por Americo N. Amorim | abr 15, 2015 | Inovação no Ensino
Quando ouvimos a palavra “erro”, geralmente pensamos que ela implica uma série de coisas ruins: falhas, julgamentos, impossibilidades.
Mas, muitas vezes, esses erros acontecem apenas porque estamos iniciando algo, dando os primeiros passos e experimentando coisas novas. Nesse contexto, o campo de possibilidades para quem está “errando” é muito mais positivo.
A mestra em educação com ênfase em tecnologia Silvia Tolisano acredita que os erros cometidos ao integrar tecnologia na sala de aula acontecem principalmente pela falta de experiência com a tecnologia dentro do ambiente escolar.
Silvia listou, então, o 5 erros mais comuns que costuma ver, ouvir e ler a respeito quando viaja pelo mundo para trabalhar com escolas, professores e alunos ao redor do globo:
1. Quando a tecnologia não tem propósito
A intenção da tecnologia na educação é atingir objetivos que, sem ela, seriam impossíveis ou muito mais difíceis.
É preciso que ela tenha propósito e planejamento e não seja usada por usar. Quando ela se torna apenas uma substituta de algo que já era feito normalmente pelos alunos, a tecnologia é subutilizada e não agrega nada de novo.
2. Quando a tecnologia é usada como passatempo
Silvia conta que já viu professores que permitiam os alunos acessarem programas, aplicativos e a internet em geral apenas como um “prêmio” por terem feito algum trabalho ou para passar o tempo enquanto a aula não termina.
Isso descaracteriza o uso da tecnologia como ferramenta educadora e tira do aluno as chances de aprender com ela, caindo no senso comum de que a tecnologia só pode ser usada como entretenimento.
3. Quando a tecnologia é vista como uma matéria à parte
O correto seria que a tecnologia fosse integrada ao currículo de todas as matérias, e não vista como uma matéria isolada.
Entretanto, em vez de ser um usada como um caminho para ensinar e aprender, muitas vezes é usada como parte de uma aula de informática separada, onde alunos ficam passando o tempo nos iPads e praticando digitação.
Enquanto alunos precisarem esperar um dia na semana para ver tecnologia apenas no laboratório com horário reservado, os projetos digitais nunca serão implantados como devem, diariamente, na rotina do aprendizado.
4. Quando a didática não condiz com a tecnologia
Segundo o autor Alan November, o real problema com tecnologia na escola não é adicioná-la à sala de aula, mas mudar a cultura de ensino e aprendizado dos professores.
Para November, a tecnologia nas mãos de alguém que não sabe ensinar é apenas um lápis de mil dólares, pois de nada adianta um bom material tecnológico sem alguém que saiba ensinar com ele.
Ainda que existam diversos aparelhos na sala de aula, não existe educação sem bons (e bem treinados) professores que possuam técnicas e estratégias de ensino.
5. Quando a tecnologia é vista, sozinha, como catalisador da motivação
É verdade que os alunos se sentem mais motivados e instigados a aprender com tecnologia, mas sem um professor que guie as diretrizes daquele projeto educacional, essa energia se dissipa.
“Os aparelhos não fazem nada sozinhos”, afirma Silvia.
A realidade é que os alunos ficam engajados com a tecnologia na sala de aula, mas é preciso uma estratégia pedagógica que suporte essa motivação, como uma espécie de plano que conecte a tecnologia com as metas de ensino.
Sem elas, os estudantes estarão motivados apenas pelos aparelhos, e não pelo aprendizado.
Conhece outro erro que possa contribuir com a lista? Não deixe de comentar!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | abr 14, 2015 | Geral
Organizar os pensamentos parece uma tarefa difícil num mundo onde somos estimulados freneticamente ao longo do dia por fatores externos e, ao mesmo tempo, nosso cérebro opera ínumeras sinapses.
Com alunos e professores, a organização é, além de difícil, necessária, devido à demanda de conteúdos necessários para aprender . A falta de um meio que organize nossos pensamentos e ideias pode nos levar ao estresse, confusão mental e fracasso no aprendizado.
Uma alternativa para driblar a desorganização mental é utilizando mapas mentais, para que você e seus alunos possam atingir todo o seu potencial na absorção de conteúdos.
Mas primeiro: o que são mapas mentais?

