Você sabe de onde vem a voz que lê os textos dos jogos do Escribo Play? Acertou quem pensou no próprio celular ou tablet. O app usa os ajustes no menu Acessibilidade do aparelho. Confira a seguir como funciona a configuração das opções de acessibilidade do Escribo Play nos aparelhos de sistemas Android e iOS.
Atualizado em 29/04/2020.
Aparelhos Android
Para acessar, entre no menu “Configurações” e depois em “Acessibilidade”.
Se você precisa regular o tom ou a velocidade da leitura, toque em “Conversão de texto em voz” e procure pelas barras de “Taxa de Fala” para escolher entre voz rápida ou devagar (número 1 na imagem abaixo) e “Frequência do som” para voz grave ou aguda (2).
No botão “Reproduzir” (3), você ouve uma pequena demonstração de como será a fala da voz do sistema. E em “Idioma” (4), você pode mudar a língua falada por ela.
Nas configurações do “Mecanismo preferencial” (5), você ainda pode amplificar o volume da fala (6), controlar a entonação da voz para que seja pouco expressiva, neutra ou muito expressiva (7) e instalar dados de voz para diversos outros idiomas (8).
Vale ressaltar que as configurações padrão da conversão de texto em voz podem variar de acordo com o celular ou tablet. Elas podem incluir os mecanismos mais tradicionais, como o do Google e o do fabricante do aparelho, e de terceiros – caso você tenha instalado pela Google Play Store.
iOS: iPhones e iPads
A partir da versão 1.1.5 do Escribo Play, a velocidade da leitura da tela passou a ser fixada para garantir uma melhor usabilidade e que as crianças entendam o que é falado com mais fluidez. Para versões anteriores, a principal ferramenta de acessibilidade do iOS é o VoiceOver. Esse é um recurso que transforma em áudio detalhes de texto na tela dos aparelhos. Ele é essencial para configurar as opções de acessibilidade do Escribo Play. Para acessá-lo, no menu principal toque em “Ajustes”, depois “Geral”, “Acessibilidade” e procure pelo VoiceOver.
Toque na chave de ativação acima, à direita, para iniciar o “VoiceOver” (9).
Em “Fala” (10), toque em “Adicionar Novo Idioma” e, depois de escolher o idioma que deseja, você será redirecionado(a) para a tela Fala. Em “Voz”, escolha a que deseja usar.
Ainda em fala, determine os padrões de fala tocando em Padrão ou Qualidade Aprimorada. O download dessa voz será iniciado caso escolha Qualidade Aprimorada, não tiver feito o download e o dispositivo esteja conectado a uma rede Wi-Fi.
Também é possível aumentar ou reduzir a velocidade de fala movendo o controle deslizante da voz (11).
Em algum jogos do Escribo Play, você pode jogar com o auxílio da leitura para deficientes visuais ou de uma intérprete em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras).
Para ativar essas configurações, toque no menu no canto superior direito da tela de seleção de jogos (12) e, em Acessibilidade, escolha a modalidade.
Na opção para deficientes visuais, o sistema faz a leitura de toda a tela, explicando o jogo e dando contexto à criança. Para quem selecionar Libras, intérpretes orientam as crianças a cada novo nível sobre como brincar com os joguinhos. Esse conteúdo adicional é aberto automaticamente pelo YouTube do celular ou tablet.
Essa é só uma das vantagens de brincar com o Escribo Play. Quer saber mais sobre os nossos jogos educativos? Entre em contato conosco no nosso WhatsApp neste link. Aproveite e assine agora as notificações do blog da Escribo no sininho ao lado e ficar por dentro de novidades sobre tecnologia e educação com nosso conteúdo em primeira mão. Até mais!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Neste texto, vamos resumir e analisar os fatores que contribuem com o insucesso na alfabetização, indicando quais deles podem ser objeto de intervenções de gestores educacionais e professores. Boa leitura.
Pontos principais Pais: não deixem de participar da vida escolar dos(as) filhos(as): como reforço ao aprendizado, frequentem eventos escolares e cultivem o hábito de leitura junto às crianças. Professores: é importante se avaliar e entender de que forma os hábitos (leitura, motivação, sensação de adequação, por exemplo) de quem ensina reflete no aprendizado das crianças. Isso deixa as turmas mais próximas aos(às) professores(as). Gestores escolares: procurem, sempre que possível, atentar para a estrutura da escola (materiais educativos, salas, banheiros) e estar sempre próximos dos(as) alunos(as). Esse envolvimento favorece o sucesso das atividades em aula.
O fraco desempenho dos(as) estudantes em leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental é um sério problema para o sistema educacional brasileiro. Segundo as avaliações nacionais [1]:
66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.
