Pontos importantes:
- Alunos que utilizaram os jogos avançaram 3,6 vezes mais em leitura e 2,7 vezes mais em escrita do que as crianças que não utilizaram o projeto.
- O experimento foi realizado com 351 crianças que estudavam em 12 escolas públicas durante 4 meses.
- Atualmente mais de 2 mil escolas já estão adotando estes jogos baseados em evidências.
Fizemos uma pesquisa bastante interessante com alunos de educação infantil da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (PE). O estudo revelou que o uso de jogos digitais de consciência fonológica – conjunto de habilidades como separar sílabas, identificar rimas e palavras que começam com o mesmo som, e manipular sons para formar novas palavras – estimulou o aprendizado de leitura e escrita de crianças de baixa renda. Os resultados do estudo serão publicados no periódico “Computers & Education”, a revista científica de tecnologia educacional com maior fator de impacto no mundo.
A equipe de pesquisadores criou um programa de fortalecimento da leitura e escrita de palavras que emprega 26 atividades lúdicas de consciência fonológica. Os(as) professores(as) orientam o uso dos jogos pelas crianças com tablets ou smartphones de baixo custo. Esses jogos pedagógicos foram desenvolvidos para diminuir o baixo aprendizado das crianças em leitura e escrita, ligado à falta de estimulação adequada desde a educação infantil, como apontam evidências nacionais e internacionais. O programa foi implementado inicialmente em 2018 em 12 centros municipais de educação infantil que atendem alunos em situação de pobreza.
Interrupções nas aulas devido a eventos esportivos, três greves e chuvas que inundaram as ruas onde viviam crianças em situação de pobreza desafiaram a implementação da intervenção. Apesar disso, a equipe de implantação do projeto conseguiu mitigar satisfatoriamente diversos obstáculos, como a falta de tecnologias de informação e comunicação adequadas e a escassez de profissionais nas escolas.
Um total de 351 alunos de cinco anos participou do estudo. Antes do experimento, as crianças passaram por uma diagnose, que identificou como elas estavam no processo de leitura e escrita de palavras. Depois, as turmas foram divididas por sorteio em dois grupos: o que utilizou os jogos pedagógicos e o que não utilizou (grupo de controle). Depois de 4 meses, todas as crianças passaram por outra diagnose. A análise dos dados constatou que os alunos que realizaram as atividades avançaram 3,6 vezes mais em leitura e 2,7 vezes mais em escrita em comparação ao grupo de controle. Os jogos também geram relatórios que permitem que professores(as) e gestores(as) acompanhem o aprendizado dos alunos.
Desenvolver a alfabetização de crianças de baixa renda
O experimento mostrou que as crianças de famílias mais pobres conseguem aprender até quatro vezes mais do que quando professores(as) trabalham da forma tradicional. Para garantir que todas consigam se alfabetizar, as escolas precisam oferecer uma estimulação eficaz, utilizando as estratégias de ensino baseadas em evidências científicas.
Também participaram do estudo pesquisadores da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. A pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Escribo.
O uso desses jogos em escolas privadas foi objeto de um experimento randomizado controlado – o maior já realizado em escolas da educação infantil do Brasil – feito com 749 crianças e 62 professores(as) de 17 escolas privadas. As crianças de famílias de classe média que utilizaram os jogos fortaleceram as habilidades de leitura em 68% e de escrita em 48%. Os resultados foram publicados no periódico científico Educational Researcher, o mais lido por pesquisadores educacionais dos EUA. A nova evidência revela que o efeito do Escribo Play na leitura e na escrita das crianças da rede pública foi muito maior do que o que observamos nas escolas privadas. Isso demonstra que a rede pública tem um potencial forte para melhorar.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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