Nos anos iniciais, trabalhar musicalização pode ser um desafio para as escolas. Afinal de contas, ainda é uma matéria recente na grade curricular e ainda existem poucos materiais pedagógicos estruturados na área (como o Turma do Som).
Além disso, muitos professores lecionam aulas de musicalização sem ter formação específica na área. Junte isso com a falta de material pedagógico estruturado, o trabalho do professor se torna umgrande desafio – e o aprendizado dos alunos sofre com o impacto.
Como a educação musical abrange uma ampla gama de conteúdos, há vários conceitos que podem ser explorados. Contudo, é importante que toda aula de musicalização contenha alguns fatores-chave.
São eles que irão garantir tanto um maior engajamento por parte dos alunos, quanto oferecerão suporte adequado para o treinamento das habilidades cognitivas envolvidas na educação musical.
A seguir elencamos três fatores, já aplicados a sugestões para planos de aula, para você professor ou gestor que deseja implementar o ensino no seu colégio, ou fazer adaptações curriculares.
1. Vivência sensorial e corporal dos elementos musicais
Por meio do corpo e do movimento compreendemos e expressamos elementos, sensações, percepções e conhecimentos. A prática da vivência sensorial e corporal através da educação musical promove, dessa forma, uma construção complementar de aprendizagem.
Como ela retira apenas do aspecto mental a experiência sonora, o aluno realiza uma abstração mais abrangente do significado dos sons e isso interfere diretamente no seu grau de desenvolvimento musical.
Essa vivência sensorial e corporal pode acontecer de inúmeras formas, através, por exemplo, da movimentação corporal coordenada pelos sons e ritmos, ou mesmo pelo estímulo à criação de música com sons do corpo.
Mesmo os professores podem se divertir quando a aula é bem planejada. Imagina os pequenos?
Um teste simples: se durante as aulas de música as crianças não estão engajadas e animadas, há algo de errado. Mais do que as materiais tradicionais, para as aulas de musicalização, especialmente dos pequenos, é muito importante estabelecer o ambiente aberto e divertido.
Jogos e o uso da gamificação ajuda bastante nesses momentos. Não precisa ser algo muito complexo, atividades simples (mas bem embasadas) podem ser a diferença entre a aula preferida dos pequenos e uma aula chata, improdutiva.
Claro, o tipo de jogo que você pode executar depende da estrutura da sala de aula, mas isso não é de forma alguma um impedimento.
Por exemplo, você poderia dividir os alunos em grupos e realizar brincadeiras de “adivinhe qual é a música” com cantigas populares infantis. A tática poderia até engajar os alunos, mas por si só, sem qualquer base pedagógica aliada não traria resultados interessantes em educação musical.
Na outra ponta da tabela, com um material bem estruturado de musicalização, você tem tranquilamente jogos de computador e de tablet bem embasados pedagogicamente e divertidos!
3. Integração ao cotidiano
Desenvolver uma escuta atenta, crítica e reflexiva é uma condição determinante para o crescimento musical do aluno. Da mesma forma como focamos no letramento das crianças não apenas na alfabetização, é essencial que o processo de musicalização forme crianças capazes de refletir sobre sons no dia a dia.
Para que isso aconteça, nada melhor do que iniciar esse processo com o reconhecimento do sentido da música na vida do individuo e na coletividade.
Uma boa forma de fazer isso é engajar os temas musicais dentro de histórias com enredos educativos.
Ao invés de tentar ensinar abstrações por métodos “tradicionais”, o ideal é fazer uso de contextos educativos que ensinem o que desejamos de passagem.
Por exemplo, em nosso material de musicalização, o que funciona muito bem são desenhos animados. O Turma do Som possui vários episódios que podem ser mostrados no começo das aulas para dar a base para o ensino de novos tópicos às crianças.
Além de conter os elementos da aula em cada desenho, sempre há temas igualmente importantes como centro do episódio. Reciclagem, a importância da natureza…
A contação de histórias (com ou sem desenho animado) ajuda a engajar as crianças em um nível que elas entendem, enquanto introduzimos os novos conceitos.
Como estão suas aulas de musicalização?
