por Americo N. Amorim | jan 19, 2022 | Educação Infantil, Escribo Play, Pesquisas em educação
Pontos importantes:
- Alunos que utilizaram os jogos avançaram 3,6 vezes mais em leitura e 2,7 vezes mais em escrita do que as crianças que não utilizaram o projeto.
- O experimento foi realizado com 351 crianças que estudavam em 12 escolas públicas durante 4 meses.
- Atualmente mais de 2 mil escolas já estão adotando estes jogos baseados em evidências.
Fizemos uma pesquisa bastante interessante com alunos de educação infantil da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (PE). O estudo revelou que o uso de jogos digitais de consciência fonológica – conjunto de habilidades como separar sílabas, identificar rimas e palavras que começam com o mesmo som, e manipular sons para formar novas palavras – estimulou o aprendizado de leitura e escrita de crianças de baixa renda. Os resultados do estudo serão publicados no periódico “Computers & Education”, a revista científica de tecnologia educacional com maior fator de impacto no mundo.
A equipe de pesquisadores criou um programa de fortalecimento da leitura e escrita de palavras que emprega 26 atividades lúdicas de consciência fonológica. Os(as) professores(as) orientam o uso dos jogos pelas crianças com tablets ou smartphones de baixo custo. Esses jogos pedagógicos foram desenvolvidos para diminuir o baixo aprendizado das crianças em leitura e escrita, ligado à falta de estimulação adequada desde a educação infantil, como apontam evidências nacionais e internacionais. O programa foi implementado inicialmente em 2018 em 12 centros municipais de educação infantil que atendem alunos em situação de pobreza.
Interrupções nas aulas devido a eventos esportivos, três greves e chuvas que inundaram as ruas onde viviam crianças em situação de pobreza desafiaram a implementação da intervenção. Apesar disso, a equipe de implantação do projeto conseguiu mitigar satisfatoriamente diversos obstáculos, como a falta de tecnologias de informação e comunicação adequadas e a escassez de profissionais nas escolas.
Um total de 351 alunos de cinco anos participou do estudo. Antes do experimento, as crianças passaram por uma diagnose, que identificou como elas estavam no processo de leitura e escrita de palavras. Depois, as turmas foram divididas por sorteio em dois grupos: o que utilizou os jogos pedagógicos e o que não utilizou (grupo de controle). Depois de 4 meses, todas as crianças passaram por outra diagnose. A análise dos dados constatou que os alunos que realizaram as atividades avançaram 3,6 vezes mais em leitura e 2,7 vezes mais em escrita em comparação ao grupo de controle. Os jogos também geram relatórios que permitem que professores(as) e gestores(as) acompanhem o aprendizado dos alunos.
Desenvolver a alfabetização de crianças de baixa renda
O experimento mostrou que as crianças de famílias mais pobres conseguem aprender até quatro vezes mais do que quando professores(as) trabalham da forma tradicional. Para garantir que todas consigam se alfabetizar, as escolas precisam oferecer uma estimulação eficaz, utilizando as estratégias de ensino baseadas em evidências científicas.
Também participaram do estudo pesquisadores da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. A pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Escribo.
O uso desses jogos em escolas privadas foi objeto de um experimento randomizado controlado – o maior já realizado em escolas da educação infantil do Brasil – feito com 749 crianças e 62 professores(as) de 17 escolas privadas. As crianças de famílias de classe média que utilizaram os jogos fortaleceram as habilidades de leitura em 68% e de escrita em 48%. Os resultados foram publicados no periódico científico Educational Researcher, o mais lido por pesquisadores educacionais dos EUA. A nova evidência revela que o efeito do Escribo Play na leitura e na escrita das crianças da rede pública foi muito maior do que o que observamos nas escolas privadas. Isso demonstra que a rede pública tem um potencial forte para melhorar.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | jul 20, 2021 | Economia, Gestão escolar, Inovação no Ensino, Neuroeducação, Pesquisas em educação, Políticas Públicas
Muitos professores de todo o Brasil nos pedem indicações de obras para suas leituras, principalmente quando concluímos um curso aqui na Escribo. Pensando nisso, montamos uma lista com 10 indicações de livros feitas por parceiros da Escribo, pesquisadores educacionais e educadores com ampla experiência e produção literária. Boa leitura!
