por Americo N. Amorim | set 27, 2022 | Educação Infantil, Ensino Fundamental, Gestão escolar, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação, Tablets na escola
Devido à pandemia do COVID-19, as escolas em geral vêm usando cada vez mais recursos digitais. De acordo com a Academia Americana de Pediatria (2021), o tempo de tela passivo é associado a problemas de atenção, sono e obesidade.
Mas também existe o tempo de tela ativo que pode ser benéfico para o desenvolvimento das crianças. É quando as crianças não estão apenas consumindo conteúdo, mas interagindo com ele.
O uso ativo de telas pode trazer vários benefícios:
- fortalecer habilidades de consciência fonológica, fonética e matemática (Radesky & Christakis, 2016 ).
- dar suporte na alfabetização de crianças (Verhoeven et al., 2020)
- auxiliar crianças com dificuldades de aprendizagem matemática (Benavides-Varela et. al, 2020).
Esses benefícios são maiores do que atividades “mais tradicionais” no ensino da matemática e da leitura (Kraft, 2020).
Por isso, é importante que famílias e educadores garantam que as crianças façam o uso ativo das telas.
Smartphones, tablets e outros dispositivos com telas podem ser usados para ajudar as crianças a aprender de forma ativa. Quando usadas corretamente, as tecnologias digitais podem ter um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades sociais e no bem-estar emocional das crianças.
É fundamental que os educadores utilizem essas ferramentas com sabedoria, a fim de maximizar seus benefícios e minimizar seus riscos.
Referências
Amorim, A. N. et al (2020). Using Escribo Play Video Games to Improve Phonological Awareness, EarlyReading, and Writing in Preschool. Educational Researcher, https://doi.org/10.3102/0013189X20909824.
Benavides-Varela, S., Callegher, C. Z., Fagiolini, B., Leo, I., Altoe, G., & Lucangeli, D. (2020). Effectiveness of digital-based interventions for children with mathematical learning difficulties: A meta-analysis. Computers & Education, 157, 103953. https://doi.org/10.1016/j.compedu.2020.103953
Beyond Screen Time: A Parent’s Guide to Media Use. Pediatric Patient Education 2021; https://doi.org/10.1542/peo_document099
Kraft, M. A. (2020). Interpreting Effect Sizes of Education Interventions. Educational Researcher, 49(4), 241–253. https://doi.org/10.3102/0013189X20912798.
Radesky, J. S., & Christakis, D. A. (2016). Increased screen time: implications for early childhood development and behavior. Pediatric Clinics, 63(5), 827-839. https://doi.org/10.1016/j.pcl.2016.06.006.
Verhoeven, L., Voeten, M., van Setten, E., & Segers, E. (2020). Computer-supported early literacy intervention effects in preschool and kindergarten: A meta-analysis. Educational Research Review, 30, 100325. https://doi.org/10.1016/j.edurev.2020.100325.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | jul 20, 2021 | Economia, Gestão escolar, Inovação no Ensino, Neuroeducação, Pesquisas em educação, Políticas Públicas
Muitos professores de todo o Brasil nos pedem indicações de obras para suas leituras, principalmente quando concluímos um curso aqui na Escribo. Pensando nisso, montamos uma lista com 10 indicações de livros feitas por parceiros da Escribo, pesquisadores educacionais e educadores com ampla experiência e produção literária. Boa leitura!
Criar Leitores – para professores e educadores, de José Morais
Indicado pelo neurocientista Augusto Buchweitz
Criar Leitores ensina aos professores, educadores, pais e profissionais de saúde o que acontece no cérebro da criança quando ela aprende a ler. O autor se aprofunda nos processos cognitivos e nas diversas etapas de aprendizagem percorridas até a alfabetização; explica como surgem as dificuldades na infância e recomenda intervenções e abordagens pedagógicas para superar esses obstáculos. Esse livro é baseado em evidências científicas importantes reconhecidas por todo o mundo.
O português José Morais, autor do livro, é doutor em Desenvolvimento da Cognição e Psicolinguística e professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas. Ele é um dos maiores especialistas do mundo em alfabetização, e já trabalhou com políticas públicas educacionais para Portugal e França. Obtenha o livro na Amazon neste link.
