por Americo N. Amorim | mar 24, 2015 | Geral
A professora Adriana Gandin trabalha em disciplinas de pós-graduação focadas em alunos que, em sua grande maioria, são professores que buscam uma experiência positiva com a tecnologia educacional para que possam coordenar projetos com recursos tecnológicos em seu dia a dia dentro da sala de aula.
Durante sua docência nas disciplinas “Planejamento e Avaliação Institucional e da Aprendizagem” e “Tecnologias da informação e da comunicação em educação”, Adriana percebeu que formar professores para a inserção de tecnologias digitais na sala de aula é um desafio para a educação no país – e uma necessidade.
Segundo ela, a maioria dos seus alunos-professores não se sentia a vontade com o mundo tecnológico que se apresenta. Porém, a docente sempre acreditou que é possível aproximar professores da tecnologia, pois não é só de discursos e leituras que vem o aprendizado.
1) Autoconfiança para lidar com a nova geração
Adriana percebeu que após pagarem suas disciplinas voltadas para tecnologia na educação, os alunos-professores desenvolveram um aposta mais segura e se sentiram animados e aptos a fazer suas próprias buscas de novas ferramentas tecnológicas, de forma que não pararam de se aperfeiçoar.
Dessa forma, eles se sentem mais encorajados a sustentar projetos, utilizar apps e sites em suas aulas, o que lhes aproximou dos seus alunos, já que os jovens de hoje são nativos digitais.
2) Democratização do aprendizado
Tornar a educação algo acessível para todos é uma gratificação enorme para os professores e, com a especialização em tecnologia, alguns alunos de Adriana vivenciaram essa realidade.
Uma de suas alunas afirmou que a tecnologia está propiciando aos educandos uma interação, uma troca de informações e gerando uma cooperação no momento em que se compartilha o conhecimento, até mesmo o conhecimento social e interacional.
3) Autonomia e novos horizontes na sala de aula
Com o conhecimento adequado das ferramentas de tecnologia educacional, o professor pode ter mais autonomia para inovar em suas aulas, sem depender somente de livros, criando novas possibilidades de aprendizado multimídia.
As oficinas e projetos da pós-graduação facilitam a promoção de atividades práticas e de novas vivências através de ferramentas da web, como sites e aplicativos. Tudo isso empodera o profissional e os faz reconhecer os recursos tecnológicos como aliados próprios e não inimigos de seu trabalho como docente.
4) Múltiplas ferramentas pedagógicas
Uma vez que o professor domina recursos e novas possibilidades de interação digital, sua aula fica ainda mais rica, indo além do quadro branco e apresentações de slides. Pode parecer difícil, e a realidade é que muitos professores ainda não utilizam ferramentas tecnológicas por falta de conhecimento, mas depois que aprendem não deixam de usar.
A dica é dar-se uma chance de nunca parar de aprender e descobrir novas formar de compartilhar o conhecimento e vivenciá-lo na sala de aula.
5) Construção coletiva e compartilhamento
A utilização de ferramentas tecnológicas com atividades práticas ajudam a capacitar mais facilmente os professores em formação. A vivências melhora, possibilitando comunicar, estudar, armazenar, compartilhar e agilizar o seu trabalho no dia a dia, indo além de apenas passar conteúdos. Essa comunicação integrada é uma facilitadora do conhecimento, que quando compartilhado facilita a vida de quem ensina e de quem aprende.
“Já é fato que o método tradicional está com os dias contados. É um processo sem volta. Educação e tecnologia estão cada vez mais unidas em prol do conhecimento e é fundamental que o educador também esteja sempre atualizado, não só em relação à tecnologia. No mundo globalizado, o conhecimento tem de ser multidisciplinar”. –Marise Bocchi
O que você acha de se especializar em tecnologia educacional?
Nós, da Escribo, estamos preparando uma iniciativa focada no uso de tecnologias educacionais na sala de aula. Você gostaria de fazer parte desse processo?
Adoraríamos ouvir de você, com comentários e sugestões de ementa! Para participar, basta deixar suas informações nesse formulário rápido e entraremos em contato com você em breve.