Criar Leitores – para professores e educadores, de José Morais
Indicado pelo neurocientista Augusto Buchweitz
Criar Leitores ensina aos professores, educadores, pais e profissionais de saúde o que acontece no cérebro da criança quando ela aprende a ler. O autor se aprofunda nos processos cognitivos e nas diversas etapas de aprendizagem percorridas até a alfabetização; explica como surgem as dificuldades na infância e recomenda intervenções e abordagens pedagógicas para superar esses obstáculos. Esse livro é baseado em evidências científicas importantes reconhecidas por todo o mundo.
O português José Morais, autor do livro, é doutor em Desenvolvimento da Cognição e Psicolinguística e professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas. Ele é um dos maiores especialistas do mundo em alfabetização, e já trabalhou com políticas públicas educacionais para Portugal e França. Obtenha o livro na Amazon neste link.
A Professora da Alfabetização, de Américo Amorim
O livro conta a história de Juliana, professora que foi finalmente nomeada para ensinar em uma rede municipal. No primeiro dia de aula, ela se depara com um bilhete anônimo de boas-vindas. Já nas primeiras aulas os bilhetes passam a criticar suas práticas pedagógicas. Nos dias seguintes, começam a ordenar que a professora faça as crianças aprenderem a ler e escrever em um prazo curtíssimo, qualquer professora diria ser impossível. Ela volta a estudar e aprende novas evidências científicas sobre como ensinar a ler e escrever.
A obra é de autoria do pernambucano Dr. Américo Amorim, pesquisador da New York University, em parceria com o escritor Matheus Bento. Américo é fundador e cientista-chefe da Escribo, startup ligada ao ecossistema Porto Digital, onde desenvolve jogos pedagógicos que fortalecem o aprendizado de 105 mil crianças em 2.200 escolas do Brasil e do Panamá. Estimulando a consciência fonológica e fonêmica de forma lúdica e sistemática, ela sente o avanço das crianças. Ao mesmo tempo, tenta descobrir quem é o maluco que a persegue e escreve os bilhetes infames. Leia agora.
Formando Mais que Um Professor, de Elizabeth Green
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
O que é preciso para ser um bom professor? O livro Formando Mais que Um Professor apresenta diversas abordagens práticas, adotadas pelos melhores professores no mundo todo, para que as crianças prestem atenção e aprendam ainda mais. Unindo novas pesquisas de psicologia cognitiva à experiência de professores, a autora também explica como os professores devem se preparar antes de entrar em aula; como conquistar o interesse das crianças e como a professora pode fortalecer os conteúdos da sua disciplina.
O livro foi escrito por Elizabeth Green, uma experiente jornalista especializada em educação, com passagens nos principais jornais americanos. Essa obra mostra como ensinar é um processo complexo e cheio de nuances e como as famílias também podem descobrir as reais necessidades dos filhos em sala. Adquira este livro neste link.
País Mal Educado, de Daniel Barros
Indicado pela pesquisadora da FGV-RJ e de Harvard Claudia Costin
Os leitores podem se aprofundar em uma realidade já conhecida, no livro País Mal Educado: uma quantidade enorme de crianças e adolescentes brasileiras aprende pouco ou quase nada em sala de aula. O autor faz uma série de pesquisas, entrevistas e investigações em sala de aula para nos mostrar as falhas mais graves do sistema educacional brasileiro e como elas podem ser corrigidas.
O brasileiro Daniel Barros é jornalista, mestre em administração pública pela Universidade Columbia, em Nova York, e conquistou diversos prêmios jornalísticos, como o Esso, na categoria Educação, em 2014. O livro está disponível na Amazon.
Algoritmos para viver: a ciência exata das decisões humanas, de Brian Christian e Tom Griffiths
Indicado pelo pesquisador e jornalista da CNN Brasil Rodrigo Maia
Quando alguém fala de algoritmos, geralmente pensamos em programas de computador. Mas Algoritmos para viver explica justamente que eles fazem parte das nossas vidas e nos ajudam a realizar diferentes tarefas desde a Idade da Pedra. O livro explica de forma didática problemas matemáticos conhecidos, de onde surgiram e como funcionam vários algoritmos.
Com base em entrevistas com especialistas e pesquisas multidisciplinares, o jornalista Brian Christian e o professor de psicologia e ciência cognitiva Tom Griffiths exploram esse lado da matemática que governa cada vez mais o nosso dia a dia. Adquira o livro aqui.