Créditos: Thais Godinho (VidaOrganizada.com)
Em meados de 1970, o psicólogo inglês Tony Buzan criou os Mapas Mentais (Mind Maps) para facilitar a aprendizagem e memorização por meio do encadeamento não-linear de informações, motivado pela necessidade de aprender de outra forma que não fosse a tradicional organização por meio de anotações linha por linha.
Um mapa mental é um diagrama elaborado para representar ideias, tarefas ou outros conceitos que se encontram relacionados com uma palavra-chave ou uma ideia central através de linhas, relacionando as informações em seu redor.
Sua função, além de uma melhor organização de ideias, é visualizá-las e classificá-las melhor, ajudando o indivíduo a tomar decisões, estudar e escrever melhor.
Benefícios e vantagens do mapa mental
De acordo com o coach Flavio Souza, existem mais de 20 vantagens na utilização de mapas mentais, que você pode conferir aqui. No nosso post, vamos destacar os principais benefícios para alunos e professores:
1. Redução significativa do volume físico de papel relativo a notas e material de estudo.
2. Redução significativa do tempo de planejamento, elaboração e revisão de tarefas escritas e preparação de apresentações.
3. Facilidade para reestruturar qualquer grupo de informação interligada.
4. Em geral, possibilitam um aumento da produtividade e da competência.
1. Facilitam a memorização e a lembrança por serem organizados, conter imagens e somente idéias essenciais.
2. Desenvolvem a busca e a percepção de múltiplos aspectos do um assunto ou situação.
3. Estimulam a visão de uma ideia em um contexto mais amplo, ao invés de isolada, proporcionando uma compreensão mais abrangente.
Benefícios para times, grupos e turmas:
1. Facilitam a coordenação dos integrantes por meio de melhor e mais fácil divisão de tarefas, aumentando a probabilidade de que as metas do grupo sejam atingidas.
2. Facilitam a comunicação em grupos, dando um foco de concordância ou divergência e colocando todas as contribuições em um contexto.
3. Facilitam o compartilhamento de conhecimento, pela distribuição de mapas mentais.
Agora que você já sabe o que é um mapa mental, como ele foi criado e quais são seus benefícios, veja 5 plataformas de mapas mentais disponíveis online, para os alunos estudarem pelo computador e tablet e para os professores utilizarem nas salas de aula:
Ferramentas digitais para criar mapas mentais

O MindMup é altamente simples e possui inúmeras formas de compartilhamento e publicação de mapas. Seu visual clean permite que os mapas deslizem pela tela e a plataforma pode ser agregada às ferramentas do Google Drive, podendo também contar com a colaboração de várias pessoas em um só mapa. O serviço é gratuito. Pode ser acessado em iPads e computadores.

O ExamTime possui um visual limpo, gratuito e fácil de manusear. Pode ser acessado em tablets, celulares e computadores, além de possuir uma variedade de cores e a possibilidade de ser inserido em sites e blogs e convertido em PDF.

O Coggle divide por cores a cadeia hierárquica de informações, além de permitir que colaboradores acessem um mesmo mapa para trabalharem juntos. Como diferencial, o Coggle permite que o usuário adicione imagens em seus mapas e disponibiliza um histórico de alterações, possibilitando o rastreamento nas mudanças ocorridas durante a feitura do mapa.

Wise Mapping é simples e rápido, garantindo um manejo fácil na hora de criar os mapas no site. É fácil de publicar onde você quiser e possui inúmeras formas de compartilhamento, facilitando a disseminação do conhecimento para várias pessoas ao redor do mundo.