Esse problema também chega ao ensino superior, que conta com 50% de estudantes que são analfabetos funcionais [2]. É dentro desse contexto que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os alunos do ensino fundamental no Brasil.
O fracasso no aprendizado de leitura e escrita, uma questão estudada por várias disciplinas
A perspectiva histórica
Os livros de alfabetização das séries iniciais podem ser de grande importância para entender os baixos níveis de desempenho dos alunos. Esses livros surgiram por volta de 1890 e muitos professores ainda os utilizam como o seu principal guia – um reflexo dos embates metodológicos que ainda ocorrem no campo da alfabetização [3].
Desde 1980, o paradigma educacional mais importante no Brasil é o construtivismo, que foi fortemente promovido pela academia e pelo governo até 2018. Infelizmente, com base no pressuposto de que os alunos devem construir seus conhecimentos, uma grande parte dos educadores brasileiros esquece de dar atenção especial a concepção e planejamento das experiências didáticas que irão oferecer aos seus alunos [4]. Essa deficiência pode ser uma das razões que explica a falta de um método de alfabetização que seja reconhecido como efetivo nos anos iniciais [4]. Dentro deste contexto, a abordagem fonética começou a se proliferar depois dos anos 2000. Seus críticos, no entanto, dizem que é muito mecânica e não torna as crianças cidadãos alfabetizados e letrados [3].
Antropologia e o “jeitinho” na educação
Uma análise antropológica nos leva a crer que certos(as) professores(as) usam o “jeitinho brasileiro” quando deveriam adotar, por exemplo, práticas de letramento. Eles fingem estar de acordo e parecem ensinar pelo viés do letramento mas, na verdade, faltam componentes essenciais para uma proposta letrada. A pesquisa etnográfica revelou um processo desanimador em que professores e escola segregam alunos que não atendem aos padrões de comportamento e desempenho [5].
Raça, classe, gênero e sua influência no ensino
A perspectiva sociológica fornece uma visão interessante sobre a desigualdade socioeconômica e racial que ainda afeta os(as) alunos(as) dos anos iniciais. Também revelou o fato de que o censo brasileiro não é um instrumento confiável para avaliar a alfabetização porque é baseado apenas na resposta “sim” ou “não”. Em vez disso, futuros estudos devem se concentrar em dados de avaliações nacionais para avaliar a situação racial, socioeconômica e as lacunas de aprendizagem.
Relações entre educação e a economia
O aprendizado na educação infantil, o histórico familiar e o envolvimento dos pais são os principais fatores que influenciam o desempenho durante a alfabetização [6]. Enquanto isso, as famílias analfabetas experimentam alguns benefícios excepcionais quando seus filhos aprendem a ler e escrever, incluindo melhorias na saúde e na renda [7].
Principais fatores dos baixos níveis de alfabetização
Escola, família, professor e aluno foram as quatro dimensões identificadas para organizar causas e fatores ligados aos baixos níveis de aprendizado de leitura e escrita na alfabetização.
Visando demonstrar potenciais ações que podem ser conduzidas por gestores educacionais e professores, fizemos uma classificação das causas que contribuem com o baixo nível de aprendizado. O nível de importância para cada fator foi atribuído de acordo com uma regra simples: o que influenciava diretamente a aprendizagem tinha grande importância. Fatores de segunda ordem, como a contribuição do(a) diretor(a), tinham importância moderada. Duas características foram observadas para definir se um fator tinha resultados interessantes em menos de um ano letivo (acionável): o tempo de resposta e o custo da intervenção.
A Escola
A primeira dimensão é a escola, que inclui um fator que não é acionável facilmente: a infraestrutura física fraca (falta de banheiros e salas de aula adequadas). Apesar disso, dois pontos são acionáveis. O primeiro é uma administração frágil, com diretores pouco engajados e pouco hábeis [8]. O segundo envolve materiais escolares inadequados de baixa qualidade ou em falta; jogos infantis, quadros brancos e tecnologias educacionais. Em um país onde a formação de professores é tida como deficiente em pedagogia, os livros didáticos e tecnologias educacionais podem desempenhar um papel relevante nas atividades em sala, indicando que esse é um fator importante [9].
A Família
A segunda dimensão é a família. Aqui, um ponto muito importante
não é acionável: pobreza e baixo capital social. Quase 82% das famílias de
estudantes brasileiros vivem com menos de R$ 2.364 por mês [10]. A falta de
formação também tem importância moderada – 56% dos pais não concluíram o ensino
médio [10]. Há inclusive uma forte influência do desempenho escolar da mãe na
conquista inicial da alfabetização de seus filhos [11].
Infelizmente, mudar a realidade das famílias não é viável em curto prazo
pensando na maioria dos gestores escolares e professores.
