Quando as crianças brincam, elas exercitam a criatividade, a capacidade de desenhar e têm convívio social com outras crianças, fatores indispensáveis no aprendizado da fala e de leitura e escrita. É sobre essas temáticas que tratamos neste novo artigo, também parte do meu doutorado na Johns Hopkins University.
Pontos principais
Pais: sempre estimulem os(as) filhos(as) a brincar com outras crianças. É através das brincadeiras que os pequenos desenvolvem a imaginação e avançam no aprendizado. Professores: aulas com atividades em dupla ou brincadeiras em grupo incentivam a socialização entre as crianças, melhorando o processo de alfabetização. Gestores escolares: é importante que o ensino da linguagem escrita tenha um propósito: brincar, desenhar, conversar/socializar devem estar alinhados aos objetivos do aprendizado de leitura e escrita.
As teorias socioculturais começaram a surgir com os trabalhos do psicólogo russo Vygotsky [1]. Naquela época, eram populares as abordagens de estímulo-resposta e as teorias Gestalt. Embora seja comum rotular o trabalho de Vygotsky como construtivista, ele era diferente de outros estudiosos desse campo, como o pensador suíço Jean Piaget. Vygotsky argumentava que a convivência social tinha uma função essencial no desenvolvimento humano [2].
Essas interações começam cedo e culminam no desenvolvimento da linguagem, ferramenta que usamos inicialmente para nos comunicarmos e que evolui para se tornar uma parte vital do raciocínio humano [1]. Ao dominar a fala, as crianças assumem o controle sobre suas ações, criam alternativas para resolver um problema e podem planejar o futuro [1].
Nesse sentido, Vygotsky chegou ao conceito da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que afirma que a capacidade de uma pessoa para resolver um problema aumenta quando é auxiliada por um colega mais capaz ou por um instrutor [1]. Com algumas interações, o(a) aluno(a) será capaz de realizar a tarefa sozinho(a) e o(a) professor(a) poderá focar nos próximos desafios de aprendizado. Leia mais sobre a zona de desenvolvimento proximal neste artigo.
Dentro deste contexto de promoção de interações, é indispensável destacar a importância do brincar na educação infantil. Nesta etapa, a criança começa a desejar coisas que não pode alcançar [1] como pilotar um avião, e é neste momento que as crianças começam a desenvolver a imaginação. É através das brincadeiras que a criança consegue realizar muitos de seus desejos (ex: levar seus amigos da escola para um voo cheio de acrobacias, por exemplo!) [1]. De acordo com Vygotsky, quando as crianças brincam, elas vivenciam uma zona de desenvolvimento proximal, onde realizam ações que vão além do esperado para suas idades e avançam, portanto, no seu desenvolvimento.
O desenvolvimento da linguagem escrita
Um dos pontos mais interessantes do trabalho de Vygotsky em relação à alfabetização é o que ele afirma sobre a linguagem escrita. Para ele, o desenvolvimento dessa habilidade começa quando a criança passa a usar gestos manuais (apontar e tocar) para representar os sinais visuais (por exemplo, o objeto que ela está olhando e deseja tocar) [1].
Isso se desenvolve até a criança começar a desenhar, quando elas usam esses gestos para fazer rabiscos. Mais do que um rabisco consciente, o desenho no início da educação infantil é uma forma natural de registrar no papel o que as crianças comunicam com seus gestos [1].
O desenvolvimento do simbolismo é outro aspecto importante do aprendizado da linguagem escrita. O simbolismo é bastante presente quando a criança está brincando, quando muitas vezes atribui um outro significado a um objeto [1]. Por exemplo, um pequeno bloco de papel pode se tornar um avião quando a criança o usa para jogar como se fosse um avião. A mesma ligação simbólica pode ser feita com muitos outros objetos (por exemplo, um controle remoto, um telefone celular) se eles servem ao propósito de se mover como um avião de brinquedo – inclusive, não é necessário haver semelhança com uma aeronave real.
A representação simbólica então surge com o desenho na educação infantil, quando a criança começa a traduzir seu discurso verbal (o que fala) em discurso gráfico (o que desenha) [1]. Esse processo evolui e chega ao desenvolvimento da escrita simbólica. Após a fase de três a quatro anos de idade, a maioria das crianças conseguirá usar símbolos escritos e então atribuir palavras ou frases para ações (por exemplo, repetir frases maiores do que esperamos que elas consigam memorizar).
Por isso é importante o ensino da linguagem escrita na educação infantil, mas esse ensino precisa ser organizado de forma que a leitura e a escrita tenham um propósito [1], criando oportunidades para nossos filhos se tornarem letrados, incentivando-os a socializar e usar a linguagem de forma real e relevante.
A maioria dos estudantes das escolas brasileiras, da primeira à terceira série, não aprende o mínimo necessário em leitura e escrita [4]. Uma visão sociocultural pode nos fornecer diversos insights sobre os fatores que contribuem para este baixo nível de aprendizado no ambiente escolar. Podemos começar pensando sobre o desenvolvimento da fala nos primeiros anos da infância.