Mindomo é um app que cria mapas mentais de forma personalizada, em português e possui versões grátis e pacotes pagos. Pode ser acessado em todas as plataformas: Linux, Windows, Mac, Ipads, Tablets e celulares com sistema Andoid.
3 dicas de como usar mapas mentais na sala de aula:
Revisões
Um mapa mental ligando os conhecimentos pode servir como uma ótima revisão dos temas tratados em sala de aula, pois relembra as palavras-chaves do conteúdo e reforça os pontos mais importantes ligados à elas.
Atividades extras
Explore a vontade de saber com uma atividade extra, valendo pontos ou não, onde o aluno vai criar seu próprio mapa mental para provar o que aprendeu naquela aula. Pode acontecer também uma competição, onde quem fez o mapa mais elaborado é o vencedor.
Aguçando a criatividade
Numa sala de aula nova, você pode pedir que os alunos criem mapas onde as palavras chaves são os seus interesses com aquela disciplina. O que ele espera aprender? Como quer aprender? Permita que eles abusem de cores e desenhos para a criatividade aflorar ainda mais.
E você, está pronto para utilizar mapas mentais na sua sala de aula?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | abr 13, 2015 | Geral
O cotidiano de um professor exige métodos regrados de organização – caso contrário, as atribulações e demandas podem sair do controle.
Todo professor precisa lidar com tarefas como designar avaliações, atividades, conhecer a personalidade dos alunos, colegas e pais, e para não se perder numa rotina com tantos compromissos e ideias, é importante estar equipado com tudo que possa lhe ajudar nas missões do dia a dia em prol da organização.
Isso envolve recursos educacionais e aplicativos que facilitem as tarefas poupando tempo e energia. Esqueça a lenda urbana de que o celular atrapalha a organização e use-o a seu favor!
Existe uma gama de recursos tecnológicos acessíveis para lidar com problemas na sala de aula – a transformação que a tecnologia proporcionou à educação vêm contribuindo até nessas situações.
Assim, se você tiver as ferramentas adequadas, pode desenrolar os nós do dia a dia antecipadamente, resolvendo metade dos problemas sem dor de cabeça. Conheça algumas:
4 desafios encarados por professores e as melhores ferramentas tecnológicas para lidar com eles
1. Administrar o tempo

Google Keep
O Google Keep serve para criar anotações de forma dinâmica, possibilitando adicionar fotos, gravações de áudio e outros elementos nelas. Ele sincroniza as notas entre dispositivos logados com a mesma conta do Google, permitindo acessá-las também no computador.
O sistema de organização baseado em cores torna a organização ainda mais fácil, pois cada cor é relacionada a um tema. Outra opção interessante do Google Keep é a ferramente de checklists, onde tarefas podem ser enumeradas em listas.

Evernote
É similar ao Google Keep. Além da possibilidade de criar listas e agregar áudios e imagens às notas, possui um sistema de tags onde você pode etiquetar sobre que assunto está escrevendo.
2. Encontrar conteúdos para as aulas

Google Acadêmico
Mais um recurso da rede Google, estra ferramenta oferece uma vasta gama de artigos, teses, resumos e disciplinas de forma simples e gratuita. O Google Acadêmico possibilita encontrar, também, publicações de editoras e organizações. Confira este tutorial do TechTudo para descobrir como usá-lo da melhor maneira.

Grupos do Facebook
Existe uma rede nos grupos do Facebook onde professores se conectam para trocar experiências, projetos e conteúdos de aulas entre si. Um deles é o Dedeana Coordenadores Pedagógicos, onde mais de 8.000 educadores expõe suas ideias e até mesmo blogs com ideias de conteúdo para a sala de aula.
3. Conhecer melhor os alunos

Pinterest
O Pinterest funciona como um mural, onde é possível criar painéis visuais com os nossos principais interesses através de imagens. Os alunos podem colocar pins naquilo que os defina e interesse.

Google Forms
Através do Google Forms, você pode realizar uma pesquisa com os alunos virtualmente, buscando entender seus interesses e personalidades.
4. Facilitar a comunicação com os pais

Grupos no WhatsApp
Muitos pais já têm grupos com pais de outros alunos para socializarem as experiências dos filhos na escola, falarem sobre trabalhos, eventos e programar caronas. Por que não agregar professores à essa rede? Um grupo com professores e coordenadores no WhatsApp pode aproximar os pais da realidade escolar que os educadores já convivem diariamente, ao passo que aproximará estes educadores da realidade do aluno em casa. Além disso, tornará mais fácil a comunicação na hora de tirar alguma dúvida sobre o que foi passado na agenda, sobre o material que deve ser levado, sobre a hora dos eventos.