Outro fator moderado é o pouco envolvimento dos familiares com
a vida escolar das crianças. No Brasil, 39% dos pais frequentam apenas alguns
eventos escolares e 18% simplesmente não frequentam. Há também pais que se
importam, mas não sabem como colaborar com a alfabetização de seus filhos. Um
dado comparativo sobre essa questão é que apenas 42% dos pais lêem livros no
país. Desses, 63% lêem a Bíblia. Apenas 17% deles lêem jornais diários e 5% lêem revistas [10]. Isso
demonstra que a maioria das famílias não exercita a leitura nem a linguagem
escrita todos os dias. Nesse sentido, as políticas públicas poderiam incentivar
os pais a lerem para seus filhos antes de ingressarem na escola, mesmo que os
pais sejam analfabetos e não dominem a língua escrita [11].
O(A) Professor(a)
A terceira dimensão, o professor, inclui fatores acionáveis
de importância moderada: pouca consciência sobre os próprios conhecimentos
[12], pouca motivação e baixa autoeficácia [13]. Em último, vêm as suas fracas
abordagens de ensino, nas quais há uma enorme distância entre o que é dito e o
que é visto na prática em sala de aula. Especialmente quando se fala sobre a
criação de atividades que viabilizam que os(as) alunos(as) dos anos iniciais do
ensino fundamental usem a escrita no seu cotidiano social (letramento). Nos
anos seguintes, fica evidente que a leitura e a escrita não são parte da vida
dos alunos. A razão para a dificuldade em promover hábitos de leitura entre os
estudantes pode vir do estilo de vida do(a) professor(a), já que 37% deles(a)
nunca lêem e 18% raramente lêem [14].
Professores(as) brasileiros(as) perdem muito tempo
disciplinando estudantes, o que deixa menos tempo para o ensino em si [11].
Isso pode apontar para métodos pedagógicos falhos, mas também pode estar ligado
ao baixo envolvimento das famílias no processo [10]. Outra descoberta triste
foi a tendência entre os professores dos anos iniciais brasileiros de culpar a
pobreza, a falta de motivação dos estudantes e o envolvimento da família como
as principais razões para o baixo desempenho escolar [15]. Como já foi citado,
esses fatores podem de fato contribuir para as dificuldades do(a) aluno(a), mas
há educadores que usam esses argumentos para esconderem deficiências e se
oporem às iniciativas de transformação das suas instituições em escolas
eficazes.
O(A) Aluno(a)
Um fator acionável moderado é a falta de habilidades
metacognitivas. Um treinamento específico poderia ser feito para melhorá-las na
alfabetização e nos demais aprendizados [16]. O último fator é altamente
significativo e acionável, que é a baixa motivação e autoeficácia do(a)
aluno(a). A maioria dos(as) desistentes disse que a razão principal para terem
abandonado a escola era a falta de motivação [17].
A falta de sucesso do(a) aluno(a) na alfabetização, nos anos
iniciais, leva ao fracasso nas séries seguintes [6]. Além disso, filhos de
famílias carentes que têm acesso a um computador em casa apresentaram maiores
taxas de aproveitamento [6]. Isso quer dizer que esses(as) estudantes têm
níveis mais altos de autoeficácia e motivação [18]?
Para concluir, a Tabela 1 abaixo resume todos os fatores identificados. Existem três fatores acionáveis de grande importância: materiais de aprendizagem inadequados, abordagens de ensino fracas e motivação e autoeficácia inadequadas do aluno. Esses fatores podem ser atacados por gestores e educadores que estejam planejando mudanças em suas instituições e práticas de ensino-aprendizagem.
Categoria
Fator
Acionável
Importância
Escola
Infraestrutura física inadequada
Não
Moderada
Gestão e engajamento fracos
Sim
Moderada
Material de ensino inadequado
Sim
Alta
Família
Pobreza e baixo capital social
Não
Alta
Falta de formação educacional
Não
Moderada
Baixo engajamento
Sim
Moderada
Professor(a)
Fraca motivação e autoeficácia
Sim
Moderada
Baixas habilidades metacognitivas
Sim
Moderada
Abordagens de ensino fracas
Sim
Alta
Estudante
Capacidades metacognitivas ruins
Sim
Moderada
Má motivação e autoeficácia
Sim
Alta
Referências
[1] Qedu. (2015a). Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponível em: http://goo.gl/R6BX3w
[2] Globo. (2012, November 26). DFTV
2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Disponível em: http://goo.gl/8n6ACD
[3] Mortatti, M. D. R. L. (2009). A
“querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: Contribuições para
metodizar o debate. Acolhendo a
alfabetização nos países de língua portuguesa, 3, 91-114.
