Prof. Rebecca Treiman: abordagens atuais para o ensino de crianças

Prof. Rebecca Treiman: abordagens atuais para o ensino de crianças

Segundo a professora da Washington University Rebecca Treiman, cada vez mais especialistas reconhecem e provam a importância dos conhecimentos fônicos para o ensino de crianças. Treiman foi uma das participantes do SSSR 2019, congresso internacional sobre estudos de leitura realizado em Toronto, no Canadá, do qual a Escribo também participou. Confira a seguir!

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Prof: Catherine Snow: como levar a teoria para a sala de aula de forma pedagógica?

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Prof: Catherine Snow: como levar a teoria para a sala de aula de forma pedagógica?

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Um dos principais desafios para a educação de crianças está na prática: como podemos tirar do papel estratégias e ações pedagógicas que já sabemos ser eficazes? É o que questiona a professora de Harvard, Catherine Snow, referência no ensino de leitura e escrita. Ela conversou com a Escribo na SSSR 2019, congresso internacional sobre estudos de alfabetização que aconteceu em Toronto, no Canadá, de 17 a 20 de julho de 2019. Confira a segunda parte da entrevista a seguir!

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Mensagens de texto e educação podem caminhar juntas, segundo pesquisa

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Pontos principais
Pais: seu envolvimento é essencial para o aprendizado da criança. Pais que estimulam o bem estar maior bem-estar para as crianças permitem mais crescimento e aprendizado.
Professores: as mensagens de texto sobre saúde e bem-estar ajudaram a resolver necessidades básicas das crianças, o que garante maior qualidade de vida e as deixou mais focadas. 
Gestores escolares: a escola pode investir em serviços de SMS para aumentar a proximidade com as famílias e fornecer informações valiosas ao aprendizado da criança.

Cresce cada vez mais o interesse em reforçar os laços entre escola e família com abordagens flexíveis ​​e de baixo custo. Uma dessas abordagens é o uso de mensagens de texto (SMS). Para aproveitar esse potencial, pesquisadoras analisaram por seis meses a influência de SMSs no ensino das habilidades iniciais de leitura e escrita a crianças de quatro anos. As crianças observadas estudam em uma escola pública nos Estados Unidos que atende alunos(as) de baixa renda.

Procedimentos

As mães das crianças foram divididas em dois grupos. No primeiro, as participantes receberam mensagens de texto sobre linguagem e alfabetização, que as incentivava a conversar com as crianças sobre letras, sons de palavras e fazer perguntas aos pequenos. No segundo, as SMSs estimulavam discussões sobre saúde e bem-estar cuidar da segurança da criança, exercícios físicos, bom comportamento, boa convivência social e alimentação saudável.

Resultados

Para a surpresa das pesquisadoras, o estudo aponta que as crianças com mais habilidades iniciais de leitura e escrita se beneficiaram do programa de linguagens e alfabetização, enquanto aquelas com menos habilidades se beneficiaram do programa de saúde/bem-estar.

O bem-estar da criança é essencial

O fato curioso é que, para as pesquisadoras, programas educacionais focados no desenvolvimento de linguagem e escrita costumam mostrar mais resultados para a alfabetização do que os de saúde e bem-estar. Aparentemente, constatou-se que estimular habilidades socioemocionais e o bem-estar das crianças têm efeitos positivos diretos no aprendizado de leitura e escrita delas.

A realidade onde vive a criança também pode influenciar nesses resultados, como já discutimos em um artigo aqui no Blog. Isso fica evidente quando se percebe que algumas famílias podem se beneficiar de mensagens de texto sobre necessidades básicas como melhorias na qualidade do sono, nutrição, saúde e comportamento.

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Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

É com orgulho que anunciamos a chegada da Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia! Lançada em maio de 2019, a Revista é especializada na divulgação de artigos científicos sobre processos de aprendizagem, inovações educacionais, jogos educativos e o papel deles no aprendizado das crianças da educação infantil e do ensino fundamental. O primeiro volume já está no ar.

