Neste vídeo, a pesquisadora Daphne Greenberg, da Georgia State University, lista mais algumas dicas de como oferecer um ensino de qualidade a adultos(as) analfabetos. Essas necessidades vão desde o aprendizado das letras e números até o conhecimento de mundo dessas pessoas. Confira no vídeo a seguir.
Na próxima semana, a professora Greenberg relata como anda a realidade dos adultos analfabetos, nos Estados Unidos, e como o aprendizado ou a falta dele pode impactar na vida dessas pessoas. Leia novidades em primeira mão tocando no sino ao lado para receber s notificações do blog Ciência do Aprendizado, da Escribo. Até logo!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Ensinar uma pessoa adulta a ler vai além dos fonemas, das letras e palavras. A pesquisadora educacional Daphne Greenberg, da Georgia State University , relembra com a gente o que um(a) professor(a) precisa fazer para participar da alfabetização de adultos com qualidade.
O próximo vídeo vai trazer outros pontos que os(as) educadores(as) precisam ter na ponta da língua quando o assunto é a alfabetização de adultos. Receba as notificações doblog Ciência do Aprendizado, da Escribo tocando no sininho ao lado e confira novos conteúdos em primeira mão. Um abraço!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Temos ótimas notícias para o mundo da educação baseada em evidências. Abhijit Banerjee e Esther Duflo, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Michael Kremer, da Universidade de Harvard, receberam recentemente o Prêmio Nobel de economia.
Esse prêmio homenageia pessoas extraordinárias que fazem trabalhos também extraordinários para diminuir a pobreza nos países emergentes. Ouvi Esther Duflo palestrar na Sociedade de Pesquisa em Educação Efetiva (SREE) e assisti a incrível Ted Talk dela sobre a pesquisa pela qual ganhou o Nobel (a palestra foi realizada antes que eles soubessem que receberiam o prêmio Nobel). Assistir a fala dela (neste link, em inglês) vale muito a pena.
Mas a importância desse Nobel vai muito além de reconhecer as pessoas que venceram. Ele celebra o uso de evidências científicas em políticas educacionais, descobertas em fundações, institutos e centros de pesquisa espalhados pelo mundo todo, assim como este blog.
O prêmio também comemora o trabalho de cientistas de educação, psicologia, sociologia e economia, comprometidos(as) com o uso rigoroso de pesquisas para promover avanços na sociedade. Os(as) premiados(as) com o Nobel representam esse desenvolvimento no âmbito internacional, financiado pelo Banco Mundial, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e por outras organizações internacionais de apoio.
No Ted Talk, Esther Duflo explica a grande estratégia que ela e seus colegas seguem. Eles identificam grandes problemas sociais em países emergentes, dividem-nos em “partes” solucionáveis e depois usam experimentos randomizados para testar soluções para cada uma delas.
Primeiro, junto ao Dr. Banerjee (seu marido) e a Michael Kremer, ela descobriu que ter livros didáticos não fez diferença no aprendizado de estudantes na Índia. Depois, o grupo testou com sucesso uma forma de viabilizar tutores baratos e, posteriormente, computadores, para ajudar estudantes da Índia que tinham dificuldades para ler (Banerjee, Cole, Duflo e Linden, 2007).
É uma série de estudos fascinante que avaliou a relação custo-benefício de vários programas educacionais nesses países emergentes. E qual venceu? O que se propôs a curar as crianças de vermes intestinais. Com base nessa e em outras pesquisas, a organização não-governamental Fundação Carter embarcou em uma campanha que praticamente erradicou o verme da Guiné em todo o mundo.
Num dado momento, Duflo e seus colegas testaram variações nesses programas para fornecer mosquiteiros inibidores da malária a países emergentes nos quais a doença é a principal causa de morte de crianças – especialmente aquelas com menos de cinco anos de idade. Os resultados seriam melhores se os mosquiteiros tivessem um custo acessível? Se fossem gratuitos (custo de varejo = R$ 12)? Economistas, pesquisadores(as) e representantes políticos temiam que quem não pagasse nada pelos mosquiteiros não os valorizassem ou usassem para outros fins. Mas o experimento randomizado descobriu que, sem dúvida, os mosquiteiros gratuitos eram muito mais usados do que os obtidos com descontos, o que pode ter salvo a vida de milhares de crianças.