[4] Mortatti, M. D. R. L. (2006).
História dos métodos de alfabetização no Brasil. Proceedings from Seminário alfabetização e letramento em
debate. Brasília, DF: MEC. Disponível em: http://goo.gl/PvNsh8
[5] Picetti, J. S., & Real, L.
M. C. (2008). A relação entre os saberes comunitários e os conteúdos escolares
no processo de alfabetização.Acolhendo a
Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 2(3), 10-23.
[6] Costa, L. O., Loureiro, A. F.,
& Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos
estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.
[7] Ribeiro, F. G., & Carraro,
A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.
[8] Ribeiro, F. G., & Cechin, L.
A. (2012). As externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de
curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.
[9] Falsarella, A. M. (2013). O
gestor escolar em meio a discursos contraditórios: Formação docente e
desempenho dos alunos. Colabor@, 8(30).
[10] Saviani, D. (2009). Formação de
professores: Aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro.
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[11] Ibope (2014). Atitudes pela Educação. Disponível em:
http://goo.gl/OOxhLt
[12] Fuller, B., Dellagnelo, L.,
Strath, A., Bastos, E. S. B., Maia, M. H., de Matos, K. S. L., … &
Vieira, S. L. (1999). How to raise children’s early literacy? The influence of
family, teacher, and classroom in northeast Brazil. Comparative education review, 43, 1-35.
[13] Portilho, E. M. L., &
Dreher, S. A. S. (2012). Categorias metacognitivas como subsídio à prática
pedagógica. Educação e Pesquisa, 38(1),
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[14] Ibope (2009). A educação vista pelos olhos do professor.
Disponível em: http://goo.gl/S0rtgy
[15] Qedu (2015b). Respostas dos professores. Disponível
em: http://goo.gl/0EqYYH
[16] Davis, C. L. F., & Miranda,
M. I. (2012). Problemas de aprendizagem na alfabetização: Contribuições da
pesquisa-ação escolar. Educação e Filosofia,
26(51), 289-312.
[17] Monteiro, C. R. (2010). A
aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. Cadernos de Educação, 35, 271-302.
[18] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília, DF:
Fundação Getúlio Vargas.
[19] Couse, L. J., & Chen, D. W.
(2010). A tablet computer for young children? Exploring its viability for early
childhood education. Journal of Research
on Technology in Education, 43(1),
75-96.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Olá! No artigo de hoje, vamos discutir os investimentos em educação nos anos iniciais do ensino fundamental e quais resultados eles geram nos(as) alunos(as) ao fim do período de alfabetização (3ª série). Ele também faz parte da minha produção para o doutorado na Johns Hopkins University.
Pontos principais Pais: o investimento na educação infantil e nos anos iniciais traz ganhos duradouros na vida da criança. Professores: quando você desenvolve um bom trabalho de alfabetização, a vida das famílias de seus alunos de baixa renda melhora significativamente. Gestores escolares: dedique seu tempo a fortalecer o aprendizado na educação e nos anos iniciais para melhorar a renda e a saúde das famílias de seus estudantes de baixa renda.
Quando o assunto é a educação brasileira, é preciso analisar a fundo o baixo desempenho no aprendizado de leitura e escrita na educação básica. De acordo com avaliações nacionais [1]:
66% dos alunos terminam o ensino fundamental sem atingir o nível mínimo desejado para língua portuguesa; e
85% terminam o ensino médio sem aprender o mínimo esperado de matemática.
O problema também atinge o ensino superior, que de acordo com algumas estimativas conta com 50% de estudantes analfabetos funcionais [2]. Vamos analisar alguns aspectos econômicos do ensino no Brasil.
Educação e Economia: dois lados de uma mesma moeda
Para começar, vamos olhar para os investimentos nas escolas. O governo brasileiro ampliou os gastos no ensino público nas últimas décadas. De 2005 a 2013, a despesa média por estudante do ensino fundamental aumentou em média 11% ao ano [3].
Infelizmente, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) melhorou apenas 4% ao ano durante o mesmo período [4]. Isso deixa uma série de questões em aberto. Por que a qualidade no ensino evolui menos que o investimento? Devemos destinar mais recursos à alfabetização? O que acontece quando o(a) aluno(a) começa a aprender a ler e escrever com mais facilidade? Esses resultados ocorrem de imediato ou somente quando os(as) alunos(as) ficam adultos(as)?
Pesquisadores investigaram se o baixo desempenho nos primeiros anos de alfabetização afeta diretamente a qualidade da educação básica como um todo [5]. Eles queriam saber se os alunos que não aprenderam a ler e escrever no tempo esperado reprovavam mais vezes que os outros. Estes alunos terminam ficando em turmas com colegas muito mais novos, fato chamado de “distorção de idade-série”. Esse é um problema sério na educação pública brasileira.