A Professora da Alfabetização, de Américo Amorim
O livro conta a história de Juliana, professora que foi finalmente nomeada para ensinar em uma rede municipal. No primeiro dia de aula, ela se depara com um bilhete anônimo de boas-vindas. Já nas primeiras aulas os bilhetes passam a criticar suas práticas pedagógicas. Nos dias seguintes, começam a ordenar que a professora faça as crianças aprenderem a ler e escrever em um prazo curtíssimo, qualquer professora diria ser impossível. Ela volta a estudar e aprende novas evidências científicas sobre como ensinar a ler e escrever.
A obra é de autoria do pernambucano Dr. Américo Amorim, pesquisador da New York University, em parceria com o escritor Matheus Bento. Américo é fundador e cientista-chefe da Escribo, startup ligada ao ecossistema Porto Digital, onde desenvolve jogos pedagógicos que fortalecem o aprendizado de 105 mil crianças em 2.200 escolas do Brasil e do Panamá. Estimulando a consciência fonológica e fonêmica de forma lúdica e sistemática, ela sente o avanço das crianças. Ao mesmo tempo, tenta descobrir quem é o maluco que a persegue e escreve os bilhetes infames. Leia agora.
Formando Mais que Um Professor, de Elizabeth Green
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
O que é preciso para ser um bom professor? O livro Formando Mais que Um Professor apresenta diversas abordagens práticas, adotadas pelos melhores professores no mundo todo, para que as crianças prestem atenção e aprendam ainda mais. Unindo novas pesquisas de psicologia cognitiva à experiência de professores, a autora também explica como os professores devem se preparar antes de entrar em aula; como conquistar o interesse das crianças e como a professora pode fortalecer os conteúdos da sua disciplina.
O livro foi escrito por Elizabeth Green, uma experiente jornalista especializada em educação, com passagens nos principais jornais americanos. Essa obra mostra como ensinar é um processo complexo e cheio de nuances e como as famílias também podem descobrir as reais necessidades dos filhos em sala. Adquira este livro neste link.
País Mal Educado, de Daniel Barros
Indicado pela pesquisadora da FGV-RJ e de Harvard Claudia Costin
Os leitores podem se aprofundar em uma realidade já conhecida, no livro País Mal Educado: uma quantidade enorme de crianças e adolescentes brasileiras aprende pouco ou quase nada em sala de aula. O autor faz uma série de pesquisas, entrevistas e investigações em sala de aula para nos mostrar as falhas mais graves do sistema educacional brasileiro e como elas podem ser corrigidas.
O brasileiro Daniel Barros é jornalista, mestre em administração pública pela Universidade Columbia, em Nova York, e conquistou diversos prêmios jornalísticos, como o Esso, na categoria Educação, em 2014. O livro está disponível na Amazon.
Algoritmos para viver: a ciência exata das decisões humanas, de Brian Christian e Tom Griffiths
Indicado pelo pesquisador e jornalista da CNN Brasil Rodrigo Maia
Quando alguém fala de algoritmos, geralmente pensamos em programas de computador. Mas Algoritmos para viver explica justamente que eles fazem parte das nossas vidas e nos ajudam a realizar diferentes tarefas desde a Idade da Pedra. O livro explica de forma didática problemas matemáticos conhecidos, de onde surgiram e como funcionam vários algoritmos.
Com base em entrevistas com especialistas e pesquisas multidisciplinares, o jornalista Brian Christian e o professor de psicologia e ciência cognitiva Tom Griffiths exploram esse lado da matemática que governa cada vez mais o nosso dia a dia. Adquira o livro aqui.
Planejamento para a Compreensão: Alinhando Currículo, Avaliação e Ensino por Meio da Prática do Planejamento Reverso, de Grant Wiggins e Jay McTighe
Indicado pelo presidente do Instituto Singularidades Alexandre Schneider
Planejamento para a Compreensão explica o conceito de planejamento reverso. Dentro dessa visão, as escolas e professoras podem criar um planejamento curricular que facilite a aprendizagem e crie uma experiência mais atrativa e envolvente tanto para alunos como para professores. Para isso, o livro se propõe a responder perguntas como o que é compreensão; o que é conhecimento; e como criar uma planejamento que traga resultados.
Os autores Grant Wiggins (1950-2015) e Jay McTighe são referências em educação nos EUA. Wiggins era doutor em educação pela Harvard University e foi consultor em diversas escolas estaduais e nacionais, e em parceria com o professor McTighe, escreveram juntos diversos livros na área de educação. Para adquirir este livro, toque aqui.
