Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

Conheça a nossa Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia

É com orgulho que anunciamos a chegada da Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia! Lançada em maio de 2019, a Revista é especializada na divulgação de artigos científicos sobre processos de aprendizagem, inovações educacionais, jogos educativos e o papel deles no aprendizado das crianças da educação infantil e do ensino fundamental. O primeiro volume já está no ar.

Com uma linguagem acessível a todos, publicamos pesquisas e sínteses de evidências científicas sobre o aprendizado disponíveis nos mais prestigiados periódicos científicos do mundo, que antes não eram lidas no Brasil por serem em inglês e usarem termos muito técnicos.

Assim, a nova geração de educadores cursando licenciaturas, pedagogia, psicologia cognitiva e áreas afins têm acesso facilitado a uma bibliografia atualizada através da nossa Revista. Dessa forma, buscamos oferecer o estado da arte das pesquisas de diversas disciplinas que se relacionam com o campo da educação e do aprendizado, especialmente a neurociência, psicologia, computação, design e educação.

Fique à vontade para “folhear” os conteúdos, citar os artigos na sua pesquisa ou até mesmo submeter a sua própria produção. Acesse a Revista da Escola, Professor, Educação e Tecnologia em escribo.com/revista. 😉

Artigo: Desenvolvimento cognitivo, Vygotsky e o aprendizado na alfabetização.

Artigo: Desenvolvimento cognitivo, Vygotsky e o aprendizado na alfabetização.

Olá, pessoal, tudo bem?

Hoje, a gente traz mais um artigo cheio de insights e com diferentes perspectivas sobre o crescimento e o aprendizado. Ele também faz parte de uma série de textos que produzi no meu doutorado na Johns Hopkins University. Boa leitura!

Pontos principais
Pais: proponham sempre novos desafios para que sua criança adquira novas habilidades.
Gestores: é importante que os gestores tenham informações atualizadas e claras sobre como está o desenvolvimento de cada uma das suas turmas, nos objetivos de aprendizagem da BNCC.
Professores: identificar as habilidades que os alunos já possuem e sempre propor novos desafios para que eles possam desenvolver novas experiências e conhecimentos

Uma visão geral da Teoria Cognitiva

As teorias cognitivas surgiram quando os pesquisadores behavioristas passaram a ter problemas por não conseguirem explicar todas as ações dos humanos, que são seres complexos [1]. A perspectiva cognitiva entende que os humanos não são apenas entidades que respondem ao ambiente (visão behaviorista). Para as teorias cognitivas, nós humanos agimos para atingir nossos objetivos e, para isso, buscamos informações ativamente.

A visão da ação cognitiva também se aplica a crianças, e as entende como aprendizes que são capazes de definir seus objetivos, planejar suas ações e revisar seus conhecimentos. Ou seja, as crianças criam buscam e organizam seus conhecimentos e artefatos.

Dentro desta perspectiva, o comportamento humano não é atribuído a causas internas, como afirma a teoria psicodinâmica e de traços. As pessoas são movidas por estímulos ambientais, fatores pessoais e fatores comportamentais. Nossas ações surgem a partir da interação entre estes três tipos de estímulos, sintetizados no modelo que foi chamado pelo pesquisador Albert Bandura de reciprocidade triádica.

Várias abordagens teóricas foram desenvolvidas com base na perspectiva cognitiva para explicar e prever o comportamento humano e a aprendizagem. As teorias de processamento de informações são bons exemplos.

Teorias cognitivas

Para explicar como as pessoas aprendem, as teorias cognitivas usam conceitos como atenção, percepção, memória de curto e longo prazo, modelo de memória de dois armazenamentos, níveis de profundidade de processamento e nível de ativação [3].

Uma parte importante do aprendizado é a capacidade do indivíduo de monitorar seus esforços cognitivos, incluindo memória e compreensão. Tais habilidades afetam como ele conduz suas ações para completar seus objetivos, com base no conhecimento metacognitivo (aprender sobre como ele aprende) e experiências anteriores [4].

