Além do renomado pesquisador educacional Robert Slavin, o Blog Ciência do Aprendizado, da Escribo, apresenta o seu mais novo colaborador: o educador Larry Cuban, professor emérito de educação na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Com mais de 40 anos de carreira, Cuban é uma grande referência quando o assunto é educação. Ele é autor de centenas de artigos científicos e livros sobre ensino, história das reformas educacionais, e sobre o uso de tecnologias por professores e alunos no ensino fundamental e médio. Neste primeiro texto, Cuban fala sobre o uso de tecnologias para fins educacionais e quais cenários podem surgir a partir da adoção das inovações pelas escolas. Boa leitura!
O entusiasmo que surge a cada inovação tecnológica é enorme. Thomas Edison (1900) previu que o cinema iria revolucionar o ensino e a aprendizagem; computadores desktop alcançaram a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental (1980); cursos online abertos e massivos se tornaram muito populares (2010), transformando o ensino superior; chegamos ao BrainCo, software que rastreia e usa as ondas cerebrais dos alunos (2019). Todo problema tem uma solução, e toda escola precisa do software mais recente – seja para aumentar os resultados dos testes de matemática dos alunos (Dreambox) ou fazer com que estudantes que falam inglês se tornem fluentes em francês (Duolingo).
Qualquer pessoa com mais de 40 anos reconhece as altas expectativas quando o assunto são as novas tecnologias nas escolas. O que muitas vezes não se percebe no meio dessas novidades (por exemplo, acesso e uso de novo hardware, software e ou mídia social) é que as escolas acabam usando intensivamente o novo material. Elas dominam a tecnologia e as adaptam ao que já existe.
Em outras palavras, os “tecno-otimistas” ganham quando colocam novos hardware e software nas escolas, mas perdem muito ao ver que o resultado fica bem aquém dos seus sonhos que geralmente incluem um ensino e aprendizagem mais rápidos, melhores e personalizados. E as escolas vencem tendo acesso a novas tecnologias, adaptando-as para melhor se adequar ao dia-a-dia.
Em 1992, quase três décadas atrás, escrevi alguns artigos sobre esse “tecno-otimismo” nas escolas públicas norte-americanas e, em seguida, sugeri três cenários. Nas décadas seguintes, temos evidências de que cada um deles de fato ocorreu. No entanto, um em particular está ocorrendo neste momento.
1. O sonho do tecno-otimista: construir agora as escolas eletrônicas do futuro
São escolas com um número suficiente de dispositivos, software, acessórios e instalações para acomodar grupos variados de alunos em salas de aula, seminários e espaços de estudo individuais. O sonho é tornar ensino e aprendizado muito mais produtivos do que são hoje em dia, por meio da elaboração de projetos ou do ensino baseado em competências. Máquina e software são essenciais para que isso se torne realidade. Eles são vistos como ferramentas libertadoras para que alunos e professores cresçam, comuniquem-se bem e aprendam uns com os outros. Os professores são ajudantes, mentores para os alunos nessa relação com a tecnologia.
A estratégia é organizar a escola de modo que ela tenha máquinas, software e pessoas que sejam usuárias ativas das tecnologias. Bons exemplos vão desde as escolas digitais às escolas de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental totalmente equipadas com dispositivos, software, professores experientes e alunos altamente motivados.
2. O cenário do otimista cauteloso: crescimento lento de escolas e salas de aula híbridas
Nesse cenário,colocar computadores nas salas traz mudanças constantes no ensino, que ocorrem de maneira lenta, gradual e inevitável.Lenta e gradual porque as escolas, como organizações, levam tempo para aprender a usar computadores no ensino das crianças. Inevitável porque os que creem nesse cenário estão convencidos de que a escola do futuro será um local de trabalho dominado por computadores e telecomunicações.