Desde a Lei nº 11.769, o ensino de música passou a ser obrigatório nas escolas. Há várias formas de integrá-lo a carga horária, mas todas elas requerem ao menos estrutura para as aulas.
É essa estrutura que contém o esqueleto pedagógico que vai garantir o desenvolvimento dos alunos e o aprendizado das aulas. É isso que todo bom plano de aula contém e que você deve levar para seus alunos.
Quer testar um livro digital de musicalização para adotar em sua escola?
O Turma do Som foi desenvolvido em parceria com a Cecilia Cavalieri, uma das mais renomadas autoras de livro didáticos de música no Brasil e Doutora em educação musical pela Universidade de Londres.
Você pode acessar clicando aqui para conhecer a versão digital, que inclui jogos, atividades, desenhos animados e tudo mais. O Turma do Som já pode ser adquirido para 2016.
O material para as escolas inclui livro do aluno e do professor, uma rede social para cada turma, suporte pedagógico durante o ano, planos de aula prontos e capacitação dos professores.
E na sua escola, como você leciona musicalização? Conta para gente nos comentários!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Como você imagina a educação brasileira daqui a 17 anos?
Desenvolvido num contexto de pós-aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014–2024, os Cenários Transformadores para a Educação Básica no Brasil compreendem 4 perspectivas diferentes acerca do que podemos esperar para educação no Brasil em 2032.
Para sua elaboração foram ouvidos 71 representantes de organizações da sociedade civil, movimentos sociais, governos, formadores de opinião, organizações internacionais, institutos e fundações empresariais, sindicatos, professores, gestores, pais, estudantes e acadêmicos.
Além disso, a partir do material coletado através das entrevistas foram realizadas três oficinas presenciais com 40 pessoas, onde se discutiu e debateu o conteúdo produzido e suas implicações para construção dos cenários.
Sua elaboração, longe de trazer previsões certeiras ou recomendações e ânsias, projeta, na verdade, os possíveis caminhos que a educação brasileira poderá seguir, pela análise das múltiplas variáveis envolvidas e através da ótica de atores diversos.
Dessa forma, seu objetivo final não era a construção negociada de uma agenda a ser cumprida, ou mesmo um pacto de ação entre os seus participantes. Constituiu-se, na verdade, num espaço de encontro e de escuta ativa para provocação do tema e estímulo a discussão entre todos àqueles interessados na construção cidadã do futuro da Educação Básica em nosso país.
Os 71 atores foram indicados por representantes da Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, Instituto Reos), Todos Pela Educação e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), grupo que norteou as discussões iniciais.
Para o planejamento dos cenários, foi utilizada uma metodologia já empregada ao longo dos últimos 20 anos em contextos diversos e complexos, como por exemplo na transição do apartheid na África do Sul, nos momentos de maior conflito na Colômbia, ou mesmo no pós-guerra civil na Guatemala.
O processo metodológico de caráter rigoroso, mas também analítico e criativo consiste em inicialmente identificar os principais temas, definir então um horizonte de tempo suficiente para as mudanças, mapear as forças que agem sobre cada contexto e por fim classificar o seu grau de previsibilidade e impacto.
A partir daí os diferentes cenários eram agrupados seguindo critérios de serem relevantes, desafiadores, plausíveis e claros. Sendo nomeados com referência a pássaros brasileiros: Canário-da-Terra, Beija-Flor, Falcão-Peregrino e Tico-Tico. Cada um deles traz tanto aspectos positivos e negativos, bem como apresenta suas implicações sociais.
Canário da terra
No primeiro Cenário chamado Canário da Terra, o sistema educacional brasileiro passa por mudanças importantes. Quase todas as metas do PNE são cumpridas pelo Estado, que agora é pressionado e cobrado pela sociedade civil. As políticas públicas são dessa forma, melhor construídas e negociadas pela interação Estado-Sociedade civil.
É rompida, ainda, a cultura de descontinuidade das políticas educacionais e o Estado assume um papel fundamental e estratégico para garantia do direito à educação.
Nesse cenário a gestão da escola é democrática e os planos de educação são construídos, acompanhados, monitorados e aperfeiçoados de forma participativa, por meio dos fóruns de educação e das conferências. Alguns saltos na qualidade de ensino são percebidos mas a escola segue em formato tradicional, com apenas algumas experiências inovadoras.
