A partir de hoje, você conhece aqui as #EvidênciasEscribo, uma série de descobertas interessantes sobre a realidade das redes de ensino pública e privada no Brasil. Esse estudo é parte da pesquisa de Américo N. Amorim, doutor em Educação pela John Hopkins University. O estudo foi feito com 749 estudantes de 62 turmas localizadas em cinco cidades diferentes.
Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)
Na nossa pesquisa, metade dos(as) educadores(as) das escolas privadas pede a cópia de texto toda semana. Os números são bem diferentes na rede pública: de acordo com a Prova Brasil 2017, cerca de 51% dos profissionais trabalha atividades de cópia todos os dias enquanto 32% adotam a prática semanalmente.
Será que as crianças aprendem mesmo com os exercícios de copiar? Quais informações realmente se convertem em aprendizado? Os dados da pesquisa sugerem que enquanto muitas escolas públicas focam nas tarefas de cópia, as particulares tendem a ampliar o leque de estímulos às crianças.
Por experiência, podemos afirmar que nossos filhos aprendem com mais facilidade quando as aulas trabalham diferentes aspectos com estímulos audiovisuais (por exemplo, vídeos, imagens, contação de história), práticos (música, dança) e lúdicos, como por exemplo os jogos educativos do Escribo Play.
As atividades de cópias podem ser úteis quando não são atividades meramente mecânicas: elas precisam fazer sentido para a criança, estar contextualizadas e adequadas à proposta pedagógica da escola.
Equipe de professores(as) leva em consideração minhas ideias
Na rede pública, cerca de 37% das entrevistadas acredita que as equipes de professores sempre levam em consideração as ideias propostas em reuniões, além de ações cotidianas. O número sobe para 48% entre os professores da rede privada que enxergam suas ideias como sempre bem-vindas.
Assim como é importante para as crianças viver em comunidade, os números provam como é indispensável que os professores estimulem entre si o senso de coletividade. Equipes que constroem juntas planos para o futuro tendem a criar estratégias pedagógicas mais assertivas e com mais resultados satisfatórios.
Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)
Nas escolas públicas, a pesquisa constatou que para 33% dos entrevistados o(a) diretor(a) sempre informa os(as) professores(as) sobre as possibilidades de aperfeiçoamento profissional. Esses diálogos sempre ocorrem para 46% dos entrevistados de escolas particulares.
Esse é um dado interessante para os gestores escolares porque indica duas coisas: primeiro, é um lembrete de que profissionais qualificados podem ser mais produtivos e portanto mais satisfeitos com o cotidiano escolar.
Segundo, uma formação atualizada pode gerar resultados positivos e facilitar o aprendizado das crianças. Portanto, é essencial que tanto escolas públicas quanto particulares se empenhem em manter uma comunicação aberta sobre as oportunidades de aperfeiçoamento dos professores e coordenadores.
Carga horária semanal numa mesma escola
Cerca de 28% dos entrevistados de escolas privadas trabalham mais de 40h numa mesma escola, por semana. O número cai para 7% na rede pública. O cálculo considera horas acertadas em contrato (horas-aula e horas destinadas a atividades).
Para nós da Escribo, professores(as) com jornadas menores podem organizar as atividades diárias/semanais da forma mais adequada às suas realidades, o que gera mais qualidade de vida para os professores, maior rendimento e reflete de forma positiva no aprendizado das crianças.
Participo das decisões relacionadas com meu trabalho
As escolas públicas seguem no caminho certo: cerca de 46% dos(as) professores(as) da rede afirmam poder decidir e definir ações ligadas ao trabalho realizado no dia-a-dia. Em comparação, o sentimento é compartilhado por 30% dos(as) educadores(as) de escolas particulares.
É interessante que o(a) professor(a) tenha voz no processo decisório. Porém, também é importante que o(a) profissional saiba escutar as sugestões e o direcionamento dos profissionais de coordenação e direção, que são mais experientes e podem ajudá-lo(a) a aperfeiçoar as suas práticas de ensino e aprendizagem.
O diretor me anima e me motiva para o trabalho
Em escolas da rede pública, cerca de 35% dos entrevistados afirmam que, nesta escola, a diretoria se empenha em motivar a equipe de professores(as). O número de profissionais animados sobe para 63% nas escolas privadas.
Além da necessidade do incentivo à capacitação, já citada, também é importante oferecer uma estrutura de apoio às propostas de aula do educador, acompanhar as suas atividades e necessidades e estimular a liberdade de ensino – afinal de conta, cada professor(a) tem uma sensibilidade e estilo únicos de ensino.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
É com orgulho que anunciamos a chegada da Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia! Lançada em maio de 2019, a Revista é especializada na divulgação de artigos científicos sobre processos de aprendizagem, inovações educacionais, jogos educativos e o papel deles no aprendizado das crianças da educação infantil e do ensino fundamental. O primeiro volume já está no ar.