Email
Recomende, por email, sites onde os alunos possam pesquisar sobre conteúdos, acessar bancos de questões, tirar dúvidas e aprender mais. Deixe-os à vontade para tirar dúvidas virtualmente ou marcar conversas.
Usa alguma ferramenta além dessas? Não deixe de compartilhar nos comentários!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | abr 10, 2015 | Geral
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) estabeleceu seis metas de educação há 15 anos, para serem batidas de 2000 à 2015.
As metas foram estabelecidas em 2000 na Cúpula Mundial de Educação, em Dakar, no Senegal. Com 164 países, a cúpula tinha como objetivo global que todos esses pudessem chegar a 2015 tendo cumprido as seis metas abaixo:
META 1 – Primeira Infância
META 2 – Educação Primária
META 3 – Jovens e Adultos
META 4 – Analfabetismo
META 5 – Meninos e Meninas
META 6 – Educação de Qualidade
Mas, segundo o G1, apenas um terço dos países alcançou todas, e de acordo com o relatório emitido pela própria Unesco, o Brasil obteve resultados em somente duas metas – a segunda, Educação Primária, que por definição visava alcançar a educação primária universal, particularmente para meninas, minorias étnicas e crianças marginalizadas, e a quinta, Meninos e Meninas, cuja intenção era alcançar a paridade e a igualdade de gênero nas escolas.
Nesse contexto, fica claro que algumas metas poderiam ser solucionadas com a ajuda da tecnologia.
Antes de julgar a tecnologia algo “extra” para a educação, o Ministério da Educação deveria alinhá-la ao básico no ensino, por diversos motivos, como engajamento, motivação e resultados, como podemos conferir ao longo do post abaixo:
Analisando possíveis soluções tecnológicas para as 4 metas da Unesco não realizadas no Brasil

META 1 – PRIMEIRA INFÂNCIA
Definição: Expandir a educação e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis. Entre os países, 47% alcançaram o objetivo e outros 80% quase conseguiram. Apesar do Inep ter contestado, pois o número de creches públicas no país aumentou ostensivamente, o Brasil não atingiu a meta segundo a Unesco.
Como a tecnologia ajudaria: Para que essa meta seja batida, é preciso que bons líderes e profissionais de educação elaborem soluções para a primeira infância, pois a fase é crucial e decisiva no que diz respeito a capacidade de aprendizagem que as crianças carregam para os resto de suas vidas.
Para capacitar e engajar formuladores de políticas públicas e representantes da sociedade civil em um diálogo a respeito do tema, existem cursos com modalidade à distância que o governo poderia bancar aos interessados, como o Curso de Liderança Executiva em Desenvolvimento da Primeira Infância, oferecido pelo Núcleo Ciência Pela infância.
Ele acontece em dois módulos presenciais, com um momento a distância entre esses. Durante esse período, os participantes trabalham divididos em pequenos grupos para desenvolver e refinar Planos de Ação de promoção do desenvolvimento infantil completamente online, supervisionados por uma equipe técnica de especialistas e facilitadas por ferramentas digitais de conferências e sessões regulares de supervisão para os grupos.
META 3 – JOVENS E ADULTOS
Definição: Garantir acesso igualitário de jovens e adultos à aprendizagem e a habilidades para a vida. Unesco diz que 46% dos países atingiram. O Brasil não.
Como a tecnologia ajudaria: A maioria dos adultos e jovens trabalha durante o dia para poder estudar à noite. Muitos deles ajudam financeiramente seus lares, pagam a faculdade e possuem inúmeras responsabilidades ao longo do dia. No meio de tantas obrigações, ainda há o transporte público precário e os problemas de locomoção enfrentados nas pequenas e grandes cidades. Todas essas dificuldades desestimulam o jovem e o adulto à continuar estudando, o que gera evasão. Como resolver esse problema? Agregar o ensino blended no país (ou seja, parte online, parte presencial) e investir mais nos cursos EAD (Ensino à Distância), atitudes que poupariam o tempo do estudante, garantindo maior qualidade de vida.
Saiba mais sobre educação blended (ainda inexistente no país) neste artigo do Estadão.
META 4 – ANALFABETISMO
Definição: Alcançar uma redução de 50% nos níveis de analfabetismo de adultos até 2015. Apenas 25% dos países atingiram.
Como a tecnologia ajudaria: A solução estaria em integrar atividades multimídia para ajudar no processo de alfabetização, como infográficos, animações, jogos e quadros interativos. Trazer para o adulto analfabeto uma nova realidade na sala de aula pode estimulá-lo a buscar o conhecimento.
Saiba mais:
META 6 – EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Definição: Melhorar a qualidade de educação e garantir resultados mensuráveis de aprendizagem para todos. De acordo com o relatório, faltam 4 milhões de professores no mundo.
Como a tecnologia ajudaria: A resposta para solucionar esta meta está na própria Unesco, que desenvolveu um guia online, de acesso gratuito, com 13 convincentes motivos para adotar a tecnologia móvel como linha auxiliar na sala de aula.
A Unesco diz acreditar que os celulares podem expandir e enriquecer as oportunidades de aprendizado em diferentes cenários, visto que várias experiências ditas no guia evidenciam que, assim como tablets, celulares estão favorecendo as habilidades cognitivas de educadores e alunos ao redor do mundo.
Confira os 13 bons motivos para usar tecnologia móvel na educação, segundo a Unesco e o guia oficial na íntegra, em inglês.
E você, como vem mudando a educação no país? 🙂
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | abr 9, 2015 | Geral
O acadêmico finlandês Pasi Sahlberg escreveu o livro Finnish Lessons 2.0: O que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia? em 2013, onde, entre muitas lições, contou uma em particular para o jornal The Guardian, sobre como são formados os professores em seu país.
De acordo com o OECD (Organização para Economia Cooperativa e Desenvolvimento), os rankings educacionais da Finlândia configuram o topo das pesquisas mundiais sobre aprendizado.
Isso nos leva a imaginar que o principal catalisador desses resultados são os professores bem preparados. E são. É muito difícil ser um professor na Finlândia e as vagas nas Universidades são muito concorridas. Apenas um a cada dez concorrentes é aceito por ano. Os escolhidos precisam ainda estudar cinco ou seis anos antes de lecionarem em salas de aula.
O caso contado por Sahlberg foi de sua sobrinha, que mesmo com notas exemplares e um currículo escolar impecável não conseguiu entrar na Universidade da capital Helsinque, para ser uma professora do pré-escolar como sonhava.
Você deve estar pensando que ela não entrou devido ao alto número de concorrentes para uma vaga, e que talvez ela deveria ter estudado mais para ter melhores notas e ser aprovada. Errado.