Beija flor
Esse cenário é caraterizado por reformas profundas no sistema de educação, com base em experiências bem-sucedidas no país e no exterior, e motivadas por mudanças sociais, tecnológicas e ambientais.
Há um forte estímulo a inovação que rompe com muitos preceitos da escola tradicional e é apoiada por políticas públicas estatais. O Estado é fomentador e indutor, garantindo as condições do padrão de qualidade previsto na legislação educacional e estimulando as escolas a desenvolverem experimentações e a relação com as comunidades.
Nesse cenário há um equilíbrio na relação público-privada e a concepção de educação é pautada por princípios de equidade, justiça social e sustentabilidade socioambiental. A escola tem portanto, a função social de formar sujeitos de mudanças cotidianas e globais, fortalecendo a relação com os territórios, em uma perspectiva intersetorial e de trabalho em rede.
Falcão-Peregrino
O Falcão peregrino é marcado por uma forte influencia da iniciativa privada. O Estado mantém o papel de provedor, regulador, avaliador e financiador, mas abre mão de ser o principal executor das políticas e de se responsabilizar pela oferta educacional. Existem avanços quantitativos, mas não qualidativos e há um enfraquecimento do sistema de participação social.
A educação é voltada para a formação de capital humano: mão de obra qualificada e especializada para trabalhar no mercado. O modelo de gestão é por resultados e por desempenho dos alunos, e o ranqueamento é um conceito forte nesse cenário. Para os profissionais de educação, a remuneração agora é variável, com bônus e premiações.
Tico-tico
Entre os cenários, esse modelo é o mais parecido com a continuidade da educação que visualizamos hoje. Nele vislumbramos uma educação massificada e medíocre, com tentativa de considerar as diversidades, porém de forma periférica.
Há um descontentamento com o serviço público ofertado, que não é capaz de garantir a pauta da qualidade dos direitos. O Estado tem presença, principalmente com a manutenção das políticas sociais compensatórias, e busca a universalização do direito à educação. Contudo, faz isso com baixa vontade política para enfrentar as desigualdades estruturais, o que reproduz padrões desiguais de qualidade.
Ele também tem o papel de expandir o acesso e – quando muito – avaliar a educação, porém não consegue ser regulador e tampouco garantir o essencial. Predomina a concepção de escola formal, posta na legislação, com quase nenhuma inovação.
Concretização dos cenários
De acordo com a diretora administrativo-financeira do movimento Todos pela Educação o que vai determinar a concretização de cada um dos cenários são as escolhas que o país está fazendo e fará para os próximos anos.
Para Para Daniel Cara da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, hoje estamos mais próximos do cenário Falcão-Peregrino e Tico-Tico. Segundo ele, o caminho para superar esses cenários passa pela implementação do Plano Nacional de Educação. “ A fronteira para impactar no futuro da educação é o país começar a levar a sério as leis que aprova”, comenta.
Embora seja natural atribuir apenas as decisões do Estado para o futuro da Educação no país, Cleuza Repulho, ex-presidente da Undime ressalta a importância da sociedade civil na concretização dos cenários “A gente tem um papel importante e cada um com a sua entidade precisa dar conta da sua parte, e não achar que o governo sozinho resolve os problemas.”.
–
Como dito anteriormente a publicação não apresenta respostas ou indica o cenário ideal. Com isso, qual cenário você imagina como o mais provável para educação brasileira?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
No Reino Unido, uma notícia recente ganhou notoriedade. A linguagem de programação “Python” ultrapassou o francês como língua mais popular ensinada nas escolas primárias, segundo pesquisa divulgada nesse último mês.
De acordo com o estudo, seis em cada dez pais preferem que seus filhos em idade escolar aprendam a linguagem de codificação no lugar de francês. Enquanto 75% das crianças afirmaram que preferem aprender a programar um robô do que estudar uma língua estrangeira.