Com uma linguagem acessível a todos, publicamos pesquisas e sínteses de evidências científicas sobre o aprendizado disponíveis nos mais prestigiados periódicos científicos do mundo, que antes não eram lidas no Brasil por serem em inglês e usarem termos muito técnicos.

Assim, a nova geração de educadores cursando licenciaturas, pedagogia, psicologia cognitiva e áreas afins têm acesso facilitado a uma bibliografia atualizada através da nossa Revista. Dessa forma, buscamos oferecer o estado da arte das pesquisas de diversas disciplinas que se relacionam com o campo da educação e do aprendizado, especialmente a neurociência, psicologia, computação, design e educação.

Fique à vontade para “folhear” os conteúdos, citar os artigos na sua pesquisa ou até mesmo submeter a sua própria produção. Acesse a Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia em escribo.com/revista. 😉

Alfabetização no Brasil: O que deve ser levado em conta nas intervenções para melhoria do aprendizado

Alfabetização no Brasil: O que deve ser levado em conta nas intervenções para melhoria do aprendizado

Neste texto, vamos resumir e analisar os fatores que contribuem com o insucesso na alfabetização, indicando quais deles podem ser objeto de intervenções de gestores educacionais e professores. Boa leitura.

Pontos principais
Pais:
não deixem de participar da vida escolar dos(as) filhos(as): como reforço ao aprendizado, frequentem eventos escolares e cultivem o hábito de leitura junto às crianças.
Professores:
é importante se avaliar e entender de que forma os hábitos (leitura, motivação, sensação de adequação, por exemplo) de quem ensina reflete no aprendizado das crianças. Isso deixa as turmas mais próximas aos(às) professores(as).
Gestores escolares:
procurem, sempre que possível, atentar para a estrutura da escola (materiais educativos, salas, banheiros) e estar sempre próximos dos(as) alunos(as). Esse envolvimento favorece o sucesso das atividades em aula.

O fraco desempenho dos(as) estudantes em leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental é um sério problema para o sistema educacional brasileiro. Segundo as avaliações nacionais [1]:

  • 66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
  • 85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.

Esse problema também chega ao ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. É dentro desse contexto que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os alunos do ensino fundamental no Brasil.

O fracasso no aprendizado de leitura e escrita, uma questão estudada por várias disciplinas

A perspectiva histórica

Os livros de alfabetização das séries iniciais podem ser de grande importância para entender os baixos níveis de desempenho dos alunos. Esses livros surgiram por volta de 1890 e muitos professores ainda os utilizam como o seu principal guia – um reflexo dos embates metodológicos que ainda ocorrem no campo da alfabetização [3].

Desde 1980, o paradigma educacional mais importante no Brasil é o construtivismo, que foi fortemente promovido pela academia e pelo governo até 2018. Infelizmente, com base no pressuposto de que os alunos devem construir seus conhecimentos, uma grande parte dos educadores brasileiros esquece de dar atenção especial a concepção e planejamento das experiências didáticas que irão oferecer aos seus alunos [4]. Essa deficiência pode ser uma das razões que explica a falta de um método de alfabetização que seja reconhecido como efetivo nos anos iniciais [4]. Dentro deste contexto, a abordagem fonética começou a se proliferar depois dos anos 2000. Seus críticos, no entanto, dizem que é muito mecânica e não torna as crianças cidadãos alfabetizados e letrados [3].

Antropologia e o “jeitinho” na educação

Uma análise antropológica nos leva a crer que certos(as) professores(as) usam o “jeitinho brasileiro” quando deveriam adotar, por exemplo, práticas de letramento. Eles fingem estar de acordo e parecem ensinar pelo viés do letramento mas, na verdade, faltam componentes essenciais para uma proposta letrada. A pesquisa etnográfica revelou um processo desanimador em que professores e escola segregam alunos que não atendem aos padrões de comportamento e desempenho [5].