Para Vygotsky, a criança desenvolve a fala por meio das vivências sociais já nos primeiros anos de vida. O Brasil ainda é um país em desenvolvimento, e as famílias carentes geralmente não possuem os meios adequados para criar seus filhos. Por exemplo, apenas 20,8% das crianças brasileiras estão em creches [5]. A maioria das famílias tem que deixar as crianças com vizinhos ou familiares, e essas pessoas podem não interagir com a criança de forma adequada – ou por terem poucos recursos ou simplesmente não saberem o que fazer para fortalecer o desenvolvimento das crianças.
Por isso, muitas crianças passam menos tempo em sua zona de desenvolvimento proximal, atrasando seu progresso. Passam muito tempo em frente à TV quando deveriam interagir com amigos e adultos, brincar de “faz de conta” e desenhar para desenvolver os discursos orais e gráficos, processos fundamentais ao aprender a linguagem escrita. Essas crianças provavelmente chegam menos desenvolvidas do que poderiam estar quando começam a estudar.
Na educação infantil a criança ainda enxerga o aprendizado como algo divertido mas, infelizmente, ao chegar no primeiro ano do ensino fundamental muitos alunos reclamam que a escola se torna chata. Isso provavelmente acontece porque o aprendizado de leitura e escrita, em muitas escolas brasileiras, ainda usa um processo mecânico que se concentra na codificação e decodificação de símbolos escritos [6]. Parece que os professores não aplicam a dica dada por Vygotsky: permitir que as crianças interajam e se engajem em tarefas sociais enquanto aprendem a ler e escrever.
Isso pode acontecer porque, no Brasil, a maioria graduações voltadas à Educação se concentra no modelo de conteúdo, que enfatiza um histórico cultural geral e a disciplina que o(a) graduando(a) irá ensinar quando se formar. Isso deixa uma grande lacuna, uma vez que a pedagogia, quando ensinada, é apresentada de uma maneira abstrata, sem experiências reais em sala de aula [7].
Aparentemente, a falta de formação pedagógica adequada está entre as principais causas da falta de engajamento do estudante com a escola, que começa a se manifestar nos anos iniciais do ensino fundamental. De acordo com a perspectiva sociocultural, a escrita deve ser ensinada naturalmente; os educadores têm de fornecer meios para as crianças descobrirem, enquanto brincam, que a leitura e a escrita são necessárias. Quando isso acontece, elas geralmente se envolvem no aprendizado.
No entanto, é injusto não lembrar que, durante os anos iniciais, os pais e o sistema educacional brasileiro como um todo esperam que os professores apliquem provas formais, dentro do sistema de notas (de 0 a 10). Como a maioria dos pais e gestores se atém apenas às notas, o nível de aprendizado e de riqueza da linguagem escrita dos alunos pode acabar ficando de lado. Apesar disso, esse aprendizado precisa ser o objetivo principal do ensino.
Nossa visão, alicerçada em Vygotsky, é de que devemos buscar uma educação mais engajante e que promova o desenvolvimento da linguagem oral e escrita rica . Tal busca deve iniciar na educação infantil com o ensino lúdico, porém sistemático, das habilidades que levam a leitura e a escrita.
Referências
[1] Vygotsky, L. S. (1980). Mind in society: The development of higher psychological processes.Cambridge, MA: Harvard University Press.
[2] Ernest, P. (2010). Reflections on theories of learning. In B. Sriraman, & L. English (Eds.), Theories of Mathematics Education(pp. 39-48). New York, NY: Springer.
[3] Soares, M. (1998). Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte, MG: Autêntica.
[4] Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from:http://goo.gl/wzjpiF
[5] Ibope. (2013). Primeiríssima infância: Da gestação aos três anos. Retrieved from: http://goo.gl/u9YpVM
[6] Mortatti, M. D. R. L. (2000). Cartilha de alfabetização e cultura escolar: Um pacto secular.Caderno Cedes, 52, 41-54.
[7] Tanuri, L. M. (2000). História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, 14, 61-88.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Como vimos neste artigo, a educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os estudantes não aprendem o suficiente e os sistemas educacionais não estão conseguindo mudar essa triste realidade. Neste texto vamos entender como o baixo nível de aprendizado é afetado e contribui para a perpetuação da desigualdade social.
Pontos principais Pais: descobrir os fatores que influenciam o desenvolvimento das crianças para garantir que elas aprendam mesmo em ambientes menos favoráveis. Gestores: observar a composição das turmas e de onde vêm seus alunos para mapear o desenvolvimento delas e traçar estratégias mais efetivas. Professores: identificar o contexto onde a criança está inserida para trazer práticas mais significativas, aumentando o interesse dos alunos no aprendizado.
A educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os(as) estudantes não aprendem o suficiente, o que coloca o Brasil entre os piores desempenhos nas avaliações internacionais [1]. Além disso, a taxa de abandono é de 25%, a terceira maior no mundo, o que significa que milhões de estudantes abandonam nossas escolas todo ano reclamando de que a educação fornecida é desinteressante [2]. O baixo desempenho dos(as) alunos(as) nos primeiros anos da alfabetização é certamente um fator importante nesse contexto. De acordo com avaliações nacionais [3]:
● 66% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo necessário em português; e
● 85% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo esperado em matemática.
O problema se estende até o ensino superior, onde estimativas indicam que 50% dos(as) estudantes são analfabetos funcionais [4].