Conhecimento já adquirido e experiências prévias também influenciam a capacidade de resolução de problemas do estudante. Nesse sentido, crianças que vivenciaram mais experiências e já acumularam uma base maior de conhecimento tendem a ter uma maior capacidade para resolver problemas do que outras da mesma idade, por estar em uma zona de desenvolvimento proximal diferente [5].

Leia mais

30 milhões de palavras! A diferença entre crianças que escrevem bem e as que enfrentam dificuldades

A zona de desenvolvimento proximal de Lev Vygotsky

A zona de desenvolvimento proximal é um conceito interessante para o estudo das habilidades de leitura e escrita. Nela, o educador precisa descobrir a capacidade atual do aluno (por exemplo, ler palavra por palavra) e então supor os níveis mais altos de tarefas que ele conseguirá realizar sob orientação (por exemplo, ler pequenas frases). Essa é a zona de desenvolvimento proximal, a faixa de atividades que podem ser feitas e que serão úteis para o estudante para avançar no aprendizado [6].

Assim, os designers instrucionais, os (as) educadores (as) que criam jogos didáticos, currículos e sequências didáticas devem ter como objetivo permitir que o aluno alcance os níveis superiores da sua zona de desenvolvimento proximal, para que, sob orientação, cumpra as tarefas mais desafiadoras de que é capaz. “À medida que uma nova habilidade ou conceito é dominado, o que uma criança um dia pode fazer apenas com assistência, logo se torna seu nível de desempenho independente” [7].

Quando isso acontece, significa que a zona de desenvolvimento proximal da criança se deslocou para cima e, nesse caso, o processo é reiniciado com o (a) professor(a) propondo um desafio mais alto para que a criança se esforce e avance para o seu próximo nível.

Esse processo ocorre desde cedo, quando os (as) cuidadores (as) “direcionam a atenção das crianças para pontos críticos dos acontecimentos, comentam sobre aspectos que devem ser observados pelas crianças” e, de maneira geral, ajudam as crianças a estruturar e compreender as informações que estão recebendo do ambiente que as rodeia [1].

É importante notar que o desenvolvimento do aluno não deve depender apenas do que o (a) professor (a) determina. O aluno deve se tornar capaz de liderar seu aprendizado.

Por isso, é essencial incentivar as habilidades metacognitivas em que o estudante começa a refletir sobre o que ele faz para aprender e os resultados que está obtendo. Aprender a aprender é um processo muito importante, que deve ser estimulado pelos professores (as) e famílias [1].

Teorias cognitivas na alfabetização

Infelizmente, a maioria dos estudantes das escolas brasileiras não atinge as metas de aprendizado de leitura e escrita até o 3º ano (período oficial da alfabetização). A perspectiva cognitiva pode fornecer informações valiosas para entender e atuar sobre esse problema. Usando o conceito de zona de desenvolvimento proximal, podemos dividir esse desafio em dois momentos.

O primeiro deles é a zona de desenvolvimento proximal das crianças antes de entrar na escola, desenvolvida nos primeiros anos por suas interações com familiares e cuidadores. Esse é um conceito importante para a avaliação do aproveitamento do aluno na alfabetização porque se relaciona diretamente com a zona de desenvolvimento proximal em potencial no final da terceira série.

Se o aluno entrar na escola com fortes habilidades linguísticas (por exemplo, vocabulário amplo), ele provavelmente vai atingir as metas de aprendizado. Uma prática interessante que pais, cuidadores e educadores de creches podem implementar para fortalecer a zona de desenvolvimento proximal crianças é chamada de escrita assistida (scaffolded writing).

Na escrita assistida, as crianças são orientadas a pensar e planejar o que irão escrever, depois desenham e só então escrevem. A etapa final pode ocorrer com vários tipos de escrita, como na escrita espontânea. Esta prática foi avaliada em diversas pesquisas como bastante efetiva no desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita.