Para aqueles que trabalham com o uso de evidências na educação, os experimentos realizados pelos ganhadores do Nobel são bastante familiares, mesmo que tenham aspectos práticos muito diferentes dos que encontramos nos Estados Unidos ou no Reino Unido, por exemplo. No entanto, estamos longe de ser maioria entre pesquisadores de nossos países e lutamos para utilizar experimentos randomizados como critério de eficácia. Tenho certeza de que as pessoas que trabalham no desenvolvimento internacional enfrentam desafios iguais.
É por isso que este prêmio Nobel de economia significa muito para todos(as) nós. As pessoas prestam muita atenção aos prêmios Nobel, e nós não temos um voltado à pesquisa educacional. Portanto, é muito gratificante ver um prêmio nobel ser dividido por economistas, cuja pesquisa tem como principal contribuição o uso de experimentos randomizados para resolver questões práticas e políticas importantes, inclusive para a educação. Talvez o prêmio desse trio seja o mais próximo que chegaremos ao reconhecimento desses experimentos, adotados por muitos nas pesquisas aplicadas em psicologia, sociologia e educação – e por economistas.
Os prêmios Nobel costumam ser usados transmitir mensagens positivas, apoiar o desenvolvimento de pesquisas importantes e para reconhecer pesquisadores merecedores e líderes de suas áreas. Esse foi claramente o caso deste prêmio. Esse Nobel deixa claro como o trabalho dos vencedores transformou a realidade, a ponto das “metodologias de pesquisa experimental dominarem inteiramente a economia do desenvolvimento”. Espero que esse evento conscientize as pessoas e dê mais credibilidade à idéia de que evidências comprovadas são necessárias. Elas são a chave para a mudanças significativas na vida das pessoas.
Diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins. Ph.D. em Relações Sociais pela Universidade Johns Hopkins, Dr. Slavin é autor ou co-autor de 24 livros e mais de 300 artigos e capítulos de livros sobre reformas na educação baseada em evidências e diversos outros temas relacionados.
Um professor me perguntou: “qual é a melhor maneira de ensinar e fazer com que os alunos desenvolvam um bom vocabulário?”
Minha reação inicial a essa pergunta não foi exatamente o que eu chamaria de “útil”.
A pergunta foi feita por alguém que havia acabado de conhecer o meu blog. Respondi dizendo que já escrevi sobre o tema várias vezes e, se ela pesquisasse meus posts, encontraria uma resposta para sua pergunta.
Mas pensei duas vezes e decidi ser um pouco mais flexível. Ainda não tinha pensado em escrever um post para o blog. Imaginei que seria mais legal indicar alguns links específicos meus para que a pessoa não tivesse que pesquisar ela mesmo.
Fiquei surpreso quando não consegui encontrar muitas respostas para essa questão, que é muito interessante e pedagógica. Eu já escrevi algumas coisas sobre vocabulário e incluí recursos de vocabulário no blog, mas não há uma resposta clara e direta do que funciona no ensino de vocabulário. Vamos resolver isso agora.
Primeiro, alguns comentários.
Ao longo dos anos, aprendi que nem todas as palavras são iguais. Por exemplo, algumas palavras são mais úteis que outras. Saber o significado de “maledicência” provavelmente compensa menos do que saber “vergonha”, no dia a dia.
Os leitores precisam saber as palavras que os autores usam. Nosso tempo é curto, então vamos usá-lo para ensinar palavras que abrem mais portas e estimulem a compreensão de textos entre os seus alunos.
Algumas palavras são aprendidas mais facilmente do que outras. Eu aprendi sozinho a ler em francês, um idioma que não falo (mas estou tentando falar, apesar disso). Pesquisar uma ou outra palavra desconhecida no dicionário parece o suficiente para que ela vire parte do meu vocabulário. Mas há também algumas palavras que precisei pesquisar dezenas de vezes.
Os(as) professores(as) precisam reconhecer (e ter paciência com) essa grande desigualdade – não apenas entre as crianças no geral, mas também com a experiência de cada aluno.
Outro ponto é saber a diferença entre vocabulário e conceito. O vocabulário se refere aos rótulos que damos a determinados temas e ideias, enquanto os conceitos são as ideias às quais esses rótulos se referem. Uma palavra como “cintilar” será facilmente aprendida por crianças que já perceberam como a luz brilha, ao contrário das que não perceberam. Caso o problema seja a existência de limitações no vocabulário, o trabalho pode ser feito praticamente todo de forma verbal, mas se for falta de conceito, somente ler as palavras não será o suficiente.