Até mais!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 20, 2015 | Geral, Gestão escolar
O grande desafio para as escolas atualmente é se destacar entre tantas opções e driblar a competitividade do mercado, de forma que possa atrair pais e alunos.
- Como garantir que sua escola seja considerada uma boa opção pelas pessoas região?
- O que você responde para os pais quando eles perguntam por que deveriam escolher sua escola?
- Como convencê-los de que eles podem confiar na sua proposta?
Nos ramos da indústria, do comércio, nas instituições de caridade e em alguns setores de universidades privadas, as questões acima existem há muito tempo e seus departamentos de marketing trabalham duro para respondê-las. Para essas organizações, marketing não é só sobre divulgar a marca e organizar eventos.
Existe uma abrangente pesquisa por clientes em potencial e uma investigação sobre suas necessidades e desejos por trás da forma como eles comunicam suas mensagens. Mensagens essas que são efetivamente comunicadas por uma vasta gama de métodos, desde as redes sociais e websites à encontros realizados pessoalmente com líderes e investidores locais.
Mas o problema é que as escolas não conseguem se adaptar aos preceitos do marketing por alguns motivos, como o tamanho da empresa, falta de experiência e também devido aos livros clássicos de marketing não serem de fácil adaptação para a realidade das escolas.
Lidar com pais, alunos e estudantes é um desafio bastante específico. Para isso, existe um modelo específico que deve ser considerado: o Ciclo de Marketing.
Créditos: Simon Hepburn
Criado pelo especialista Simon Hepburn, o Ciclo de Marketing para Escolas é um modelo prático que pode ajudar os gestores tanto em focar no que realmente importa para a comunidade escolar quanto para comunicar isso.
O ciclo do marketing serve como um checklist, para que você possa conferir se os rumos do seu projeto de marketing escolar estão no lugar certo, e principalmente se você está direcionando-os para o lugar certo.
Em que ele consiste?
Destrinchando o Ciclo de Marketing
1. Pesquisa de Marketing
Começando de baixo, o primeiro passo é identificar quem são os pais “público alvo” e então descobrir o que eles esperam de uma escola. Pense também nos futuros pais, aqueles que você ainda quer conquistar. É fácil deduzir coisas nessa área, mas realmente ajuda se você entrevistar e elaborar questionários com pontos-chaves e analisar suas necessidades e expectativas. Você deve também perguntá-los como descubriram sua escola e por quê.
2. Conhecendo as necessidades do marketing
O que sua escola faz que supre as necessidades dos pais que você espera prospectar? E mais importante: o que você ainda não faz? Escolas podem cometer o erro de deixar passar formas simples de atrair mais alunos – coisas como mudar a rota do ônibus escolar para atender mais alunos ou adicionar mais modalidades esportivas para contemplar alunos-atletas, por exemplo.
3. Desenvolver uma mensagem para a marca
Imagine que você tem dez segundos para falar da sua escola para futuros pais em poucas palavras. Não conseguiu? É hora de rever sua mensagem. As escolas tendem a repetir jargões: que cuidam de seus alunos, educam para o futuro, unem tradição à modernidade, entre outros. Essas ideias fazem sentido, mas o ideal é que o diretor ou gestor consiga dizer o que a escola representa em apenas algumas palavras, que aja como slogan baseado em algo completamente único.
4. Mostrar resultados
Escolher uma escola para seus filhos pode ser uma das mais importantes decisões na vida de um pai ou mãe. Apesar de um bom slogan ou um belo website chamarem a atenção primeiramente, não serão eles que farão os pais matricularem seus filhos na escola. Eles querem provas e histórias reais que comprovem a qualidade da escola e como ela pode ajudar seu filho a atingir suas aspirações.
Para uma escola é imprescindível que as histórias de sucesso e os resultados de seus alunos e ex alunos dêem credibilidade àquela mensagem citada no passo acima. Dê aos pais a chance de conhecer a estrutura tão encantadora que você divulgou no site, os casos de sucesso de ex alunos que agora estão no mercado de trabalho, as conquistas dos times de esportes em ligas regionais, os projetos que deram certo.
