Quando se é criança, aprender a ler usando dois alfabetos diferentes é uma tarefa complicada. Para entender como isso acontece, um estudo realizado em Hong Kong, na China, examinou se jogos criados com tangram chinês servem para medir as habilidades de processamento visual de crianças chinesas que aprendem inglês como segunda língua.
Pontos principais Pais: Crianças desenvolvem habilidades visuais e de leitura/escrita com mais facilidade brincando com jogos de tangram. Professores: Alunos(as) ficam mais preparados(as) para reconhecer e reproduzir formas geométricas enquanto reforçam o aprendizado da escrita. Gestores escolares: O tangram pode gerar resultados positivos em diferentes plataformas – seja com as peças em mãos ou em jogos como os do Escribo Play.
Metodologia
Os pesquisadores criaram cinco jogos baseados em tangram e testaram em um grupo de 102 de crianças na educação infantil, todas com idades entre 4 e 5 anos e aprendendo inglês como segunda língua. Cada jogo observava a capacidade de:
replicar de imediato esquemas de tangram;
guardar na memória e depois replicar esquemas;
identificar e separar peças de tangram iguais em um tempo cronometrado;
observar um esquema de tangram e copiá-lo à mão numa folha de papel;
reconhecer quais imagens (por exemplo, animais ou objetos) formam certo esquema.
Análises
Os professores avaliaram o desenvolvimento das habilidades motoras e visuais de cada criança. Depois, analisaram os resultados dos jogos. Num segundo momento, avaliaram o nível de leitura e escrita. Então, cruzaram os dados de todas essas variáveis.
Resultados
Ficou evidente que os jogos de tangram são instrumentos poderosos para facilitar o aprendizado de leitura e escrita entre as crianças – principalmente os jogos que pediam para que o estudante replicasse as formas do tangram. O resultado das crianças neste tipo de jogo permitiu que os pesquisadores previssem a evolução das habilidades visuais-ortográficas e de identificação de palavras em chinês e inglês.
O tangram pode ser jogados até mesmo antes das crianças aprenderem a ler e escrever, já que tem uma mecânica simples. Pais e professores podem aproveitar os jogos de tangram do aplicativo Escribo Play para brincar com as crianças e deixá-las mais ágeis no reconhecimento visual das formas, letras e palavras em português.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Neste texto, vamos resumir e analisar os fatores que contribuem com o insucesso na alfabetização, indicando quais deles podem ser objeto de intervenções de gestores educacionais e professores. Boa leitura.
Pontos principais Pais: não deixem de participar da vida escolar dos(as) filhos(as): como reforço ao aprendizado, frequentem eventos escolares e cultivem o hábito de leitura junto às crianças. Professores: é importante se avaliar e entender de que forma os hábitos (leitura, motivação, sensação de adequação, por exemplo) de quem ensina reflete no aprendizado das crianças. Isso deixa as turmas mais próximas aos(às) professores(as). Gestores escolares: procurem, sempre que possível, atentar para a estrutura da escola (materiais educativos, salas, banheiros) e estar sempre próximos dos(as) alunos(as). Esse envolvimento favorece o sucesso das atividades em aula.
O fraco desempenho dos(as) estudantes em leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental é um sério problema para o sistema educacional brasileiro. Segundo as avaliações nacionais [1]:
66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.
Esse problema também chega ao ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. É dentro desse contexto que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os alunos do ensino fundamental no Brasil.
O fracasso no aprendizado de leitura e escrita, uma questão estudada por várias disciplinas
A perspectiva histórica
Os livros de alfabetização das séries iniciais podem ser de grande importância para entender os baixos níveis de desempenho dos alunos. Esses livros surgiram por volta de 1890 e muitos professores ainda os utilizam como o seu principal guia – um reflexo dos embates metodológicos que ainda ocorrem no campo da alfabetização [3].
Desde 1980, o paradigma educacional mais importante no Brasil é o construtivismo, que foi fortemente promovido pela academia e pelo governo até 2018. Infelizmente, com base no pressuposto de que os alunos devem construir seus conhecimentos, uma grande parte dos educadores brasileiros esquece de dar atenção especial a concepção e planejamento das experiências didáticas que irão oferecer aos seus alunos [4]. Essa deficiência pode ser uma das razões que explica a falta de um método de alfabetização que seja reconhecido como efetivo nos anos iniciais [4]. Dentro deste contexto, a abordagem fonética começou a se proliferar depois dos anos 2000. Seus críticos, no entanto, dizem que é muito mecânica e não torna as crianças cidadãos alfabetizados e letrados [3].