As evidências ainda são poucas mas as pesquisas científicas feitas sobre esse cenário só aumentam. Por exemplo, já sabemos que colocar alguns computadores em uma sala de aula ou criar laboratórios de computadores, ao longo do tempo, altera como os professores ensinam (o ensino que antes era para toda turma passou a ser para pequenos grupos, mais individualizado). Isso muda também a forma como os(as) alunos(as) aprendem (passam a contar consigo mesmos e com os outros para refletir sobre ideias e exercitar suas habilidades). Assim, a organização da sala de aula pode mudar, embora lentamente, de uma totalmente orientada pelo professor para outra na qual os alunos trabalham com tutores online e passam a ser responsáveis pelo próprio aprendizado.
Nas escolas em que o número de hardware e professores conectados chegou num ponto crítico, gestores tendem a tomar decisões administrativas diferenciadas. Professores de diferentes áreas ou níveis educacionais alteram seus horários. O uso de tecnologias em toda a escola passa a fazer parte da rotina, assim como em questões não tecnológicas. É cada vez mais comum misturar o “velho” e o “novo”, com foco no professor e no aluno.
3. O cenário do preservacionista: manter e melhorar as escolas
Neste cenário, representantes políticos e gestores colocam computadores e outras tecnologias nas escolas, mas acabam reforçando amplamente as formas existentes de ensino, aprendizado, foco no coletivo e no currículo escolar. Enquanto alguns professores e escolas usam essas tecnologias de formas criativas e acabam sendo estereotipados pela mídia, uma grande parte dos usos é somente uma adaptação ao que já era feito pelos professores. Novas tecnologias se tornam formas de estimular mais melhorias. A visão contida na trajetória do preservacionista é a das escolas que mantêm o que vem sendo feito historicamente; fornecendo cuidados, separando aqueles que se destacam pelo aprendizado daqueles que não, e dando aos contribuintes uma educação o mais eficiente possível com os recursos disponíveis.
Há muitas evidências para esse cenário. Podemos, por exemplo, exigir um novo pré-requisito para o letramento digital; adicionar cursos de ciências da computação no currículo; criar um laboratório de informática para todos os computadores da escola; marcar com professores para que, uma vez por semana, levem suas turmas para uma sala onde possam se conectar às atividades diárias; ou até colocar um computador em cada sala de aula e comprar software produzido em conjunto com livros didáticos.
Nesse cenário, os computadores são vistos como auxiliares para um objetivo principal: ensinar os alunos. Adaptar essas novas tecnologias para ajudar professores e alunos a fazer o que devem fazer acaba por reforçar o que as escolas vêm fazendo no último século.
Em 1992, enquanto escrevia me perguntei, “é mais provável que ocorra qual desses cenários?”
O menos provável é a primeira opção, a escola eletrônica do futuro. De toda forma elas serão construídas, mas serão exceções e, com o tempo, provavelmente desaparecerão quando a próxima geração de inovações tecnológicas se popularizar – melhor e mais barata. Assim, embora essas escolas existam agora, poucas vão se espalhar nacionalmente. Experiências recentes de escolas que adotaram tevês educativas, laboratórios de idiomas e o ensino programado (nas décadas de 1960 e 1970) mostraram que os representantes políticos devem ser cautelosos. Nos locais com novas escolas e software/hardware comprados e instalados, diretores(as) perceberam em menos de uma década que os aparelhos não eram usados pelos professores, ficaram obsoletos ou já não tinham mais como ser consertados. Com o avanço constante das tecnologias, é arriscado que cidades e estados façam grandes investimentos em novos aparelhos em quantidades maiores do que as usadas em projetos-piloto.
Os cenários do otimista cauteloso e do preservacionista são basicamente os mesmos, apenas são interpretados de formas distintas. Os preservacionistas argumentam que as escolas permanecerão do jeito que são em grande parte devido aos adultos e suas crenças milenares sobre ensino, aprendizagem e conhecimento. Elas são basicamente o “núcleo” da educação moderna: ensinar é dizer, aprender é ouvir e conhecimento é o que está nos livros. A maioria dos contribuintes espera que suas escolas reflitam essas crenças seculares. Essas crenças fortemente defendidas raramente desaparecem quando os produtos da Apple chegam às escolas.