Com uma linguagem acessível a todos, publicamos pesquisas e sínteses de evidências científicas sobre o aprendizado disponíveis nos mais prestigiados periódicos científicos do mundo, que antes não eram lidas no Brasil por serem em inglês e usarem termos muito técnicos.
Assim, a nova geração de educadores cursando licenciaturas, pedagogia, psicologia cognitiva e áreas afins têm acesso facilitado a uma bibliografia atualizada através da nossa Revista. Dessa forma, buscamos oferecer o estado da arte das pesquisas de diversas disciplinas que se relacionam com o campo da educação e do aprendizado, especialmente a neurociência, psicologia, computação, design e educação.
Fique à vontade para “folhear” os conteúdos, citar os artigos na sua pesquisa ou até mesmo submeter a sua própria produção. Acesse a Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia em escribo.com/revista. 😉
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Neste texto, vamos resumir e analisar os fatores que contribuem com o insucesso na alfabetização, indicando quais deles podem ser objeto de intervenções de gestores educacionais e professores. Boa leitura.
Pontos principais Pais: não deixem de participar da vida escolar dos(as) filhos(as): como reforço ao aprendizado, frequentem eventos escolares e cultivem o hábito de leitura junto às crianças. Professores: é importante se avaliar e entender de que forma os hábitos (leitura, motivação, sensação de adequação, por exemplo) de quem ensina reflete no aprendizado das crianças. Isso deixa as turmas mais próximas aos(às) professores(as). Gestores escolares: procurem, sempre que possível, atentar para a estrutura da escola (materiais educativos, salas, banheiros) e estar sempre próximos dos(as) alunos(as). Esse envolvimento favorece o sucesso das atividades em aula.
O fraco desempenho dos(as) estudantes em leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental é um sério problema para o sistema educacional brasileiro. Segundo as avaliações nacionais [1]:
66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.
Esse problema também chega ao ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. É dentro desse contexto que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os alunos do ensino fundamental no Brasil.
O fracasso no aprendizado de leitura e escrita, uma questão estudada por várias disciplinas
A perspectiva histórica
Os livros de alfabetização das séries iniciais podem ser de grande importância para entender os baixos níveis de desempenho dos alunos. Esses livros surgiram por volta de 1890 e muitos professores ainda os utilizam como o seu principal guia – um reflexo dos embates metodológicos que ainda ocorrem no campo da alfabetização [3].
Desde 1980, o paradigma educacional mais importante no Brasil é o construtivismo, que foi fortemente promovido pela academia e pelo governo até 2018. Infelizmente, com base no pressuposto de que os alunos devem construir seus conhecimentos, uma grande parte dos educadores brasileiros esquece de dar atenção especial a concepção e planejamento das experiências didáticas que irão oferecer aos seus alunos [4]. Essa deficiência pode ser uma das razões que explica a falta de um método de alfabetização que seja reconhecido como efetivo nos anos iniciais [4]. Dentro deste contexto, a abordagem fonética começou a se proliferar depois dos anos 2000. Seus críticos, no entanto, dizem que é muito mecânica e não torna as crianças cidadãos alfabetizados e letrados [3].
Antropologia e o “jeitinho” na educação
Uma análise antropológica nos leva a crer que certos(as) professores(as) usam o “jeitinho brasileiro” quando deveriam adotar, por exemplo, práticas de letramento. Eles fingem estar de acordo e parecem ensinar pelo viés do letramento mas, na verdade, faltam componentes essenciais para uma proposta letrada. A pesquisa etnográfica revelou um processo desanimador em que professores e escola segregam alunos que não atendem aos padrões de comportamento e desempenho [5].
Raça, classe, gênero e sua influência no ensino
A perspectiva sociológica fornece uma visão interessante sobre a desigualdade socioeconômica e racial que ainda afeta os(as) alunos(as) dos anos iniciais. Também revelou o fato de que o censo brasileiro não é um instrumento confiável para avaliar a alfabetização porque é baseado apenas na resposta “sim” ou “não”. Em vez disso, futuros estudos devem se concentrar em dados de avaliações nacionais para avaliar a situação racial, socioeconômica e as lacunas de aprendizagem.
Relações entre educação e a economia
O aprendizado na educação infantil, o histórico familiar e o envolvimento dos pais são os principais fatores que influenciam o desempenho durante a alfabetização [6]. Enquanto isso, as famílias analfabetas experimentam alguns benefícios excepcionais quando seus filhos aprendem a ler e escrever, incluindo melhorias na saúde e na renda [7].
Principais fatores dos baixos níveis de alfabetização
Escola, família, professor e aluno foram as quatro dimensões identificadas para organizar causas e fatores ligados aos baixos níveis de aprendizado de leitura e escrita na alfabetização.