Raça, classe, gênero e sua influência no ensino

A perspectiva sociológica fornece uma visão interessante sobre a desigualdade socioeconômica e racial que ainda afeta os(as) alunos(as) dos anos iniciais. Também revelou o fato de que o censo brasileiro não é um instrumento confiável para avaliar a alfabetização porque é baseado apenas na resposta “sim” ou “não”. Em vez disso, futuros estudos devem se concentrar em dados de avaliações nacionais para avaliar a situação racial, socioeconômica e as lacunas de aprendizagem.

Relações entre educação e a economia

O aprendizado na educação infantil, o histórico familiar e o envolvimento dos pais são os principais fatores que influenciam o desempenho durante a alfabetização [6]. Enquanto isso, as famílias analfabetas experimentam alguns benefícios excepcionais quando seus filhos aprendem a ler e escrever, incluindo melhorias na saúde e na renda [7].

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Artigo: Desenvolvimento cognitivo, Vygotsky e o aprendizado na alfabetização.
Artigo: Pedagogia, alfabetização e letramento nas escolas brasileiras, evolução histórica Artigo: Progressão automática + exclusão escolar oculta: duas das principais causas do baixo nível de aprendizado na alfabetização.
Artigo: desigualdade social, alfabetização, letramento e a importância da avaliação nacional de alfabetização.
Artigo: Escrever, desenhar e brincar, fontes indispensáveis de aprendizado
Artigo: Investir na educação é transformar a realidade das famílias brasileiras

Principais fatores dos baixos níveis de alfabetização

Escola, família, professor e aluno foram as quatro dimensões identificadas para organizar causas e fatores ligados aos baixos níveis de aprendizado de leitura e escrita na alfabetização.

Visando demonstrar potenciais ações que podem ser conduzidas por gestores educacionais e professores, fizemos uma classificação das causas que contribuem com o baixo nível de aprendizado. O nível de importância para cada fator foi atribuído de acordo com uma regra simples: o que influenciava diretamente a aprendizagem tinha grande importância. Fatores de segunda ordem, como a contribuição do(a) diretor(a), tinham importância moderada. Duas características foram observadas para definir se um fator tinha resultados interessantes em menos de um ano letivo (acionável): o tempo de resposta e o custo da intervenção.

A Escola

A primeira dimensão é a escola, que inclui um fator que não é acionável facilmente: a infraestrutura física fraca (falta de banheiros e salas de aula adequadas). Apesar disso, dois pontos são acionáveis. O primeiro é uma administração frágil, com diretores pouco engajados e pouco hábeis [8]. O segundo envolve materiais escolares inadequados de baixa qualidade ou em falta; jogos infantis, quadros brancos e tecnologias educacionais. Em um país onde a formação de professores é tida como deficiente em pedagogia, os livros didáticos e tecnologias educacionais podem desempenhar um papel relevante nas atividades em sala, indicando que esse é um fator importante [9].

A Família

A segunda dimensão é a família. Aqui, um ponto muito importante não é acionável: pobreza e baixo capital social. Quase 82% das famílias de estudantes brasileiros vivem com menos de R$ 2.364 por mês [10]. A falta de formação também tem importância moderada – 56% dos pais não concluíram o ensino médio [10]. Há inclusive uma forte influência do desempenho escolar da mãe na conquista inicial da alfabetização de seus filhos [11]. Infelizmente, mudar a realidade das famílias não é viável em curto prazo pensando na maioria dos gestores escolares e professores.