Em 2004, apenas 16% dos(as) alunos(as) do segundo ano do ensino fundamental estavam alfabetizados no Ceará, um dos estados mais pobres do Brasil. Para tentar resolver esse problema, o governo estadual criou o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic). Após uma análise econômica com dados do Paic e outras fontes [5], pesquisadores concluíram que:
o analfabetismo está pesadamente ligado à distorção de idade-série;
os alunos que não atendem aos padrões esperados para a faixa etária geralmente não são brancos, são do sexo masculino e vivem em áreas rurais;
crianças que viviam sem as mães tinham maiores chances de serem analfabetas;
a presença do(a) aluno(a) nas aulas da educação infantil têm influência positiva no aprendizado de leitura e escrita;
alunos(as) que moravam em casas com computadores tiveram maior aproveitamento.
Outra abordagem interessante é estudar de que forma o desempenho do(a) aluno(a) interfere na manutenção da família – por exemplo, em relação à renda familiar, alimentação e saúde familiares.
O programa Bolsa Família, por exemplo, foi objeto de um estudo [6] que concluiu que, nas famílias cujos adultos são analfabetos, o bom desempenho do(a) aluno(a) nos estudos pode aumentar a renda familiar. As famílias que tinham pelo menos um aluno alfabetizado recebiam 10,96% mais do que as famílias com crianças analfabetas.
Outra pesquisa [7] identificou que em famílias com pelo menos um membro alfabetizado, os analfabetos apresentam até 9,5% menos chance de serem fumantes, um dado relevante para a saúde pública.
Os primeiros anos de alfabetização de fato são críticos para o desenvolvimento do(a) aluno(a), pois afetam as próximas etapas do aprendizado [5]. Também ficou claro que os bons resultados na alfabetização estão diretamente ligados ao aproveitamento do(a) estudante na educação infantil, seu histórico familiar e a presença e participação dos pais em todo o processo.
Outro ponto interessante é que os(as) estudantes que moram em casas que possuíam computadores tiveram maiores taxas de aproveitamento [5]. Embora isso dê a entender que a tecnologia está ajudando essas crianças, também é possível que as taxas maiores ocorram porque as famílias têm um status socioeconômico mais alto e, por isso, podem comprar computadores. Os próximos passos seriam verificar se, nos dias de hoje, essas descobertas seguem verdadeiras e checar os índices do uso de computadores, celulares e tablets por crianças.
Uma ótima notícia é que as crianças alfabetizadas ajudam diretamente às famílias de baixa renda a receberem melhores salários [6]. Para essas famílias, os resultados de uma educação de qualidade acontecem a curto prazo. Aparentemente, ter alguém alfabetizado em casa permite que os trabalhadores mais pobres, com o passar dos anos, tenham melhores informações sobre as oportunidades de emprego e aprendam a negociar com seus futuros empregadores.
Um dos principais e mais curiosos avanços é a saúde da família quando um de seus membros é alfabetizado [7]. É gratificante para os(as) educadores(as) ter a confirmação de que investir nos primeiros anos de alfabetização ajuda a melhorar tanto o presente como o futuro das famílias carentes. Outro ponto a ser visto é descobrir se há uma relação entre a formação de professores, seus salários e o desempenho dos(as) alunos(as).
Seria interessante descobrir também como outros tipos de investimentos na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental refletem na alfabetização dos(as) alunos(as). Por exemplo, todos os anos, o governo nacional compra aproximadamente R$ 385 milhões em livros didáticos para alunos do primeiro ao terceiro ano.
Com base em uma pesquisa feita nos Estados Unidos [8], podemos colocar a seguinte questão: qual o impacto real que esse investimento causa no aprendizado aqui no Brasil? Vale a pena investir todos estes recursos em livros? Quanto os alunos que recebem bons livros aprendem a mais?
Por fim, vale ressaltar que possuímos um ensino privado muito próspero, que representa 21% dos(as) estudantes do país, sendo a maior parte deles(as) de famílias de classe média e alta [1]. Em média, os alunos da escola particular do primeiro ao quinto ano têm desempenho 26% melhor do que os alunos das escolas públicas em avaliações externas. No ensino médio, essa diferença é de 37%. Alunos de escolas particulares estão entre os melhores nessas avaliações e frequentam as melhores universidades.
Seria interessante comparar esses dois grupos de escolas (públicas e privadas), contrastando seus recursos (por exemplo, professores, históricos familiares, infraestrutura, materiais pedagógicos e tecnologias aplicadas) e o desempenho dos alunos. Essa abordagem pode nos apontar ideias erradas que podem estar presentes na mentalidade brasileira e nos ajudar a desvendar o que precisamos fazer nas escolas públicas para garantir que toda criança possa atingir as metas de aprendizagem.
