma forte influência do desempenho escolar da mãe na conquista inicial da alfabetização de seus filhos [11]. Infelizmente, mudar a realidade das famílias não é viável em curto prazo pensando na maioria dos gestores escolares e professores.

Outro fator moderado é o pouco envolvimento dos familiares com a vida escolar das crianças. No Brasil, 39% dos pais frequentam apenas alguns eventos escolares e 18% simplesmente não frequentam. Há também pais que se importam, mas não sabem como colaborar com a alfabetização de seus filhos. Um dado comparativo sobre essa questão é que apenas 42% dos pais lêem livros no país. Desses, 63% lêem a Bíblia. Apenas 17% deles lêem  jornais diários e 5% lêem revistas [10]. Isso demonstra que a maioria das famílias não exercita a leitura nem a linguagem escrita todos os dias. Nesse sentido, as políticas públicas poderiam incentivar os pais a lerem para seus filhos antes de ingressarem na escola, mesmo que os pais sejam analfabetos e não dominem a língua escrita [11].

O(A) Professor(a)

A terceira dimensão, o professor, inclui fatores acionáveis ​​de importância moderada: pouca consciência sobre os próprios conhecimentos [12], pouca motivação e baixa autoeficácia [13]. Em último, vêm as suas fracas abordagens de ensino, nas quais há uma enorme distância entre o que é dito e o que é visto na prática em sala de aula. Especialmente quando se fala sobre a criação de atividades que viabilizam que os(as) alunos(as) dos anos iniciais do ensino fundamental usem a escrita no seu cotidiano social (letramento). Nos anos seguintes, fica evidente que a leitura e a escrita não são parte da vida dos alunos. A razão para a dificuldade em promover hábitos de leitura entre os estudantes pode vir do estilo de vida do(a) professor(a), já que 37% deles(a) nunca lêem e 18% raramente lêem [14].

Professores(as) brasileiros(as) perdem muito tempo disciplinando estudantes, o que deixa menos tempo para o ensino em si [11]. Isso pode apontar para métodos pedagógicos falhos, mas também pode estar ligado ao baixo envolvimento das famílias no processo [10]. Outra descoberta triste foi a tendência entre os professores dos anos iniciais brasileiros de culpar a pobreza, a falta de motivação dos estudantes e o envolvimento da família como as principais razões para o baixo desempenho escolar [15]. Como já foi citado, esses fatores podem de fato contribuir para as dificuldades do(a) aluno(a), mas há educadores que usam esses argumentos para esconderem deficiências e se oporem às iniciativas de transformação das suas instituições em escolas eficazes.

O(A) Aluno(a)

Um fator acionável moderado é a falta de habilidades metacognitivas. Um treinamento específico poderia ser feito para melhorá-las na alfabetização e nos demais aprendizados [16]. O último fator é altamente significativo e acionável, que é a baixa motivação e autoeficácia do(a) aluno(a). A maioria dos(as) desistentes disse que a razão principal para terem abandonado a escola era a falta de motivação [17].

A falta de sucesso do(a) aluno(a) na alfabetização, nos anos iniciais, leva ao fracasso nas séries seguintes [6]. Além disso, filhos de famílias carentes que têm acesso a um computador em casa apresentaram maiores taxas de aproveitamento [6]. Isso quer dizer que esses(as) estudantes têm níveis mais altos de autoeficácia e motivação [18]?

Para concluir, a Tabela 1 abaixo resume todos os fatores identificados. Existem três fatores acionáveis ​​de grande importância: materiais de aprendizagem inadequados, abordagens de ensino fracas e motivação e autoeficácia inadequadas do aluno. Esses fatores podem ser atacados por gestores e educadores que estejam planejando mudanças em suas instituições e práticas de ensino-aprendizagem.

CategoriaFatorAcionávelImportância
EscolaInfraestrutura física inadequadaNãoModerada
Gestão e engajamento fracosSimModerada
Material de ensino inadequadoSimAlta
FamíliaPobreza e baixo capital socialNãoAlta
Falta de formação educacionalNãoModerada
Baixo engajamentoSimModerada
Professor(a)Fraca motivação e autoeficáciaSimModerada
Baixas habilidades metacognitivasSimModerada
Abordagens de ensino fracasSimAlta
EstudanteCapacidades metacognitivas ruinsSimModerada
Má motivação e autoeficáciaSimAlta

Referências

[1] Qedu. (2015a). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em:  http://goo.gl/R6BX3w

[2] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD

[3] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: Contribuições para metodizar o debate. Acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.

