por Americo N. Amorim | mar 12, 2015 | Geral
O que você faria se tivesse anos de experiência em sala de aula e visse, ano após ano, alunos com as mesmas dificuldades em matemática, a matéria mitificada como “o terror” pela maioria deles?
Reforço já não adianta, os alunos só procuram por eles em época de prova. Visando mudar esse cenário, a professora Benedita Amélia Batista criou o Projeto Desenrolando a Matemática, que tinha a intenção de deixar as aulas mais descontraídas e principalmente apresentar a matemática como uma amiga, e não inimiga.
Veja como você pode aprender com esse projeto:
1. O Uso de Jogos (tornar lúdico)
O pontapé inicial do projeto de Benedita foi extrair da matemática toda a parte lúdica do aprendizado através de jogos. Para criá-los, a criatividade não tem limites – ela usa, uma vez por semana, games online no laboratório de informática, mas quando não há horários disponíveis, utiliza sucata para criar carrinhos de um jogo de corrida, onde a cada cálculo acertado, ele pode avançar um pouco mais para perto da linha de chegada.
O segredo dos games para educação está em tornar simples algo complicado, e segundo a própria professora, “as crianças não gostam da matemática porque não aguentam mais ouvir “abra o livro na página tal”, mas com ajuda dos jogos, conseguem, sim, entender com facilidade.”
2. Seja amigo de seus alunos
Benedita criou uma relação de confiança com seus alunos, sendo gentil e amiga para que eles pudessem corresponder aos jogos desde o primeiro dia de aula. Ela usou uma estratégia para se aproximar dos estudantes (e aproximar a matemática deles também), apresentando crachás com números de identificação para cada um deles representarem aqueles números em cubos e barras. Por exemplo, com o número 1225, ela pegaria um cubo grande, duas placas, duas barras e cinco cubinhos. Enquanto isso, os outros devem ir até a lousa para escrever o número.
3. Ser multidisciplinar
Para emplacar um projeto que visa desmitificar a matemática, um dos segredos de Benedita foi unir outra área à matemática, reforçando o conceito de interdisciplinaridade.
Unir a matéria à outra como a arte fez com que alunos desmotivados se aproximassem mais da matemática, criando uma afinidade nova a partir de uma já existente.
4. Levar os projetos para o conhecimento dos pais
Uma das razões para o sucesso do projeto foi ele ter chegado ao conhecimento dos pais em reuniões. Dessa forma, há um apoio e um estímulo a mais, ele ganha força externa e as crianças se sentem mais motivadas. Com esse conhecimento e reconhecimento é até possível aprimorar ainda mais o projeto.
O que você tem feito para mobilizar seus alunos em sala de aula? Conte pra gente e volte para conhecer mais casos de sucesso 🙂
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 11, 2015 | Geral, Gestão escolar
Créditos da imagem: GettingSmart.com
Há, em cada profissional da educação, uma vontade de gerar mudanças impactantes na sala de aula, uma sede de inovação. O problema é que muitas vezes essa vontade se perde no tempo ora pela falta de recursos, ora pela falta de habilidades. O que fazer? Há uma tendência crescente na internet que pode contribuir para ampliar os horizontes das salas de aula e o conhecimento dos professores – os cursos online gratuitos.
Também conhecidos como MOOCs, que em inglês significa “Massive Open Online Courses” (Cursos Online Abertos e Massivos, em português), esses cursos são abertos via web, por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), ferramentas da Web 2.0 ou Redes Sociais.
Grandes universidades brasileiras já oferecem esses cursos, que através da tecnologia agrega diversas vantagens aos profissionais que não têm muito tempo, mas têm muita vontade de aprender: são grátis, não exigem vestibular e nem mobilidade em meio ao caos do cotidiano, visto que é possível estudar em casa – evitando perda de tempo, trânsito e desgaste.