Referências
[1] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil. Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w
[2] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD
[3] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2015). Investimento público direto em educação por estudante em valores reais, por nível de ensino. Retrieved from: http://goo.gl/KDRc5j
[4] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Taxa de aprovação, Prova Brasil, Ideb e projeções. Retrieved from: http://goo.gl/5KJcnT
[5] Costa, L. O., Loureiro, A. F., & Sales, R. S. (2009). Uma análise do analfabetismo, fluxo e desempenho dos estudantes do ensino fundamental no estado do Ceará. Revista de Desenvolvimento do Ceará, 1, 169-189.
[6] Ribeiro, F. G., & Cechin, L. A. (2012). As Externalidades da alfabetização podem gerar uma porta de saída de curto prazo da pobreza para os beneficiários do Bolsa Família?. Revista de Economia, 38(2), 127-148.
[7] Ribeiro, F. G., & Carraro, A. (2014). Tabagismo e externalidades da alfabetização no Ceará. Revista de Economia, 40(2), 150-172.
[8] Coleman, J. S., Campbell, E. Q., Hobson, C. J., McPartland, F., Mood, A. M., Weinfeld, F. D., et al. (1966). Equality of educational opportunity. Washington, DC: U.S. Government Printing Office.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Quando as crianças brincam, elas exercitam a criatividade, a capacidade de desenhar e têm convívio social com outras crianças, fatores indispensáveis no aprendizado da fala e de leitura e escrita. É sobre essas temáticas que tratamos neste novo artigo, também parte do meu doutorado na Johns Hopkins University.
Pontos principais
Pais: sempre estimulem os(as) filhos(as) a brincar com outras crianças. É através das brincadeiras que os pequenos desenvolvem a imaginação e avançam no aprendizado. Professores: aulas com atividades em dupla ou brincadeiras em grupo incentivam a socialização entre as crianças, melhorando o processo de alfabetização. Gestores escolares: é importante que o ensino da linguagem escrita tenha um propósito: brincar, desenhar, conversar/socializar devem estar alinhados aos objetivos do aprendizado de leitura e escrita.
As teorias socioculturais começaram a surgir com os trabalhos do psicólogo russo Vygotsky [1]. Naquela época, eram populares as abordagens de estímulo-resposta e as teorias Gestalt. Embora seja comum rotular o trabalho de Vygotsky como construtivista, ele era diferente de outros estudiosos desse campo, como o pensador suíço Jean Piaget. Vygotsky argumentava que a convivência social tinha uma função essencial no desenvolvimento humano [2].
Essas interações começam cedo e culminam no desenvolvimento da linguagem, ferramenta que usamos inicialmente para nos comunicarmos e que evolui para se tornar uma parte vital do raciocínio humano [1]. Ao dominar a fala, as crianças assumem o controle sobre suas ações, criam alternativas para resolver um problema e podem planejar o futuro [1].
Nesse sentido, Vygotsky chegou ao conceito da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que afirma que a capacidade de uma pessoa para resolver um problema aumenta quando é auxiliada por um colega mais capaz ou por um instrutor [1]. Com algumas interações, o(a) aluno(a) será capaz de realizar a tarefa sozinho(a) e o(a) professor(a) poderá focar nos próximos desafios de aprendizado. Leia mais sobre a zona de desenvolvimento proximal neste artigo.
Dentro deste contexto de promoção de interações, é indispensável destacar a importância do brincar na educação infantil. Nesta etapa, a criança começa a desejar coisas que não pode alcançar [1] como pilotar um avião, e é neste momento que as crianças começam a desenvolver a imaginação. É através das brincadeiras que a criança consegue realizar muitos de seus desejos (ex: levar seus amigos da escola para um voo cheio de acrobacias, por exemplo!) [1]. De acordo com Vygotsky, quando as crianças brincam, elas vivenciam uma zona de desenvolvimento proximal, onde realizam ações que vão além do esperado para suas idades e avançam, portanto, no seu desenvolvimento.
O desenvolvimento da linguagem escrita
Um dos pontos mais interessantes do trabalho de Vygotsky em relação à alfabetização é o que ele afirma sobre a linguagem escrita. Para ele, o desenvolvimento dessa habilidade começa quando a criança passa a usar gestos manuais (apontar e tocar) para representar os sinais visuais (por exemplo, o objeto que ela está olhando e deseja tocar) [1].