É nesse contexto em que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os(as) alunos(as) da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental no Brasil (primeiro ao terceiro ano). Diversos fatores podem contribuir para tal problema, e este artigo tenta identificar evidências que possam dar mais informações sobre o problema.
A abordagem sociológica pode ajudar a encontrar as relações sociais que afetam o desempenho dos estudantes. Diferentes variáveis foram analisadas para compreender a razão pela qual esse problema ocorre, como raça, gênero, status socioeconômico, histórico do(a) professor(a) e a região na qual o(a) aluno(a) mora.
A evolução da alfabetização no Brasil de acordo com os censos
Uma análise dos dados dos censos de 1872 a 2000 [5] mostra que:
Houve uma redução constante na taxa de analfabetismo de 1890 até 1950 (de 82,5% para 57,2% de analfabetos);
Uma diminuição mais rápida ocorreu entre 1950 e 1960 (chegando a 46,7%);
De 1970 a 2000, a redução da taxa de analfabetismo no Brasil foi mais lenta, mas conseguimos reduzir o percentual de analfabetos para 16,7% em 2000;
Em 2000, apenas 1/3 da população com mais de 15 anos concluiu o ensino fundamental.
A seguir, vamos discutir por que que esse percentual que parece ser pequeno na verdade não é um indicativo confiável sobre as habilidades de leitura e escrita dos brasileiros.
Gênero, raça e renda na Alfabetização
Os dados do censo de 1940 a 2000 também foram utilizados para identificar relações entre o aprendizado de leitura e escrita e questões de gênero e raça [6]. A análise dos censos nos mostra que:
O número de analfabetos na população diminui com o passar do tempo, sendo a queda entre as mulheres é muito mais rápida. Em 1991 as mulheres superam os homens em número de pessoas alfabetizadas;
Há uma diferença clara nas taxas de alfabetização entre grupos raciais diferentes;
Populações asiáticas e brancas aprenderam a ler e escrever muito mais rápido do que as negras e pardas.
Analisando em conjunto os dados do censo e das Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios no período de 1990 a 2010 [7] é possível concluir que:
Levando em consideração gênero e raça, a desigualdade de aprendizagem começa cedo, aos sete anos de idade;
A desigualdade racial entre negros e brancos começa com uma diferença de 4% para estudantes de cinco anos de idade, crescendo rapidamente para 13% entre os de seis anos e 21% aos sete anos. Depois começa a diminuir, terminando em 3% para alunos de 14 anos.
No Censo de 2000 é possível perceber que essa desigualdade está diretamente relacionada à renda familiar: a taxa de analfabetismo nas famílias pobres (renda menor do que um salário mínimo) é vinte vezes maior do que nas famílias mais ricas (renda de mais de dez salários mínimos) [8].
Letramento e renda familiar
Os dados das pesquisas confirmam uma opinião que é a de diversos educadores: regiões carentes, alguns grupos raciais e famílias com renda mais baixa têm mais dificuldade para aprender a ler e escrever.
Por outro lado, eu avalio que esses estudos são falhos num ponto: eles usam dados do censo, que considera alfabetizados todos com mais de cinco anos de idade que saibam escrever um bilhete simples. Entram nessa conta quem já aprendeu a ler e escrever mas esqueceu, assim como quem só sabe escrever o próprio nome. Esse pensamento pode até servir para definir quem é alfabetizado, mas na sociedade atual não chega nem perto do que se espera que um letrado domine. Para entender a diferença entre alfabetizado e letrado, veja este texto.
Outro problema do censo é que suas informações são baseadas somente na opinião do membro da família que responde às perguntas. Não há testes reais. Alguém pode mentir para soar mais inteligente ou até mesmo errar ao julgar o que as outras pessoas da família podem fazer, por exemplo.
Parece que uma perspectiva sociológica pode ser muito mais válida se os estudos usarem dados de avaliações padronizadas. O problema é que os testes padronizados são recentes no Brasil e até agora só foram aplicados nos ensinos médio e superior.
Avaliações padronizadas
O Prova Brasil é um bom exemplo de avaliação padronizada. O teste foi aplicado pela primeira vez em 2005 com os alunos do quinto e nono ano. A gente pode até usar os dados do teste de quinta série para supor os níveis de alfabetização, mas não é um indicador preciso porque cobra conhecimentos além do que é esperado de alguém em processo de alfabetização.
A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é a ferramenta mais adequada para avaliar os problemas do aprendizado de leitura e escrita entre o primeiro e o terceiro ano – período oficial da alfabetização. Ele fornece uma pontuação que reflete as habilidades dos alunos, algo bem mais representativo do que a pergunta que o censo faz aos pais para contabilizar quem é alfabetizado.
Outro ponto interessante é que a ANA informa aspectos sociais e econômicos das famílias que são atendidas pelas escolas [9], como o nível de escolaridade dos pais, a renda e os bens que possuem. A ANA também inclui um índice que aponta o nível de escolaridade e a experiência de cada professor.
Com os dados da ANA, temos como cruzar diversas variáveis, incluindo o desempenho do aluno, sexo, raça, classe social, localização geográfica da escola, recursos escolares (dados retirados de censos educacionais) e formação do professor.