5. Usar a mídia a seu favor
Uma vez que as histórias de sucesso estão garantidas, é hora de mostrá-las ao público. Comunique-as para a comunidade escolar e para os futuros pais de acordo com a pesquisa de marketing que você fez no passo 1: direcione as histórias para a mídia que os futuros pais vão ler. Quais os lugares que ele frequenta para que você deixe panfletos e posters lá? Quais os canais de televisão eles assistem? Quais as mídias sociais eles acessam? Seja prático e objetivo.
6. Garantindo o engajamento
O último passo é uma continuação do primeiro: é sobre como você vai levar os pais além do interesse pela escola até a matrícula de fato. Escolas precisam manter contato com os pais, e ajudar prontamente qualquer pessoa que se interessar pela sua proposta, seja num evento ou ocasião casual. A divulgação através de pessoas, na oralidade, pode ser tão efetiva quanto propagandas.
Confira dois artigos do blog da Escribo que podem lhe ajudar nesse passo:
Vamos formar uma grande rede de colaboração entre gestores no país.
Já testou alguma estratégia semelhante ao ciclo de marketing? Conte pra gente!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 19, 2015 | Geral, Gestão escolar
Créditos da imagem: Fotolia
Indisciplina. Faltas. Desinteresse. Conversas paralelas. Essas características são recorrentes nas suas turmas?
Se a resposta for sim, fica claro que é preciso mudar alguma coisa nesse cenário.
Geralmente os alunos que passam pelas situações acima são alunos distraídos, que já carregam esse problema em outras esferas da vida. Basta um pássaro pousar na janela que a aula inteira já foi arruinada para ele.
Mas é possível fazer esses alunos participarem ativamente das aulas – e não é difícil.
Primeiro, vamos identificar algumas coisas:
- Será que o problema está apenas no conteúdo?
- O que você pode estar fazendo errado?
O problema não reside no conteúdo, mas na abordagem. É possível fazer os alunos distraídos se sentirem estimulados com qualquer conteúdo se este for abordado de maneira assertiva, lúdica e interessante.
A chave aqui é captar a atenção e o interesse. E talvez seja aí que a maioria dos professores peca.
Créditos: naturallyhealthyparenting.com
A questão é que essas situações são comuns, mas fáceis de resolver. Ainda assim, pouca gente sabe sair do famoso “feijão com arroz” nas salas de aula.
Com o guia abaixo, iremos simplificar em alguns passos como você pode engajar os alunos distraídos usando tecnologia:
Os 3 passos para engajar alunos distraídos
Créditos: Annie Tritt for The New York Times
1) Criar aulas atrativas
Eu tenho certeza que todo professor cria sua aula com carinho e esmero. O problema é que muitos não percebem que os alunos dessa geração se distraem muito mais facilmente devido ao grande número de estímulos advindos do século XXI.
Alunos dessa geração são empurrados para diversas atividades extracurriculares para “ocuparem seu tempo”, não brincam mais na rua e não têm o que fazer em casa. Essa realidade nova (e não necessariamente boa) deve ser pensada na hora de criar as aulas.
Mas o que atrai essa nova leva de estudantes?
Pesquisadores da Uneb investigaram que jogos e videogames são algumas das ferramentas mais atrativas para crianças distraídas e outros garantem que não há oposição entre videogames e aprendizado. O necessário é usá-los de forma correta, pois aprender demanda concentração, tempo e paciência.
As crianças encaram jogos como desafios e apresentam muito interesse em vencê-los. E a medida que ela joga, o interesse vai se convertendo para o conteúdo, o aprendizado e para a proposta pedagógica.
2) Enfatizar a importância das regras
Como citado anteriormente, aprender demanda concentração, tempo e paciência. É o que diz a pesquisadora Angela McFarlane, da Universidade de Bristol (Grã-Bretanha). Ela faz uma analogia com chocolate e brócolis:
Para muitas crianças, aprender é ruim como comer brócolis e jogar é bom como comer chocolate. Mas cobrir o brócolis de chocolate para torná-lo mais atrativo não é a solução, pois elas não vão comer (aprender) do mesmo jeito.
Ou seja, os jogos devem ser planejados para focar no aprendizado e não no entretenimento.