Os preservacionistas também apontam que escolas com turmas organizadas por faixas etárias persistem mesmo após as reformas educacionais mais profundas. Forma dominante de organização escolar há mais de um século e meio, a classificação etária organiza salas de aula independentes que separam os professores uns dos outros, conteúdos trabalhados série a série com os alunos e um cronograma que reúne estudantes e professores em momentos rápidos. Essas estruturas influenciam profundamente como os professores ensinam, a forma que os alunos aprendem e as relações entre adultos e crianças em cada sala de aula. Essas são especialmente difíceis de mudar. Por essas razões, segundo os preservacionistas, as escolas se adaptam às inovações tecnológicas para se ajustarem às crenças culturais predominantes e à escola com classificação etária.
Os otimistas cautelosos, no entanto, têm uma visão diferente dos mesmos fatos. Esse grupo demonstra muita paciência para tornar as escolas tecnologicamente modernas. As atenções estão voltadas ao lento crescimento dos “híbridos tecnológicos”, combinações criativas do “antigo” e do “novo” nas escolas e nas salas de aula. Esses híbridos de ensino focado no professor e no aluno, dizem os otimistas, são produtos pioneiros de um movimento que deve gerar escolas mais em sintonia com a sociedade em geral. Assim, as razões atuais para a inclusão desajeitada de máquinas de alta tecnologia nas escolas – poucos recursos para comprar máquinas, resistência e formação limitada dos professores, e pouco apoio administrativo – vão evaporar à medida que os híbridos se espalhem. É uma visão a longo prazo, em vez de meses ou anos. Embora eu ache a história do preservacionista convincente, estou mais inclinado à versão do otimista.
Na parte 2 deste artigo vamos retomar as promessas dos otimistas tecnológicos e como a escola adapta as novas tecnologias – em outras palavras, reforma as reformas educacionais – como sugerem os dois últimos cenários.
Professor emérito de educação na Universidade de Stanford. Foi professor de estudos sociais do ensino médio, superintendente distrital e professor universitário (20 anos). Publicou artigos de opinião, acadêmicos e livros sobre ensino em sala de aula, história da reforma da escola, como as políticas são traduzidas em prática e uso de tecnologias por professores e alunos no ensino fundamental e médio.
“Não se pode fazer uma bolsa de seda da orelha de uma porca”. Surgido nos Estados Unidos do século 16, o ditado significa que não dá pra criar algo de alta qualidade se a matéria-prima é de baixa qualidade. No entanto, na política educacional, constantemente tentamos chegar a ótimos resultados por meio de programas pedagógicos com pouca ou nenhuma eficácia – mesmo quando há alternativas muito melhores e com amplo respaldo.
Veja que não estou criticando os(as) professores(as), eles(as) fazem o melhor que podem. O que me preocupa é a qualidade desses programas pedagógicos e de formação profissional que os professores recebem para ajudá-los a ter sucesso com os(as) alunos(as).
Um excelente exemplo disso é uma série de repasses financeiros, chamados de SIGs, feito pelo programa No Child Left Behind (NCLB), lei de responsabilidade educacional americana criada em 2002. Grandes volumes de recursos foram repassados às escolas de menor desempenho em vários estados.
Durante a maior parte de sua existência, os SIGs exigiam que as escolas que buscavam financiamento escolhessem entre quatro modelos. Dois deles raramente eram escolhidos – fechamento (school closure) e a transformação da escola no modelo charter(escola privada que é paga pelo governo). Em vez disso, a maioria das escolas optou pelos modelos virada (substituindo o diretor e ao menos 50% da equipe) ou a mais popular, transformação (substituindo o diretor, usando dados para informar instruções, prolongando o dia ou o ano letivo, e avaliação de professores com base no crescimento dos resultados de seus alunos).