Visando demonstrar potenciais ações que podem ser conduzidas por gestores educacionais e professores, fizemos uma classificação das causas que contribuem com o baixo nível de aprendizado. O nível de importância para cada fator foi atribuído de acordo com uma regra simples: o que influenciava diretamente a aprendizagem tinha grande importância. Fatores de segunda ordem, como a contribuição do(a) diretor(a), tinham importância moderada. Duas características foram observadas para definir se um fator tinha resultados interessantes em menos de um ano letivo (acionável): o tempo de resposta e o custo da intervenção.
A Escola
A primeira dimensão é a escola, que inclui um fator que não é acionável facilmente: a infraestrutura física fraca (falta de banheiros e salas de aula adequadas). Apesar disso, dois pontos são acionáveis. O primeiro é uma administração frágil, com diretores pouco engajados e pouco hábeis [8]. O segundo envolve materiais escolares inadequados de baixa qualidade ou em falta; jogos infantis, quadros brancos e tecnologias educacionais. Em um país onde a formação de professores é tida como deficiente em pedagogia, os livros didáticos e tecnologias educacionais podem desempenhar um papel relevante nas atividades em sala, indicando que esse é um fator importante [9].
A Família
A segunda dimensão é a família. Aqui, um ponto muito importante
não é acionável: pobreza e baixo capital social. Quase 82% das famílias de
estudantes brasileiros vivem com menos de R$ 2.364 por mês [10]. A falta de
formação também tem importância moderada – 56% dos pais não concluíram o ensino
médio [10]. Há inclusive uma forte influência do desempenho escolar da mãe na
conquista inicial da alfabetização de seus filhos [11].
Infelizmente, mudar a realidade das famílias não é viável em curto prazo
pensando na maioria dos gestores escolares e professores.
Outro fator moderado é o pouco envolvimento dos familiares com
a vida escolar das crianças. No Brasil, 39% dos pais frequentam apenas alguns
eventos escolares e 18% simplesmente não frequentam. Há também pais que se
importam, mas não sabem como colaborar com a alfabetização de seus filhos. Um
dado comparativo sobre essa questão é que apenas 42% dos pais lêem livros no
país. Desses, 63% lêem a Bíblia. Apenas 17% deles lêem jornais diários e 5% lêem revistas [10]. Isso
demonstra que a maioria das famílias não exercita a leitura nem a linguagem
escrita todos os dias. Nesse sentido, as políticas públicas poderiam incentivar
os pais a lerem para seus filhos antes de ingressarem na escola, mesmo que os
pais sejam analfabetos e não dominem a língua escrita [11].
O(A) Professor(a)
A terceira dimensão, o professor, inclui fatores acionáveis
de importância moderada: pouca consciência sobre os próprios conhecimentos
[12], pouca motivação e baixa autoeficácia [13]. Em último, vêm as suas fracas
abordagens de ensino, nas quais há uma enorme distância entre o que é dito e o
que é visto na prática em sala de aula. Especialmente quando se fala sobre a
criação de atividades que viabilizam que os(as) alunos(as) dos anos iniciais do
ensino fundamental usem a escrita no seu cotidiano social (letramento). Nos
anos seguintes, fica evidente que a leitura e a escrita não são parte da vida
dos alunos. A razão para a dificuldade em promover hábitos de leitura entre os
estudantes pode vir do estilo de vida do(a) professor(a), já que 37% deles(a)
nunca lêem e 18% raramente lêem [14].
Professores(as) brasileiros(as) perdem muito tempo
disciplinando estudantes, o que deixa menos tempo para o ensino em si [11].
Isso pode apontar para métodos pedagógicos falhos, mas também pode estar ligado
ao baixo envolvimento das famílias no processo [10]. Outra descoberta triste
foi a tendência entre os professores dos anos iniciais brasileiros de culpar a
pobreza, a falta de motivação dos estudantes e o envolvimento da família como
as principais razões para o baixo desempenho escolar [15]. Como já foi citado,
esses fatores podem de fato contribuir para as dificuldades do(a) aluno(a), mas
há educadores que usam esses argumentos para esconderem deficiências e se
oporem às iniciativas de transformação das suas instituições em escolas
eficazes.
O(A) Aluno(a)
Um fator acionável moderado é a falta de habilidades
metacognitivas. Um treinamento específico poderia ser feito para melhorá-las na
alfabetização e nos demais aprendizados [16]. O último fator é altamente
significativo e acionável, que é a baixa motivação e autoeficácia do(a)
aluno(a). A maioria dos(as) desistentes disse que a razão principal para terem
abandonado a escola era a falta de motivação [17].
A falta de sucesso do(a) aluno(a) na alfabetização, nos anos
iniciais, leva ao fracasso nas séries seguintes [6]. Além disso, filhos de
famílias carentes que têm acesso a um computador em casa apresentaram maiores
taxas de aproveitamento [6]. Isso quer dizer que esses(as) estudantes têm
níveis mais altos de autoeficácia e motivação [18]?