Além disso, a escola ainda sai ganhando – com professores cada vez mais qualificados, as aulas ficam melhores e os alunos aprendem mais, deixando pais satisfeitos e produzindo rendimento e resultados à longo prazo. Confira abaixo algumas opções interessantes para professores aprimorarem suas habilidades e currículos, impactando ainda mais o aprendizado dos alunos:
Na USP:
Através da plataforma Veduca, os docentes podem ampliar seus conhecimentos nas seguintes áreas:
- Fundamentos da administração
- Escrita Científica
- Ética
- Eletromagnetismo
- Ciência Política
- Física Básica
- Probabilidade Estatística
Na FVG:
- Sociologia e Filosofia para docentes do Ensino Médio
- Sustentabilidade para os professores do Ensino Fundamental
- Inovação e Empreendedorismo
UnB:
- Os docentes da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias podem inovar na sala de aula com o curso de Bioenergética, que explica os fênomenos do organismo vivo.
UFMG:
- Para fortalecer o ensino inclusivo, é interessante para os docentes conferirem a plataforma Dislexia Brasil, que oferece conhecimentos sobre o assunto e dá dicas de como trabalhar com alunos disléxicos em sala de aula.
Unisinos:
- Para professores que visam a criação de turmas inclusivas em suas escolas ou estão se preparando para vagas em uma escola com alunos com necessidades especiais, a Unisinos oferece o curso de iniciação de libras. Há, também voltado para docentes, o curso de como fazer um jornal em sala de aula junto com os alunos.
Unesp:
- Através da plataforma Unesp Aberta, é possível acessar 70 cursos disponibilizados online, divididos em biológicas, exatas e humanas. Para os professores, é interessante conferir os cursos sobre didática e aprendizagem, disponíveis para diversas disciplinas, desde geografia à língua portuguesa.
Unicamp:
A universidade oferece minicursos especialmente para aqueles que querem aprimorar ainda mais o uso da tecnologia, ensinando técnicas como:
- CSS (Cascading Style Sheets)
- HTML ilustrado
- Tecnologia XML.
Para acessar os links dos cursos aqui citados, acesse este link. No mundo da educação, não há hora para deixar de aprender. Você já fez um curso online? Conte sua experiência para nós!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 9, 2015 | Gestão escolar
Não é novidade que o ENEM sempre foi assunto polêmico dentro das escolas brasileiras. Professores levantam debates nas salas de aula sempre que possível, apontando falhas e possíveis melhorias no Exame Nacional do Ensino Médio – e as opiniões dos educadores são, em sua maioria, muito válidas. Pensando nisso, o MEC agora permite que as falas dos professores sejam ouvidas além da sala de aula, através de um questionário online.
O que motivou a criação do questionário foi a possibilidade do ENEM ser realizado online, ou seja, os participantes fariam as provas em computadores e não no papel. A proposta é do ministro da educação Cid Gomes, e fomentou diversos debates sobre o exame este ano. Os interessados em responder o questionário devem preencher, neste link, o número do CPF e os dígitos do captcha de identificação.
As respostas serão coletadas com o propósito de aprimorar o ENEM em conjunto com as comunidades escolares, de forma democrática. O que você achou da iniciativa do MEC?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 6, 2015 | Geral
Créditos da imagem: facebook.com/internetdotorg
Semana passada, na Bolívia, duas meninas camponesas conquistaram o primeiro lugar na 4ª Olimpíada Científica Nacional, na categoria de Robótica, por inovarem com a criação de um braço hidráulico feito com material reciclável. O prêmio, que conta com mais categorias como biologia, matemática e informática, foi criado há 4 anos pelo governo plurinacional da Bolívia, a fim de incentivar o uso da tecnologia na educação de crianças e adolescentes.
O projeto vencedor nasceu quando as alunas do sexto ano Esmeralda Quispe e Eirika Mamani, de 12 e 11 anos respectivamente, observaram como funcionava a retroescavadora do campo e assimilaram seu funcionamento com o aprendizado adquirido sobre o funcionamento dos músculos do corpo humano nas aulas de ciências. Com a ajuda do professor da escola, conseguiram descobrir quais seriam os materiais ideais para o funcionamento da peça, que anteriormente seria feita com cartões e fibras.