O Eduquês em Discurso Direto, de Nuno Crato
Indicado pelo neurocientista Augusto Buchweitz
Quando o assunto é educação, precisamos fugir do clichê e do lugar-comum e buscar o que realmente funciona. Essa é a proposta do livro O Eduquês em Discurso Direto, do professor Nuno Crato. Com base em evidências da psicologia e da pedagogia, o autor faz uma crítica a expressões como “aprender a aprender” ou “ensino centrado no aluno”, e como os profissionais da educação precisam se atualizar e ir além desses conceitos para que as crianças aprendam mais e melhor.
Também português, o economista Nuno Crato é doutor em matemática aplicada pela Universidade de Delaware (EUA), onde foi pesquisador e lecionou por anos. Como ministro da Educação e Ciência de Portugal, entre 2011 e 2015, coordenou uma das reformas educacionais mais importantes para o país. A edição mais recente está disponível na Amazon neste link.
Educação em Debate, do Todos pela Educação (2018)
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
Organizado em 46 artigos, o livro Educação em Debate mostra quais os principais desafios para a educação entre os anos de 2019 e 2022. Especialistas de áreas como Pedagogia, Sociologia, Psicologia apresentam propostas de políticas públicas para a melhoria da qualidade do sistema de ensino brasileiro.
O livro foi produzido pelo Todos Pela Educação e pela Fundação Santillana / Editora Moderna. Baixe o livro gratuitamente neste link.
Líderes na Escola, de Antônio Góis
Indicado pela pesquisadora da FGV-RJ e de Harvard Claudia Costin
Líderes na Escola apresenta uma série de experiências que o autor Antônio Góis conheceu de perto em escolas públicas de educação básica no Brasil, Chile, México, EUA, Canadá e Singapura. Esses países foram escolhidos por terem muitas semelhanças com o momento atual brasileiro ou por adotarem sistemas considerados mais evoluídos, quando o assunto é políticas de gestão escolar.
O autor, Antônio Góis, é jornalista especialista em educação e colunista do jornal O Globo. O livro foi publicado gratuitamente pela Fundação Santillana / Editora Moderna (baixe aqui).
Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Indicado pelo pesquisador e jornalista da CNN Brasil Rodrigo Maia
O livro Como as democracias morrem nos faz uma pergunta: democracias tradicionais podem deixar de existir? Para tentar respondê-la, os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt analisam a eleição de Donald Trump, ex-presidente controverso dos Estados Unidos, e o que ela tem em comum com a ascensão de Hitler, de ditaduras militares na América Latina, e diversos outros acontecimentos históricos. Podem parecer assuntos muito distantes, mas eles têm muito a ver.
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt são cientistas políticos e professores conceituados da Universidade de Harvard, nos EUA. Eles criaram essa obra que é muito importante para entender o momento histórico que vivemos no Brasil e no mundo, e que nos ensina por que precisamos proteger a democracia de ataques e ameaças. Toque aqui para obter o livro.
Bônus!
Separamos algumas obras que podem interessar pelas histórias contemporâneas, curiosidades ou lições de vidas vividas pelos autores e personagens.
A menina da montanha, de Tara Westover
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
O livro conta a história da americana Tara Westover, que tinha 17 anos quando entrou pela primeira vez em uma sala de aula. A família dela estava sempre se preparando para o fim do mundo – por influência do pai. Além de desconfiar das escolas, ele também desconfiava de médicos, por isso Tara nunca passou por uma consulta. Mesmo com todas as dificuldades, ela consegue estudar e alcançar cada vez mais conquistas por meio da educação.
A menina da montanha é um relato autobiográfico sobre a busca da Tara por uma nova identidade e sobre o potencial que a educação tem de transformar vidas. É uma história sobre relações familiares e sobre as dificuldades e dores de desfazer esses laços. Adquira neste link.
O Alienista, de Machado de Assis
Indicado pelo presidente do Instituto Singularidades Alexandre Schneider
Um clássico da literatura brasileira, esse conto de Machado de Assis continua sendo uma das observações mais importantes dos danos que uma pessoa má intencionada ou má instruída pode causar se utilizando da ciência. É uma história surpreendente e traz um debate muito atual sobre desvios e normalidade, loucura e razão, comédia de costumes e sátira política. O Alienista está disponível gratuitamente no site Domínio Público (baixe aqui).