Outro fator moderado é o pouco envolvimento dos familiares com a vida escolar das crianças. No Brasil, 39% dos pais frequentam apenas alguns eventos escolares e 18% simplesmente não frequentam. Há também pais que se importam, mas não sabem como colaborar com a alfabetização de seus filhos. Um dado comparativo sobre essa questão é que apenas 42% dos pais lêem livros no país. Desses, 63% lêem a Bíblia. Apenas 17% deles lêem  jornais diários e 5% lêem revistas [10]. Isso demonstra que a maioria das famílias não exercita a leitura nem a linguagem escrita todos os dias. Nesse sentido, as políticas públicas poderiam incentivar os pais a lerem para seus filhos antes de ingressarem na escola, mesmo que os pais sejam analfabetos e não dominem a língua escrita [11].

O(A) Professor(a)

A terceira dimensão, o professor, inclui fatores acionáveis ​​de importância moderada: pouca consciência sobre os próprios conhecimentos [12], pouca motivação e baixa autoeficácia [13]. Em último, vêm as suas fracas abordagens de ensino, nas quais há uma enorme distância entre o que é dito e o que é visto na prática em sala de aula. Especialmente quando se fala sobre a criação de atividades que viabilizam que os(as) alunos(as) dos anos iniciais do ensino fundamental usem a escrita no seu cotidiano social (letramento). Nos anos seguintes, fica evidente que a leitura e a escrita não são parte da vida dos alunos. A razão para a dificuldade em promover hábitos de leitura entre os estudantes pode vir do estilo de vida do(a) professor(a), já que 37% deles(a) nunca lêem e 18% raramente lêem [14].

Professores(as) brasileiros(as) perdem muito tempo disciplinando estudantes, o que deixa menos tempo para o ensino em si [11]. Isso pode apontar para métodos pedagógicos falhos, mas também pode estar ligado ao baixo envolvimento das famílias no processo [10]. Outra descoberta triste foi a tendência entre os professores dos anos iniciais brasileiros de culpar a pobreza, a falta de motivação dos estudantes e o envolvimento da família como as principais razões para o baixo desempenho escolar [15]. Como já foi citado, esses fatores podem de fato contribuir para as dificuldades do(a) aluno(a), mas há educadores que usam esses argumentos para esconderem deficiências e se oporem às iniciativas de transformação das suas instituições em escolas eficazes.

O(A) Aluno(a)

Um fator acionável moderado é a falta de habilidades metacognitivas. Um treinamento específico poderia ser feito para melhorá-las na alfabetização e nos demais aprendizados [16]. O último fator é altamente significativo e acionável, que é a baixa motivação e autoeficácia do(a) aluno(a). A maioria dos(as) desistentes disse que a razão principal para terem abandonado a escola era a falta de motivação [17].

A falta de sucesso do(a) aluno(a) na alfabetização, nos anos iniciais, leva ao fracasso nas séries seguintes [6]. Além disso, filhos de famílias carentes que têm acesso a um computador em casa apresentaram maiores taxas de aproveitamento [6]. Isso quer dizer que esses(as) estudantes têm níveis mais altos de autoeficácia e motivação [18]?

Para concluir, a Tabela 1 abaixo resume todos os fatores identificados. Existem três fatores acionáveis ​​de grande importância: materiais de aprendizagem inadequados, abordagens de ensino fracas e motivação e autoeficácia inadequadas do aluno. Esses fatores podem ser atacados por gestores e educadores que estejam planejando mudanças em suas instituições e práticas de ensino-aprendizagem.

CategoriaFatorAcionávelImportância
EscolaInfraestrutura física inadequadaNãoModerada
Gestão e engajamento fracosSimModerada
Material de ensino inadequadoSimAlta
FamíliaPobreza e baixo capital socialNãoAlta
Falta de formação educacionalNãoModerada
Baixo engajamentoSimModerada
Professor(a)Fraca motivação e autoeficáciaSimModerada
Baixas habilidades metacognitivasSimModerada
Abordagens de ensino fracasSimAlta
EstudanteCapacidades metacognitivas ruinsSimModerada
Má motivação e autoeficáciaSimAlta

Referências

[1] Qedu. (2015a). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em:  http://goo.gl/R6BX3w

[2] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD

[3] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: Contribuições para metodizar o debate. Acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.