Para concluir, a Tabela 1 abaixo resume todos os fatores identificados. Existem três fatores acionáveis de grande importância: materiais de aprendizagem inadequados, abordagens de ensino fracas e motivação e autoeficácia inadequadas do aluno. Esses fatores podem ser atacados por gestores e educadores que estejam planejando mudanças em suas instituições e práticas de ensino-aprendizagem.
Categoria
Fator
Acionável
Importância
Escola
Infraestrutura física inadequada
Não
Moderada
Gestão e engajamento fracos
Sim
Moderada
Material de ensino inadequado
Sim
Alta
Família
Pobreza e baixo capital social
Não
Alta
Falta de formação educacional
Não
Moderada
Baixo engajamento
Sim
Moderada
Professor(a)
Fraca motivação e autoeficácia
Sim
Moderada
Baixas habilidades metacognitivas
Sim
Moderada
Abordagens de ensino fracas
Sim
Alta
Estudante
Capacidades metacognitivas ruins
Sim
Moderada
Má motivação e autoeficácia
Sim
Alta
Referências
[1] Qedu. (2015a). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em: http://goo.gl/R6BX3w
[2] Globo. (2012, November 26). DFTV
2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD
[3] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A
“querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: Contribuições para
metodizar o debate. Acolhendo a
alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.
[4] Mortatti, M. D. R. L. (2006).
História dos métodos de alfabetização no Brasil. Proceedings from Seminário alfabetização e letramento em
debate. Brasília, DF: MEC. Disponível em: http://goo.gl/PvNsh8
[5] Picetti, J. S., & Real, L.
M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares
no processo de alfabetização.Acolhendo a
Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.
[6] Costa, L. O., Loureiro, A. F.,
& Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos
estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.
[7] Ribeiro, F. G., & Carraro,
A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.
[8] Ribeiro, F. G., & Cechin, L.
A. (2012). As externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de
curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.
[9] Falsarella, A. M. (2013). O
gestor escolar em meio a discursos contraditórios: Formação docente e
desempenho dos alunos. Colabor@, 8(30).
[10] Saviani, D. (2009). Formação de
professores: Aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro.
Revista Brasileira de Educação, 40,
143.
[11] Ibope (2014). Atitudes pela Educação. Disponível em:
http://goo.gl/OOxhLt
[12] Fuller, B., Dellagnelo, L.,
Strath, A., Bastos, E. S. B., Maia, M. H., de Matos, K. S. L., … &
Vieira, S. L. (1999). How to raise children’s early literacy? The influence of
family, teacher, and classroom in northeast Brazil. Comparative education review, 43, 1-35.
[13] Portilho, E. M. L., &
Dreher, S. A. S. (2012). Categorias metacognitivas como subsídio à prática
pedagógica. Educação e Pesquisa, 38(1),
181-196.
[14] Ibope (2009). A educação vista pelos olhos do professor.
Disponível em: http://goo.gl/S0rtgy
[15] Qedu (2015b). Respostas dos professores. Disponível
em: http://goo.gl/0EqYYH
[16] Davis, C. L. F., & Miranda,
M. I. (2012). Problemas de aprendizagem na alfabetização: Contribuições da
pesquisa-ação escolar. Educação e Filosofia,
26(51), 289-312.
[17] Monteiro, C. R. (2010). A
aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. Cadernos de Educação, 35, 271-302.
[18] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília, DF:
Fundação Getúlio Vargas.
[19] Couse, L. J., & Chen, D. W.
(2010). A tablet computer for young children? Exploring its viability for early
childhood education. Journal of Research
on Technology in Education, 43(1),
75-96.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Quando as crianças brincam, elas exercitam a criatividade, a capacidade de desenhar e têm convívio social com outras crianças, fatores indispensáveis no aprendizado da fala e de leitura e escrita. É sobre essas temáticas que tratamos neste novo artigo, também parte do meu doutorado na Johns Hopkins University.
Pontos principais
Pais: sempre estimulem os(as) filhos(as) a brincar com outras crianças. É através das brincadeiras que os pequenos desenvolvem a imaginação e avançam no aprendizado. Professores: aulas com atividades em dupla ou brincadeiras em grupo incentivam a socialização entre as crianças, melhorando o processo de alfabetização. Gestores escolares: é importante que o ensino da linguagem escrita tenha um propósito: brincar, desenhar, conversar/socializar devem estar alinhados aos objetivos do aprendizado de leitura e escrita.
