Analfabetismo cai, mas 50% dos alunos do 3º ano ainda não sabem ler

A educação brasileira ainda passa por desafios longe de serem solucionados. A desvalorização dos professores e alta evasão de alunos ainda na educação básica são exemplos de alguns dos sintomas de um sistema fraco, cujos poucos avanços nem mesmo os índices conseguem disfarçar.

O analfabetismo hoje

De acordo com a última pesquisa divulgada pela IBGE, o índice de analfabetismo caiu de 8,7%, em 2012, para 8,5% em 2013. O resultado, fruto da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), considera o índice de brasileiros com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever.

Apesar de ligeira melhora, os resultados não podem ser comemorados quando comparados as pesquisas mais recentes realizadas na educação básica dos colégios brasileiros.

Segundo resultados obtidos através da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, 56,17% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental de 20 estados apresentou desempenho fraco em leituras.

O 3º ano foi escolhido como marca por ser um divisor de águas: de acordo com o MEC, nessa fase escolar as crianças já teriam bagagem suficiente para ler e escrever adequadamente.

Aos 8 anos de idade, mais da metade dos estudantes brasileiros atingiram os níveis mais baixos de avaliação (que varia de 1 a 4), o que significa que são capazes apenas de ler textos muito simples e, em alguns casos, não conseguem entender sobre o que ele trata.

Num panorama geral o resultado mostra que a cada 100 alunos, 22 não possuem sequer o nível mínimo (1) de leitura; na prática, significa que não conseguem ler uma frase inteira.

Analfabetos funcionais

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A falta de progresso foi tão alarmante que comprometeu a aplicação do estudo: com a iminência de repetição dos maus resultados o Ministro da Educação suspendeu a aplicação do exame nacional de alfabetização em 2015.

A incoerência nos dados entre o PNAD e ANA forma um alerta imenso para a educação brasileira: estamos formando apenas analfabetos funcionais.

Como o PNAD avalia apenas o simples ato de ler ou escrever, já que seu sistema funciona por um formulário de perguntas respondido por um integrante do domicilio, ele desconsidera graus de desempenho nessas atividades.

Por outro lado, o ANA traça um panorama mais completo: é possível identificar os níveis de leitura ou escrita de cada aluno em particular. E com índices tão baixos alcançados, o futuro dessas crianças fica comprometido e limitado por uma alfabetização extremamente básica, quase rudimentar.

O Plano Nacional da Educação (PNE) lançado em 2014 que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos, contempla a universalização da alfabetização em sua Meta 5, prevendo que todas as crianças do país devem estar alfabetizadas, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental, até 2024.

As negligências e dificuldades de implementação, porém, já tiveram início: passado um ano desde sua aprovação, nem todos os planos estaduais nem os municipais de educação tiveram lei aprovada e sancionada. Além disso, o corte de R$ 9,42 bilhões na verba do Ministério da Educação acentua ainda mais a dimensão do problema.

As soluções possíveis

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O caminho para a melhora da alfabetização no país em teoria também é contemplada por algumas iniciativas do PNE, é preciso:

1. Estabelecer uma política de valorização dos profissionais da educação, com salários atrativos e condições de trabalho adequadas, além de oportunidades de crescimento.

 

2. Garantir suporte educacional ao aluno, uma vez que os professores estejam de fato engajados e dotados de condições para ministrar as aulas. Isso quer dizer o acesso pleno a escola, uma base pedagógica de qualidade, além da articulação com espaços educativos, culturais e esportivos, revitalizando os projetos pedagógicos nessa direção.

 

3. Uso da alavanca tecnológica para influenciar na otimização das aulas. Embora não explorada pelo PNE essa última dimensão poderia causar um impacto muito positivo no rendimento dos alunos rumo à alfabetização plena. Não quer dizer  disponibilizar tablets ou computadores aleatoriamente, mas oferecer material didático interativo, dinâmico e com instrumentos de avaliação estruturados.