E isso é ainda mais importante tratando-se de crianças indisciplinadas, que não possuem limites e precisam aprender a obedecer as regras.
Uma dica é usar os próprios jogos para transmitir noções de importância sobre as regras. Esse conceito é aprendido enquanto se joga, pois sem seguir as regras os alunos não poderão enfrentar o desafio. O segredo é mostrar que isso se aplica à outras esferas da vida também.
3) Utilizar movimentos a favor da aula
Jovens carregam muita energia, quase sempre acumulada. E quando são distraídos ou indisciplinados, dificilmente param quietos em suas cadeiras. Costumam correr pela sala e conversar com outros alunos.
Essa energia em demasia pode ser um fator distrativo, mas também pode ser trabalhada contra ele.
A energia pode cair como uma luva na hora dos jogos pedagógicos. Levá-las para uma aula ao ar livre ou criar um jogo que demande o movimento delas, como levantar e ir para o quadro escrever algo ou realizar uma mímica são algumas das estratégias possíveis.
Até em jogos digitais a energia é descarregada, uma vez que elas estão trabalhando o cérebro de formas diferentes do habitual – logo, gastarão mais energia resolvendo aqueles desafios.
O professor mexer-se junto pela sala enquanto dá aula também é importante. Um professor estático no canto da sala não chama tanta atenção como um professor que está transitando entre as cadeiras, pois o cérebro dos estudantes é rápido e vai querer acompanhar a agilidade dos movimentos.
Como você lida com a distração de seus alunos?
Compartilhe conosco suas experiências abaixo!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 18, 2015 | Geral
Era um evento clássico: a Semana Jurídica da Escola de Direito e de Comunicação do Centro Universitário Newton Paiva acontecia tradicionalmente todos os anos com várias palestras quase nunca interessantes. Alguns alunos já não viam sentido no evento por achá-lo vazio.
Até que o professor Bernardo Gomes recebeu a incumbência da semana e resolveu fazer mais do que isso: repensá-la. Daí surgiu a ideia de inovar a programação, que culminou na realização de uma Semana Jurídico-Cultural, com inserções artísticas na programação. Havia shows e peças de teatro tratando do tema, dando uma nova roupagem ao que já era visto de forma ortodoxa nos anos anteriores.
Assim, os alunos ficaram mais engajados e saíram do óbvio, adentrando em novas realidades proporcionadas pela arte e a música. Uma das atitudes do professor Bernardo foi colocar um músico e DJ com canções ligadas à direitos humanos para tratar do tema de forma jurídica.
Um dos segredos foi quebrar a metódica comum dos eventos jurídicos, mostrando que o conhecimento de verdade precisa ser compartilhado de forma ostensiva. Em vez de um palestrante proferindo monólogos e passando slides, uma mesa de DJ completa, música e diálogo direto com o público. Claramente a atividade foi um sucesso, contando com a presença de professores e 380 alunos.
Como ficou a atividade com o DJ Negralha, músico da banda “O Rappa”. (Crédito: Divulgação/Porvir)
O que podemos aprender com esse caso para dentro da sala de aula?
A maior vantagem da música na escola é sua característica interdisciplinar, ou seja, a capacidade dela permear entre diversas disciplinas.
1) Música e arte promovem diálogos entre mundos diferentes
A música tem a vantagem de levantar debates através das letras. Temas vistos nas disciplinas podem ser explorados a partir de analogias e interpretações das canções, criando paralelos sobre diversas áreas ao mesmo tempo. A letra da música “Se essa rua fosse minha” pode levantar debates sobre a identidade dos bairros, a criação de novos espaços na cidade e a territorialização numa aula de geografia, por exemplo. A música pode aproximar as crianças de outras realidades, e diminuir também as diferenças entre elas.
2) Inserção social pela arte
Muitas escolas possuem mais do que o papel educador. Elas são, nesses casos, um refúgio da realidade difícil vivida nas casas de muitas crianças brasileiras. Através da música e da arte, a escola assume o papel de inserir socialmente os estudantes com cultura e conhecimento, ampliando horizontes e habilidades – e até dando a oportunidade de que elas descubram talentos que fora dali não iriam aflorar. Além disso, estimula a motivação para que elas permaneçam na escola e construam um futuro melhor.