O Louco de Palestra, de Vanessa Bárbara
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
A autora Vanessa Barbara escreveu uma série de crônicas sobre o bairro paulistano do Mandaqui, e sobre as diferentes personalidades que vivem e andam pelas ruas locais. Na crônica que dá nome ao livro, ela fala sobre o “louco de palestra”, aquela pessoa meio desligada da realidade que volta e meia fala alto, comenta e atrapalha palestras, seminários ou debates. Adquira aqui.
Como me descobri negra, da Bianca Santana
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
“Tenho 30 anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena.” É com essa frase que a autora Bianca Santana começa uma série de reflexões sobre experiências pessoais ou que ela ouviu de outras mulheres e homens negros. Ela explora esse conceito de se entender como pessoa negra e como isso é afetado pelo racismo vivido no dia a dia por essas pessoas. Toque aqui para obter este livro.
Risque esta palavra, da Ana Martins Marques
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
Livro de poesias no qual a autora Ana Martins Marques cria uma espécie de diário de memórias afetivas, e o poder que as palavras têm para transformar essas lembranças. Disponível neste link.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Robert Slavin | dez 18, 2020 | Educação Infantil, Ensino Fundamental, Gestão escolar, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação, Políticas Públicas
É importante que cada criança se torne uma leitora confiante, habilidosa e motivada. As avaliações da educação nos Estados Unidos nos lembram que há muitas crianças que ainda não leem bem. As crianças de grupos minoritários e desfavorecidos geralmente estão entre as que têm desempenho mais fraco. A desigualdade presente nos resultados escolares, quando fazemos o recorte de raça e classe (nosso problema social e educacional mais grave), começa com o baixo índice de aprendizado já na educação infantil.
Todo mundo sabe que crianças que não leem bem vão precisar de grandes esforços para aprenderem, de abordagens de ensino especiais, podem repetir de ano e, em última instância, agir com delinquência, desistir da escola e na vida adulta ter problemas para conseguir um emprego.
Nós já sabemos como garantir o sucesso de praticamente todos os alunos entre o 1º e o 2º ano do ensino fundamental. Imagine que seu trabalho é garantir que todas as crianças de uma escola aprendam a ler até o final do primeiro ano e você tem recursos para fazer isso. Essas crianças estão em situação de vulnerabilidade social. Como você faria isto?
Você garantiria que as crianças, já na educação infantil e nos anos iniciais, tivessem experiências com a linguagem oral, aprendessem consciência fonológica, conhecessem os sons das letras (fonemas), aprendessem usando livros, aplicativos e/ou sistemas de ensino de leitura baseados em evidências científicas. Tais programas iriam enfatizar o aprendizado sistemático de fonética, compreensão, fluência e vocabulário.
Reconhecendo que mesmo com o melhor ensino nem todas as crianças serão bem-sucedidas, você daria aulas individuais para as crianças que estão com dificuldades no primeiro ano do ensino fundamental. Você testaria a visão das crianças e verificaria se elas teriam óculos, caso precisassem. Você verificaria a audição e a saúde delas como um todo e se certificaria de que todos esses problemas também fossem resolvidos.
Você ajudaria os professores a usar estratégias eficazes, como a aprendizagem cooperativa, para motivar e envolver as crianças na leitura. Adotaria métodos eficazes de gerenciamento de sala de aula para aumentar a motivação e fazer o uso eficaz do tempo de aula.
Você usaria tecnologia para deixar as crianças mais engajadas, entender as necessidades delas e personalizar as aulas para desenvolver as habilidades dos alunos. Você iria avaliar constantemente o progresso das crianças no aprendizado de leitura e agiria imediatamente caso descobrisse que elas estão ficando para trás de alguma forma.
Leia mais
Robert Slavin: Prêmio Nobel comprova a importância das evidências científicas para a educação
Robert Slavin: programas educativos de sucesso podem ser replicados sim!
Robert Slavin: Evidência e política: se você quer fazer uma bolsa de seda, por que não usar… seda?
Robert Slavin’s Blog: Por que não o melhor?