Por fim, grande parte do nosso vocabulário é formada fora do ensino formal. Aprendemos palavras em conversas, consumindo informações na mídia (assistindo à televisão, por exemplo), observando nossos arredores, lendo bastante e assim por diante. Assim descobrimos tantas palavras que alguns estudiosos chegaram a zombar do valor do ensino tradicional. No entanto, pesquisas mostram que o ensino de vocabulário pode melhorar enormemente a compreensão de leitura.
Um ensino eficaz de vocabulário traz alguns princípios fundamentais.
1. Concentrar-se em significados ricos, não apenas em definições de dicionário.
Muitas vezes, o ensino de vocabulário se resume a crianças copiando definições do dicionário. Mas pesquisas recentes identificaram várias abordagens pedagógicas que superam qualquer aprendizado que possa resultar dessas cópias.
Uma dessas abordagens fundamentais é sugerir aos(às) estudantes que trabalhem com definições ou explicações mais extensas ou complexas dos significados das palavras – como as explicações dadas em enciclopédias (ex: Wikipedia) em vez das dispostas no dicionário, por exemplo.
Quando eu ensino vocabulário, geralmente faço com que as crianças tentem escrever várias respostas diferentes para a definição de uma mesma palavra:
Definição de dicionário
Sinônimos para a palavra
Antônimos (se houver)
Parte do discurso
Classificação (a que grupo semântico a palavra pertence, como ferramentas ou formas de falar)
Comparação (é como ______, mas diferente porque ______)
Exemplos da vida real
Versão gráfica ou visual (desenhos, figuras, representações)
Atuação (teatrinho)
Quando você sugere nove explicações diferentes para a mesma palavra, é mais provável que se lembre dela (claro, podemos fazer mais do que apenas essas nove se quisermos incluir analogias, relações parte-todo e outras abordagens).
2. Enfatizar as conexões entre as palavras.
Muitas propostas pedagógicas sobre vocabulário ensinam palavras por categoria, como por exemplo nas áreas da saúde e medicina ou sobre transporte. Inclusive, há pesquisas que comprovam a eficácia de algumas dessas propostas. Apesar disso, estudos direcionados especificamente a esse aspecto do ensino sugerem que o aprendizado de palavras é mais lento, e o trabalho extra para dominar esses conjuntos de palavras não compensa.
E, ainda assim, evidências revelam que as palavras estão organizadas em nossas cabeças como várias redes, e não como definições de dicionário, isoladas. Quando você se lembra de uma palavra, extrai da memória uma infinidade de ideias relacionadas – qualidades, formas de uso e sinônimos relacionados a essa palavra.
Comece a pensar em caminhões a diesel e palavras como “roda”, “pneu”, “caminhão”, “gasolina” e “rodovia” não demoram a aparecer.
Há casos em que é necessário trabalhar ao mesmo tempo grupos de palavras distintos mas relacionados, como quando as crianças estão aprendendo sobre as estruturas das células ou dos átomos. Essas eu deixo passar, já que nesses casos provavelmente serão acompanhadas de uma análise muito mais aprofundada dos conceitos.
Também acho que é bastante razoável estimular as crianças a pensarem sobre as palavras cujos conceitos elas já podem ter dominado. Vincular uma nova palavra a um conceito é muito diferente de tentar aprender e vincular uma coleção inteira de palavras.
Eu evitaria trabalhar pletora, escassez, cornucópia, suficiente, abundância e liberal juntos, como fazem alguns programas educacionais. O ideal é trabalhar essas palavras ao longo do tempo, à medida que forem aprendidas pelas crianças e, posteriormente, teremos crianças comparando as ideias ou adaptando o uso dos termos.
Uma professora que conheço pede que os(as) estudantes classifiquem o vocabulário semanalmente em pastas no quadro de avisos e, quando uma pasta acumula várias palavras relacionadas, elas revisitam como um conjunto.
3. Promover o uso do vocabulário.
Não basta as crianças estudarem o significado das palavras. Elas também precisam aprender a usá-las ao ler, escrever, falar e ouvir as outras pessoas. O ensino deve criar oportunidades para as crianças usarem as palavras em todos esses contextos.