Antropologia e o “jeitinho” na educação
Uma análise antropológica nos leva a crer que certos(as) professores(as) usam o “jeitinho brasileiro” quando deveriam adotar, por exemplo, práticas de letramento. Eles fingem estar de acordo e parecem ensinar pelo viés do letramento mas, na verdade, faltam componentes essenciais para uma proposta letrada. A pesquisa etnográfica revelou um processo desanimador em que professores e escola segregam alunos que não atendem aos padrões de comportamento e desempenho [5].
Raça, classe, gênero e sua influência no ensino
A perspectiva sociológica fornece uma visão interessante sobre a desigualdade socioeconômica e racial que ainda afeta os(as) alunos(as) dos anos iniciais. Também revelou o fato de que o censo brasileiro não é um instrumento confiável para avaliar a alfabetização porque é baseado apenas na resposta “sim” ou “não”. Em vez disso, futuros estudos devem se concentrar em dados de avaliações nacionais para avaliar a situação racial, socioeconômica e as lacunas de aprendizagem.
Relações entre educação e a economia
O aprendizado na educação infantil, o histórico familiar e o envolvimento dos pais são os principais fatores que influenciam o desempenho durante a alfabetização [6]. Enquanto isso, as famílias analfabetas experimentam alguns benefícios excepcionais quando seus filhos aprendem a ler e escrever, incluindo melhorias na saúde e na renda [7].
Principais fatores dos baixos níveis de alfabetização
Escola, família, professor e aluno foram as quatro dimensões identificadas para organizar causas e fatores ligados aos baixos níveis de aprendizado de leitura e escrita na alfabetização.
Visando demonstrar potenciais ações que podem ser conduzidas por gestores educacionais e professores, fizemos uma classificação das causas que contribuem com o baixo nível de aprendizado. O nível de importância para cada fator foi atribuído de acordo com uma regra simples: o que influenciava diretamente a aprendizagem tinha grande importância. Fatores de segunda ordem, como a contribuição do(a) diretor(a), tinham importância moderada. Duas características foram observadas para definir se um fator tinha resultados interessantes em menos de um ano letivo (acionável): o tempo de resposta e o custo da intervenção.
A Escola
A primeira dimensão é a escola, que inclui um fator que não é acionável facilmente: a infraestrutura física fraca (falta de banheiros e salas de aula adequadas). Apesar disso, dois pontos são acionáveis. O primeiro é uma administração frágil, com diretores pouco engajados e pouco hábeis [8]. O segundo envolve materiais escolares inadequados de baixa qualidade ou em falta; jogos infantis, quadros brancos e tecnologias educacionais. Em um país onde a formação de professores é tida como deficiente em pedagogia, os livros didáticos e tecnologias educacionais podem desempenhar um papel relevante nas atividades em sala, indicando que esse é um fator importante [9].
A Família
A segunda dimensão é a família. Aqui, um ponto muito importante
não é acionável: pobreza e baixo capital social. Quase 82% das famílias de
estudantes brasileiros vivem com menos de R$ 2.364 por mês [10]. A falta de
formação também tem importância moderada – 56% dos pais não concluíram o ensino
médio [10]. Há inclusive uma forte influência do desempenho escolar da mãe na
conquista inicial da alfabetização de seus filhos [11].
Infelizmente, mudar a realidade das famílias não é viável em curto prazo
pensando na maioria dos gestores escolares e professores.
Outro fator moderado é o pouco envolvimento dos familiares com
a vida escolar das crianças. No Brasil, 39% dos pais frequentam apenas alguns
eventos escolares e 18% simplesmente não frequentam. Há também pais que se
importam, mas não sabem como colaborar com a alfabetização de seus filhos. Um
dado comparativo sobre essa questão é que apenas 42% dos pais lêem livros no
país. Desses, 63% lêem a Bíblia. Apenas 17% deles lêem jornais diários e 5% lêem revistas [10]. Isso
demonstra que a maioria das famílias não exercita a leitura nem a linguagem
escrita todos os dias. Nesse sentido, as políticas públicas poderiam incentivar
os pais a lerem para seus filhos antes de ingressarem na escola, mesmo que os
pais sejam analfabetos e não dominem a língua escrita [11].