Infelizmente, de 2013 até agora apenas três edições da ana foram feitas. Se conseguirmos aplicar essa avaliação anualmente, certamente teremos mais chances de acompanhar a evolução dos estudantes e avaliar o impacto de novos projetos e/ou metodologias que sejam adotadas pelas escolas. Só assim seremos capazes de reduzir os baixos índices de alfabetização que existem no Brasil.
[2] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília: Fundação Getulio Vargas.
[3] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil.Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w
[4] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD
[5] Ferraro, A. R. (2002). Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos. Educação & Sociedade, 23(81), 21-47.
[6] Beltrão, K. I. (2003). Alfabetização por sexo e raça no Brasil: um modelo linear generalizado para explicar a evolução no período 1940-2000. Retrieved from http://hdl.handle.net/11058/2691
[7] Ferraro, A. R. (2011). A trajetória das taxas de alfabetização no Brasil nas décadas de 1990 e 2000. Educação & sociedade. 32(117). 989-1013.
[8] Pinto, J. M., Oliveira, L. L. N., Brant, C. E. M. S., & Pascom, A. R. P. (2000). Um olhar sobre os indicadores de analfabetismo no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 81(199).
[9] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Nota Explicativa da Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from http://goo.gl/E4NTq5
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
As crianças podem exercitar o que aprendem na escola com as tarefas de casa no menu “Atividades” do Escribo Play! O visual é um pouco diferente para as professoras e para as famílias, por isso, fizemos um passo a passo de como cada público pode aproveitar o que a ferramenta pode oferecer!
Famílias
Na tela de seleção de jogos (1), toque em “Atividades” no canto superior direito da tela.
Na próxima tela, mostramos o prazo para entrega, os acertos e as finalizações dos jogos (2). Além disso, também indicamos se a criança fez atividade no prazo (cor verde), com atraso (amarelo) ou se ainda não fez a atividade (vermelho). Toque no nome do jogo desejado para abri-lo e iniciar a partida.
Para agendar as atividades, a professora precisa tocar no botão jogar sem coletar dados (3), como indica a imagem acima.
Toque no pacote (4) onde está a atividade que será agendada.
Depois, na tela de seleção de jogos, toque no jogo selecionado e, quando a janela acima surgir, toque em Agendar atividade (5).
Na próxima tela, escolha o prazo de entrega e as turmas que vão fazer a atividade na aba Para turma ou, para selecionar e enviar a um grupo de alunos, toque na aba Para grupo (6). Em ambos os casos, finalize tocando no botão Agendar (7). Com essa funcionalidade, professoras e professores podem personalizar ainda mais o uso dos jogos pedagógicos de acordo com as necessidades de cada criança ou grupos de crianças em uma mesma turma.
O acesso dos professores e das professoras ao menu Atividades também fica no botão no canto superior direito da tela de escolha de jogos (8).
Nele, as professoras veem os jogos passados para casa, a data de agendamento e de entrega das atividades. A partir daqui, a professora pode seguir dois caminhos: ou tocar no nome do jogo para acompanhar o andamento das crianças ou selecionar o menu Quadro de Atividades (9), no canto direito da tela, como na imagem acima.
O professor pode ver o status da atividade para cada criança (tarefa feita, não feita ou com atraso). Além de listar o andamento das atividades, o Quadro de Atividade mostra também o percentual de realização de atividades para a turma. É bastante útil para que a escola acompanhe as crianças e turmas com melhor aproveitamento e as que precisam de mais estímulos diretos.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Olá! Tudo bem? Temos uma ótima notícia. Instituída na última quinta-feira (11), a Política Nacional de Alfabetização (PNA) vem com a proposta de combater os índices de analfabetismo no Brasil – tanto para quem não saber ler nem escrever (absoluto) quanto para quem tem baixa capacidade de leitura e compreensão (funcional). Segundo dados da Prova Brasil, 66% dos alunos brasileiros terminam o ensino fundamental sem o aprendizado mínimo desejado para a Língua Portuguesa. Nesse contexto, listamos cinco grandes avanços do documento – e outros dois que merecem a nossa atenção.
1. Incentivo ao uso de evidências científicas
A PNA deixa muito claro, já no primeiro artigo, que vem para melhorar o aprendizado de leitura e escrita com base em evidências científicas, assim teremos projetos que valorizem as descobertas feitas através de pesquisas. Poderemos criar estratégias que otimizem os recursos para alfabetização e tragam resultados mais efetivos para o aprendizado das crianças, como ressaltado pela especialista em políticas educacionais Ilona Becskehazy.
2. Escolas são livres para se adequar à PNA
A PNA institui que não é obrigatória: os municípios e demais entes governamentais poderão aderir à política se julgarem que os programas e projetos serão benéficos para suas escolas e estudantes.
3. Liberdade para escolher o método de alfabetização
Outro ponto positivo é que o documento não impõe que as escolas adotem um método de ensino específico. Pelo contrário, ela valoriza os vários métodos e indica os principais tópicos que devem ser trabalhados através deles para fortalecer o aprendizado das crianças. É uma maneira de respeitar a proposta pedagógica de cada rede escolar.