Compreendendo que as famílias são parceiras fundamentais, você incentivaria pais, mães e outros parentes e os ajudaria a ler com os filhos, construir vocabulário e desenvolver o amor pela leitura. Você também trabalharia com os pais para ajudar a garantir que todas as crianças frequentem a escola todos os dias e sejam saudáveis, bem nutridas e durmam o suficiente.
Você proporcionaria à sua equipe um amplo desenvolvimento profissional, oportunidades frequentes para compartilhar ideias e resolver problemas uns com os outros, e monitoraria constantemente o andamento de cada parte de sua estratégia. E quando sua equipe se deparasse com problemas que não fossem resolvidos com as abordagens atuais, você ia experimentar soluções alternativas.
Já foi comprovado por evidências científicas que cada um destes pontos que mencionei melhora o desempenho de leitura das crianças.
Se você fizesse todas essas coisas, e se todo o sistema escolar estivesse focado em garantir que elas fossem feitas em todas as escolas da educação infantil e dos anos iniciais, você tem alguma dúvida de que os baixos índices de aprendizado de leitura seriam praticamente eliminados?
No entanto, esse conjunto bastante óbvio de ações está longe de ser o que realmente acontece, especialmente na maioria das escolas em locais onde as crianças estão em vulnerabilidade social. O financiamento de várias dessas escolas é muito dependente das políticas federais. Essa é uma área em que a política federal pode fazer mudanças de impacto positivo. As políticas federais às vezes se concentram em aspectos da leitura, mas não permitem uma abordagem abrangente, necessária para que todas as crianças aprendam.
Vários problemas educacionais são muito complexos e as soluções eficazes não são descobertas de imediato. Por outro lado, já sabemos como ensinar todas as crianças a ler. Não deveríamos focar nossa atenção e esforços neste problema crítico e solucionável?
Artigo traduzido por Américo Amorim e Danilo Aguiar.
Diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins. Ph.D. em Relações Sociais pela Universidade Johns Hopkins, Dr. Slavin é autor ou co-autor de 24 livros e mais de 300 artigos e capítulos de livros sobre reformas na educação baseada em evidências e diversos outros temas relacionados.
por Timothy Shanahan | set 24, 2020 | Educação Infantil, Ensino Fundamental, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação
Ensinar a ler é um processo que passa por frequentes mudanças. Nós, professores ao ensinarmos leitura, podemos ser tão apaixonados e inconstantes quanto um bando de adolescentes murmurando sobre artistas ou redes sociais, como a cantora Billie Eilish ou o TikTok.
Passamos por períodos em que ou usamos livros ou os evitamos; ou abraçamos a fonética ou a evitamos. O “pêndulo educacional” balança para a frente e para trás. Surge um novo programa ou uma nova abordagem de leitura que rapidamente começa a aparecer por toda parte. E aí nos perguntamos: o que aconteceu com os outros programas ou propostas de ensino-aprendizagem de leitura?
Popular mesmo é a leitura “round robin” (em voz alta)
No entanto, uma coisa que parece nunca mudar é a onipresença da “leitura round robin“ – quando pedimos a uma criança que leia o texto para seu grupo ou para toda a classe, enquanto as outras, supostamente, acompanham. Esse uso do termo “round robin” é relativamente novo (a primeira menção que encontrei é do final dos anos 1950), mas a prática é muito mais antiga – o polímata e pesquisador estadunidense Ben Franklin já se queixava disso no século XVIII.
A prática persiste porque é um esquema viável para conduzir uma aula. Mesmo professores pouco qualificados podem manter as crianças concentradas em suas tarefas e podem ter certeza de que o conteúdo foi ministrado, mesmo que não tenha sido aprendido.
Infelizmente, essa prática não funciona porque destrói propostas mais eficazes de prática de leitura oral e elimina o ensino de leitura silenciosa. Nesse sentido, ela funciona como uma planta parasita no ensino de leitura, que invade e suga todos os recursos vitais de que outras espécies precisam para prosperar.
Incentive as crianças a ler de diferentes formas
Já escrevi diversas vezes sobre o valor da leitura em dupla acompanhada pelo professor, da leitura repetida e assim por diante. Em vez de fazer com que cada aluno leia em voz alta, o que é uma grande perda de tempo, ou focar na leitura em coral (em que as crianças podem participar aparentando dizer as palavras sem necessariamente lê-las), faz mais sentido fazer parceria com as crianças, fazendo com que elas se revezem na leitura umas com as outras e o professor circule entre os grupos.