Planejamento para a Compreensão: Alinhando Currículo, Avaliação e Ensino por Meio da Prática do Planejamento Reverso, de Grant Wiggins e Jay McTighe
Indicado pelo presidente do Instituto Singularidades Alexandre Schneider
Planejamento para a Compreensão explica o conceito de planejamento reverso. Dentro dessa visão, as escolas e professoras podem criar um planejamento curricular que facilite a aprendizagem e crie uma experiência mais atrativa e envolvente tanto para alunos como para professores. Para isso, o livro se propõe a responder perguntas como o que é compreensão; o que é conhecimento; e como criar uma planejamento que traga resultados.
Os autores Grant Wiggins (1950-2015) e Jay McTighe são referências em educação nos EUA. Wiggins era doutor em educação pela Harvard University e foi consultor em diversas escolas estaduais e nacionais, e em parceria com o professor McTighe, escreveram juntos diversos livros na área de educação. Para adquirir este livro, toque aqui.
O Eduquês em Discurso Direto, de Nuno Crato
Indicado pelo neurocientista Augusto Buchweitz
Quando o assunto é educação, precisamos fugir do clichê e do lugar-comum e buscar o que realmente funciona. Essa é a proposta do livro O Eduquês em Discurso Direto, do professor Nuno Crato. Com base em evidências da psicologia e da pedagogia, o autor faz uma crítica a expressões como “aprender a aprender” ou “ensino centrado no aluno”, e como os profissionais da educação precisam se atualizar e ir além desses conceitos para que as crianças aprendam mais e melhor.
Também português, o economista Nuno Crato é doutor em matemática aplicada pela Universidade de Delaware (EUA), onde foi pesquisador e lecionou por anos. Como ministro da Educação e Ciência de Portugal, entre 2011 e 2015, coordenou uma das reformas educacionais mais importantes para o país. A edição mais recente está disponível na Amazon neste link.
Educação em Debate, do Todos pela Educação (2018)
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
Organizado em 46 artigos, o livro Educação em Debate mostra quais os principais desafios para a educação entre os anos de 2019 e 2022. Especialistas de áreas como Pedagogia, Sociologia, Psicologia apresentam propostas de políticas públicas para a melhoria da qualidade do sistema de ensino brasileiro.
O livro foi produzido pelo Todos Pela Educação e pela Fundação Santillana / Editora Moderna. Baixe o livro gratuitamente neste link.
Líderes na Escola, de Antônio Góis
Indicado pela pesquisadora da FGV-RJ e de Harvard Claudia Costin
Líderes na Escola apresenta uma série de experiências que o autor Antônio Góis conheceu de perto em escolas públicas de educação básica no Brasil, Chile, México, EUA, Canadá e Singapura. Esses países foram escolhidos por terem muitas semelhanças com o momento atual brasileiro ou por adotarem sistemas considerados mais evoluídos, quando o assunto é políticas de gestão escolar.
O autor, Antônio Góis, é jornalista especialista em educação e colunista do jornal O Globo. O livro foi publicado gratuitamente pela Fundação Santillana / Editora Moderna (baixe aqui).
Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Indicado pelo pesquisador e jornalista da CNN Brasil Rodrigo Maia
O livro Como as democracias morrem nos faz uma pergunta: democracias tradicionais podem deixar de existir? Para tentar respondê-la, os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt analisam a eleição de Donald Trump, ex-presidente controverso dos Estados Unidos, e o que ela tem em comum com a ascensão de Hitler, de ditaduras militares na América Latina, e diversos outros acontecimentos históricos. Podem parecer assuntos muito distantes, mas eles têm muito a ver.
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt são cientistas políticos e professores conceituados da Universidade de Harvard, nos EUA. Eles criaram essa obra que é muito importante para entender o momento histórico que vivemos no Brasil e no mundo, e que nos ensina por que precisamos proteger a democracia de ataques e ameaças. Toque aqui para obter o livro.
Bônus!
Separamos algumas obras que podem interessar pelas histórias contemporâneas, curiosidades ou lições de vidas vividas pelos autores e personagens.
