por Americo N. Amorim | maio 11, 2015 | BYOD, Facebook na escola, Tablets na escola
Já se sabe que a educação brasileira é um grande desafio. Nós temos um país grande, rico e diverso, embora pouco disso tenha se refletido em nossa educação. O que vemos são problemas de infraestrutura, valorização insuficiente dos professores e uma falta de ação efetiva por parte dos governantes.
O caminho para mudar esse cenário é a criação de espaços de diálogo entre a população e os representantes políticos, para que possamos decidir em conjunto as prioridades e quais caminhos seguir. Infelizmente, não é assim que algumas autoridades pensam.
Sem discussão com a sociedade, sem levar em conta as pesquisas da área, saindo da inercia (típica do legislativo brasileiro em questões polêmicas) para a ação unilateral, o Deputado Alceu Moreira propôs um projeto de lei que pode jogar a educação brasileira, do estado precário em que se encontra, de volta à Idade de Pedra.
Antes de tudo, que projeto de lei é esse?
Que a tecnologia se tornou algo universal não é mais novidade. Cada vez mais ela é parte de nossas vidas. A chegada da tecnologia na sala de aula e sua influência no aprendizado como um todo, portanto, não é uma surpresa.
Todos os anos, milhares de pesquisadores pelo mundo fazem estudos detalhados para nos ajudar a entender como melhor integrar a tecnologia à sala de aula, facilitando a vida dos professores e o aprendizado dos alunos.
Ignorando evidências sólidas e os estudos realizados nos centros de referência, um deputado quer aprovar uma lei que proíbe aparelhos eletrônicos portáteis na sala de aula. Simples assim.
O projeto de lei proposto pelo deputado Alceu Moreira é uma atualização de um projeto mais antigo, proposto em 2007 (PL 2246/07). Este sugeria a proibição de telefones celulares na sala de aula, enquanto que o novo expandiu a proibição para qualquer eletrônico portátil (o que inclui tablets).
Ao invés de abrir um espaço para debates, convidar a população e os estudiosos da área para conversar, o deputado simplesmente sugere tornar crime o uso de tecnologia na sala de aula. O que é uma ótima forma de andarmos para trás em termos de desenvolvimento, para a “idade da pedra”, num setor tão frágil quanto a Educação no Brasil.
Art. 1º Fica proibido o uso de aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de aula dos estabelecimentos de educação básica e superior.
O texto já foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura, mas ainda está pendente para análise em outras duas comissões antes de ir à votação.
Parágrafo único. Serão admitidos, nas salas de aula de estabelecimentos de educação básica e superior, aparelhos eletrônicos portáteis, desde que inseridos no desenvolvimento de atividades didático pedagógicas e devidamente autorizados pelos docentes ou corpo gestor.
Um ponto que pode ter chamado sua atenção é o trecho final do parágrafo único acima, o qual abre uma exceção no caso de aulas planejadas.
“Então, o projeto só fala da proibição de aparelhos fora do plano pedagógico. Se a escola decidir implantar um projeto com tablets, por exemplo, ela pode. O que há de errado nisso?”
O verdadeiro problema com a lei que proíbe tablets e celulares em salas de aula
O PL 104/15 justifica que a falta de atenção do aluno nas aulas é decorrente do uso indiscriminado de aparelhos eletrônicos, por isso deve-se proibi-los.
Parece bem simples, certo? Se os alunos estão distraídos, então vamos proibir a fonte de distração.
O problema é que a educação não é um campo simples e direto assim; é complexa e cheia de nuances. Existem diversos fatores que distraem os alunos e a tecnologia, ao contrário do que afirma o ilustre deputado, já foi identificada em estudos como fator de engajamento dos alunos.
Sabe-se que é preciso uma melhor gerência da tecnologia na sala de aula, mas a simples proibição através de uma lei é o melhor caminho?
Pode ser que esse ambiente proibitivo deixe os estudantes e professores desconfortáveis, o que causará um impacto negativo na motivação e no aprendizado. Outra possibilidade, bastante provável, é afastarmos ainda mais os jovens de nossas escolas, aumentando a evasão escolar, que no Brasil gira em torno de 25% – terceira taxa mais alta do mundo de acordo com dados do PNUD.
O risco é alto e os benefícios não estão tão claros para que se justifique tomar uma decisão tão drástica como prega tal projeto de lei. O deputado em questão saberia disso se tivesse consultado especialistas qualificados na área ou se tivesse aberto um debate a respeito.