Construído em três semanas, o braço funciona com água e conta com 19 peças de material reciclável, entre eles madeira, latas, seringas e tubos de soro. O aparato pode simular movimentos tais como esquerda, direita, pra cima e para baixo, abrir e fechar. A escola das meninas, a Unidad Educativa Franz Tamayo, possui apenas 100 alunos e pertence ao pequeno povoado ribeirinho de Ancoraimes, que fica há três horas da cidade de La Paz, capital da Bolívia. Mesmo pequena, agora a instituição ostenta uma medalha nacional.
A conquista de Esmeralda e Eirika viralizou nas redes sociais, mas elas não sabem disso – no povoado em que vivem, não há acesso à internet. Aparentemente isso não as impediu de finalizar o projeto com esmero. Essa história prova que, unida com a educação, a tecnologia pode ser inclusiva – mudando vidas, dando esperanças de um futuro melhor e estimulando a busca por novos horizontes nos jovens, independente do lugar de onde eles vêm.
A sua escola também está construindo novas oportunidades para os alunos?
Fonte: TeleSUR
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | mar 5, 2015 | Geral, Gestão escolar
Créditos da imagem: GettyImages
Artigo publicado no dia 15 de novembro de 2014 na coluna “Secret Teacher”, no setor de educação do jornal The Guardian. Traduzido pela Escribo.
“O dia começou como outro qualquer. Cheguei na escola um pouco depois de 7:30 da manhã, fiz uma xícara de chá, troquei algumas palavras com o pessoal que estava na sala dos professores e saí em direção à minha sala de aula, onde liguei o computador e comecei a checagem matinal dos meus emails – deleta isso, arquiva aquilo, imprime isso, encaminha aquilo – quando uma mensagem em particular chamou a minha atenção. Era de um pai de aluno, e a mensagem havia chegado em minha caixa de entrada às 23h50 da noite anterior.
O email dizia: “Que tipo de professor você acha que é? Acabei de colocar o Joe na cama pela décima vez. Ele está constantemente acordando de pesadelos, gritando, e diz que é porque não consegue resolver a questão nº 3 do dever de casa de matemática. Não posso fazer nada com ele. Não estou dormindo também. Você realmente deveria fazer algo à respeito do seu pobre ensino.”
Formulei uma nota mental para falar sobre a tarefa do Joe com ele mais tarde naquele mesmo dia e apertei em “responder” no email, para lembrar e deixar claro ao “Pai Pesadelo” que o prazo para entregar a tarefa ainda tinha três dias, e que tínhamos um clube de apoio para tarefas de casa na hora do almoço, para ajudar com as dificuldades. Mas antes que eu pudesse construir aquele email, a guarda da escola apareceu, frustrada, em minha porta, dizendo que o “Pai Pesadelo” estava lá, na recepção, irritado e exigindo falar com alguém responsável devido ao fato de um email vital para o bem estar do seu filho ter sido ignorado.
Ele estava sendo abusivo: antes da guarda terminar de falar, o pai entrou em minha sala, pois havia decidido que não lhe agradava a ideia de esperar para ver se eu estava disponível para falar com ele. Ele estava certamente irritado, aparentemente porque ainda não havia recebido resposta de um email enviado às vésperas da meia noite do dia anterior. Ora, tentei argumentar que abri o email logo no início da manhã e que falaria com o seu filho Joe sobre a tarefa naquele mesmo dia, mas ele não via razão para a sua “não resposta”. Ele tinha determinado para si que tinha o direito de receber uma resposta na hora em que lhe fosse conveniente – não era mais sobre o problema do seu filho. A confusão era sobre o pai ter sido “ignorado”.