4. Abordagens reconhecidas no mundo todo
A Política Nacional de Alfabetização dá ênfase a seis tópicos essenciais para a alfabetização: consciência fonêmica; instrução fônica sistemática; fluência em leitura oral; desenvolvimento de vocabulário; compreensão de textos e produção de escrita. Com reconhecimento no mundo inteiro, os componentes trazem consensos científicos atuais sobre as melhores práticas educacionais para se aprender a ler e escrever desde a educação infantil.
5. Metas e avaliações de aprendizagem serão a regra
Em relação à implementação da PNA, os projetos que serão apoiados por ela terão metas claras de aprendizagem, o que é muito importante para que sejam efetivos. Ela também vai privilegiar o desenvolvimento e o uso de instrumentos de avaliação para acompanharmos a evolução dos alunos e se eles estão caminhando para atingir os objetivos.
O que vem por aí
Conforme notado pela educadora Claudia Costin, não existem menções direta à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no documento. Na visão de Ilona, o detalhamento dos objetivos de aprendizagem e demais detalhes da política ainda serão divulgados e devem contemplar a Base.
A política também define o uso de materiais didáticos de forma ampla, e nos próximos documentos serão especificados tanto os mais tradicionais, como livros e jogos tangíveis, como o uso de tecnologia (jogos digitais, por exemplo). Esses materiais digitais deverão estar aprovados pelo Guia de Tecnologias Educacionais, lançado pelo Ministério da Educação em 2018.
A Política Nacional de Alfabetização é o primeiro passo para fortalecer o aprendizado de leitura e escrita. Agora, é preciso que a sociedade – escolas, cientistas e empreendedores – se mobilize para desenvolver, implementar e avaliar projetos que sejam efetivos para as crianças. É hora de executar.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Olá! No artigo de hoje, abordamos a importância de conhecer os aspectos antropológicos do aprendizado de leitura e escrita no Brasil. Compreender o povo e suas dinâmicas é essencial para criarmos abordagens pedagógicas construtivas e adequadas para todos. Esse texto também faz parte da série de publicações que produzi no meu doutorado na Johns Hopkins University.
Pontos principais Pais: sempre estimule seus filhos a ler e fazer as atividades escolares da melhor forma possível. Professores: busque trabalhar com textos que despertem o interesse e a motivação dos estudantes. Aqueles alunos mais difíceis são os que mais precisam de motivação e encorajamento. Gestores escolares: não autorizem práticas de dividir as turmas por habilidades. Se alguma criança estiver sendo excluída, pouco a pouco, é preciso intervir na situação e traçar ações para que ela volte a se motivar e se integrar com as atividades escolares.
Dentro dos problemas da educação brasileira, é preciso entender mais sobre o baixo desempenho no aprendizado de leitura e escrita na educação básica. De acordo com avaliações nacionais [1]:
66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.
Essa questão atinge também o ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. Por isso, a proposta deste artigo é analisar os aspectos antropológicos e sociológicos da educação para apontar os principais desafios e caminhos que podemos seguir para melhorar a alfabetização no Brasil. Também foram investigadas as atividades em sala de aula e as normas culturais que afetam as escolas.
O aprendizado de leitura e escrita na visão da Antropologia
Analisando os fundamentos sociológicos e antropológicos da educação, inicialmente encontramos estudos com foco na alfabetização dos adultos [3]. Uma pesquisa recente aborda o retorno do interesse dos antropólogos pela educação popular, como por exemplo a educação de jovens e adultos [4]. Há ainda textos que mostram um pouco mais do universo dos analfabetos e como eles se desdobram para participar das atividades sociais, mesmo sem ter o domínio da linguagem escrita que é exigido pela sociedade [4].
Outros estudos abordam as práticas orais e escritas na alfabetização brasileira [6]. A forma como escrevemos pode não ser a mesma em todos os lugares e épocas: ela influencia (assim como é influenciada por) questões pessoais e sociais. Isso acontece porque existem vários tipos de linguagem escrita, e diferentes grupos sociais podem interpretar o mesmo texto de maneiras diferentes.
Ainda precisamos pesquisar e aprender muito sobre como o analfabetismo vem abrindo espaço para a cultura escrita [6]. Termos essa consciência é importante para entender que a escrita e o analfabetismo não estão em lados opostos do aprendizado.
Letramento nos primeiros anos de alfabetização
Somente ensinar alguém a ler e escrever (alfabetizar) não é suficiente para desenvolver cidadãos letrados. Prova disso é um estudo feito em uma escola pública com uma turma do primeiro ano do Ensino Fundamental, durante 47 dias. O professor dessa turma entregou textos aos alunos para que eles conhecessem na prática a linguagem escrita, um avanço em relação aos métodos tradicionais de alfabetização.
Apesar disso, as crianças não chegaram a trabalhar com gêneros textuais variados, muitas vezes apenas memorizavam os mesmos textos. As tarefas da classe eram copiar palavras e sílabas, e o aprendizado sobre o uso desses textos na vida em sociedade (letramento) ficou em segundo lugar. Os estudantes não se tornaram letrados – em vez disso, estavam apenas aprendendo a traduzir sons em textos [7].