Por exemplo, essa ampliação do vocabulário pode ser realizada por grupos de crianças trabalhando em conjunto para criar múltiplas definições de palavras. Esse tipo de cooperação exige que as crianças conversem entre si sobre as palavras. Eu, por exemplo, costumo passar uma pequena lista de palavras para cada grupo e peço que ensinem uns aos outros as palavras que seus grupos estudaram… Ou seja, é importante promover mais atividades para eles falarem e ouvirem.
Pode-se recompensar as crianças por usarem o vocabulário estudado na escrita – e isso pode ser feito de várias maneiras.
As pesquisadoras educacionais Isabel Beck e Moddy McKeown criaram os “assistentes de palavras”, que davam às crianças pontos extras em vocabulário se pudessem trazer evidências de que exploraram ou usaram as palavras escolhidas na tarefa. As crianças ficam muito animadas ao se depararem com algumas das palavras aprendidas quando assistem televisão ou jogam seu joguinho favorito.
4. Revisar o vocabulário é importante.
É comum o(a) professor(a) ensinar vocabulários por diversos gêneros textuais mas demorar muito a incentivar as crianças a exercitarem as novas palavras descobertas. Pode ser difícil aprender o vocabulário se você não tem muitas oportunidades de usá-lo.
Há muitas maneiras de lidar com o vocabulário, como por exemplo dedicar um dia por semana para trabalhar apenas com palavras que foram ensinadas (e aprendidas) no passado – ou até semanas inteiras podem ser dedicadas a isso, ao longo do ano.
Gosto muito de incluir palavras ensinadas nas últimas semanas nos testes de vocabulário. Pedir que as crianças façam anotações sobre o vocabulário também pode ajudá-las a melhorar a escrita durante essas revisões.
Outra maneira de garantir que crianças aprendam as palavras é ver quantos termos a mais elas podem construir morfologicamente, adicionando prefixos, sufixos ou alterando partes da fala e assim por diante.
5. Estimular os alunos a “adivinhar” o significado de certas palavras
Muitas vezes, as crianças aprendem novos vocabulários por acaso, inclusive fora do ambiente escolar. No entanto, nem todas as crianças aprendem com a mesma facilidade e, mesmo para quem é mais fácil, ainda pode ser uma tarefa difícil e que exige muitas oportunidades de usar uma mesma palavra para que ela seja de fato aprendida.
Uma coisa que podemos fazer para ajudar a desenvolver uma “consciência sobre as palavras” entre nossos(as) alunos(as) é envolvê-los(as) na identificação de palavras desconhecidas quando leem “por vontade própria”, fora do contexto de ensino-aprendizagem – e incluir essas palavras nas atividades da sala de aula. Quando as crianças se acostumam com eventuais faltas no vocabulário, é mais provável que tentem resolver essas lacunas enquanto leem. As crianças também ficarão mais motivadas se puderem sugerir o que querem aprender em sala de aula.
Timothy Shanahan é professor emérito da Universidade de Illinois em Chicago, nos Estados Unidos, onde foi diretor fundador do UIC Center for Literacy. É ex-diretor de leitura das escolas públicas de Chicago. Foi membro do Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Alfabetização, sob os presidentes George W. Bush e Barack Obama. É autor/editor de mais de 200 publicações sobre educação em alfabetização, com ênfase nas conexões entre leitura e escrita, alfabetização em disciplinas e melhoria no desempenho da leitura.
O analfabetismo dificulta a vida de uma pessoa adulta em inúmeros aspectos – inclusive, o aprendizado de seus filhos e filhas. É sobre esse tema que conversamos com a professora Daphne Greenberg, pesquisadora educacional da Georgia State University e especialista no assunto.
Segundo a educadora, nos Estados Unidos, uma a cada seis pessoas adultas lê no mesmo nível de crianças da educação infantil. Isso revela o quanto ensinar uma pessoa a ler e escrever reflete no crescimento de um povo no decorrer de gerações. Buscar formas inovadoras e efetivas para a alfabetização é indispensável para mitigar o analfabetismo e melhorar esse cenário.
Deixe sua opinião nos comentários, esse debate é interessante e muito necessário. Na próxima semana, nós retomamos o papo com a professora Greenberg sobre o tema. Toque no sininho ao lado e assine as notificações do Blog da Escribo para receber novos conteúdos assim que publicarmos. Até mais!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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