Ignorado assim como minha necessidade de sono, de arrumar meus próprios filhos e levá-los à escola, ou de iniciar meu dia normalmente com mais 34 crianças em sala de aula. Isso não importava pro “Pai Pesadelo”, que saiu da escola exaltado e proferindo xingamentos contra mim, prometendo que iria levar aquilo aos meus superiores e às autoridades locais, como a Secretaria de Educação, expondo todo o caso no meio da escola – em frente à grupos de pessoas como pais, alunos e funcionários, comprometendo minhas próprias consequências.
Essse tipo de comportamento absurdo do “Pai Pesadelo” é, felizmente, raro, e pelo menos proveu algumas risadas na sala dos professores depois que a poeira baixou. Eu passei por experiências suficientes na vida para entender que é preciso ignorar o escárnio direcionado à minha competência e tenho confiança suficiente dos outros pais para com o meu trabalho, então não me chateei com o que ele disse para mim em pleno corredor da escola. Era um caso isolado e particularmente agressivo, conhecido também por perturbar pais dos colegas do seu filho, alegando que Joe estaria sendo perseguido por eles. Mas essa história me deixou com uma sensação de frustração, pois enquanto eu fazia de tudo pelo seu filho, ele estava focando em expectativas altamente irrealistas que colocou em mim como professora.
Isso me levou a pensar se não estaria na hora de discutir com os pais o que significa respeito, pais esses que sempre estão muito cientes de seus direitos, mas nunca se preocupam em serem corteses e compreensivos com a realidade do professor. Mesmo que exista uma boa relação com respeito e parceria entre você e os pais dos seus alunos, ocasionalmente aparecerão pessoas arrogantes que, por terem ido à escola, acham que entender mais do que você sobre ensinar. Acontece também desses pais descontarem nos professores quando têm dias ruins no trabalho. Manter a comunicação entre pais e mestres sadia e aberta pode ser bastante frustrante num mundo com tantos “Pais Pesadelo”.
E o que dizer dos alunos, que mais sofrem no meio desse processo? O momento mais triste do dia não foi ouvir as atrocidades do “Pai Pesadelo”, e sim quando vi seu filho Joe entrando na sala assustado e muito triste. Só tive tempo de dizer, “Vamos dar uma olhada nos deveres de casa de matemática mais tarde?” antes que ele se desmanchasse em lágrimas e soluços, implorando que eu fizesse seu pai parar de ficar irritado quando ele não entende a tarefa. Isso diz bastante.
Conversei com Joe sobre a tarefa e ele me disse que parecia entender as coisas em sala, mas quando tentava replicar o aprendizado em casa, descobria que não conseguia. Mas o problema maior eram as expectativas dos pais em cima dele. Joe não estava preocupado com a tarefa, ele sabe que poderia pedir minha ajuda na escola. O que o preocupava eram as reações do seu pai, que claramente tinha expectativas nada realistas para uma criança de 10 anos – e não fazia ideia de como é o processo de aprendizado das crianças.
Então fizemos o que podíamos: convidamos o pai para conversar sobre as tarefas de casa, uma conversa que começou com “fique calmo” e “por favor, sem lágrimas”, e então falamos sobre como era produtivo o contato da escola com os pais para auxiliar o aprendizado. Enquanto ele apaziguava seu comportamento, uma coisa ficou clara pra mim: o que estava lhe desapontando, de verdade, era perceber que seu filho não era o gênio da matemática que ele tanto esperava que fosse.
Em suma, um apelo para os pais: por favor, confie em nós. Sabemos o que estamos fazendo – confie na escola, confie em nós suas expectativas de que seu filho irá aprender. Confie em nós e não deixe de se comunicar clara e abertamente, porque o processo de ensino e aprendizado são intimamente ligados e isso é muito importante. Mas por favor, lembre-se também somos pessoas. Somos seres humanos que como vocês, temos famílias. Precisamos de tempo para descansar. E acima de tudo, merecemos ser tratados com o mesmo respeito e cortesia com o qual tratamos vocês – afinal, o respeito é uma vida de mão dupla.”
O que você achou do artigo? Concorda com a professora que o escreveu?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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