A menina da montanha, de Tara Westover
Indicado pelo gerente no Todos Pela Educação Gabriel Corrêa
O livro conta a história da americana Tara Westover, que tinha 17 anos quando entrou pela primeira vez em uma sala de aula. A família dela estava sempre se preparando para o fim do mundo – por influência do pai. Além de desconfiar das escolas, ele também desconfiava de médicos, por isso Tara nunca passou por uma consulta. Mesmo com todas as dificuldades, ela consegue estudar e alcançar cada vez mais conquistas por meio da educação.
A menina da montanha é um relato autobiográfico sobre a busca da Tara por uma nova identidade e sobre o potencial que a educação tem de transformar vidas. É uma história sobre relações familiares e sobre as dificuldades e dores de desfazer esses laços. Adquira neste link.
O Alienista, de Machado de Assis
Indicado pelo presidente do Instituto Singularidades Alexandre Schneider
Um clássico da literatura brasileira, esse conto de Machado de Assis continua sendo uma das observações mais importantes dos danos que uma pessoa má intencionada ou má instruída pode causar se utilizando da ciência. É uma história surpreendente e traz um debate muito atual sobre desvios e normalidade, loucura e razão, comédia de costumes e sátira política. O Alienista está disponível gratuitamente no site Domínio Público (baixe aqui).
O Louco de Palestra, de Vanessa Bárbara
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
A autora Vanessa Barbara escreveu uma série de crônicas sobre o bairro paulistano do Mandaqui, e sobre as diferentes personalidades que vivem e andam pelas ruas locais. Na crônica que dá nome ao livro, ela fala sobre o “louco de palestra”, aquela pessoa meio desligada da realidade que volta e meia fala alto, comenta e atrapalha palestras, seminários ou debates. Adquira aqui.
Como me descobri negra, da Bianca Santana
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
“Tenho 30 anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena.” É com essa frase que a autora Bianca Santana começa uma série de reflexões sobre experiências pessoais ou que ela ouviu de outras mulheres e homens negros. Ela explora esse conceito de se entender como pessoa negra e como isso é afetado pelo racismo vivido no dia a dia por essas pessoas. Toque aqui para obter este livro.
Risque esta palavra, da Ana Martins Marques
Indicado pelo diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann Daniel de Bonis
Livro de poesias no qual a autora Ana Martins Marques cria uma espécie de diário de memórias afetivas, e o poder que as palavras têm para transformar essas lembranças. Disponível neste link.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | maio 7, 2021 | Escribo Play, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação
Para ficar mais perto das escolas e famílias parceiras, lançamos o Escribo News! Com o informativo, nossos leitores terão na palma da mão as principais novidades da Escribo: novos jogos pedagógicos e tutoriais do Escribo Play, descobertas científicas importantes, cursos e formações para professores(as), posts no Blog da Escribo e muito mais.
Para acessar os conteúdos, leia o QR Code na câmera do seu celular ou acesse os links abaixo. E se sua criança já utiliza o Escribo Play, você receberá no aplicativo uma notificação quando tivermos um novo Escribo News. Confira a primeira edição abaixo!
Dicas da Dra. Catherine Snow, de Harvard!
O que contribui para a criança desenvolver uma ótima capacidade de leitura e escrita? Descubra nestes vídeos como a família é fundamental para o aprendizado!
Atividades são muito importantes!
Veja como as crianças podem exercitar em casa o que aprendem na escola com o menu Atividades do Escribo Play!
Ensinar mais e melhor!
Professores(as) que concluíram o curso Aprendizagem Online estão 62% mais confiantes para ensinar em ambientes online, de acordo com a pesquisa que publicamos no congresso internacional 2021 Biennial Meeting, da Society for Research in Child Development. Leia mais aqui mesmo no Blog!
Não deixe de tocar no sininho ao lado e receber as principais novidades do Blog da Escribo! Para tirar dúvidas conosco, mande um e-mail para [email protected] ou envie uma mensagem para o nosso WhatsApp. Grande abraço!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | abr 27, 2021 | Gestão escolar, Inovação no Ensino, Pesquisas em educação, Políticas Públicas
No último sábado (24), perdemos repentinamente o nosso parceiro Robert Slavin, professor da Johns Hopkins University. Pesquisador educacional, ele colaborava com descobertas científicas importantes que publicamos no Blog da Escribo e era um dos professores convidados nos nossos cursos, apoiando assim crianças e professoras brasileiras. Em 30 anos de trabalho, o pesquisador impactou o aprendizado de 2 milhões de crianças e 50 mil professoras em todo o mundo.