No entanto, uma avaliação em larga escala do SIG feita pela consultoria Mathematica (em inglês) não mostrou benefícios para as escolas que receberam subsídios do SIG, em comparação com escolas semelhantes que não receberam. A SIG gastou mais de US$ 7 bilhões, uma quantia que nós aqui em Baltimore (EUA), pelo menos, consideramos muito dinheiro. A tragédia, no entanto, não é apenas o desperdício de dinheiro, mas também de tantas esperanças de melhorias significativas.
É aqui que entra a analogia da bolsa de seda/orelha da porca. As escolas que recebiam os SIG eram forçadas a escolher entre opções sem eficácia comprovada, algumas até mesmo ineficazes. Se não se tem evidências, por que esperar que os resultados sejam positivos?
Evidências sobre school closure mostram que essa estratégia diminui o desempenho do aluno por alguns anos, após os quais esse desempenho retorna para o ponto anterior. Uma pesquisa recente (em inglês) sobre escolas charter encontrou um efeito nulo (effect size) para charters. A exceção são escolas charter que usam a metodologia no excuses (“sem desculpas”). As escolas dos modelos “virada” e “transformação” exigem uma mudança de diretor, o que é caótico e, até onde sei, não há provas de que melhore o desempenho dos(as) estudantes. O mesmo acontece com a substituição de pelo menos 50% dos professores. Muito caos, nenhuma prova de eficácia. Verificou-se que os outros elementos necessários do modelo de transformação não têm impacto, como por exemplo fazer avaliações de benchmark para informar os professores sobre o progresso (Inns et al., 2019), ou pequenos efeitos, como prolongar o dia ou o ano escolar (Figlio et al., 2018).
O mesmo acontece com a substituição de pelo menos 50% dos professores. Muito caos, nenhuma prova de eficácia. Verificou-se que os outros elementos necessários do modelo de transformação não têm impacto, como por exemplo fazer avaliações de benchmark para informar os professores sobre o progresso (Inns et al., 2019), ou pequenos efeitos, como prolongar o dia ou o ano escolar (Figlio et al., 2018).
Mais importante, ao meu ver, é que ninguém nunca fez uma avaliação de todo o modelo de transformação, com todos os componentes incluídos. Não descobrimos qual era o efeito conjunto até o estudo feito pela consultoria. E adivinha só? Não dá para costurar uma bolsa de seda com orelhas de porcas.
Com uma fração dos US$ 7 bilhões, o Departamento de Educação dos Estados Unidos poderia ter encontrado e testado vários programas feitos com base em evidências científicas e, em seguida, oferecido às escolas SIGs os que funcionassem melhor. Uma seleção de bolsas de seda 100% pura. Não parece uma ideia melhor?
Nos próximos posts, falarei mais sobre como o governo federal americano poderia garantir o sucesso de iniciativas educacionais, permitindo que as escolas tenham acesso a recursos federais para adotar e implementar programas pedagógicos comprovados, criados para atingir os objetivos das nossas leis.
Referências
Figlio, D., Holden, K. L., & Ozek, U. (2018). Do students benefit from longer school days? Regression discontinuity evidence from Florida’s additional hour of literacy instruction. Economics of Education Review, 67, 171-183.
Inns, A., Lake, C., Pellegrini, M., & Slavin, R. (2019). A synthesis of quantitative research on programs for struggling readers in elementary schools. Available at www.bestevidence.org. Manuscript submitted for publication.
Diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins. Ph.D. em Relações Sociais pela Universidade Johns Hopkins, Dr. Slavin é autor ou co-autor de 24 livros e mais de 300 artigos e capítulos de livros sobre reformas na educação baseada em evidências e diversos outros temas relacionados.
