Recentemente diversos países têm surpreendido quanto a qualidade dos seus sistemas educativos. A Finlândia, conhecida por possuir um dos melhores sistemas de educação do mundo, balançou o cenário global ao noticiar a abolição das disciplinas do seu sistema de ensino.
Dessa vez a surpresa vem por conta do Vietnã.
Publicado no relatório global divulgado pela OCDE esse ano, o Vietnã foi destaque quanto as notas obtidas em leitura, ciências e matemática. Os índices, superiores aos conquistados por países desenvolvidos como Estados Unidos e Grã-Bretanha, surpreenderam autoridades locais e externas.
O país participou pela primeira vez do PISA – Programa para a Avaliação Internacional de Alunos, em 2012, desde então alcançando notas elevadas nas disciplinas citadas. No ranking de 2015, que avaliou apenas ciências e matemática, o Vietnã obteve o 12º lugar geral. Os Estados Unidos ocuparam o 28º lugar enquanto o Brasil ficou em 60º .
O feito é fruto de um plano de educação de longo prazo implementado pelo país. Em 2010, quase 21% dos seus gastos públicos foram dedicados a educação, proporção superior a qualquer outro país membro da OCDE – grupo que integra os países mais desenvolvidos do mundo.
Além do comprometimento do governo, outros dois fatores tem influenciado as notas elevadas conquistadas pelo Vietnã: um plano de estudos bem elaborado e o investimento massivo nos professores.
Enquanto países da Europa e América do norte costumam implementar sistemas de ensino com uma ampla quantidade de conteúdo, mas em sua maioria abordados superficialmente, o Vietnã tem apostado no domínio das habilidades básicas, aliado ao conhecimento aprofundado nos conceitos centrais das disciplinas.
A estratégia espera que os alunos deixem de apenas memorizar assuntos, mais saibam aplicá-lo e comprendê-lo em diferentes contextos. A didática vietnamita inclui, ainda, um nível de rigor elevado em sala de aula, com perguntas desafiadoras que estimulam o avanço dos alunos.
Para os professores é delegado um alto grau de autonomia, espera-se, por exemplo, que eles invistam por conta própria em seu desenvolvimento profissional. Além disso, no sistema educativo vietnamita, muito mais do que ensinar e passar atividades, os professores realizam funções de apoio ao estudante, preocupando-se com seu bem-estar cotidiano e rendimento.
Os resultados da prova PISA, aplicada a alunos na faixa etária dos 15 anos, são baseados os jovens que vão as escolas e estão dentro do sistema educativo. Infelizmente 37% dos vietnamitas de mais de 15 anos ainda não estão escolarizados, o que traz questionamentos quanto a manutenção da qualidade do ensino com a ampliação da demanda escolar.
É necessário, dessa forma, que o governo do Vietnã adote medidas para absorver aos colégios as crianças desfavorecidas pelo sistema de ensino, sem desequilibrar a gestão educativa atual. Um desafio bastante razoável, mas que dado os resultados alcançados pelo país até então, parece disposto a ser cumprido.
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Como visto, a realidade pobre e o nível de desenvolvimento bem aquém do nosso país não tem sido um impedimento para o Vietnã até agora.
Você acredita que ele conseguirá manter seus níveis educacionais elevados?
O que você acha que podemos aprender com o Vietnã?
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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