Uma outra pesquisa encontrou um fato interessante: a busca pela uniformidade [8]. A escola analisada separava os alunos em turmas “fracas” e “fortes”, de acordo com o desempenho deles em testes e questões subjetivas.
Ao analisarem a trajetória de cinco turmas escolares, as pesquisadoras construíram o conceito de “exclusão escolar oculta” [9]. Esta exclusão aparece em algumas falas, gestos e olhares entre professores(as) e alunos(as) quando a escola segrega, abandona e praticamente elimina alunos que não se enquadram nos padrões.
Esses(as) professores(as) costumam ignorar a cultura, as reflexões e até mesmo o interesse dos alunos em participar mais do dia-a-dia da escola. Os estudantes devem simplesmente aprender o conteúdo – em silêncio.
Nesta pesquisa, temos dados interessantes sobre o baixo desempenho dos alunos em processo de alfabetização. O primeiro é que os(as) professores(as) deixaram os padrões de lado. Por exemplo: apesar de os alunos terem livros escolares atuais, certos(as) professores(as) com costumes mais tradicionais ignoravam esses materiais [7].
Progressão automática + segregação + exclusão escolar oculta: combustível explosivo para o baixo nível de aprendizado e a evasão escolar
A Antropologia pode fornecer insights poderosos sobre como as relações e organizações sociais afetam o problema do aprendizado de leitura e escrita no Brasil.
Em relação aos(as) professores(as), é preciso entender por que eles(as) muitas vezes acham inadequado utilizar os novos métodos de ensino. Seria uma questão de falta de familiaridade com estas estratégias pedagógicas diferentes? Falta de motivação por não acreditar nos resultados? Comodismo? Um amplo estudo etnográfico poderia responder a essas questões, muito úteis para a formação de políticas públicas voltadas ao fortalecimento do aprendizado.
Outro ponto chave nessa discussão é o termo “letramento”. Os alunos não estão se tornando letrados, mas os(as) professores(as) e as famílias de baixa renda entendem isso? Os profissionais brasileiros são letrados ou apenas alfabetizados? Com essas perguntas, podemos entender o tamanho real do problema.
Também precisamos falar da segregação dos alunos. O próximo passo seria discutir se separar grupos de estudantes por notas é justificável ou se apenas ajuda os(as) professores(as) a lidar com turmas mais uniformes. Isso tende a deixar o trabalho mais fácil, em classes de baixo desempenho; eles podem dedicar menos esforço e exigir menos de seus alunos, o que pode resultar em um menor nível de aprendizado.
Essa segregação só torna o aprendizado mais difícil para os alunos com baixa escolaridade, além de incentivar uma certa indiferença nos(as) professores(as), o que pode afetar seu desempenho em aulas que exijam uma alta dedicação.
A exclusão escolar oculta é provavelmente um dos piores problemas das escolas brasileiras, porque parece ter raiz no que pode ser considerado o pior aspecto da nossa cultura, que é o “jeitinho brasileiro”. “jeitinho” não significa “fazer um favorzinho para alguém” ignorando algumas tarefas burocráticas. Nesse caso, “jeitinho” que dizer ocultar um processo de segregação grave. Poucos professores admitem que simplesmente desistem de uma parte de seus alunos. Esse processo gera sérios efeitos para as crianças.
Por conta das políticas educacionais brasileiras, é praticamente impossível um aluno brasileiro não passar de ano. Mesmo reprovado, o estudante passa para a próxima série e deveria participar de um programa de recuperação – que em muitas escolas existe apenas no papel.
As crianças segregadas não aparecem nas estatísticas de retenção porque elas avançam exatamente como os outros alunos. O problema é que elas não aprendem nem o básico, então quando enfrentam uma avaliação externa, por exemplo a Prova Brasil no quinto ano, não conseguem atender aos requisitos mínimos. Essa estrutura complexa (exclusão + progressão automática) acaba restringindo as chances do estudante de avançar e conviver em sociedade.
Por fim, mais um ponto a ser analisado é o ambiente familiar. Uma pesquisa antropológica pode descobrir se, aqui no Brasil, existem padrões de linguagens diferentes em famílias de classes sociais diferentes – caso parecido com uma ampla pesquisa feita com crianças norte-americanas [10]. Entender essas e diversas outras questões é indispensável para compreendermos os processos de alfabetização no país, e assim desenharmos políticas públicas e estratégias didáticas para superar o baixo nível de aprendizado de leitura e escrita.
Referências R
[1] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em: http://goo.gl/R6BX3w
[2]
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Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD
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[4] Lovisolo, H. (1988). A educação de adultos
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[6] Magalhães, S. M. D. C. (2012). Oralidade e Cultura Escrita
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[7] Macedo, M. D. S., & Almeida, A. C.
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[8] CARNEIRO, F. H. P. (2006). Caminhos da alfabetização em Minas
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[9] Picetti, J. S., & Real, L. M. C.
(2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares no processo
de alfabetização.Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.
[10] Hart, B., & Risley, T. R. (2003). The
early catastrophe: The 30 million word gap by age 3. American Educator, 27(1),
4-9.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Neste artigo, falamos sobre como a gente precisa se aprofundar na história da alfabetização e do letramentono Brasil para criar estratégias de aprendizagem para o presente e o futuro. Este é mais um artigo de uma série de textos que elaborei no meu doutorado na Johns Hopkins University. Aproveite a leitura!