[4] Mortatti, M. D. R. L. (2006). História dos métodos de alfabetização no Brasil. Proceedings from Seminário alfabetização e letramento em debate. Brasília, DF: MEC. Disponível em: http://goo.gl/PvNsh8

[5] Picetti, J. S., & Real, L. M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares no processo de alfabetização.Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.

[6] Costa, L. O., Loureiro, A. F., & Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.

[7] Ribeiro, F. G., & Carraro, A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.

[8] Ribeiro, F. G., & Cechin, L. A. (2012). As externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.

[9] Falsarella, A. M. (2013). O gestor escolar em meio a discursos contraditórios: Formação docente e desempenho dos alunos. Colabor@, 8(30).

[10] Saviani, D. (2009). Formação de professores: Aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, 40, 143.

[11] Ibope (2014). Atitudes pela Educação. Disponível em: http://goo.gl/OOxhLt

[12] Fuller, B., Dellagnelo, L., Strath, A., Bastos, E. S. B., Maia, M. H., de Matos, K. S. L., … & Vieira, S. L. (1999). How to raise children’s early literacy? The influence of family, teacher, and classroom in northeast Brazil. Comparative education review, 43, 1-35.

[13] Portilho, E. M. L., & Dreher, S. A. S. (2012). Categorias metacognitivas como subsídio à prática pedagógica. Educação e Pesquisa, 38(1), 181-196.

[14] Ibope (2009). A educação vista pelos olhos do professor. Disponível em: http://goo.gl/S0rtgy

[15] Qedu (2015b). Respostas dos professores. Disponível em: http://goo.gl/0EqYYH

[16] Davis, C. L. F., & Miranda, M. I. (2012). Problemas de aprendizagem na alfabetização: Contribuições da pesquisa-ação escolar. Educação e Filosofia, 26(51), 289-312.

[17] Monteiro, C. R. (2010). A aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. Cadernos de Educação, 35, 271-302.

[18] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília, DF: Fundação Getúlio Vargas.

[19] Couse, L. J., & Chen, D. W. (2010). A tablet computer for young children? Exploring its viability for early childhood education. Journal of Research on Technology in Education, 43(1), 75-96.


Artigo: Investir na educação é transformar a realidade das famílias brasileiras

Artigo: Investir na educação é transformar a realidade das famílias brasileiras

Olá! No artigo de hoje, vamos discutir os investimentos em educação nos anos iniciais do ensino fundamental e quais resultados eles geram nos(as) alunos(as) ao fim do período de alfabetização (3ª série). Ele também faz parte da minha produção para o doutorado na Johns Hopkins University.

Pontos principais
Pais:
o investimento na educação infantil e nos anos iniciais traz ganhos duradouros na vida da criança.
Professores:
quando você desenvolve um bom trabalho de alfabetização, a vida das famílias de seus alunos de baixa renda melhora significativamente.
Gestores escolares:
dedique seu tempo a fortalecer o aprendizado na educação e nos anos iniciais para melhorar a renda e a saúde das famílias de seus estudantes de baixa renda.

Quando o assunto é a educação brasileira, é preciso analisar a fundo o baixo desempenho no aprendizado de leitura e escrita na educação básica. De acordo com avaliações nacionais [1]:

  • 66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem atingir o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
  • 85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.

O problema também atinge o ensino superior, que de acordo com algumas estimativas conta com 50% de estudantes analfabetos funcionais [2]. Vamos analisar alguns aspectos econômicos do ensino no Brasil.

Educação e Economia: dois lados de uma mesma moeda

Para começar, vamos olhar para os investimentos nas escolas. O governo brasileiro ampliou os gastos no ensino público nas últimas décadas. De 2005 a 2013, a despesa média por estudante do ensino fundamental aumentou em média 11% ao ano [3].

Infelizmente, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) melhorou apenas 4% ao ano durante o mesmo período [4]. Isso deixa uma série de questões em aberto. Por que a qualidade no ensino evolui menos que o investimento? Devemos destinar mais recursos à alfabetização? O que acontece quando o(a) aluno(a) começa a aprender a ler e escrever com mais facilidade? Esses resultados ocorrem de imediato ou somente quando os(as) alunos(as) ficam adultos(as)?

Pesquisadores investigaram se o baixo desempenho nos primeiros anos de alfabetização afeta diretamente a qualidade da educação básica como um todo [5]. Eles queriam saber se os alunos que não aprenderam a ler e escrever no tempo esperado reprovavam mais vezes que os outros. Estes alunos terminam ficando em turmas com colegas muito mais novos, fato chamado de “distorção de idade-série”. Esse é um problema sério na educação pública brasileira.