As teorias socioculturais começaram a surgir com os trabalhos do psicólogo russo Vygotsky [1]. Naquela época, eram populares as abordagens de estímulo-resposta e as teorias Gestalt. Embora seja comum rotular o trabalho de Vygotsky como construtivista, ele era diferente de outros estudiosos desse campo, como o pensador suíço Jean Piaget. Vygotsky argumentava que a convivência social tinha uma função essencial no desenvolvimento humano [2].
Essas interações começam cedo e culminam no desenvolvimento da linguagem, ferramenta que usamos inicialmente para nos comunicarmos e que evolui para se tornar uma parte vital do raciocínio humano [1]. Ao dominar a fala, as crianças assumem o controle sobre suas ações, criam alternativas para resolver um problema e podem planejar o futuro [1].
Nesse sentido, Vygotsky chegou ao conceito da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que afirma que a capacidade de uma pessoa para resolver um problema aumenta quando é auxiliada por um colega mais capaz ou por um instrutor [1]. Com algumas interações, o(a) aluno(a) será capaz de realizar a tarefa sozinho(a) e o(a) professor(a) poderá focar nos próximos desafios de aprendizado. Leia mais sobre a zona de desenvolvimento proximal neste artigo.
Dentro deste contexto de promoção de interações, é indispensável destacar a importância do brincar na educação infantil. Nesta etapa, a criança começa a desejar coisas que não pode alcançar [1] como pilotar um avião, e é neste momento que as crianças começam a desenvolver a imaginação. É através das brincadeiras que a criança consegue realizar muitos de seus desejos (ex: levar seus amigos da escola para um voo cheio de acrobacias, por exemplo!) [1]. De acordo com Vygotsky, quando as crianças brincam, elas vivenciam uma zona de desenvolvimento proximal, onde realizam ações que vão além do esperado para suas idades e avançam, portanto, no seu desenvolvimento.
O desenvolvimento da linguagem escrita
Um dos pontos mais interessantes do trabalho de Vygotsky em relação à alfabetização é o que ele afirma sobre a linguagem escrita. Para ele, o desenvolvimento dessa habilidade começa quando a criança passa a usar gestos manuais (apontar e tocar) para representar os sinais visuais (por exemplo, o objeto que ela está olhando e deseja tocar) [1].
Isso se desenvolve até a criança começar a desenhar, quando elas usam esses gestos para fazer rabiscos. Mais do que um rabisco consciente, o desenho no início da educação infantil é uma forma natural de registrar no papel o que as crianças comunicam com seus gestos [1].
O desenvolvimento do simbolismo é outro aspecto importante do aprendizado da linguagem escrita. O simbolismo é bastante presente quando a criança está brincando, quando muitas vezes atribui um outro significado a um objeto [1]. Por exemplo, um pequeno bloco de papel pode se tornar um avião quando a criança o usa para jogar como se fosse um avião. A mesma ligação simbólica pode ser feita com muitos outros objetos (por exemplo, um controle remoto, um telefone celular) se eles servem ao propósito de se mover como um avião de brinquedo – inclusive, não é necessário haver semelhança com uma aeronave real.
A representação simbólica então surge com o desenho na educação infantil, quando a criança começa a traduzir seu discurso verbal (o que fala) em discurso gráfico (o que desenha) [1]. Esse processo evolui e chega ao desenvolvimento da escrita simbólica. Após a fase de três a quatro anos de idade, a maioria das crianças conseguirá usar símbolos escritos e então atribuir palavras ou frases para ações (por exemplo, repetir frases maiores do que esperamos que elas consigam memorizar).
Por isso é importante o ensino da linguagem escrita na educação infantil, mas esse ensino precisa ser organizado de forma que a leitura e a escrita tenham um propósito [1], criando oportunidades para nossos filhos se tornarem letrados, incentivando-os a socializar e usar a linguagem de forma real e relevante.
A maioria dos estudantes das escolas brasileiras, da primeira à terceira série, não aprende o mínimo necessário em leitura e escrita [4]. Uma visão sociocultural pode nos fornecer diversos insights sobre os fatores que contribuem para este baixo nível de aprendizado no ambiente escolar. Podemos começar pensando sobre o desenvolvimento da fala nos primeiros anos da infância.
Para Vygotsky, a criança desenvolve a fala por meio das vivências sociais já nos primeiros anos de vida. O Brasil ainda é um país em desenvolvimento, e as famílias carentes geralmente não possuem os meios adequados para criar seus filhos. Por exemplo, apenas 20,8% das crianças brasileiras estão em creches [5]. A maioria das famílias tem que deixar as crianças com vizinhos ou familiares, e essas pessoas podem não interagir com a criança de forma adequada – ou por terem poucos recursos ou simplesmente não saberem o que fazer para fortalecer o desenvolvimento das crianças.
Por isso, muitas crianças passam menos tempo em sua zona de desenvolvimento proximal, atrasando seu progresso. Passam muito tempo em frente à TV quando deveriam interagir com amigos e adultos, brincar de “faz de conta” e desenhar para desenvolver os discursos orais e gráficos, processos fundamentais ao aprender a linguagem escrita. Essas crianças provavelmente chegam menos desenvolvidas do que poderiam estar quando começam a estudar.