[4] Mortatti, M. D. R. L. (2006). História dos métodos de alfabetização no Brasil. Proceedings from Seminário alfabetização e letramento em debate. Brasília, DF: MEC. Disponível em: http://goo.gl/PvNsh8

[5] Picetti, J. S., & Real, L. M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares no processo de alfabetização.Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.

[6] Costa, L. O., Loureiro, A. F., & Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.

[7] Ribeiro, F. G., & Carraro, A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.

[8] Ribeiro, F. G., & Cechin, L. A. (2012). As externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.

[9] Falsarella, A. M. (2013). O gestor escolar em meio a discursos contraditórios: Formação docente e desempenho dos alunos. Colabor@, 8(30).

[10] Saviani, D. (2009). Formação de professores: Aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, 40, 143.

[11] Ibope (2014). Atitudes pela Educação. Disponível em: http://goo.gl/OOxhLt

[12] Fuller, B., Dellagnelo, L., Strath, A., Bastos, E. S. B., Maia, M. H., de Matos, K. S. L., … & Vieira, S. L. (1999). How to raise children’s early literacy? The influence of family, teacher, and classroom in northeast Brazil. Comparative education review, 43, 1-35.

[13] Portilho, E. M. L., & Dreher, S. A. S. (2012). Categorias metacognitivas como subsídio à prática pedagógica. Educação e Pesquisa, 38(1), 181-196.

[14] Ibope (2009). A educação vista pelos olhos do professor. Disponível em: http://goo.gl/S0rtgy

[15] Qedu (2015b). Respostas dos professores. Disponível em: http://goo.gl/0EqYYH

[16] Davis, C. L. F., & Miranda, M. I. (2012). Problemas de aprendizagem na alfabetização: Contribuições da pesquisa-ação escolar. Educação e Filosofia, 26(51), 289-312.

[17] Monteiro, C. R. (2010). A aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. Cadernos de Educação, 35, 271-302.

[18] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília, DF: Fundação Getúlio Vargas.

[19] Couse, L. J., & Chen, D. W. (2010). A tablet computer for young children? Exploring its viability for early childhood education. Journal of Research on Technology in Education, 43(1), 75-96.


Artigo: Progressão automática + exclusão escolar oculta: duas das principais causas do baixo nível de aprendizado na alfabetização.

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Olá! No artigo de hoje, abordamos a importância de conhecer os aspectos antropológicos do aprendizado de leitura e escrita no Brasil. Compreender o povo e suas dinâmicas é essencial para criarmos abordagens pedagógicas construtivas e adequadas para todos. Esse texto também faz parte da série de publicações que produzi no meu doutorado na Johns Hopkins University.

Pontos principais
Pais:
sempre estimule seus filhos a ler e fazer as atividades escolares da melhor forma possível.
Professores:
busque trabalhar com textos que despertem o interesse e a motivação dos estudantes. Aqueles alunos mais difíceis são os que mais precisam de motivação e encorajamento.
Gestores escolares:
não autorizem práticas de dividir as turmas por habilidades. Se alguma criança estiver sendo excluída, pouco a pouco, é preciso intervir na situação e traçar ações para que ela volte a se motivar e se integrar com as atividades escolares.

Dentro dos problemas da educação brasileira, é preciso entender mais sobre o baixo desempenho no aprendizado de leitura e escrita na educação básica. De acordo com avaliações nacionais [1]:

  • 66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
  • 85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.

Essa questão atinge também o ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. Por isso, a proposta deste artigo é analisar os aspectos antropológicos e sociológicos da educação para apontar os principais desafios e caminhos que podemos seguir para melhorar a alfabetização no Brasil. Também foram investigadas as atividades em sala de aula e as normas culturais que afetam as escolas.