Isso se desenvolve até a criança começar a desenhar, quando elas usam esses gestos para fazer rabiscos. Mais do que um rabisco consciente, o desenho no início da educação infantil é uma forma natural de registrar no papel o que as crianças comunicam com seus gestos [1].
O desenvolvimento do simbolismo é outro aspecto importante do aprendizado da linguagem escrita. O simbolismo é bastante presente quando a criança está brincando, quando muitas vezes atribui um outro significado a um objeto [1]. Por exemplo, um pequeno bloco de papel pode se tornar um avião quando a criança o usa para jogar como se fosse um avião. A mesma ligação simbólica pode ser feita com muitos outros objetos (por exemplo, um controle remoto, um telefone celular) se eles servem ao propósito de se mover como um avião de brinquedo – inclusive, não é necessário haver semelhança com uma aeronave real.
A representação simbólica então surge com o desenho na educação infantil, quando a criança começa a traduzir seu discurso verbal (o que fala) em discurso gráfico (o que desenha) [1]. Esse processo evolui e chega ao desenvolvimento da escrita simbólica. Após a fase de três a quatro anos de idade, a maioria das crianças conseguirá usar símbolos escritos e então atribuir palavras ou frases para ações (por exemplo, repetir frases maiores do que esperamos que elas consigam memorizar).
Por isso é importante o ensino da linguagem escrita na educação infantil, mas esse ensino precisa ser organizado de forma que a leitura e a escrita tenham um propósito [1], criando oportunidades para nossos filhos se tornarem letrados, incentivando-os a socializar e usar a linguagem de forma real e relevante.
A maioria dos estudantes das escolas brasileiras, da primeira à terceira série, não aprende o mínimo necessário em leitura e escrita [4]. Uma visão sociocultural pode nos fornecer diversos insights sobre os fatores que contribuem para este baixo nível de aprendizado no ambiente escolar. Podemos começar pensando sobre o desenvolvimento da fala nos primeiros anos da infância.
Para Vygotsky, a criança desenvolve a fala por meio das vivências sociais já nos primeiros anos de vida. O Brasil ainda é um país em desenvolvimento, e as famílias carentes geralmente não possuem os meios adequados para criar seus filhos. Por exemplo, apenas 20,8% das crianças brasileiras estão em creches [5]. A maioria das famílias tem que deixar as crianças com vizinhos ou familiares, e essas pessoas podem não interagir com a criança de forma adequada – ou por terem poucos recursos ou simplesmente não saberem o que fazer para fortalecer o desenvolvimento das crianças.
Por isso, muitas crianças passam menos tempo em sua zona de desenvolvimento proximal, atrasando seu progresso. Passam muito tempo em frente à TV quando deveriam interagir com amigos e adultos, brincar de “faz de conta” e desenhar para desenvolver os discursos orais e gráficos, processos fundamentais ao aprender a linguagem escrita. Essas crianças provavelmente chegam menos desenvolvidas do que poderiam estar quando começam a estudar.
Na educação infantil a criança ainda enxerga o aprendizado como algo divertido mas, infelizmente, ao chegar no primeiro ano do ensino fundamental muitos alunos reclamam que a escola se torna chata. Isso provavelmente acontece porque o aprendizado de leitura e escrita, em muitas escolas brasileiras, ainda usa um processo mecânico que se concentra na codificação e decodificação de símbolos escritos [6]. Parece que os professores não aplicam a dica dada por Vygotsky: permitir que as crianças interajam e se engajem em tarefas sociais enquanto aprendem a ler e escrever.
Isso pode acontecer porque, no Brasil, a maioria graduações voltadas à Educação se concentra no modelo de conteúdo, que enfatiza um histórico cultural geral e a disciplina que o(a) graduando(a) irá ensinar quando se formar. Isso deixa uma grande lacuna, uma vez que a pedagogia, quando ensinada, é apresentada de uma maneira abstrata, sem experiências reais em sala de aula [7].
Aparentemente, a falta de formação pedagógica adequada está entre as principais causas da falta de engajamento do estudante com a escola, que começa a se manifestar nos anos iniciais do ensino fundamental. De acordo com a perspectiva sociocultural, a escrita deve ser ensinada naturalmente; os educadores têm de fornecer meios para as crianças descobrirem, enquanto brincam, que a leitura e a escrita são necessárias. Quando isso acontece, elas geralmente se envolvem no aprendizado.
No entanto, é injusto não lembrar que, durante os anos iniciais, os pais e o sistema educacional brasileiro como um todo esperam que os professores apliquem provas formais, dentro do sistema de notas (de 0 a 10). Como a maioria dos pais e gestores se atém apenas às notas, o nível de aprendizado e de riqueza da linguagem escrita dos alunos pode acabar ficando de lado. Apesar disso, esse aprendizado precisa ser o objetivo principal do ensino.