Na educação infantil a criança ainda enxerga o aprendizado como algo divertido mas, infelizmente, ao chegar no primeiro ano do ensino fundamental muitos alunos reclamam que a escola se torna chata. Isso provavelmente acontece porque o aprendizado de leitura e escrita, em muitas escolas brasileiras, ainda usa um processo mecânico que se concentra na codificação e decodificação de símbolos escritos [6]. Parece que os professores não aplicam a dica dada por Vygotsky: permitir que as crianças interajam e se engajem em tarefas sociais enquanto aprendem a ler e escrever.
Isso pode acontecer porque, no Brasil, a maioria graduações voltadas à Educação se concentra no modelo de conteúdo, que enfatiza um histórico cultural geral e a disciplina que o(a) graduando(a) irá ensinar quando se formar. Isso deixa uma grande lacuna, uma vez que a pedagogia, quando ensinada, é apresentada de uma maneira abstrata, sem experiências reais em sala de aula [7].
Aparentemente, a falta de formação pedagógica adequada está entre as principais causas da falta de engajamento do estudante com a escola, que começa a se manifestar nos anos iniciais do ensino fundamental. De acordo com a perspectiva sociocultural, a escrita deve ser ensinada naturalmente; os educadores têm de fornecer meios para as crianças descobrirem, enquanto brincam, que a leitura e a escrita são necessárias. Quando isso acontece, elas geralmente se envolvem no aprendizado.
No entanto, é injusto não lembrar que, durante os anos iniciais, os pais e o sistema educacional brasileiro como um todo esperam que os professores apliquem provas formais, dentro do sistema de notas (de 0 a 10). Como a maioria dos pais e gestores se atém apenas às notas, o nível de aprendizado e de riqueza da linguagem escrita dos alunos pode acabar ficando de lado. Apesar disso, esse aprendizado precisa ser o objetivo principal do ensino.
Nossa visão, alicerçada em Vygotsky, é de que devemos buscar uma educação mais engajante e que promova o desenvolvimento da linguagem oral e escrita rica . Tal busca deve iniciar na educação infantil com o ensino lúdico, porém sistemático, das habilidades que levam a leitura e a escrita.
Referências
[1] Vygotsky, L. S. (1980). Mind in society: The development of higher psychological processes.Cambridge, MA: Harvard University Press.
[2] Ernest, P. (2010). Reflections on theories of learning. In B. Sriraman, & L. English (Eds.), Theories of Mathematics Education(pp. 39-48). New York, NY: Springer.
[3] Soares, M. (1998). Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte, MG: Autêntica.
[4] Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from:http://goo.gl/wzjpiF
[5] Ibope. (2013). Primeiríssima infância: Da gestação aos três anos. Retrieved from: http://goo.gl/u9YpVM
[6] Mortatti, M. D. R. L. (2000). Cartilha de alfabetização e cultura escolar: Um pacto secular.Caderno Cedes, 52, 41-54.
[7] Tanuri, L. M. (2000). História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, 14, 61-88.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Como vimos neste artigo, a educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os estudantes não aprendem o suficiente e os sistemas educacionais não estão conseguindo mudar essa triste realidade. Neste texto vamos entender como o baixo nível de aprendizado é afetado e contribui para a perpetuação da desigualdade social.
Pontos principais Pais: descobrir os fatores que influenciam o desenvolvimento das crianças para garantir que elas aprendam mesmo em ambientes menos favoráveis. Gestores: observar a composição das turmas e de onde vêm seus alunos para mapear o desenvolvimento delas e traçar estratégias mais efetivas. Professores: identificar o contexto onde a criança está inserida para trazer práticas mais significativas, aumentando o interesse dos alunos no aprendizado.
A educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os(as) estudantes não aprendem o suficiente, o que coloca o Brasil entre os piores desempenhos nas avaliações internacionais [1]. Além disso, a taxa de abandono é de 25%, a terceira maior no mundo, o que significa que milhões de estudantes abandonam nossas escolas todo ano reclamando de que a educação fornecida é desinteressante [2]. O baixo desempenho dos(as) alunos(as) nos primeiros anos da alfabetização é certamente um fator importante nesse contexto. De acordo com avaliações nacionais [3]:
● 66% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo necessário em português; e
● 85% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo esperado em matemática.
O problema se estende até o ensino superior, onde estimativas indicam que 50% dos(as) estudantes são analfabetos funcionais [4].
É nesse contexto em que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os(as) alunos(as) da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental no Brasil (primeiro ao terceiro ano). Diversos fatores podem contribuir para tal problema, e este artigo tenta identificar evidências que possam dar mais informações sobre o problema.