1. Celular na sala de aula pode dar cadeia?
Aqui fica claro como há um uso desproporcional de força legal para resolver um desafio pedagógico. Já imaginou se, cada vez que um estudante quebrasse uma regra na sala de aula, fosse preciso chamar a polícia militar para levar o aluno para a delegacia?
Não faz o menor sentido propor uma lei se não há forma prática de se coibir quem a desobedece. Aliás, isso pode ser um indício (como é, nesse caso) que a legislação foi feita sobre um assunto que deveria ser tratado de outra maneira.
2. E a autoridade do professor?
O professor, como mediador entre o estudante e a aprendizagem, sempre deteve a autoridade para utilizar os recursos didáticos necessários para sua aula. O docente procura formas de melhorar a aprendizagem e de manter os alunos atentos e interessados. Será que uma “proibição vinda de cima” vai realmente ajudar o professor em sua tarefa de ensinar?
O que algumas pessoas não percebem é que o projeto de lei “inofensivo” e “bem intencionado” abre um precedente perigoso na educação: que todo problema na sala de aula seja resolvido por uma legislação, sem debate com as partes envolvidas.
Como professor, gestor, diretor, ou mesmo aluno, você consegue imaginar como seria uma sala de aula com quase tudo regido por leis federais?
A resposta está no cultivo de boas práticas, não em leis
Tecnologias, até mesmo pela definição da palavra, são ferramentas à disposição de quem as utiliza. Não há nenhum valor intrínseco positivo ou negativo na ferramenta em si, apenas na forma como é utilizada.
O mesmo raciocínio se aplica às tecnologias educacionais.
Inúmeros estudos são feitos todos anos demonstrando correlações positivas entre uso da tecnologia e melhor aprendizado. Se a internet, os tablets, os computadores, os aplicativos forem usados para estimular a imaginação dos estudantes e amparar o trabalho do professor, com objetivos claros, podem ter impactos positivos não apenas nas notas, mas no desenvolvimento de habilidades e no engajamento dos estudantes.
As novas tecnologias e abordagens pedagógicas estão também transformando o papel do professor em sala de aula. O mais recente relatório do NMC (New Media Consortium), mostra tendências tecnológicas que devem se difundir na educação básica com mudanças na atuação docente. O professor não será substituído, mas sim será elemento fundamental para mediar, ensinar os estudantes a aprender, a relacionar conteúdos pedagógicos com o mundo real, a pesquisar além da internet.
“Uma das imagens mais caricaturescas difundidas da tecnologia na educação representa um computador que substitui o docente, oferecendo automaticamente a informação aos estudantes. Mas isso tem levado a resultados pobres, particularmente quando a ênfase dos currículos já não está apenas nos conhecimentos, mas também nas competências”, diz Francesc Pedró, representante da Unesco para educação.
Não é uma questão de “ou professores, ou aparelhos eletrônicos” na sala de aula; mas sim de “professores e aparelhos eletrônicos” para facilitar o papel do professor e melhorar o aprendizado dos estudantes.
O Brasil não pode remar contra a maré educacional
FOTO: Iran Daily
A UNESCO acredita que as Tecnologias de Informação e Comunicação podem contribuir com o acesso universal da educação, a equidade na educação, a qualidade de ensino e aprendizagem, o desenvolvimento profissional de professores, bem como melhorar a gestão, a governança e a administração educacional ao fornecer a mistura certa e organizada de políticas, tecnologias e capacidades.
Portanto, o uso de tecnologias é uma estratégia que permite que o aluno aplique na prática o que aprendeu de maneira a conectar os conteúdos curriculares com o mundo real, auxiliado pelo professor. Não podemos deixar todo esse potencial de lado para apoiar, por mais “bem intencionada” que seja, um projeto que tenta regulamentar o uso de tecnologias através de proibição legal. O precedente negativo que isso criaria é desastroso.
Causar mudanças significativas na educação brasileira é um desafio e tanto. Não vamos tirar da mesa a tecnologia, uma de nossas aliadas mais fortes nesse projeto.
Por isso, é importante que você compartilhe esta notícia, especialmente com amigos de profissão, para que não deixe que este projeto absurdo jogue nossas crianças no passado!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | jan 16, 2015 | Facebook na escola, Gestão escolar, Marketing Escolar
Os pais e mães da nova geração estão sempre ligados nas redes sociais, e as usam muitas vezes para trocar experiências, dicas e informações sobre maternidade e paternidade. Um dos aplicativos mais usados para essas trocas é o Instagram. Além disso, muitas mães passam pela experiência da maternidade longe das suas famílias e usam a rede social para trocar figurinhas e se aproximar de outras, usando hashtags como #momblogger e #maternidade.