Em 2004, apenas 16% dos(as) alunos(as) do segundo ano do ensino fundamental estavam alfabetizados no Ceará, um dos estados mais pobres do Brasil. Para tentar resolver esse problema, o governo estadual criou o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic). Após uma análise econômica com dados do Paic e outras fontes [5], pesquisadores concluíram que:

  • o analfabetismo está pesadamente ligado à distorção de idade-série;
  • os alunos que não atendem aos padrões esperados para a faixa etária geralmente não são brancos, são do sexo masculino e vivem em áreas rurais;
  • crianças que viviam sem as mães tinham maiores chances de serem analfabetas;
  • a presença do(a) aluno(a) nas aulas da educação infantil têm influência positiva no aprendizado de leitura e escrita;
  • alunos(as) que moravam em casas com computadores tiveram maior aproveitamento.

Outra abordagem interessante é estudar de que forma o desempenho do(a) aluno(a) interfere na manutenção da família – por exemplo, em relação à renda familiar, alimentação e saúde familiares.

O programa Bolsa Família, por exemplo, foi objeto de um estudo [6] que concluiu que, nas famílias cujos adultos são analfabetos, o bom desempenho do(a) aluno(a) nos estudos pode aumentar a renda familiar. As famílias que tinham pelo menos um aluno alfabetizado recebiam 10,96% mais do que as famílias com crianças analfabetas.

Outra pesquisa [7] identificou que em famílias com pelo menos um membro alfabetizado, os analfabetos apresentam até 9,5% menos chance de serem fumantes, um dado relevante para a saúde pública.

Leia mais

Artigo: Escrever, desenhar e brincar, fontes indispensáveis de aprendizado

Status social, educação e família

Os primeiros anos de alfabetização de fato são críticos para o desenvolvimento do(a) aluno(a), pois afetam as próximas etapas do aprendizado [5]. Também ficou claro que os bons resultados na alfabetização estão diretamente ligados ao aproveitamento do(a) estudante na educação infantil, seu histórico familiar e a presença e participação dos pais em todo o processo.

Outro ponto interessante é que os(as) estudantes que moram em casas que possuíam computadores tiveram maiores taxas de aproveitamento [5]. Embora isso dê a entender que a tecnologia está ajudando essas crianças, também é possível que as taxas maiores ocorram porque as famílias têm um status socioeconômico mais alto e, por isso, podem comprar computadores. Os próximos passos seriam verificar se, nos dias de hoje, essas descobertas seguem verdadeiras e checar os índices do uso de computadores, celulares e tablets por crianças.

Uma ótima notícia é que as crianças alfabetizadas ajudam diretamente às famílias de baixa renda a receberem melhores salários [6]. Para essas famílias, os resultados de uma educação de qualidade acontecem a curto prazo. Aparentemente, ter alguém alfabetizado em casa permite que os trabalhadores mais pobres, com o passar dos anos, tenham melhores informações sobre as oportunidades de emprego e aprendam a negociar com seus futuros empregadores.

Um dos principais e mais curiosos avanços é a saúde da família quando um de seus membros é alfabetizado [7]. É gratificante para os(as) educadores(as) ter a confirmação de  que investir nos primeiros anos de alfabetização ajuda a melhorar tanto o presente como o futuro das famílias carentes. Outro ponto a ser visto é descobrir se há uma relação entre a formação de professores, seus salários e o desempenho dos(as) alunos(as).

Seria interessante descobrir também como outros tipos de investimentos na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental refletem na alfabetização dos(as) alunos(as). Por exemplo, todos os anos, o governo nacional compra aproximadamente R$ 385 milhões em livros didáticos para alunos do primeiro ao terceiro ano.

Com base em uma pesquisa feita nos Estados Unidos [8], podemos colocar a seguinte questão: qual o impacto real que esse investimento causa no aprendizado aqui no Brasil? Vale a pena investir todos estes recursos em livros? Quanto os alunos que recebem bons livros aprendem a mais?

Por fim, vale ressaltar que possuímos um ensino privado muito próspero, que representa 21% dos(as) estudantes do país, sendo a maior parte deles(as) de famílias de classe média e alta [1]. Em média, os alunos da escola particular do primeiro ao quinto ano têm desempenho 26% melhor do que os alunos das escolas públicas em avaliações externas. No ensino médio, essa diferença é de 37%. Alunos de escolas particulares estão entre os melhores nessas avaliações e frequentam as melhores universidades.