3) Novas formas de realizar “o de sempre” são possíveis
O maior feito de Bernardo foi conseguir realizar a Semana Jurídica de uma forma inovadora, unindo a música e a arte ao que já era feito tradicionalmente. A maior vantagem disso é agregar duas esferas que geralmente são postas como distintas e torná-las um conhecimento só, que se complementa a medida que é formado – afinal, de nada adiantam conhecimentos isolados. Isso, na sala de aula, pode ser feito com gincanas ou jogos, como fez esta professora que ensinou matemática com um game divertido e a Escribo com o Curso de Flauta, que mescla o aprendizado pedagógico da música com jogo.
“Como sempre afirmo, não há conhecimento compartimentado. Levar ideias com metodologias não-ortodoxas e linguagens distintas nos alinha a um pensamento de que o aluno deve desenvolver sua habilidade particular. Se não oferecemos possibilidades e encerramos o conhecimento na didática da sala de aula, uma parcela dos alunos não será atingida. A música e a arte são universais e essa união busca trazer para dentro do saber o maior número de alunos.” Bernardo Gomes
4) Trazer o novo para a sala de aula abre possibilidades
O elemento da novidade pode levar muitos alunos a desenvolver outras habilidades que talvez não seriam descobertas sem que eles se sensibilizassem com aquela novidade em questão. Podemos descobrir futuros músicos numa aula com flauta, futuros artistas numa aula que estimule a pintura, novos engenheiros numa aula de robótica. A questão aqui é semear para que se colham os frutos no futuro.
E você, como usa a música para inovar e catalisar bons resultados na escola? Nos conte nos comentários!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 17, 2015 | Geral
A escola como ela é está prestes a entrar em crise no século XXI. Mas isso não é uma coisa ruim.
Muitas pessoas tendem a ver a crise como algo negativo, mas essa palavra advém da palavra latina krisis, e significa nada menos do que momento de escolhas. Escolhas que são fundamentais para que saiamos de um estado de saturação e morbidez, de forma que as coisas possam se renovar. Ou seja, podemos entender a crise nas escolas do século XXI como um momento de mudanças.
Muitos alunos se sentem desmotivados com os métodos tradicionais de ensino, que envolvem apenas textos corridos em quadros brancos e leituras em voz alta pelos professores. Isso se dá porque eles nasceram numa era de muitos estímulos – visuais, auditivos, sensoriais. São os nativos digitais, a geração que já nasceu inclusa no mundo da internet e dos computadores.
Como exigir no presente a atenção dos alunos do futuro com uma didática do passado?
Um dos sete componentes do aprendizado na era digital é o conteúdo digital instigante. E não basta o conteúdo ser digital, ele precisa ter qualidade. Senão será apenas mais um livro dentro de um tablet, o que ajuda a diminuir o peso nas mochilas, mas em nada inova. Os estudantes do século XXI precisam de conteúdo multimídia que contemple diversas áreas cerebrais e cative sua atenção. E é aí que entra a gamificação, que é sobre o que falaremos no post de hoje.
Pode-se definir a “gamificação” como o uso da tecnologia e elementos dos videogames fora da área de entretenimento, ou seja, focando na educação. A estratégia é a principal aposta dos especialistas para ensinar de maneira personalizada, de acordo com os princípios do ensino adaptativo – que leva em conta as peculiaridades e ritmos de cada aluno. Em suma, é utilizar de jogos para ensinar (ou aprender brincando).
“Jogos nos fazem felizes porque eles são trabalho duro que escolhemos fazer. E acabamos descobrindo que quase nada nos faz mais feliz do que a realização de um bom trabalho, por mais duro que seja.” Jane McGonigal
Confira abaixo porque a gamificação é importante para as salas de aula:
As vantagens da gamificação
Crianças brincando com video games de ação e movimentos na Escola Primária St. Patrick’s School, no estado de Virginia, nos Estados Unidos. (Créditos: Newsday / Thomas A. Ferrara)
1. Atende as necessidades de uma educação moderna
Segundo o professor Rodrigo Ayres, o uso de games é uma das várias formas da educomunicação atrair a atenção dos estudantes e desenvolver habilidades e conhecimentos em diálogo com as diversas disciplinas.