A redução da taxa de analfabetismo impacta diretamente o desenvolvimento do país e é um dos grandes desafios enfrentados pela educação brasileira hoje.

Não se trata de maquiar ou minimizar os índices nem mesmo utilizar-se de medidas paliativas. Refere-se, porém, ao impulsionamento da qualidade pedagógica de nossas escolas, provocando sensíveis mudanças em nosso sistema educacional. O objetivo é garantir, assim, melhores perspectivas e oportunidades aos alunos desde o ensino básico.

Tecnologia e ensino de qualidade precisam andar juntos, segundo pesquisa

Apenas incentivar a tecnologia em sala de aula nem sempre leva a um melhor desempenho educacional para os alunos, é o que diz um novo estudo publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O relatório analisou níveis de desempenho entre alunos com base no uso da tecnologia em casa e na sala de aula. Segundo a pesquisa, enquanto o desempenho dos alunos melhora quando eles usam a tecnologia com moderação, a superexposição aos computadores e à Internet faz com que os resultados educacionais caiam.

“A tecnologia pode amplificar um bom ensino, mas não pode substituir o ensino de má qualidade“, disse Andreas Schleicher, diretor de Educação e Habilidades da OCDE, ao apresentar os dados. Se os estudantes estão apenas sentados na frente de computadores copiando e colando a partir do Google, eles provavelmente poderiam gastar esse tempo de forma mais eficaz em outros lugares, disse ele.

Os dados são baseados em uma avaliação em 2012, que acompanhou alunos de mais de 40 países com testes escritos e digitais, realizando também entrevistas sobre hábitos de uso do computador.

De acordo com o relatório “apesar de consideráveis ​​investimentos em computadores, conectividade e softwares para uso educacional, há pouca evidência sólida de que apenas uma maior utilização de computadores entre os estudantes leva a melhores pontuações em matemática e leitura”.

A pesquisa sugere que isso tem acontecido porque apesar das adições tecnológicas advindas com o século 21, as práticas de ensino do século 20 acabam estagnando o potencial proporcionado por essas tecnologias, diminuindo a eficácia do ensino.

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O estudo relatou também que estudantes com exposição moderada a computadores obtiveram resultados melhores do que aqueles com pouca exposição a computadores, mas a OCDE advertiu sobre tirar conclusões com base nesse resultado.

Os dados poderiam simplesmente refletir que os sistemas escolares que investem em tecnologia também acabam investindo em melhores professores e tem como base alunos de uma classe sócio econômica mais elevada, que tendem se sair melhor na escola.

“Os países com baixas despesas de educação e baixo rendimento per capita tendem a ter menos computadores por aluno”, segundo a publicação.

Nesse sentido, enquanto o acesso dos estudantes aos computadores leva a uma melhor performance geral na sala de aula, o modo como os computadores são utilizados e a quantidade de tempo gasto com eles têm grande efeito sobre esse desempenho.

De acordo com a pesquisa, estudantes que utilizam computadores para realizar atividades na escola, cumprido-as em valores de tempo ligeiramente abaixo da média geral gasta, obtiveram desempenhos acima da média geral em ambos os testes, escrito e digital, de leitura.

Por outro lado, alunos que gastam uma quantidade de tempo acima da média na frente de um computador em atividades na escola apresentaram perfomances piores do que outros estudantes, incluindo aqueles que não utilizaram computadores.

Em testes de matemática, a pesquisa constatou que quase todo o tempo gasto no computador levou a um pior desempenho em ambos os testes, escrito e digital.

Os mesmos resultados foram encontrados pelos pesquisadores quanto a utilização de computadores para trabalhos e atividades de casa.

O diretor de Educação e Habilidades da OCDE Andreas Schleicher não sugeriu que os sistemas de ensino devam cortar o financiamento a tecnologia; comentou na verdade, que a escola desempenha um papel importante na introdução de tecnologia para as crianças, mas que os computadores devem ser usados ​​de maneira mais prudente. “Ter uma estratégia pensada é importante”.