Seria interessante comparar esses dois grupos de escolas (públicas e privadas), contrastando seus recursos (por exemplo, professores, históricos familiares, infraestrutura, materiais pedagógicos e tecnologias aplicadas) e o desempenho dos alunos. Essa abordagem pode nos apontar ideias erradas que podem estar presentes na mentalidade brasileira e nos ajudar a desvendar o que precisamos fazer nas escolas públicas para garantir que toda criança possa atingir as metas de aprendizagem.

Referências

[1] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil. Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w

[2] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD

[3] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2015). Investimento público direto em educação por estudante em valores reais, por nível de ensino. Retrieved from: http://goo.gl/KDRc5j

[4] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Taxa de aprovação, Prova Brasil, Ideb e projeções. Retrieved from: http://goo.gl/5KJcnT

[5] Costa, L. O., Loureiro, A. F., & Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.

[6] Ribeiro, F. G., & Cechin, L. A. (2012). As Externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.

[7] Ribeiro, F. G., & Carraro, A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.

[8] Coleman, J. S., Campbell, E. Q., Hobson, C. J., McPartland, F., Mood, A. M., Weinfeld, F. D., et al. (1966). Equality of educational opportunity. Washington, DC: U.S. Government Printing Office.



5 avanços da Política Nacional de Alfabetização

5 avanços da Política Nacional de Alfabetização

Olá! Tudo bem? Temos uma ótima notícia. Instituída na última quinta-feira (11), a Política Nacional de Alfabetização (PNA) vem com a proposta de combater os índices de analfabetismo no Brasil – tanto para quem não saber ler nem escrever (absoluto) quanto para quem tem baixa capacidade de leitura e compreensão (funcional). Segundo dados da Prova Brasil, 66% dos alunos brasileiros terminam o ensino fundamental sem o aprendizado mínimo desejado para a Língua Portuguesa. Nesse contexto, listamos cinco grandes avanços do documento – e outros dois que merecem a nossa atenção.

1. Incentivo ao uso de evidências científicas

A PNA deixa muito claro, já no primeiro artigo, que vem para melhorar o aprendizado de leitura e escrita com base em evidências científicas, assim teremos projetos que valorizem as descobertas feitas através de pesquisas. Poderemos criar estratégias que otimizem os recursos para alfabetização e tragam resultados mais efetivos para o aprendizado das crianças, como ressaltado pela especialista em políticas educacionais Ilona Becskehazy.

2. Escolas são livres para se adequar à PNA

A PNA institui que não é obrigatória: os municípios e demais entes governamentais poderão aderir à política se julgarem que os programas e projetos serão benéficos para suas escolas e estudantes.

3. Liberdade para escolher o método de alfabetização

Outro ponto positivo é que o documento não impõe que as escolas adotem um método de ensino específico. Pelo contrário, ela valoriza os vários métodos e indica os principais tópicos que devem ser trabalhados através deles para fortalecer o aprendizado das crianças. É uma maneira de respeitar a proposta pedagógica de cada rede escolar.

4. Abordagens reconhecidas no mundo todo

A Política Nacional de Alfabetização dá ênfase a seis tópicos essenciais para a alfabetização: consciência fonêmica; instrução fônica sistemática; fluência em leitura oral; desenvolvimento de vocabulário; compreensão de textos e produção de escrita. Com reconhecimento no mundo inteiro, os componentes trazem consensos científicos atuais sobre as melhores práticas educacionais para se aprender a ler e escrever desde a educação infantil.

5. Metas e avaliações de aprendizagem serão a regra

Em relação à implementação da PNA, os projetos que serão apoiados por ela terão metas claras de aprendizagem, o que é muito importante para que sejam efetivos. Ela também vai privilegiar o desenvolvimento e o uso de instrumentos de avaliação para acompanharmos a evolução dos alunos e se eles estão caminhando para atingir os objetivos.

O que vem por aí

Conforme notado pela educadora Claudia Costin, não existem menções direta à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no documento. Na visão de Ilona, o detalhamento dos objetivos de aprendizagem e demais detalhes da política ainda serão divulgados e devem contemplar a Base.

A política também define o uso de materiais didáticos de forma ampla, e nos próximos documentos serão especificados tanto os mais tradicionais, como livros e jogos tangíveis, como o uso de tecnologia (jogos digitais, por exemplo). Esses materiais digitais deverão estar aprovados pelo Guia de Tecnologias Educacionais, lançado pelo Ministério da Educação em 2018.

A Política Nacional de Alfabetização é o primeiro passo para fortalecer o aprendizado de leitura e escrita. Agora, é preciso que a sociedade – escolas, cientistas e empreendedores – se mobilize para desenvolver, implementar e avaliar projetos que sejam efetivos para as crianças. É hora de executar.

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