Campus da Universidade de Helsinque, capital da Finlândia (Créditos: John Welsh/Wikipedia)
A sobrinha do Sahlberg foi recusada na universidade, assim como muitos outros estudantes finlandeses, não por ser academicamente insuficiente, mas por não estar capacitada naquele momento em outras competências. Não entendeu? Vamos aos fatos:
O teste para entrar nas universidades de licenciatura na Finlândia possuem duas fases: todos devem fazer o teste escrito, nacional. Os que obtiverem melhores resultados ali são convidados para a segunda fase, onde a universidade aplica um teste de aptidão específico. E é aí que está o segredo.
O sistema educacional finlandês tem consciência de que apenas ir bem academicamente e ter boas notas não forma exatamente os melhores professores. As habilidades devem transpassar a teoria.
Basta olhar o perfil acadêmico dos calouros selecionados na Universidade de Helsinque: um quarto deles tinha notas consideradas “medianas” (entre 51 a 81 pontos numa escala de 0 a 100).
“Se os educadores das universidades da Finlândia pensassem que a qualidade de um professor está correlacionada apenas com as habilidades acadêmicas, eles teriam admitido minha sobrinha e muitos outros que, iguais a ela, tinham um desempenho superior no ensino médio”, afirma Pasi Sahlberg.
De fato, a Universidade de Helsinque poderia ter escolhido os futuros universitários com melhores notas, mas não o fazem pois acreditam que o potencial de um bom professor está escondido em de diversos tipos de alunos.
Jovens atletas, músicos e líderes de grupos da juventude, por exemplo, nem sempre têm as melhores notas, mas têm características inerentes à bons professores: liderança, energia, habilidades manuais e tecnológicas. Todas essas habilidades ajudam na didática, pois não adianta deter conhecimento se não há como repassá-lo.
O que a Finlândia mostra é que mais importante do que colocar os mais “inteligentes” (de acordo com notas acadêmicas) nas universidades é pensar em uma formação que aproveite o melhor talento de cada jovem – a paixão por ensinar (e a didática) conta mais que as habilidades acadêmicas.
Segundo Sahlberg, na Inglaterra e nos Estados Unidos ainda se acredita que as melhores notas formam os melhores professores, e que a qualidade do ofício é proporcional ao desempenho acadêmico dos futuros mestres. Para ele, isso são mitos que devem ser evitados na hora de reformar a educação mundial.
Ele ainda afirma que um passo à frente seria admitir que os melhores estudantes nem sempre são os melhores professores:
“Sistemas educacionais de sucesso devem se preocupar em encontrar as pessoas certas para seguir a carreira de professor”
Você concorda com o educador finlandês?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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