A conclusão que emerge é que as escolas e sistemas de ensino de uma maneira geral não estão prontos para aproveitar o potencial da tecnologia. Muitas vezes tecnologia aumenta a eficiência dos processos já eficientes, mas também pode tornar os processos ineficientes ainda mais.

A tecnologia não pode ajudar os alunos sem apoio adequado e um bom plano de aula, segundo Lan Neugent, diretor executivo interino do Estado de Tecnologia Educacional Directors Association, uma organização sem fins lucrativos que foca o uso tecnologia nas escolas.

“Se você dá às crianças uma ferramenta e não mostra como usá-la de forma eficaz, então ela não vai fazer muita diferença”, disse Neugent. “Por que as pessoas acham que apenas colocar um computador na frente de um criança que vai mudar isso?”

Como já mencionamos em diversos textos da Escribo, a tecnologia por si só dificilmente conseguirá resultados satisfatórios, é preciso suporte pedagógico para dar vazão às potencialidades dessas ferramentas.

E na sua escola, como se dá o uso da tecnologia?

Como você imagina a educação brasileira no futuro?

Como você imagina a educação brasileira daqui a 17 anos?

Desenvolvido num contexto de pós-aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014–2024, os Cenários Transformadores para a Educação Básica no Brasil compreendem 4 perspectivas diferentes acerca do que podemos esperar para educação no Brasil em 2032.

Para sua elaboração foram ouvidos 71 representantes de organizações da sociedade civil, movimentos sociais, governos, formadores de opinião, organizações internacionais, institutos e fundações empresariais, sindicatos, professores, gestores, pais, estudantes e acadêmicos.

Além disso, a partir do material coletado através das entrevistas foram realizadas três oficinas presenciais com 40 pessoas, onde se discutiu e debateu o conteúdo produzido e suas implicações para construção dos cenários.

Sua elaboração, longe de trazer previsões certeiras ou recomendações e ânsias, projeta, na verdade, os possíveis caminhos que a educação brasileira poderá seguir, pela análise das múltiplas variáveis envolvidas e através da ótica de atores diversos.

Dessa forma, seu objetivo final não era a construção negociada de uma agenda a ser cumprida, ou mesmo um pacto de ação entre os seus participantes. Constituiu-se, na verdade, num espaço de encontro e de escuta ativa para provocação do tema e estímulo a discussão entre todos àqueles interessados na construção cidadã do futuro da Educação Básica em nosso país.

Os 71 atores foram indicados por representantes da Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, Instituto Reos), Todos Pela Educação e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), grupo que norteou as discussões iniciais.

Para o planejamento dos cenários, foi utilizada uma metodologia já empregada ao longo dos últimos 20 anos em contextos diversos e complexos, como por exemplo na transição do apartheid na África do Sul, nos momentos de maior conflito na Colômbia, ou mesmo no pós-guerra civil na Guatemala.

O processo metodológico de caráter rigoroso, mas também analítico e criativo consiste em inicialmente identificar os principais temas, definir então um horizonte de tempo suficiente para as mudanças, mapear as forças que agem sobre cada contexto e por fim classificar o seu grau de previsibilidade e impacto.

A partir daí os diferentes cenários eram agrupados seguindo critérios de serem relevantes, desafiadores, plausíveis e claros. Sendo nomeados com referência a pássaros brasileiros: Canário-da-Terra, Beija-Flor, Falcão-Peregrino e Tico-Tico. Cada um deles traz tanto aspectos positivos e negativos, bem como apresenta suas implicações sociais.

Canário da terra

cenário 1

No primeiro Cenário chamado Canário da Terra, o sistema educacional brasileiro passa por mudanças importantes. Quase todas as metas do PNE são cumpridas pelo Estado, que agora é pressionado e cobrado pela sociedade civil. As políticas públicas são dessa forma, melhor construídas e negociadas pela interação Estado-Sociedade civil.