A partir de hoje, você confere aqui no Blog da Escribo conteúdos exclusivos do educador e psicólogo americano Robert Slavin, pesquisador de políticas educacionais. Ele também é diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins, referência internacional na formação de educadores e pesquisadores educacionais. Neste primeiro texto, Slavin fala sobre a importância de estimularmos a pesquisa e a aplicação de evidências científicas para melhorar cada vez mais a educação.
Tradução: Danilo Aguiar/Américo Amorim.
Em 1879, Thomas Edison inventou a primeira lâmpada. O principal problema que ele enfrentou foi encontrar um filamento que brilhasse, mas não queimasse muito rapidamente. Para encontrá-lo, ele testou mais de 6.000 substâncias que poderiam ser usadas nos filamentos. O algodão carbonizado funcionou muito melhor do que todos os outros (o tungstênio, que usamos atualmente, surgiu muito depois).
A luz incandescente mudou o mundo, claro. Ela substituiu sistemas de iluminação a gás muito mais caros e era muito mais versátil. A lâmpada permitiu fazermos todo tipo de atividade humana de tarde e de noite.
Mas se a lâmpada tivesse sido uma inovação educacional, provavelmente seria vista como uma falha enorme. Os céticos diriam que apenas um em cada seis mil filamentos funcionava. Os pesquisadores teriam calculado que o effect size para todas as 6.000 substâncias seria de apenas +0,000000001. Dificilmente valeria a pena adotar essa inovação (a lâmpada). Se os experimentos de Edison fossem financiados pelo governo, os políticos teriam reclamado que o dinheiro dos contribuintes foi desperdiçado em 5.999 testes. Os economistas teriam calculado as taxas de custo-benefício e concluído que, mesmo que a luz de Edison funcionasse, o custo de fabricar somente uma já era astronômico, sem mencionar o custo incalculável da instalação de sistemas de geração e fiação elétrica nas cidades.
Tudo isso é ridículo, você deve estar dizendo. Mas no mundo da educação baseada em evidências, coisas parecidas acontecem o tempo todo. Em 2003, Borman et al. fez uma meta-análise de 300 estudos que avaliaram 29 projetos de reforma no sistema educacional. Eles identificaram três estudos que foram muito eficazes. Em vez de celebrá-los e divulgá-los (e continuar a pesquisa e desenvolvimento para achar mais deles), o Congresso dos EUA encerrou o financiamento para a disseminação de programas abrangentes de reforma escolar.
Outra prática comum em educação é usar os resultados médios obtidos em meta-análises de toda uma categoria de programas ou políticas, ignorando o fato de que existem alguns programas que são muito diferentes e muito mais eficazes do que a média de todos os programas. Um bom exemplo são as escolas charter (escolas privadas financiadas por recursos públicos). Em uma meta-análise de larga escala, pesquisadores de Stanford (2013) descobriram que na média as escolas charter não produzem efeitos significativos. Uma análise feita em 2015 encontrou effect sizes melhores, mas ainda muito pequenos, nas redes de escolas urbanas (ES = +0,04 na leitura, +0,05 em matemática). Em 2010, a What Works Clearinghouse publicou um artigo após encontrar resultados negativos, porém discretos, em escolas charter do ensino médio. Essas descobertas são úteis porque nos mostram que as escolas charter não são mágicas nem obtêm resultados positivos somente porque são charter. Apesar disso, as descobertas não dizem nada sobre as escolas charter que são extraordinárias e que usam métodos que outras escolas públicas (inclusive não charter) também poderiam usar. Há evidências mais fortes ligadas a escolas com a política “sem desculpas”, como os programas educacionais KIPP e Success Academies (em inglês), mas entre os milhares de escolas do tipo existentes agora, esse é o único formato que vale a pena replicar? Deve haver algumas “luzes brilhantes” entre todas essas “lâmpadas”.