A pesquisa analisou respostas de 2000 estudantes divididos entre as faixas etárias de 5 a 11 anos e 11 a 16 anos, e cerca de 1000 pais com filhos em idade escolar. Realizada pela Ocado Technology, ela visava avaliar e entender os progressos realizados com o novo currículo de computação nos colégios do Reino Unido, cuja implantação completou um ano semana passada.
Em resposta aos resultados, a Ocado Technology está pedindo ao governo para tornar a matéria de ciência da computação obrigatória como matemática e Inglês, e aumentar a formação de professores para ministrar o currículo.
A pauta não é exatamente uma surpresa. Nos últimos anos temos visto uma tendência crescente por uma educação que atenda melhor as novas demandas da sociedade atual. No Brasil, por exemplo, tivemos em 2008 a inserção de música nos currículos escolares brasileiros como matéria obrigatória aos anos iniciais.
Mas seria uma linguagem de programação tão – ou mais – importante que o aprendizado de uma segunda língua?
Controvérsias à parte, o ensino de programação no colégios vem ganhando diversos aliados. Bill Gates, Mark Zuckerberg e outros executivos na área de tecnologia num vídeo chamado What Most Schools Don’t Teach (O que a maioria das escolas não ensinam, em tradução livre) comentam justamente sobre importância desse aprendizado.
Eles relatam a escassez atual de bons programadores, e demonstram apoio a linguagem de programação como disciplina tão importante quanto outras presentes nas atuais grades curriculares dos colégios.
A ideia central no vídeo gira em torno, principalmente, do seguinte fato: enquanto computadores estão em toda parte e a tecnologia é – ou tem se tornado – base de apoio a qualquer área de atuação, a linguagem de programação continua sendo estudada por parcela pouco significativa da sociedade.
Segundo o clipe, temos um déficit (a nível mundial) estrondoso de profissionais especializados, e isso não pode ser mudado sem o estímulo crescente de investimentos no setor.
Tal como esportes ou aprender a tocar um instrumento a linguagem de programação pode aparentar ser um desafio, mas se trata, sobretudo, de aplicar um conhecimento básico de matemática para conseguir soluções. É preciso apenas determinação para aprender.
Ainda sobre o vídeo, Satya, CEO da Microsoft, comenta que a ciência da computação leva às melhores oportunidades no mundo. Enquanto o instituto que promoveu o clipe, chamando CODE, defende que todos os alunos, em todas as escolas, devem ter a oportunidade de aprender ciência da computação.
Diante desses argumentos e de volta a nossa discussão, o estudo da linguagem de programação encontraria, portanto, maior justificativa em detrimento ao aprendizado de uma segunda língua?
Bom, talvez. Em países cuja língua materna é o inglês, a resposta é provavelmente mais fácil. Além do inglês ser a linguagem universal, é também ele o mais usado em códigos de computação. Dessa forma, o estudo de outro idioma nessas condições, acabaria sendo minimizado em detrimento ao estudo da linguagem de programação.
Por outro lado, quando pensamos no Brasil e em outros países cujo primeiro idioma não é o inglês, a história já não é tão simples. O estudo da linguagem de programação por si só exigiria um conhecimento básico do inglês, causando uma relação de dependência de um sob o outro.
E que ganha dimensão ainda maior aqui no país, já que ocupamos a 38º posição no ranking de proficiência em inglês entre nações que não possuem esse idioma como língua nativa.
Independente, porém, de qualquer conexão estabelecida entre o ensino de uma segunda língua e a linguagem de programação, é coerente afirmar que os largos avanços em tecnologia e a importância atual dos computadores em nosso cotidiano não pode ser ignorada.
Desse modo, a adição da linguagem de programação aos currículos escolares nada mais é do que uma resposta as necessidades da sociedade contemporânea. Enquanto o estudo de outros idiomas (ao menos em países com proficiência em inglês), segue como complemento de aprendizagem, sem acumular, porém, o peso do estudo de programação.
–
Como visto, a linguagem de programação está sendo defendida e adotada nos currículos escolares de diversos países.
Você acha que em breve teremos essa adoção na grade curricular brasileira? Concordaria com ela?
E com relação ao aprendizado de uma segunda língua: valeria a pena adicionar programação em detrimento do ensino do espanhol no contexto atual da educação brasileira?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Comentários