A abordagem sociológica pode ajudar a encontrar as relações sociais que afetam o desempenho dos estudantes. Diferentes variáveis foram analisadas para compreender a razão pela qual esse problema ocorre, como raça, gênero, status socioeconômico, histórico do(a) professor(a) e a região na qual o(a) aluno(a) mora.
A evolução da alfabetização no Brasil de acordo com os censos
Uma análise dos dados dos censos de 1872 a 2000 [5] mostra que:
Houve uma redução constante na taxa de analfabetismo de 1890 até 1950 (de 82,5% para 57,2% de analfabetos);
Uma diminuição mais rápida ocorreu entre 1950 e 1960 (chegando a 46,7%);
De 1970 a 2000, a redução da taxa de analfabetismo no Brasil foi mais lenta, mas conseguimos reduzir o percentual de analfabetos para 16,7% em 2000;
Em 2000, apenas 1/3 da população com mais de 15 anos concluiu o ensino fundamental.
A seguir, vamos discutir por que que esse percentual que parece ser pequeno na verdade não é um indicativo confiável sobre as habilidades de leitura e escrita dos brasileiros.
Gênero, raça e renda na Alfabetização
Os dados do censo de 1940 a 2000 também foram utilizados para identificar relações entre o aprendizado de leitura e escrita e questões de gênero e raça [6]. A análise dos censos nos mostra que:
O número de analfabetos na população diminui com o passar do tempo, sendo a queda entre as mulheres é muito mais rápida. Em 1991 as mulheres superam os homens em número de pessoas alfabetizadas;
Há uma diferença clara nas taxas de alfabetização entre grupos raciais diferentes;
Populações asiáticas e brancas aprenderam a ler e escrever muito mais rápido do que as negras e pardas.
Analisando em conjunto os dados do censo e das Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios no período de 1990 a 2010 [7] é possível concluir que:
Levando em consideração gênero e raça, a desigualdade de aprendizagem começa cedo, aos sete anos de idade;
A desigualdade racial entre negros e brancos começa com uma diferença de 4% para estudantes de cinco anos de idade, crescendo rapidamente para 13% entre os de seis anos e 21% aos sete anos. Depois começa a diminuir, terminando em 3% para alunos de 14 anos.
No Censo de 2000 é possível perceber que essa desigualdade está diretamente relacionada à renda familiar: a taxa de analfabetismo nas famílias pobres (renda menor do que um salário mínimo) é vinte vezes maior do que nas famílias mais ricas (renda de mais de dez salários mínimos) [8].
Letramento e renda familiar
Os dados das pesquisas confirmam uma opinião que é a de diversos educadores: regiões carentes, alguns grupos raciais e famílias com renda mais baixa têm mais dificuldade para aprender a ler e escrever.
Por outro lado, eu avalio que esses estudos são falhos num ponto: eles usam dados do censo, que considera alfabetizados todos com mais de cinco anos de idade que saibam escrever um bilhete simples. Entram nessa conta quem já aprendeu a ler e escrever mas esqueceu, assim como quem só sabe escrever o próprio nome. Esse pensamento pode até servir para definir quem é alfabetizado, mas na sociedade atual não chega nem perto do que se espera que um letrado domine. Para entender a diferença entre alfabetizado e letrado, veja este texto.
Outro problema do censo é que suas informações são baseadas somente na opinião do membro da família que responde às perguntas. Não há testes reais. Alguém pode mentir para soar mais inteligente ou até mesmo errar ao julgar o que as outras pessoas da família podem fazer, por exemplo.
Parece que uma perspectiva sociológica pode ser muito mais válida se os estudos usarem dados de avaliações padronizadas. O problema é que os testes padronizados são recentes no Brasil e até agora só foram aplicados nos ensinos médio e superior.
Avaliações padronizadas
O Prova Brasil é um bom exemplo de avaliação padronizada. O teste foi aplicado pela primeira vez em 2005 com os alunos do quinto e nono ano. A gente pode até usar os dados do teste de quinta série para supor os níveis de alfabetização, mas não é um indicador preciso porque cobra conhecimentos além do que é esperado de alguém em processo de alfabetização.
A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é a ferramenta mais adequada para avaliar os problemas do aprendizado de leitura e escrita entre o primeiro e o terceiro ano – período oficial da alfabetização. Ele fornece uma pontuação que reflete as habilidades dos alunos, algo bem mais representativo do que a pergunta que o censo faz aos pais para contabilizar quem é alfabetizado.
Outro ponto interessante é que a ANA informa aspectos sociais e econômicos das famílias que são atendidas pelas escolas [9], como o nível de escolaridade dos pais, a renda e os bens que possuem. A ANA também inclui um índice que aponta o nível de escolaridade e a experiência de cada professor.