O aprendizado de leitura e escrita na visão da Antropologia

Analisando os fundamentos sociológicos e antropológicos da educação, inicialmente encontramos estudos com foco na alfabetização dos adultos [3]. Uma pesquisa recente aborda o retorno do interesse dos antropólogos pela educação popular, como por exemplo a educação de jovens e adultos [4]. Há ainda textos que mostram um pouco mais do universo dos analfabetos e como eles se desdobram para participar das atividades sociais, mesmo sem ter o domínio da linguagem escrita que é exigido pela sociedade [4].

Outros estudos abordam as práticas orais e escritas na alfabetização brasileira [6]. A forma como escrevemos pode não ser a mesma em todos os lugares e épocas: ela influencia (assim como é influenciada por) questões pessoais e sociais. Isso acontece porque existem vários tipos de linguagem escrita, e diferentes grupos sociais podem interpretar o mesmo texto de maneiras diferentes.

Ainda precisamos pesquisar e aprender muito sobre como o analfabetismo vem abrindo espaço para a cultura escrita [6]. Termos essa consciência é importante para entender que  a escrita e o analfabetismo não estão em lados opostos do aprendizado.

Letramento nos primeiros anos de alfabetização

Somente ensinar alguém a ler e escrever (alfabetizar) não é suficiente para desenvolver cidadãos letrados. Prova disso é um estudo feito em uma escola pública com uma turma do primeiro ano do Ensino Fundamental, durante 47 dias. O professor dessa turma entregou textos aos alunos para que eles conhecessem na prática a linguagem escrita, um avanço em relação aos métodos tradicionais de alfabetização.

Apesar disso, as crianças não chegaram a trabalhar com gêneros textuais variados, muitas vezes apenas memorizavam os mesmos textos. As tarefas da classe eram copiar palavras e sílabas, e o aprendizado sobre o uso desses textos na vida em sociedade (letramento) ficou em segundo lugar. Os estudantes não se tornaram letrados – em vez disso, estavam apenas aprendendo a traduzir sons em textos [7].

Uma outra pesquisa encontrou um fato interessante: a busca pela uniformidade [8]. A escola analisada separava os alunos em turmas “fracas” e “fortes”, de acordo com o desempenho deles em testes e questões subjetivas.

Ao analisarem a trajetória de cinco turmas escolares, as pesquisadoras construíram o conceito de “exclusão escolar oculta” [9]. Esta exclusão aparece em algumas falas, gestos e olhares entre professores(as) e alunos(as) quando a escola segrega, abandona e praticamente elimina alunos que não se enquadram nos padrões.

Esses(as) professores(as) costumam ignorar a cultura, as reflexões e até mesmo o interesse dos alunos em participar mais do dia-a-dia da escola. Os estudantes devem simplesmente aprender o conteúdo – em silêncio.

Nesta pesquisa, temos dados interessantes sobre o baixo desempenho dos alunos em processo de alfabetização. O primeiro é que os(as) professores(as) deixaram os padrões de lado. Por exemplo: apesar de os alunos terem livros escolares atuais, certos(as) professores(as) com costumes mais tradicionais ignoravam esses materiais [7].

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Artigo: Pedagogia, alfabetização e letramento nas escolas brasileiras, evolução histórica

Progressão automática + segregação + exclusão escolar oculta: combustível explosivo para o baixo nível de aprendizado e a evasão escolar

A Antropologia pode fornecer insights poderosos sobre como as relações e organizações sociais afetam o problema do aprendizado de leitura e escrita no Brasil.

Em relação aos(as) professores(as), é preciso entender por que eles(as) muitas vezes acham inadequado utilizar os novos métodos de ensino. Seria uma questão de falta de familiaridade com estas estratégias pedagógicas diferentes? Falta de motivação por não acreditar nos resultados? Comodismo?  Um amplo estudo etnográfico poderia responder a essas questões, muito úteis para a formação de políticas públicas voltadas ao fortalecimento do aprendizado.