2. Motivação e Finalidade
A lógica de funcionamento de jogos apresenta grande capacidade de promover o engajamento de seus participantes, a curiosidade, a colaboração, o aprendizado pelos erros, etc. A interação é a chave do sucesso, tanto é que a partir desta percepção, algumas empresas passaram a aplicar jogos como parte de sua estratégia, a fim de conhecer, fidelizar e melhor atender seus clientes.
3. Múltiplas opções de metodologias, favorecendo a adaptação
Os jogos podem ser aplicados tanto pelo método de entrega liderado por instrutor ou baseado no uso de computadores. No primeiro, a aplicação pode acentuar a interatividade e prática, reduzindo o esforço do instrutor em seu papel de engajamento e monitoramento dos estudantes. No método baseado no uso de computadores o papel de instrutor pode ser substituído por artifício que ajuda o participante quando este tem uma dúvida ou precisa de ajuda.
4. Engajamento e resultados visíveis
Projetos pilotos como da Khan Academy, na California, ou da Fundação Bill e Melinda Gates, em Nova York, demonstram melhorias no ensino de crianças e jovens. Os estudos na área indicam que aplicação prática em um jogo/simulação aumenta a taxa de retenção do conhecimento e motiva os estudantes e gera resultados. Ainda há o efeito multiplicador dos jogos, que consiste em realizar uma tarefa (conhecimento tácito) que motiva os estudantes a estudar mais (conhecimento explícito) para desempenhá-la ainda melhor , o que é exemplificado no mundo dos esportes e da música.
5. Renovação e rapidez na forma de aprendizado
A gamificação consegue tornar conteúdos que já foram/são trabalhados tradicionalmente por muitos anos em assuntos completamente novos, devido a nova atmosfera promovida pela abordagem diferenciada. Um exemplo interessante: A Escribo fez uma pesquisa com alunos de uma escola que iria adquirir o nosso Curso de Flauta, sobre educação musical. O interesse dos alunos pré-curso em aprender flauta doce foi de 49%. Isso já era esperado – raramente alguma criança sonha em tocar flauta. Se o instrumento em questão fosse uma guitarra, uma bateria, talvez houvesse mais gente interessada. Mas a flauta tem um importante papel pedagógico, e isso é uma questão importante. Para minar o desinteresse, as aulas de flauta foram trabalhadas usando um jogo educativo que é muito parecido com video games como Guitar Hero e Rock Band, que as crianças já conhecem e apreciam. Isso fez com que elas mergulhassem na atmosfera do game de flauta. No final do ano 87% dos alunos queriam aprender a tocá-la. Isso acontece, principalmente, em consequência da velocidade do aprendizado oferecido pela tecnologia.
Crianças aprendendo música e se divertindo com o Curso de Flauta da Escribo.
Você pode aprender mais sobre gamificação e se especializar com a cartilha Gamificação – aplicação da lógica de jogos na educação, do Sebrae. Não deixe de comentar sobre a sua experiência com games na sala de aula!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 16, 2015 | Geral
Créditos da imagem: thyblackman.com
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) revelou em 2012 dados preocupantes para os educadores: 49% dos estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos apresentam baixo desempenho em leitura.
E a situação é ainda mais desanimadora: o Movimento Todos pela Educação realizou um estudo evidenciando que apenas 44,5% das crianças que concluíram o 3º ano do ensino fundamental apresentam uma aprendizagem adequada de leitura e interpretação de acordo com a Prova ABC, também em 2012.
Segundo a doutora em educação pela Universidade de Brasília (Unb) Ana Luiza Amaral, esse quadro precisa ser revertido para que a meta 5 assumida pelo Governo Brasileiro no Plano Nacional de Educação (PNE) seja cumprida. A meta visa alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental nos próximos dez anos.
Mas como podemos fazer nossa parte?
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” Paulo Freire
A alfabetização deve ser garantida para todas as crianças até o 3º ano do ensino fundamental, segundo meta do Governo Federal.