As crianças podem facilmente praticar a leitura oral 10 ou 20 vezes mais do que jamais poderiam na leitura individual em voz alta. Também é muito mais interessante pedir a uma criança que releia algo lido com dificuldade, nessas circunstâncias ou situações didáticas de parceria/duplas.
Minha maior preocupação agora, com tantas pessoas ensinando à distância, é o uso do round robin (leitura individual em voz alta) como forma de orientar a compreensão da leitura. Conforme mencionei, os professores tendem a valorizar esse tipo de controle da atividade de leitura.
Dessa forma, fazer com que os alunos se revezem na leitura de uma parte do texto em voz alta pode preencher a sessão de Zoom facilmente e manter as crianças concentradas, sem realmente ajudá-las a aprender. Essa prática pode consumir tanto o ensino de leitura quanto de outros conteúdos ou áreas de conhecimento.
Leitura silenciosa, leitura guiada e outros formatos
É evidente que os leitores iniciantes precisam ler em voz alta, para que o round robin seja uma experiência agradável. Mas certamente a partir do 3º ano, as crianças devem ser orientadas a ler silenciosamente com o propósito de compreenderem o que lêem.
Muitos professores me dizem que não fazem isso porque as crianças podem não entender o texto quando fazem a leitura silenciosa. Isso é como não ensinar alguém a andar de bicicleta porque ela continua caindo. A razão pela qual você ensina algo é porque os alunos ainda não sabem fazer.
As típicas aulas de leitura, guiada ou dirigida, em que o professor prepara os alunos com, por exemplo, pré-visualização do texto, introdução de novos vocabulários e levantamento de conhecimentos prévios, devem acontecer com os alunos lendo o texto em etapas ou partes. Após cada parte lida, deve fazer uma roda de conversa sobre a leitura feita. Essa é uma maneira sensata de agir pedagogicamente.
A proposta é que essas partes sejam lidas silenciosamente ao invés de em voz alta. Inicialmente, mantenha os trechos bem curtos e, com o tempo, vá os expandindo à medida que os alunos demonstrem capacidade para avançar. Parte do seu trabalho é “esticá-los”, ampliar o tamanho dos textos. Isso aumenta a velocidade média de leitura e permitirá que você monitore o quão bem um aluno pode ler diferentes comprimentos de texto.
A orientação dos professores é indispensável
Se os alunos não conseguirem entender uma seção, peça que a leiam (ou que releiam uma frase ou parágrafo específico). O objetivo é usar essa conversa para identificar onde é a raiz da falta de compreensão e, em seguida, ajudar o aluno a descobri-la por meio da própria leitura (sem dar a resposta).
Eu sou um grande fã de respostas múltiplas durante as discussões em classe e em grupo. Isso significa que o professor faz a pergunta e todos respondem simultaneamente. Normalmente faço isso escrevendo … posso facilmente ver quem está inseguro (quando eles olham para os outros) e posso circular entre eles para ver quem entendeu e quem não.
Não consegui descobrir como fazer isso com sucesso nas várias plataformas de ensino à distância. Não sei se há uma maneira de as crianças digitarem uma resposta que apenas o professor veja, o que seria o ideal. Se alguém souber como fazer isso, deixe um comentário, pois tenho certeza de que não sou o único a lutar com essa ideia.
Leia mais
Jogos para estimular a consciência fonológica das crianças durante a alfabetização
Autismo: o que é e como usa jogos pedagógicos para estimular o aprendizado das crianças do espectro?
Educação online e o aprendizado em tempos de pandemia no novo #EvidênciaEscribo
Táticas fáceis para estimular a leitura guiada em aulas síncronas
De qualquer maneira, queremos ensinar os alunos a ler silenciosamente e com elevada compreensão. A prática frequente da fluência em leitura oral contribui para esse objetivo, mas não substitui o envolvimento dos alunos em práticas de leitura silenciosa com a orientação do professor. O aluno deve melhorar com o tempo.
“Melhor”, neste caso, significa: ser capaz de ler com sucesso textos cada vez mais complexos; capaz de manter uma leitura bem-sucedida por longos períodos de tempo ou por um número maior de palavras ou páginas; capaz de compreender bem com menos apoio do professor, com maior independência intelectual.
Isso só acontecerá se você envolver os alunos em oportunidades de leitura silenciosa responsáveis, apoiadas e ampliadas – mesmo que isso tenha que ser feito à distância.