Podemos conferir um exemplo dessa rede de contatos entre mães abaixo, quando uma delas recomenda, via Instagram, para as outras mães seguidoras uma opção de hotel para as férias que possui muitas vantagens para famílias com crianças:
Imagem: Reprodução
Mas onde sua escola entra nisso? Ora, uma das mais eficientes estratégias de marketing é ir onde seus clientes estão. Como já foi dito, a nova geração vai atrás de opções para seus filhos através de pesquisas via web. No ano letivo que se inicia em breve, vários pais entre 20-30 anos estarão colocando seus primeiros filhos na escola. A questão é que as pessoas que tem entre 20 e 30 anos em 2015 nasceram entre os anos de 1985 e 1995 – ou seja, já nasceram inclusas na era digital e possuem habilidades natas com aplicativos, celulares e websites. Logo, uma escola com uma boa identidade visual online e perfis ativos nas redes sociais se destaca nessas pesquisas e não demora para cair no gosto das famílias.
Com um bom perfil no Instagram, os pais de seus futuros alunos poderão ver os eventos que acontecem em tempo real, os projetos educacionais, as feiras de conhecimento, o perfil dos professores e o ambiente da escola. Muitos desses pais preferem poupar tempo pesquisando sobre a instituição antes de visitá-las, para saber se realmente vale a pena conferir.
Outra boa opção de material amostral no Instagram é montar uma campanha visual de divulgação nos períodos de matrícula, com slogans convidativos e uma boa propaganda da escola para a captação de novos alunos, divulgando datas das provas de admissão, agendamento de visitas, prazos de matrículas, etc.
O marketing visual é uma das mais fortes maneiras de impressionar o público alvo, pois muitas vezes imagens dizem mais do que palavras. Uma dica importante é não esquecer das hashtags, como #educação, #escola, #tecnologia, pois elas também servem como mecanismo de busca – mas sem exageros, para não poluir o espaço e tirar o foco das imagens, que devem ser a principal atração no Instagram.
Depois de criada e alimentada, a conta deve ser divulgada nas outras redes sociais da instituição, como Twitter, Facebook e LinkedIn (que também são acessadas pelo público alvo), e em todos os materiais de propaganda da escola – folders, portfólios, outdoors, panfletos, etc.
E você, já está pronto para se destacar entre as outras escolas durante as pesquisas dos pais? Se a sua escola já possui conta no Instagram, mostra pra gente nos comentários!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | jan 14, 2015 | Facebook na escola, Gestão escolar, Tablets na escola
Cada vez mais a sociedade vem compreendendo a tecnologia como aliada da educação e do aprendizado. Ainda assim, algumas escolas ainda resistem à utilização de plataformas tecnológicas por simplesmente não saberem como inseri-las na sala de aula.
Visando orientar esse educadores a garantir resultados positivos com a tecnologia no meio pedagógico, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) formulou um guia online, de acesso gratuito, com 13 convincentes motivos para adotar a tecnologia móvel como linha auxiliar na sala de aula. O guia conta, ainda, com 10 dicas e recomendações de políticas de uso para a inserção dos dispositivos móveis (como celulares e tablets) na sala de aula.
Durante o guia, a Unesco diz acreditar que os celulares podem expandir e enriquecer as oportunidades de aprendizado em diferentes cenários, visto que várias experiências evidenciam que, assim como tablets, celulares estão favorecendo as habilidades cognitivas de educadores e alunos ao redor do mundo.
A Unesco consultou experts em políticas de uso em mais de vinte países, e afirma que o guia pode ser usado e adaptado para as mais variadas instituições de ensino, como escolas, universidades públicas e privadas e cursos técnicos, além de colônias de férias pedagógicas. Além disso, a organização ratifica a importância de refletir sobre como adaptar as políticas de uso do guia para a realidade e o contexto de cada local.
Há uma introdução interessante sobre o que seria a aprendizagem móvel, que segundo o guia “envolve o uso da tecnologia combinada com a comunicação para se aprender em qualquer lugar, a qualquer hora”.