No começo da carreira, Slavin pesquisou formas de fortalecer o aprendizado utilizando a cooperação entre os estudantes. E foi aí que ele começou a desenvolver experimentos para descobrir se essas ideias eram realmente eficazes para que um aluno conseguisse fortalecer o aprendizado do outro (cooperative learning, em inglês).
Anos depois, pesquisou sobre metodologias no ensino de leitura e da escrita na alfabetização. Ele também liderou experimentos feitos em larga escala para testar os resultados de materiais didáticos que ele mesmo desenvolveu na Johns Hopkins.
Depois, ele começou a analisar os resultados de experimentos feitos por outros pesquisadores, tornando-se um dos pioneiros na realização de metanálises rigorosas no campo da pesquisa educacional. Assim, ele conseguiu comparar diversas metodologias de ensino de leitura e escrita – inclusive, comparou o desempenho de escolas puramente construtivistas e escolas que também trabalhavam a consciência fonológica (CF). Ele descobriu que as crianças desse segundo grupo, escolas adeptas da CF, tinham o dobro de aprendizado do que as do primeiro grupo.
Artigos de Robert Slavin
Chega de desculpas: podemos ensinar todas as crianças a ler!
Prêmio Nobel comprova a importância das evidências científicas para a educação
Programas educativos de sucesso podem ser replicados, sim!
Evidência e política: se você quer fazer uma bolsa de seda, por que não usar… seda?
Por que não o melhor?
Slavin também fez experimentos na área de matemática para descobrir o que dava mais resultados no aprendizado: se era uma formação de professores mais tradicional, ou que usasse metodologias de gestão de sala de aula, sistemas de ensino, tecnologias educacionais ou outros suportes. Um desses experimentos está disponível para leitura neste link (em inglês).
Mais recentemente, ele pesquisou sobre como criar tecnologias educacionais que realmente gerem ganhos de aprendizado de leitura, escrita e matemática. Revisando pesquisas do mundo inteiro, ele descobriu que poucas tecnologias têm bons resultados pois a maioria delas não é criada com base em evidências científicas.
Em relação ao Brasil, Robert Slavin já contribuiu efetivamente com lideranças técnicas do Ministério da Educação, na década de 1990. Nos últimos anos, ele colaborou ativamente com a Escribo para disseminar o uso de evidências científicas dentro das escolas brasileiras.
Prof. Slavin fazia questão de ser um grande parceiro
Quando eu estava fazendo minhas leituras do doutorado, me deparei com vários artigos do prof. Robert Slavin. Foi uma surpresa ver que ele era pesquisador da Johns Hopkins, onde eu estudava. Mas o melhor ainda estava por chegar. Descobri que um colega de turma trabalhava na equipe do Dr. Robert e ele me levou para conhecê-lo. Tivemos uma conversa maravilhosa sobre o uso de evidências e como elas poderiam fortalecer o aprendizado das crianças no Brasil. A partir deste dia, ele colaborou ativamente com todas as iniciativas da Escribo para fortalecer o aprendizado no Brasil.
Nunca vou esquecer do último e-mail que ele me enviou, em 18 de março de 2021, comentando sobre o desafio que decidimos enfrentar na Escribo: fortalecer o ensino eficaz de matemática na educação infantil utilizando jogos digitais. Mesmo quando a missão era extremamente desafiadora, ele sempre nos encorajava: “I would not give up on the possibility, but seventy years of research and development have certainly shown that it is not easy” (“eu não desistiria da possibilidade, mas setenta anos de pesquisa e desenvolvimento certamente mostraram que não é fácil”).
No dia que soube de seu falecimento, fiquei muito triste. Perdemos uma pessoa boa, generosa, que amava a educação e dedicou sua vida a pesquisar e testar formas de fortalecer o aprendizado. Mas seu trabalho não irá parar, pois continuaremos produzindo e utilizando evidências em prol das crianças.
Ele tinha como missão transformar a educação e nos mostrar como sempre podemos ensinar mais e melhor para as crianças. Fica o nosso agradecimento ao professor Robert Slavin, seu trabalho vai continuar influenciando o ensino e a aprendizagem por gerações.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Comentários