Outro ponto chave nessa discussão é o termo “letramento”. Os alunos não estão se tornando letrados, mas os(as) professores(as) e as famílias de baixa renda entendem isso? Os profissionais brasileiros são letrados ou apenas alfabetizados? Com essas perguntas, podemos entender o tamanho real do problema.

Também precisamos falar da segregação dos alunos. O próximo passo seria discutir se separar grupos de estudantes por notas é justificável ou se apenas ajuda os(as) professores(as) a lidar com turmas mais uniformes. Isso tende a deixar o trabalho mais fácil, em classes de baixo desempenho; eles podem dedicar menos esforço e exigir menos de seus alunos, o que pode resultar em um menor nível de aprendizado.

Essa segregação só torna o aprendizado mais difícil para os alunos com baixa escolaridade, além de incentivar uma certa indiferença nos(as) professores(as), o que pode afetar seu desempenho em aulas que exijam uma alta dedicação.

A exclusão escolar oculta é provavelmente um dos piores problemas das escolas brasileiras, porque parece ter raiz no que pode ser considerado o pior aspecto da nossa cultura, que é o “jeitinho brasileiro”. “jeitinho” não significa “fazer um favorzinho para alguém” ignorando algumas tarefas burocráticas. Nesse caso, “jeitinho” que dizer ocultar um processo de segregação grave. Poucos professores admitem que simplesmente desistem de uma parte de seus alunos. Esse processo gera sérios efeitos para as crianças.

Por conta das políticas educacionais brasileiras, é praticamente impossível um aluno brasileiro não passar de ano. Mesmo reprovado, o estudante passa para a próxima série e deveria participar de um programa de recuperação – que em muitas escolas existe apenas no papel.

As crianças segregadas não aparecem nas estatísticas de retenção porque elas avançam exatamente como os outros alunos. O problema é que elas não aprendem nem o básico, então quando enfrentam uma avaliação externa, por exemplo a Prova Brasil no quinto ano, não conseguem atender aos requisitos mínimos. Essa estrutura complexa (exclusão + progressão automática) acaba restringindo as chances do estudante de avançar e conviver em sociedade.

Por fim, mais um ponto a ser analisado é o ambiente familiar. Uma pesquisa antropológica pode descobrir se, aqui no Brasil, existem padrões de linguagens diferentes em famílias de classes sociais diferentes – caso parecido com uma ampla pesquisa feita com crianças norte-americanas [10]. Entender essas e diversas outras questões é indispensável para compreendermos os processos de alfabetização no país, e assim desenharmos políticas públicas e estratégias didáticas para superar o baixo nível de aprendizado de leitura e escrita.

Referências
R

[1] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em: http://goo.gl/R6BX3w

[2] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD

[3] Cipiniuk, T. A. (2014). Levantamento temático em Cadernos de Pesquisa: processos de alfabetização e analfabetismo. Cadernos de Pesquisa43(150), 1026-1041.

[4] Lovisolo, H. (1988). A educação de adultos entre dois modelos. Cadernos de Pesquisa, (67), 23-40.

[5] Garcia, M. (1990). Um saber sem escrita: visão de mundo do analfabeto. Cadernos de Pesquisa, (75), 15-24.

[6] Magalhães, S. M. D. C. (2012). Oralidade e Cultura Escrita na Abordagem da História da Alfabetização. O público e o privado, (2).

[7] Macedo, M. D. S., & Almeida, A. C. (2013). Alfabetização de crianças de seis anos e a ampliação do Ensino Fundamental: um estudo de caso. Educação em Foco16(22), 119-141.

[8] CARNEIRO, F. H. P. (2006). Caminhos da alfabetização em Minas Gerais: um olhar etnográfico para o ciclo inicial de alfabetização. (Masters dissertation). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

[9] Picetti, J. S., & Real, L. M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares no processo de alfabetização.Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa2(3), 10-23.

[10] Hart, B., & Risley, T. R. (2003). The early catastrophe: The 30 million word gap by age 3. American Educator, 27(1), 4-9.