Como a tecnologia móvel está sempre evoluindo, o incentivo ao treinamento dos professores sobre tecnologia móvel também é frisado no guia, assim como a necessidade de criação de conteúdo educacional adequado para cada fase escolar e projetos que promovam uso seguro e responsável das tecnologias.
Por fim, a Unesco acredita que não usar (ou subutilizar) tecnologias móveis na escola é desperdiçar potenciais oportunidades de enriquecimento educacional. Abaixo é possível conferir os 13 motivos presentes no guia Unesco de Políticas de Uso para Aprendizagem Móvel. Nesse post aqui, o blog da Escribo trás as 10 dicas do guia para aperfeiçoar o uso pedagógico das tecnologias móveis. Você também pode acessar o documento na íntegra, em inglês, através deste link.
Os 13 bons motivos para usar tecnologia móvel na educação, segundo a Unesco
- A tecnologia móvel favorece maior abrangência e igualdade na educação
- Reaproxima da educação crianças que sofreram traumas em áreas de conflito ou desastres naturais
- Auxilia alunos com deficiência, promovendo a inclusão social na sala de aula
- Otimiza o tempo das aulas, o que aumenta o rendimento e a produtividade ao abranger mais conteúdo
- Possibilita a mobilidade do aprendizado, uma vez que é possível acessar o conteúdo em qualquer hora e lugar
- Constrói uma ponte de comunicação entre comunidades de ensino, onde é possível trocar dicas e experiências entre alunos e educadores mundo afora
- Serve como suporte para embasar as aulas “in loco”
- Liga a educação tradicional à educação moderna
- Aprimora a comunicação interna na instituição, melhorando a vida dos gestores e administradores
- Maximiza o custo-benefício do material educacional
- Contribui para uma educação contínua, deixando o conteúdo sempre fresco na memória do aluno, visto que é possível acessar o que foi aprendido além das salas de aula
- Favorece a personalização dos conteúdos aprendidos
- Possibilita feedbacks e avaliações imediatas
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
por Americo N. Amorim | dez 20, 2014 | Facebook na escola, Geral, Marketing Escolar
Este post é a continuação das dicas de Jonny Ross sobre como as escolas podem usar as mídias sociais. O primeiro texto foi sobre o LinkedIn e este trata sobre o Facebook.
O Facebook é uma plataforma de mídia social muito importante para os pais de nossos alunos. A maioria dos futuros alunos e seus pais também já utilizam o Facebook, facilitando o contato através dessa ferramenta. Aqui estão algumas dicas práticas de como fazer isso:
8) Criar a página da escola
As pessoas vão procurar a sua escola através do Facebook. Se você não configurar uma página oficial, uma outra pessoa pode fazê-la (não oficialmente). A partir da página, os pais, professores e alunos poderão compartilhar conteúdos sobre a escola, o que aumenta a divulgação para interessados de fora da instituição.
(9) Criar o grupo dos futuros pais
Como muitos pais já estão conectados e conversando através do Facebook, a criação de um grupo voltado aos futuros pais para discutir as opções escolares e fazer perguntas sobre a escola é uma ótima ideia. Ele vai mostrar aos futuros pais que vocês realmente valorizam a sua escolha e que o estabelecimento de ensino tem uma visão de futuro, digitalmente esclarecida.
(10) Gerenciar a página com os funcionários e estudantes
Você pode colocar os principais membros da sua equipe e alguns estudantes responsáveis para fazer o carregamento de fotos e vídeos na página. Assim eles poderão mostrar como é a vida na escola, envolvendo os alunos e ajudando a promover a escola para os futuros pais. Fotos e vídeos não precisam ser muito produzidos, você pode mostrar a naturalidade, sem poses. É uma ótima forma para divulgar os eventos principais do calendário escolar.
(11) Conectar a escola com os ex-alunos
Ex-alunos são provavelmente o segundo público-alvo mais importante para a gestão através do Facebook. Se eles possuem blogs ou páginas de negócios, você pode compartilhar links como exemplos de sucesso da escola, ao mesmo tempo, mostra que a instituição continua apoiando os estudantes, mesmo depois que eles deixam a escola.
(12) Divulgar eventos e blogs de ex-alunos
Ofereça aos ex-alunos a oportunidade de serem oradores convidados em seus eventos, ou blogueiros para o blog da escola. Você também pode convidá-los para se apresentar num evento de carreiras. Conecte-se com eles via Facebook, pois assim eles poderão, então, usar a rede responder perguntas dos estudantes que procuram orientação profissional.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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