Texto original publicado aqui.
Timothy Shanahan é professor emérito da Universidade de Illinois em Chicago, nos Estados Unidos, onde foi diretor fundador do UIC Center for Literacy. É ex-diretor de leitura das escolas públicas de Chicago. Foi membro do Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Alfabetização, sob os presidentes George W. Bush e Barack Obama. É autor/editor de mais de 200 publicações sobre educação em alfabetização, com ênfase nas conexões entre leitura e escrita, alfabetização em disciplinas e melhoria no desempenho da leitura.
por Americo N. Amorim | mar 16, 2020 | Escribo Play, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação
Highlights
- Consciência fonológica inclui habilidades como separar sílabas e identificar rimas e palavras que iniciam com o mesmo som;
- Experimento feito com 749 crianças apontou ganhos significativos no desenvolvimento da leitura (+68%) e escrita (+48%);
- Mais de 100 escolas, em Pernambuco, Ceará e São Paulo, já adotaram esses jogos.
Um experimento realizado com alunos de educação infantil mostrou que o uso de jogos digitais de consciência fonológica aumentou a aprendizagem em leitura e a habilidade de escrita das crianças. O conceito de consciência fonológica abarca uma série de habilidades, como separar sílabas, juntar sons para formar novas palavras e reconhecer rimas e vocábulos iniciados pelos mesmos sons. Os resultados da pesquisa estão em um artigo publicado no periódico científico Educational Researcher. Os dados do estudo integram a tese de doutorado em educação do brasileiro Americo Amorim, defendida em 2018 na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Partindo da literatura internacional, que aponta que o baixo aprendizado em leitura e escrita está associado à falta de estimulação adequada das crianças na faixa etária pré-escolar, Amorim desenvolveu um programa de estimulação da consciência fonológica por meio de 20 atividades lúdicas gamificadas, que foram realizadas por meio de tablets de baixo custo. Elas foram aplicadas, com a ajuda de professores e psicólogos, durante três meses do segundo semestre de 2017, em 17 escolas particulares de cinco cidades pernambucanas – Recife, Olinda, Paulista, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes.
Um total de 749 alunos, de 62 turmas, com idade média de 4 anos e meio, participou do experimento. As crianças foram divididas, por sorteio, em dois grupos — o que realizou as atividades propostas e o que não as fez (grupo de controle). Ambos os grupos passaram por avaliações antes e depois desse período, e os resultados foram comparados. Os alunos que realizaram o programa tiveram resultados superiores em 68% (leitura) e 48% (escrita) em relação a aqueles que não participaram. Os jogos também geram relatórios que permitem que professores e gestores acompanhem o aprendizado dos alunos.
“Uma das principais contribuições da pesquisa é mostrar a importância de fazer esse tipo de estimulação lúdica já na educação infantil, o que contribui para a alfabetização na idade correta no ensino fundamental”, observa Amorim.
Leia mais
3 dicas para cativar as crianças durante as aulas online
Entenda as diferenças entre o aprendizado online e o ensino remoto de emergência
Timothy Shanahan: já sou um(a) ótimo(a) professor(a), por que deveria seguir evidências científicas?
EvidênciasEscribo: descubra os contrastes entre os ensinos público e privado no Brasil
O trabalho envolveu também pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e da Escribo Inovação para a Aprendizagem, empresa fundada por Amorim em 2015, que desenvolve e comercializa jogos pedagógicos.
Em 2018, a pesquisa foi repetida em escolas públicas, e os resultados, de acordo com Amorim, foram ainda melhores. “Crianças que recebem menos estímulos em casa e na escola acabam se beneficiando ainda mais. As turmas que utilizaram os jogos avançaram o dobro em leitura e o triplo em escrita. Isso nos motivou a continuar aperfeiçoando os jogos para atender cada vez mais as necessidades desses alunos”.
Atualmente, mais de 100 escolas localizadas nos estados de Pernambuco, Ceará e São Paulo utilizam os programas, a maior parte delas da rede pública. Nos próximos meses, vamos divulgar novas evidências surgidas nessa mesma pesquisa. Enquanto isso, toque no sininho ao lado para receber as notificações do nosso blog Ciência do Aprendizado e ler conteúdos inéditos em primeira mão. Até mais.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Comentários