É rompida, ainda, a cultura de descontinuidade das políticas educacionais e o Estado assume um papel fundamental e estratégico para garantia do direito à educação.

Nesse cenário a gestão da escola é democrática e os planos de educação são construídos, acompanhados, monitorados e aperfeiçoados de forma participativa, por meio dos fóruns de educação e das conferências. Alguns saltos na qualidade de ensino são percebidos mas a escola segue em formato tradicional, com apenas algumas experiências inovadoras.

Beija flor

cenário 2

Esse cenário é caraterizado por reformas profundas no sistema de educação, com base em experiências bem-sucedidas no país e no exterior, e motivadas por mudanças sociais, tecnológicas e ambientais.

Há um forte estímulo a inovação que rompe com muitos preceitos da escola tradicional e é apoiada por políticas públicas estatais. O Estado é fomentador e indutor, garantindo as condições do padrão de qualidade previsto na legislação educacional e estimulando as escolas a desenvolverem experimentações e a relação com as comunidades.

Nesse cenário há um equilíbrio na relação público-privada e a concepção de educação é pautada por princípios de equidade, justiça social e sustentabilidade socioambiental. A escola tem portanto, a função social de formar sujeitos de mudanças cotidianas e globais, fortalecendo a relação com os territórios, em uma perspectiva intersetorial e de trabalho em rede.

Falcão-Peregrino

cenário 3

O Falcão peregrino é marcado por uma forte influencia da iniciativa privada. O Estado mantém o papel de provedor, regulador, avaliador e financiador, mas abre mão de ser o principal executor das políticas e de se responsabilizar pela oferta educacional. Existem avanços quantitativos, mas não qualidativos e há um enfraquecimento do sistema de participação social.

A educação é voltada para a formação de capital humano: mão de obra qualificada e especializada para trabalhar no mercado. O modelo de gestão é por resultados e por desempenho dos alunos, e o ranqueamento é um conceito forte nesse cenário. Para os profissionais de educação, a remuneração agora é variável, com bônus e premiações.

Tico-tico

cenário 4

Entre os cenários, esse modelo é o mais parecido com a continuidade da educação que visualizamos hoje. Nele vislumbramos uma educação massificada e medíocre, com tentativa de considerar as diversidades, porém de forma periférica.

Há um descontentamento com o serviço público ofertado, que não é capaz de garantir a pauta da qualidade dos direitos. O Estado tem presença, principalmente com a manutenção das políticas sociais compensatórias, e busca a universalização do direito à educação. Contudo, faz isso com baixa vontade política para enfrentar as desigualdades estruturais, o que reproduz padrões desiguais de qualidade.

Ele também tem o papel de expandir o acesso e – quando muito – avaliar a educação, porém não consegue ser regulador e tampouco garantir o essencial. Predomina a concepção de escola formal, posta na legislação, com quase nenhuma inovação.

Concretização dos cenários

De acordo com a diretora administrativo-financeira do movimento Todos pela Educação o que vai determinar a concretização de cada um dos cenários são as escolhas que o país está fazendo e fará para os próximos anos.

Para Para Daniel Cara da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, hoje estamos mais próximos do cenário Falcão-Peregrino e Tico-Tico. Segundo ele, o caminho para superar esses cenários passa pela implementação do Plano Nacional de Educação. “ A fronteira para impactar no futuro da educação é o país começar a levar a sério as leis que aprova”, comenta.

Embora seja natural atribuir apenas as decisões do Estado para o futuro da Educação no país, Cleuza Repulho, ex-presidente da Undime ressalta a importância da sociedade civil na concretização dos cenários “A gente tem um papel importante e cada um com a sua entidade precisa dar conta da sua parte, e não achar que o governo sozinho resolve os problemas.”.


Como dito anteriormente a publicação não apresenta respostas ou indica o cenário ideal. Com isso, qual cenário você imagina como o mais provável para educação brasileira?

O que você gostaria de ver na educação do país?

Para conferir mais detalhes da publicação é só acessar o site dos Cenários Tranformadores.