Com os dados da ANA, temos como cruzar diversas variáveis, incluindo o desempenho do aluno, sexo, raça, classe social, localização geográfica da escola, recursos escolares (dados retirados de censos educacionais) e formação do professor.
Infelizmente, de 2013 até agora apenas três edições da ana foram feitas. Se conseguirmos aplicar essa avaliação anualmente, certamente teremos mais chances de acompanhar a evolução dos estudantes e avaliar o impacto de novos projetos e/ou metodologias que sejam adotadas pelas escolas. Só assim seremos capazes de reduzir os baixos índices de alfabetização que existem no Brasil.
[2] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília: Fundação Getulio Vargas.
[3] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil.Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w
[4] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD
[5] Ferraro, A. R. (2002). Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos. Educação & Sociedade, 23(81), 21-47.
[6] Beltrão, K. I. (2003). Alfabetização por sexo e raça no Brasil: um modelo linear generalizado para explicar a evolução no período 1940-2000. Retrieved from http://hdl.handle.net/11058/2691
[7] Ferraro, A. R. (2011). A trajetória das taxas de alfabetização no Brasil nas décadas de 1990 e 2000. Educação & sociedade. 32(117). 989-1013.
[8] Pinto, J. M., Oliveira, L. L. N., Brant, C. E. M. S., & Pascom, A. R. P. (2000). Um olhar sobre os indicadores de analfabetismo no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 81(199).
[9] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Nota Explicativa da Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from http://goo.gl/E4NTq5
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Olá! Tudo bem? Temos uma ótima notícia. Instituída na última quinta-feira (11), a Política Nacional de Alfabetização (PNA) vem com a proposta de combater os índices de analfabetismo no Brasil – tanto para quem não saber ler nem escrever (absoluto) quanto para quem tem baixa capacidade de leitura e compreensão (funcional). Segundo dados da Prova Brasil, 66% dos alunos brasileiros terminam o ensino fundamental sem o aprendizado mínimo desejado para a Língua Portuguesa. Nesse contexto, listamos cinco grandes avanços do documento – e outros dois que merecem a nossa atenção.
1. Incentivo ao uso de evidências científicas
A PNA deixa muito claro, já no primeiro artigo, que vem para melhorar o aprendizado de leitura e escrita com base em evidências científicas, assim teremos projetos que valorizem as descobertas feitas através de pesquisas. Poderemos criar estratégias que otimizem os recursos para alfabetização e tragam resultados mais efetivos para o aprendizado das crianças, como ressaltado pela especialista em políticas educacionais Ilona Becskehazy.
2. Escolas são livres para se adequar à PNA
A PNA institui que não é obrigatória: os municípios e demais entes governamentais poderão aderir à política se julgarem que os programas e projetos serão benéficos para suas escolas e estudantes.
3. Liberdade para escolher o método de alfabetização
Outro ponto positivo é que o documento não impõe que as escolas adotem um método de ensino específico. Pelo contrário, ela valoriza os vários métodos e indica os principais tópicos que devem ser trabalhados através deles para fortalecer o aprendizado das crianças. É uma maneira de respeitar a proposta pedagógica de cada rede escolar.
4. Abordagens reconhecidas no mundo todo
A Política Nacional de Alfabetização dá ênfase a seis tópicos essenciais para a alfabetização: consciência fonêmica; instrução fônica sistemática; fluência em leitura oral; desenvolvimento de vocabulário; compreensão de textos e produção de escrita. Com reconhecimento no mundo inteiro, os componentes trazem consensos científicos atuais sobre as melhores práticas educacionais para se aprender a ler e escrever desde a educação infantil.
5. Metas e avaliações de aprendizagem serão a regra
Em relação à implementação da PNA, os projetos que serão apoiados por ela terão metas claras de aprendizagem, o que é muito importante para que sejam efetivos. Ela também vai privilegiar o desenvolvimento e o uso de instrumentos de avaliação para acompanharmos a evolução dos alunos e se eles estão caminhando para atingir os objetivos.
O que vem por aí
Conforme notado pela educadora Claudia Costin, não existem menções direta à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no documento. Na visão de Ilona, o detalhamento dos objetivos de aprendizagem e demais detalhes da política ainda serão divulgados e devem contemplar a Base.
A política também define o uso de materiais didáticos de forma ampla, e nos próximos documentos serão especificados tanto os mais tradicionais, como livros e jogos tangíveis, como o uso de tecnologia (jogos digitais, por exemplo). Esses materiais digitais deverão estar aprovados pelo Guia de Tecnologias Educacionais, lançado pelo Ministério da Educação em 2018.
A Política Nacional de Alfabetização é o primeiro passo para fortalecer o aprendizado de leitura e escrita. Agora, é preciso que a sociedade – escolas, cientistas e empreendedores – se mobilize para desenvolver, implementar e avaliar projetos que sejam efetivos para as crianças. É hora de executar.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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