Pontos principais Pais: conhecendo a história do ensino de leitura e escrita podemos conversar melhor com as professoras sobre o aprendizado de nossos filhos. Gestores: milhões de estudantes brasileiros abandonam as escolas ou não estudam pois dizem que as aulas são “desinteressantes”. Entender como chegamos na educação atual pode nos ajudar a traçar estratégias didáticas mais atrativas, cativando os alunos. Professores: a escola deve compreender quais os fatores têm maior influência sobre a motivação e o engajamento dos estudantes e das famílias e, assim, trabalhar para diminuir a evasão.
Desafios da educação no Brasil
A educação básica do Brasil está em uma situação complicada. A maioria das crianças não aprende o mínimo desejável, colocando o país entre os de menor desempenho em avaliações internacionais [1]. Além disso, a taxa de evasão escolar é de 25%, a terceira maior do mundo. Milhões de estudantes abandonam nossas escolas todos os anos reclamando de que a educação fornecida é desinteressante [3].
De acordo com avaliações nacionais [2]:
66% dos alunos terminam o 9º ano sem aprender o mínimo necessário em portugês;
85% dos alunos terminam o 9º ano sem aprender o mínimo esperado em matemática.
Esse problema se estende até o ensino superior, onde estimativas indicam que 50% dos estudantes são analfabetos funcionais [4].
Sem aprender a ler e escrever bem desde cedo, uma criança jamais irá dominar as outras áreas do conhecimento. Por isso, precisamos nos aprofundar sobre os desafios da alfabetização no Brasil. Esta análise histórica busca determinar os fatos e processos que nos levaram a esse baixo aproveitamento dos alunos no ensino fundamental e no ensino médio.
Uma breve história sobre a alfabetização no Brasil
Os primeiros registros sobre a educação brasileira datam de 1554, a época dos jesuítas e do período colonial. Em 1759, quando os padres foram expulsos do país, suas escolas tinham matriculado menos de 0,1% da população [5]. As primeiras tentativas de organizar a educação do país começaram em 1876 e coincidiram com os movimentos pela formação da República. Esse período foi marcado pela implementação dos primeiros métodos de ensino de leitura, com base em abordagens sintéticas como o método alfabético [6].
A segunda fase da alfabetização no Brasil começou em São Paulo depois de 1890, com professores que defendiam a importância da pedagogia (o “como” se ensina) e dos métodos analíticos. Essa visão moderna gerou uma disputa acirrada entre esse grupo e os adeptos das abordagens mais tradicionais (sintéticas) [6]. O termo “alfabetização” foi criado mas o foco permaneceu em ensinar os alunos a ler, a escrita ainda estava muito ligada à caligrafia [6].
A terceira fase da alfabetização começou por volta de 1920, quando os professores começaram a rejeitar abertamente os métodos analíticos que se tornaram obrigatórios na segunda fase [6]. Foi nesse período em que nasceram os métodos mistos e os testes ABC para medir o desempenho dos alunos [7].
No entanto, uma das mudanças mais fortes foi que a pedagogia ficou cada vez mais dependente dos aspectos psicológicos (“para quem ensinamos”). Esse embate entre os diferentes métodos, a mistura entre “antigo e novo” e a sensação de fragilidade são questões importantes que podem ter influência nos níveis atuais de desempenho dos alunos.
Com início em 1980, a quarta fase da alfabetização brasileira foi marcada por mudanças sociais e políticas que resultaram na restauração da democracia [6]. Nesse período, surgiu o construtivismo, um paradigma muito diferente da tradição behaviorista.
A desvantagem da difusão da perspectiva construtiva foi que ainda não havia um método de ensino-aprendizagem estruturado A ausência de um método estruturado ainda está presente em nossas escolas [8] e deve ser um dos fatores que causa o baixo desempenho dos estudantes de hoje.
Na década de 1990, o sistema educacional brasileiro cresceu e se tornou cada vez mais universalizado. A intenção era permitir que o Brasil fosse competitivo em um contexto globalizado e digital.
O acesso à escola em todos os níveis de educação aumentou consideravelmente, e o país pôde dizer com orgulho que quase todas as crianças já estavam na escola. Apesar de termos conseguido matricular praticamente todas elas, passamos a notar que não estavam aprendendo o suficiente. Essa conjuntura é bastante parecida com a situação atual de nossas escolas [5].
A formação de professores(as) brasileiros(as) e a alfabetização
Para entender a realidade dos educadores, é preciso ter uma visão geral de como o país trabalhou para fornecer uma formação para esses profissionais desde a primeira escola para professores, fundada em 1684 [9]. Num certo momento, essa formação foi “dividida” em duas visões.
De um lado, um modelo mais conteudista, que dá preferência à bagagem cultural do(a) futuro educador(a) e aos conhecimentos específicos da disciplina que escolheu (português, matemática, ciências, etc). De outro lado existe um modelo pedagógico, que valoriza as estratégias de ensino em si. As universidades brasileiras, no decorrer da história, focaram mais no conteúdo e deixaram em segundo plano o “como ensinar”.