Como um terceiro exemplo, existem muitos programas de tutoria usados por alunos com dificuldades em leitura e matemática. O tamanho médio dos efeitos de todas as formas de tutoria é de cerca de +0,30, tanto na leitura quanto na matemática. Mas existem abordagens de tutoria de leitura com tamanhos de efeito de +0,50 ou mais. Se esses programas estão disponíveis, por que as escolas não adotariam os melhores programas? Escolher práticas pedagógicas “medianas” é útil para fins de pesquisa, já que sempre calculamos custos e possibilidades, mas eu acreditava que toda escola iria querer usar o melhor para as crianças por um bom custo-benefício.
Eu sempre ouvi professores e diretores dizerem que “os pais nos enviam os melhores filhos que eles têm”. Sim, eles fazem isso, e por esse motivo, é nossa responsabilidade como educadores oferecer a esses jovens os melhores programas que pudermos. Costumamos descrever a educação dos alunos como esclarecedora, como “ acender a lâmpada da sabedoria”. Talvez a melhor maneira de criar um pouco mais de luz seja pegar uma idéia de Edison, o grande mestre: experimente incansavelmente até encontrar o que funciona. Aí então, use o melhor que tiver.
Referências
Borman, G.D., Hewes, G.M., Overman, L.T. & Brown, S. (2003). Reforma e aproveitamento escolar abrangentes: uma meta-análise. Revisão da Pesquisa Educacional, 73 (2), 125-230.
Diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins. Ph.D. em Relações Sociais pela Universidade Johns Hopkins, Dr. Slavin é autor ou co-autor de 24 livros e mais de 300 artigos e capítulos de livros sobre reformas na educação baseada em evidências e diversos outros temas relacionados.
Um dos principais desafios para a educação de crianças está na prática: como podemos tirar do papel estratégias e ações pedagógicas que já sabemos ser eficazes? É o que questiona a professora de Harvard, Catherine Snow, referência no ensino de leitura e escrita. Ela conversou com a Escribo na SSSR 2019, congresso internacional sobre estudos de alfabetização que aconteceu em Toronto, no Canadá, de 17 a 20 de julho de 2019. Confira a segunda parte da entrevista a seguir!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
A partir de hoje, você conhece aqui as #EvidênciasEscribo, uma série de descobertas interessantes sobre a realidade das redes de ensino pública e privada no Brasil. Esse estudo é parte da pesquisa de Américo N. Amorim, doutor em Educação pela John Hopkins University. O estudo foi feito com 749 estudantes de 62 turmas localizadas em cinco cidades diferentes.
Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)
Na nossa pesquisa, metade dos(as) educadores(as) das escolas privadas pede a cópia de texto toda semana. Os números são bem diferentes na rede pública: de acordo com a Prova Brasil 2017, cerca de 51% dos profissionais trabalha atividades de cópia todos os dias enquanto 32% adotam a prática semanalmente.
Será que as crianças aprendem mesmo com os exercícios de copiar? Quais informações realmente se convertem em aprendizado? Os dados da pesquisa sugerem que enquanto muitas escolas públicas focam nas tarefas de cópia, as particulares tendem a ampliar o leque de estímulos às crianças.
Por experiência, podemos afirmar que nossos filhos aprendem com mais facilidade quando as aulas trabalham diferentes aspectos com estímulos audiovisuais (por exemplo, vídeos, imagens, contação de história), práticos (música, dança) e lúdicos, como por exemplo os jogos educativos do Escribo Play.
As atividades de cópias podem ser úteis quando não são atividades meramente mecânicas: elas precisam fazer sentido para a criança, estar contextualizadas e adequadas à proposta pedagógica da escola.
Equipe de professores(as) leva em consideração minhas ideias
Na rede pública, cerca de 37% das entrevistadas acredita que as equipes de professores sempre levam em consideração as ideias propostas em reuniões, além de ações cotidianas. O número sobe para 48% entre os professores da rede privada que enxergam suas ideias como sempre bem-vindas.