De acordo a psicologia, seres humanos agem por condicionamento a partir de estímulos. Se queremos crianças leitoras, a leitura precisa virar hábito. E para esse hábito não virar apenas uma obrigação, é preciso estímulos que tornem a leitura prazerosa e benéfica para elas.
Logo, o papel do adulto e do educador está em apresentar o mundo da leitura de forma positiva para as crianças. Sendo assim, vejamos como começar:
- Primeiro passo: Identificar a fase em que a criança se encontra
- Segundo passo: Integrar a leitura à rotina de acordo com a fase para que ela se torne um hábito com mais facilidade
A idade e fase educacional que a criança se encontra irão definir a forma de como seu cérebro absorve conhecimento. Pensando nisso, Ana Luiza Amaral bolou cinco estratégias transformadoras para cada uma dessas fases, desde a pré-alfabetização, para os pais.
A Escribo adaptou cada uma dessas para os educadores e a realidade da escola. Confira:
15 dicas para estimular a leitura em crianças
Antes da alfabetização:
Créditos: KisforKids.com
1. É fundamental possibilitar à criança entrar em contato com os livros desde cedo
A criança pecisa se familiarizar com o livro. Seja tocando, manuseando, brincando. Muitas editoras oferecem livros diferenciados para esta fase, com material apropriado – plástico, texturas diferentes e cores variadas compõe as opções para crianças pequenas no mercado atual. As escolas precisam disponibilizar esse material em sala, em cestas de livros ou criando um “cantinho da leitura” com o auxílio dos professores. Além disso, aulas e visitas periódicas na biblioteca é essencial para essa familiarização. Aulas de campo em espaços em que elas entrem em contato com os livros, como feiras e bienais, também são importantes.
2. Perceber o interesse dos adultos em relação à leitura favorece o interesse da criança
Nessa fase, as crianças adoram imitar adultos, brincar com essa realidade. Se os professores e funcionários gostam de ler e têm o hábito de levar livros para a escola, esse comportamento tende a influenciar a criança, contribuindo para que ela também desenvolva o gosto pela leitura. Crie campanhas e reforce a importância da leitura e dessas pequenas atitudes entre professores e funcionários. Professores que falam sobre livros também contribuem nessa influência positiva.
3. É essencial ler para as crianças
O interesse pela leitura começa nesse vínculo, nessa troca. A criança entra no universo das histórias, se envolve, se encanta e começa a desenvolver o desejo de se apropriar da leitura, de se tornar um leitor. Uma dica é ler uma história por semana para a turma no final da aula, por exemplo.
4. Além de ler, é muito importante conversar com a criança sobre a história
Perguntar sobre o que ela entendeu, sobre qual personagem gostaria de ser,se ela daria um final diferente. Ler é muito mais do que decodificar, dar um som para letras, ler é construir sentido, é encontrar significado. Ao conversar sobre o que leu, a criança pensa, reflete, e desenvolve a sua capacidade de compreensão.
5. Os livros devem ser organizados em um local de fácil acesso para as crianças
A criação de um “cantinho da leitura” na sala de aula, como mencionado na primeira dica, pode ser organizada de forma simples, como em baús ou estantes baixas, possibilitando a sua busca, quando elas quiserem. A ideia é tornar o material acessível nas horas de intervalo e recreio ou na espera pelos pais na saída, por exemplo.
Durante a alfabetização:
Créditos: YogaGangsters.wordpress.com
6. Incentivar a leitura em conjunto
A leitura em conjunto encoraja a criança nessa jornada inicial rumo à alfabetização. Por exemplo: a criança lê uma parte com o professor em sala de aula, e outra em casa, até que ela tenha fluência para ler um livro inteiro sozinha. Outra forma é dividir a sala em grupos, onde cada um dos integrantes lê um parágrafo da história.
7. No início do aprendizado da leitura, oferecer livros com muitas imagens e pouca escrita
Quando a criança tem um desafio para além do que está preparada, pode ficar desestimulada. É importante oferecer livros de acordo com a faixa etária da criança e com seu nível de leitura. Sendo assim, o professor deve começar apresentando livros coloridos, com imagens, e depois ir aumentando a quantidade de escrita conforme o desenvolvimento da turma.