Uma abordagem interessante que pode ser utilizada para unir o conteúdo e as abordagens pedagógicas na formação superior dos professores pode tomar como ponto de partida os materiais didáticos usados nas escolas [10].
Os materiais didáticos, como os livros didáticos tradicionais e as novas tecnologias que estão sendo difundidas nas escolas, podem ser aliados à formação docente. Analisando os aspectos pedagógicos desses textos, os(as) graduandos(as) poderiam relembrar o que já haviam aprendido nas outras disciplinas da graduação (o conteúdo) e, ao mesmo tempo, discutir formas de aplicar diferentes estratégias pedagógicas no dia-a-dia enquanto professores(as).
Livros didáticos para alfabetização
Analisando a evolução dos livros didáticos voltados ao ensino de leitura para crianças, podemos aprender muito sobre a situação atual de nossas escolas. A partir de 1890 surgiram as cartilhas, que foram cada vez mais utilizadas e logo se tornaram fundamentais para a disseminação dos diferentes métodos de ensino propostos no decorrer do tempo [11].
As cartilhas também serviram para moldar o conteúdo que deveria ser ensinado e, no final, estabeleceram conceitos importantes sobre aprendizado de leitura e escrita, cujos objetivos e utilidades passaram a fazer parte das escolas [11]. Análises dos livros didáticos mais recentes indicam que eles ainda apresentam algumas das características das cartilhas originais [11].
Esse é um ponto importante para a alfabetização: se os livros didáticos são um componente-chave do arsenal de ferramentas dos professores, eles podem ser uma das causas ou parte da solução dos baixos índices no aprendizado de leitura e escrita nas escolas brasileiras.
A evolução dos métodos de alfabetização
Diferentes propostas pedagógicas para o ensino de leitura e escrita foram introduzidas ao longo das décadas [12]. Em cada época, diferentes grupos surgem com suas próprias visões sociais e políticas, cada um deles oferecendo uma versão do que seria a solução perfeita para o problema do baixo desempenho das escolas brasileiras.
Quando um grupo assim surge, ele geralmente defende um método de ensino revolucionário, baseado nas “mais recentes descobertas científicas”. Conceitos como “antigos” e “tradicionais” passam a ser usados para atacar as propostas anteriores, que são colocadas como frágeis em relação aos novos métodos – esses sim inovadores e cheios de vantagens.
Definindo alfabetização e letramento
A palavra “letramento” foi introduzida por volta de 1980 no Brasil, na França (illettrisme) e em Portugal (literacia) para definir práticas sociais de leitura e escrita que decorrem do processo de aprendizagem da leitura e escrita [8].
Letramento é “um estado ou condição que um grupo social ou um indivíduo adquire como consequência de ter dominado a escrita e suas práticas sociais” [13] (p. 4). Esse termo contrasta fortemente com alfabetização, que significa ter aprendido a ler e a escrever.
Resumindo, letrado é alguém que aprendeu a ler e escrever (alfabetizado) e usa essas habilidades para se envolver em atividades que o integram à sociedade. Isso inclui ler diversos tipos de textos, desde notícias simples a romances complexos, escrever bilhetes simples, uma carta, um ensaio ou até mesmo uma dissertação.
O construto letramento é interessante para se analisar o problema do baixo nível de aprendizado de leitura e escrita nas escolas brasileiras. As pesquisas no Brasil podem estar dizendo que uma certa parcela da população não é alfabetizada, mas na realidade avaliando se essas pessoas são letradas. Assim, precisamos definir qual é o objetivo real das nossas escolas. Queremos alfabetizar? Alfabetizar e letrar?
Outro aspecto importante é que, com a revolução digital (ex: smartphones, apps e mídias sociais), o uso da linguagem escrita está aumentando dramaticamente para as classes de renda mais baixa. Isso é importante porque permite que elas leiam e participem mais das práticas letradas, mas traz alguns desafios – principalmente em relação às suas imagens pessoais e profissionais, quando cometem erros de compreensão e grafia.
Aparentemente, o objetivo do sistema educacional brasileiro deve ser ensinar aos alunos a ler e escrever (alfabetização) e garantir que façam o uso social dessas habilidades (letramento). É necessário trabalharmos para que estas duas habilidades sejam atingidas por todos os estudantes.
[2] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil. Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w
[3] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília: Fundação Getulio Vargas.
[4] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD
[5] Marcílio, M. L. (2005). História da escola em São Paulo e no Brasil. São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Instituto Fernand Braudel.
[6] Mortatti, M. D. R. L. (2006). História dos métodos de alfabetização no Brasil. Portal Mec Seminário Alfabetização e Letramento Em Debate.
[7] Monarcha, C. (2008). “Testes ABC”: origem e desenvolvimento. Boletim-Academia Paulista de Psicologia, 28, 7-17.
[8] Soares, M. (2004). Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, 25, 5-17.
[10] Saviani, D. (2009). Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista brasileira de Educação, 40, 143.
[11] Mortatti, M. D. R. L. (2000). Cartilha de alfabetização e cultura escolar: um pacto secular. Caderno Cedes, 52, 41-54.
[12] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: contribuições para metodizar o debate. Acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.
[13] Soares, M. (1998). O que é letramento e alfabetização. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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