No entanto, os estudantes que chegam a escola com uma zona de desenvolvimento proximal menos desenvolvida terão que passar por um processo de aprendizado mais intensivo, a fim de alcançar as metas de aprendizado até a terceira série. Isso provavelmente envolverá vários ciclos de aprendizado para elevar a sua zona de desenvolvimento até um nível similar a dos alunos que já entraram na escola com habilidades mais desenvolvidas e mais experiências prévias.

Próximos passos

A partir dos conceitos citados, podemos argumentar que o (a) professor (a) precisa descobrir a zona de desenvolvimento proximal de seus alunos logo no começo das aulas. Se um aluno exibir um desenvolvimento abaixo do esperado, o (a) professor (a) terá que criar uma sequência de desenvolvimento específica para esse aluno.

Para alcançar o sucesso, essa trajetória de aprendizado pode exigir diferentes estratégias, incluindo algumas táticas metacognitivas, como parafrasear os outros e ensaiar o que irá falar [3]. No entanto, nas escolas do mundo real, os (as) educadores (as) enfrentam múltiplos desafios.

Embora muitas práticas e sugestões oferecidas pelas abordagens cognitivas possam auxiliar estudantes e professores (as), muitas delas não são fáceis de implementar. Na maioria das vezes, pelo menos no Brasil, um professor tem que trabalhar com 15, 20 e até 30 alunos em uma aula, sem assistente.

Se considerarmos a educação tradicional [8], em que uma sala de aula padrão é composta de cadeiras, mesas, quadro negro e o professor, pode-se argumentar que oferecer uma educação personalizada é um desafio colossal, provavelmente impossível.

No entanto, é importante notar que não apenas estudantes e adultos podem servir como assistentes. Os celulares e tablets também podem ajudar a desenvolver a zona de desenvolvimento proximal usando aplicativos especialmente desenvolvidos para esses empreendimentos.

As práticas metacognitivas orientaram o desenvolvimento de alguns desses aplicativos, ajudando o aluno a compreender seus próprios passos no processo de aprendizagem, promovendo a autonomia.

Associadas a técnicas avaliativas, tais abordagens podem proporcionar experiências metacognitivas que impulsionam a motivação e a autoeficácia. Há casos em que o uso de aplicativos para auxiliar os alunos dentro de sua zona de desenvolvimento proximal, com estratégias metacognitivas, foi capaz de fortalecer a leitura e a escrita [9].

Outro exemplo de tecnologia de sucesso no processo de aprendizado de leitura e escrita é o aplicativo Escribo Play. Em uma pesquisa experimental de grande porte (disponível aqui), com 749 crianças, foi identificado que as turmas que utilizam os jogos deste aplicativo fortalecem o aprendizado de leitura em 68% e o de escrita em 48%.

Referências

[1] Bransford, J. D., Brown, A. L., & Cocking, R. R. (1999). How people learn: Brain, mind, experience, and school. National Academy Press.

[2] Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Prentice-Hall.

[3] Schunk, D. H. (2012). Information processing system. In Learning theories: An educational perspective. Upper Saddle River, NJ: Pearson.

[4] Flavell, J. H. (1979). Metacognition and cognitive monitoring: A new area of cognitive–developmental inquiry. American psychologist, 34(10), 906.

[5] Vygotsky, L., Hanfmann, E., & Vakar, G. (2012). Thought and language. MIT press.

[6] Moll, L. C. (2014). LS Vygotsky and education. Routledge.

[7] Leong, D. (1998). Scaffolding emergent writing in the zone of proximal development. Literacy, 3(2), 1.

[8] Freire, P. (2000). Pedagogy of the oppressed. Bloomsbury Publishing.

[9] Salomon, G., Globerson, T., & Guterman, E. (1989). The computer as a zone of proximal development: Internalizing reading-related metacognitions from a Reading Partner. JournalofEducationalPsychology, 81(4), 620.


O layout das salas ajuda no aprendizado?