O(A) Professor(a)
A terceira dimensão, o professor, inclui fatores acionáveis
de importância moderada: pouca consciência sobre os próprios conhecimentos
[12], pouca motivação e baixa autoeficácia [13]. Em último, vêm as suas fracas
abordagens de ensino, nas quais há uma enorme distância entre o que é dito e o
que é visto na prática em sala de aula. Especialmente quando se fala sobre a
criação de atividades que viabilizam que os(as) alunos(as) dos anos iniciais do
ensino fundamental usem a escrita no seu cotidiano social (letramento). Nos
anos seguintes, fica evidente que a leitura e a escrita não são parte da vida
dos alunos. A razão para a dificuldade em promover hábitos de leitura entre os
estudantes pode vir do estilo de vida do(a) professor(a), já que 37% deles(a)
nunca lêem e 18% raramente lêem [14].
Professores(as) brasileiros(as) perdem muito tempo
disciplinando estudantes, o que deixa menos tempo para o ensino em si [11].
Isso pode apontar para métodos pedagógicos falhos, mas também pode estar ligado
ao baixo envolvimento das famílias no processo [10]. Outra descoberta triste
foi a tendência entre os professores dos anos iniciais brasileiros de culpar a
pobreza, a falta de motivação dos estudantes e o envolvimento da família como
as principais razões para o baixo desempenho escolar [15]. Como já foi citado,
esses fatores podem de fato contribuir para as dificuldades do(a) aluno(a), mas
há educadores que usam esses argumentos para esconderem deficiências e se
oporem às iniciativas de transformação das suas instituições em escolas
eficazes.
O(A) Aluno(a)
Um fator acionável moderado é a falta de habilidades
metacognitivas. Um treinamento específico poderia ser feito para melhorá-las na
alfabetização e nos demais aprendizados [16]. O último fator é altamente
significativo e acionável, que é a baixa motivação e autoeficácia do(a)
aluno(a). A maioria dos(as) desistentes disse que a razão principal para terem
abandonado a escola era a falta de motivação [17].
A falta de sucesso do(a) aluno(a) na alfabetização, nos anos
iniciais, leva ao fracasso nas séries seguintes [6]. Além disso, filhos de
famílias carentes que têm acesso a um computador em casa apresentaram maiores
taxas de aproveitamento [6]. Isso quer dizer que esses(as) estudantes têm
níveis mais altos de autoeficácia e motivação [18]?
Para concluir, a Tabela 1 abaixo resume todos os fatores identificados. Existem três fatores acionáveis de grande importância: materiais de aprendizagem inadequados, abordagens de ensino fracas e motivação e autoeficácia inadequadas do aluno. Esses fatores podem ser atacados por gestores e educadores que estejam planejando mudanças em suas instituições e práticas de ensino-aprendizagem.
Categoria
Fator
Acionável
Importância
Escola
Infraestrutura física inadequada
Não
Moderada
Gestão e engajamento fracos
Sim
Moderada
Material de ensino inadequado
Sim
Alta
Família
Pobreza e baixo capital social
Não
Alta
Falta de formação educacional
Não
Moderada
Baixo engajamento
Sim
Moderada
Professor(a)
Fraca motivação e autoeficácia
Sim
Moderada
Baixas habilidades metacognitivas
Sim
Moderada
Abordagens de ensino fracas
Sim
Alta
Estudante
Capacidades metacognitivas ruins
Sim
Moderada
Má motivação e autoeficácia
Sim
Alta
Referências
[1] Qedu. (2015a). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em: http://goo.gl/R6BX3w
[2] Globo. (2012, November 26). DFTV
2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD
[3] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A
“querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: Contribuições para
metodizar o debate. Acolhendo a
alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.
[4] Mortatti, M. D. R. L. (2006).
História dos métodos de alfabetização no Brasil. Proceedings from Seminário alfabetização e letramento em
debate. Brasília, DF: MEC. Disponível em: http://goo.gl/PvNsh8
[5] Picetti, J. S., & Real, L.