Assim como é importante para as crianças viver em comunidade, os números provam como é indispensável que os professores estimulem entre si o senso de coletividade. Equipes que constroem juntas planos para o futuro tendem a criar estratégias pedagógicas mais assertivas e com mais resultados satisfatórios.
Cópia de textos de livro didático ou quadro (lousa)
Nas escolas públicas, a pesquisa constatou que para 33% dos entrevistados o(a) diretor(a) sempre informa os(as) professores(as) sobre as possibilidades de aperfeiçoamento profissional. Esses diálogos sempre ocorrem para 46% dos entrevistados de escolas particulares.
Esse é um dado interessante para os gestores escolares porque indica duas coisas: primeiro, é um lembrete de que profissionais qualificados podem ser mais produtivos e portanto mais satisfeitos com o cotidiano escolar.
Segundo, uma formação atualizada pode gerar resultados positivos e facilitar o aprendizado das crianças. Portanto, é essencial que tanto escolas públicas quanto particulares se empenhem em manter uma comunicação aberta sobre as oportunidades de aperfeiçoamento dos professores e coordenadores.
Carga horária semanal numa mesma escola
Cerca de 28% dos entrevistados de escolas privadas trabalham mais de 40h numa mesma escola, por semana. O número cai para 7% na rede pública. O cálculo considera horas acertadas em contrato (horas-aula e horas destinadas a atividades).
Para nós da Escribo, professores(as) com jornadas menores podem organizar as atividades diárias/semanais da forma mais adequada às suas realidades, o que gera mais qualidade de vida para os professores, maior rendimento e reflete de forma positiva no aprendizado das crianças.
Participo das decisões relacionadas com meu trabalho
As escolas públicas seguem no caminho certo: cerca de 46% dos(as) professores(as) da rede afirmam poder decidir e definir ações ligadas ao trabalho realizado no dia-a-dia. Em comparação, o sentimento é compartilhado por 30% dos(as) educadores(as) de escolas particulares.
É interessante que o(a) professor(a) tenha voz no processo decisório. Porém, também é importante que o(a) profissional saiba escutar as sugestões e o direcionamento dos profissionais de coordenação e direção, que são mais experientes e podem ajudá-lo(a) a aperfeiçoar as suas práticas de ensino e aprendizagem.
O diretor me anima e me motiva para o trabalho
Em escolas da rede pública, cerca de 35% dos entrevistados afirmam que, nesta escola, a diretoria se empenha em motivar a equipe de professores(as). O número de profissionais animados sobe para 63% nas escolas privadas.
Além da necessidade do incentivo à capacitação, já citada, também é importante oferecer uma estrutura de apoio às propostas de aula do educador, acompanhar as suas atividades e necessidades e estimular a liberdade de ensino – afinal de conta, cada professor(a) tem uma sensibilidade e estilo únicos de ensino.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
A partir de hoje, vamos repercutir as principais descobertas da SSSR 2019, congresso internacional sobre estudos de leitura e escrita realizado em Toronto, no Canadá, de 17 a 20 de julho de 2019. A Escribo conferiu bem de perto as principais inovações e pesquisas sobre o tema.
E para começar, conversamos com a professora de Harvard e especialista renomada em pesquisas em alfabetização, Catherine Snow. Para ela, a família é a principal garantia de que a criança terá uma bagagem emocional e cultural rica e cheia de conhecimento. A educadora foi uma das palestrantes no SSSR. Assista a um trecho da nossa conversa no vídeo a seguir!
No próximo vídeo da professora Catherine, ela dará dicas para jovens pesquisadores que quiserem trazer novas descobertas para a área de leitura e escrita. Receba esses conteúdos em primeira mão assinando as notificações no sininho ao lado e acompanhe o Blog da Escribo. Até a próxima!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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