Por Américo Amorim, Doutorando em educação pela Johns Hopkins University.

Nos últimos dias estive visitando algumas escolas e conversei com diretores, coordenadores e professores sobre o layout físico das salas de aula.

Nesse vídeo vamos falar um pouco sobre como a arrumação, a iluminação, o som e os aromas das salas de aula podem ajudar o trabalho dos professores e o aprendizado dos alunos. Abaixo você pode conferir a transcrição completa dele.

 

Primeiro é importante lembrar que nossos alunos precisam prestar atenção nos momentos mais importantes das aulas. (Hardiman, 2012). Várias pesquisas mostraram que quando o professor muda algo na sala de aula, os alunos ficam mais atentos. (Posner & Rothbart, 2007).

Outra pesquisa mostrou que salas que sempre são iguais aumentam a dispersão dos alunos (Zental & Zendtal, 1983). Ou seja, o que a neuroeducação nos mostra é que quanto mais mudarmos o interior de nossas salas, mais atenção e aprendizado.

Uma boa prática é mudar os cartazes que ficam nas paredes para que os alunos sempre prestem mais atenção nas novidades. Podemos fazer isso semanalmente, quinzenalmente. O importante é não deixar sempre a mesma coisa.

Nós também podemos mudar a organização das bancas na sala ao longo dos bimestres!

Uma outra ideia, que já foi testada em pesquisas e mostrou bons resultados, é alternar as salas de aula. Ou seja, a cada semana você pode trocar as salas das suas turmas. Isso pode ser uma boa brincadeira para os alunos e vai ajudá-los a ficarem mais motivados e atentos! (Smith, Glenberg and Bjork, 1978).

Outra coisa que é muito importante para o aprendizado é a iluminação da sala de aula. Um estudo com 21 mil crianças descobriu que salas de aula iluminadas pela luz solar tinham scores maiores: +20% em matemática e 26% em leitura (Hoeschong, 1999).

Ou seja, o ideal é termos grandes janelas que permitam a entrada de luz durante a maioria do ano.

Mas nem sempre é possível termos grandes janelas. Nestes casos é importante prestar atenção nas lâmpadas. O ideal é que as salas de aula sejam equipadas com lâmpadas fluorescentes de espectro total com suplemento UV, pois elas emitem luz parecida com a do sol.

Alunos que estudam em salas equipadas com estas lâmpadas são mais saudáveis e aprendem mais do que nas salas com lâmpadas fluorescentes brancas ou de vapor de sódio (Hathaway, 1995).

Outra coisa importante é prestar atenção no nível de ruído na sala de aula. Ruídos causam distrações principalmente em crianças da educação infantil (Nelson & Soli, 2000). Por isso, crianças em salas silenciosas conseguem recuperar mais informação do que crianças de salas barulhentas (Smyth, 1979).

Os adolescentes também perdem capacidade de recuperação e tratamento de informação quando expostos a sons muito altos (Hygge, 2003).

E para terminar, é importante lembrar que o cheiro também pode ajudar no aprendizado. Odores podem melhorar o estado emocional, a atenção e a memória dos alunos (Epple e Herz, 1999).

Um bom exemplo disso foi o estudo que mostrou que aromatizando uma sala com aroma vale do lírio e hortelã-pimenta (peppermint) reduziram em 54% as atividades paralelas dos alunos. Você também pode introduzir aromas em sua sala, mas lembre de não utilizar produtos químicos que possam causar alergia as crianças.

Bem pessoal, é isso. Resumindo, as pesquisas mostram que precisamos:

  • Mudar o layout de nossas salas ao longo do ano letivo;
  • Usar ao máximo a luz solar para iluminar nossas salas, e quando precisarmos de lâmpadas, utilizar as mais adequadas;
  • Reduzir o nível de ruído nas salas de aula;
  • Introduzir aromas para ajudar os alunos para se concentrarem.

Até a próxima!

Abraço,

Americo