M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares
no processo de alfabetização.Acolhendo a
Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.
[6] Costa, L. O., Loureiro, A. F.,
& Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos
estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.
[7] Ribeiro, F. G., & Carraro,
A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.
[8] Ribeiro, F. G., & Cechin, L.
A. (2012). As externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de
curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.
[9] Falsarella, A. M. (2013). O
gestor escolar em meio a discursos contraditórios: Formação docente e
desempenho dos alunos. Colabor@, 8(30).
[10] Saviani, D. (2009). Formação de
professores: Aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro.
Revista Brasileira de Educação, 40,
143.
[11] Ibope (2014). Atitudes pela Educação. Disponível em:
http://goo.gl/OOxhLt
[12] Fuller, B., Dellagnelo, L.,
Strath, A., Bastos, E. S. B., Maia, M. H., de Matos, K. S. L., … &
Vieira, S. L. (1999). How to raise children’s early literacy? The influence of
family, teacher, and classroom in northeast Brazil. Comparative education review, 43, 1-35.
[13] Portilho, E. M. L., &
Dreher, S. A. S. (2012). Categorias metacognitivas como subsídio à prática
pedagógica. Educação e Pesquisa, 38(1),
181-196.
[14] Ibope (2009). A educação vista pelos olhos do professor.
Disponível em: http://goo.gl/S0rtgy
[15] Qedu (2015b). Respostas dos professores. Disponível
em: http://goo.gl/0EqYYH
[16] Davis, C. L. F., & Miranda,
M. I. (2012). Problemas de aprendizagem na alfabetização: Contribuições da
pesquisa-ação escolar. Educação e Filosofia,
26(51), 289-312.
[17] Monteiro, C. R. (2010). A
aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. Cadernos de Educação, 35, 271-302.
[18] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília, DF:
Fundação Getúlio Vargas.
[19] Couse, L. J., & Chen, D. W.
(2010). A tablet computer for young children? Exploring its viability for early
childhood education. Journal of Research
on Technology in Education, 43(1),
75-96.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
As crianças podem exercitar o que aprendem na escola com as tarefas de casa no menu “Atividades” do Escribo Play! O visual é um pouco diferente para as professoras e para as famílias, por isso, fizemos um passo a passo de como cada público pode aproveitar o que a ferramenta pode oferecer!
Famílias
Na tela de seleção de jogos (1), toque em “Atividades” no canto superior direito da tela.
Na próxima tela, mostramos o prazo para entrega, os acertos e as finalizações dos jogos (2). Além disso, também indicamos se a criança fez atividade no prazo (cor verde), com atraso (amarelo) ou se ainda não fez a atividade (vermelho). Toque no nome do jogo desejado para abri-lo e iniciar a partida.
Para agendar as atividades, a professora precisa tocar no botão jogar sem coletar dados (3), como indica a imagem acima.
Toque no pacote (4) onde está a atividade que será agendada.
Depois, na tela de seleção de jogos, toque no jogo selecionado e, quando a janela acima surgir, toque em Agendar atividade (5).
Na próxima tela, escolha o prazo de entrega e as turmas que vão fazer a atividade na aba Para turma ou, para selecionar e enviar a um grupo de alunos, toque na aba Para grupo (6). Em ambos os casos, finalize tocando no botão Agendar (7). Com essa funcionalidade, professoras e professores podem personalizar ainda mais o uso dos jogos pedagógicos de acordo com as necessidades de cada criança ou grupos de crianças em uma mesma turma.
O acesso dos professores e das professoras ao menu Atividades também fica no botão no canto superior direito da tela de escolha de jogos (8).
Nele, as professoras veem os jogos passados para casa, a data de agendamento e de entrega das atividades. A partir daqui, a professora pode seguir dois caminhos: ou tocar no nome do jogo para acompanhar o andamento das crianças ou selecionar o menu Quadro de Atividades (9), no canto direito da tela, como na imagem acima.
O professor pode ver o status da atividade para cada criança (tarefa feita, não feita ou com atraso). Além de listar o andamento das atividades, o Quadro de Atividade mostra também o percentual de realização de atividades para a turma. É bastante útil para que a escola acompanhe as crianças e turmas com melhor aproveitamento e as que precisam de mais estímulos diretos.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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