8. Incentivar a criança a ler externamente
Pedir para as crianças listarem o que viram nos outdoors durante o fim de semana é uma atividade possível para que a criança leve o aprendizado e a leitura para fora da sala de aula. Outra dica interessante é pedir que elas coletem (com o auxílio dos pais), nos jornais e revistas, temas do seu interesse. Existem cadernos e setores especiais para as crianças na grande parte das publicações atuais.
9. Mostrar a importância da leitura para a compreensão do mundo
A leitura de placas e tudo que está a sua volta, como embalagens, instruções e marcas, também é uma forma de chamar a atenção – e complementar o incentivo da 3ª dica.
10. Promover atividades que envolvam a leitura
Uma ideia divertida é atrelar a leitura à culinária. Incentivar a turma a ler a receita e fazer junto com ela algo simples e popular como brigadeiro ou bolo. É importante que a leitura seja algo prazeroso e não uma obrigação.
Depois da alfabetização:
Créditos: BarisGurka.com
11. A leitura para a turma deve continuar
Mesmo alfabetizada, é importante que a criança continue ouvindo histórias dos pais e professores, pois a troca afetiva que se estabelece no contato com os livros favorece o envolvimento com a leitura. Basta diminuir a periodicidade.
12. É interessante estimular a criança a inventar histórias e criar os próprios livros
O MEC possui, no portal do professor, um módulo ensinando como as crianças podem criar um livro de histórias na sala de aula. Confira aqui!
13. Incentivar a troca de livros
Favorecer o contato com uma diversidade maior de títulos ajuda a criança não só na leitura, mas na socialização – conversar com os coleguinhas sobre as histórias trocadas ajuda a turma a desenvolver as relações interpessoais. A ideia pode ser aplicada no mês dos paradidáticos, onde elas podem ir revezando as leituras com os outros.
14. Familiarizar a criança com diferentes gêneros literários
É importante que elas conheçam os diversos gêneros literários existentes e não deixem de ampliar os horizontes na leitura, podendo buscar coisas novas sempre que possível. Veja o que a pesquisadora em educação Maria Zélia Versiani Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz a respeito dos gêneros literários na alfabetização infantil:
“A literatura infantil que hoje se publica para crianças bebeu em fontes variadas da tradição literária, que se atualizam criativamente a cada geração de leitores – daí a importância de identificá-las. […] Falar de gêneros da literatura pressupõe, assim, o diálogo com a tradição e com formas orais e escritas do texto literário, produzidas para crianças em diferentes épocas.”
15. Dosar o tempo de leitura
Por fim, para não sobrecarregar a criança, é importante que a leitura tenha seu tempo reservado nas aulas – mas que ele seja respeitado e não ultrapassado, deixando sempre um gostinho de quero mais.
DICA EXTRA:
Você sabia que ferramentas interativas auxiliam na alfabetização? Sim: tablets, jogos e aplicativos e outras tecnologias contribuem efetivamente para a alfabetização das crianças.
Para a educadora Renata Aquino, doutora e pesquisadora de tecnologias na educação na PUC-SP, existe uma necessidade de integrar o uso de recursos tecnológicos na escola, inclusive no processo de alfabetização. “A tecnologia já está presente na forma como o aluno lê o mundo hoje”, aponta, ao mencionar que eles fazem parte da chamada geração de nativos digitais (ou seja, já nasceram na era da tecnologia).
Segundo ela, os tablets e dispositivos móveis são ótimas ferramentas por conterem elementos visuais que incentivam a leitura e a escrita. Além disso, os games e as redes sociais educativas também ajudam a engajar e despertar o interesse do aluno. No entanto, ao utilizar a tecnologia como aliada durante o processo de alfabetização, a pesquisadora faz uma ressalva. “O professor precisa investir muito em planejamento. Para qualquer instrumento, ele deve pensar no contexto em que irá utilizar.”
“É importante que a leitura seja algo prazeroso e não uma obrigação”, afirma a doutora em educação Ana Luiza Amaral
O que você achou das dicas? Caso saiba mais, por favor não deixe de adicioná-las nos comentários, para que mais educadores sejam contemplados!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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