Nossa visão, alicerçada em Vygotsky, é de que devemos buscar uma educação mais engajante e que promova o desenvolvimento da linguagem oral e escrita rica . Tal busca deve iniciar na educação infantil com o ensino lúdico, porém sistemático, das habilidades que levam a leitura e a escrita.
Referências
[1] Vygotsky, L. S. (1980). Mind in society: The development of higher psychological processes.Cambridge, MA: Harvard University Press.
[2] Ernest, P. (2010). Reflections on theories of learning. In B. Sriraman, & L. English (Eds.), Theories of Mathematics Education(pp. 39-48). New York, NY: Springer.
[3] Soares, M. (1998). Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte, MG: Autêntica.
[4] Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from:http://goo.gl/wzjpiF
[5] Ibope. (2013). Primeiríssima infância: Da gestação aos três anos. Retrieved from: http://goo.gl/u9YpVM
[6] Mortatti, M. D. R. L. (2000). Cartilha de alfabetização e cultura escolar: Um pacto secular.Caderno Cedes, 52, 41-54.
[7] Tanuri, L. M. (2000). História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, 14, 61-88.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Como vimos neste artigo, a educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os estudantes não aprendem o suficiente e os sistemas educacionais não estão conseguindo mudar essa triste realidade. Neste texto vamos entender como o baixo nível de aprendizado é afetado e contribui para a perpetuação da desigualdade social.
Pontos principais Pais: descobrir os fatores que influenciam o desenvolvimento das crianças para garantir que elas aprendam mesmo em ambientes menos favoráveis. Gestores: observar a composição das turmas e de onde vêm seus alunos para mapear o desenvolvimento delas e traçar estratégias mais efetivas. Professores: identificar o contexto onde a criança está inserida para trazer práticas mais significativas, aumentando o interesse dos alunos no aprendizado.
A educação básica no Brasil está em uma situação muito complicada. Os(as) estudantes não aprendem o suficiente, o que coloca o Brasil entre os piores desempenhos nas avaliações internacionais [1]. Além disso, a taxa de abandono é de 25%, a terceira maior no mundo, o que significa que milhões de estudantes abandonam nossas escolas todo ano reclamando de que a educação fornecida é desinteressante [2]. O baixo desempenho dos(as) alunos(as) nos primeiros anos da alfabetização é certamente um fator importante nesse contexto. De acordo com avaliações nacionais [3]:
● 66% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo necessário em português; e
● 85% dos(as) alunos(as) terminam o 9º ano sem aprender o mínimo esperado em matemática.
O problema se estende até o ensino superior, onde estimativas indicam que 50% dos(as) estudantes são analfabetos funcionais [4].
É nesse contexto em que se encontram os baixos níveis de alfabetização entre os(as) alunos(as) da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental no Brasil (primeiro ao terceiro ano). Diversos fatores podem contribuir para tal problema, e este artigo tenta identificar evidências que possam dar mais informações sobre o problema.
A abordagem sociológica pode ajudar a encontrar as relações sociais que afetam o desempenho dos estudantes. Diferentes variáveis foram analisadas para compreender a razão pela qual esse problema ocorre, como raça, gênero, status socioeconômico, histórico do(a) professor(a) e a região na qual o(a) aluno(a) mora.
A evolução da alfabetização no Brasil de acordo com os censos
Uma análise dos dados dos censos de 1872 a 2000 [5] mostra que:
Houve uma redução constante na taxa de analfabetismo de 1890 até 1950 (de 82,5% para 57,2% de analfabetos);
Uma diminuição mais rápida ocorreu entre 1950 e 1960 (chegando a 46,7%);
De 1970 a 2000, a redução da taxa de analfabetismo no Brasil foi mais lenta, mas conseguimos reduzir o percentual de analfabetos para 16,7% em 2000;
Em 2000, apenas 1/3 da população com mais de 15 anos concluiu o ensino fundamental.
A seguir, vamos discutir por que que esse percentual que parece ser pequeno na verdade não é um indicativo confiável sobre as habilidades de leitura e escrita dos brasileiros.
Gênero, raça e renda na Alfabetização
Os dados do censo de 1940 a 2000 também foram utilizados para identificar relações entre o aprendizado de leitura e escrita e questões de gênero e raça [6]. A análise dos censos nos mostra que:
O número de analfabetos na população diminui com o passar do tempo, sendo a queda entre as mulheres é muito mais rápida. Em 1991 as mulheres superam os homens em número de pessoas alfabetizadas;
Há uma diferença clara nas taxas de alfabetização entre grupos raciais diferentes;
Populações asiáticas e brancas aprenderam a ler e escrever muito mais rápido do que as negras e pardas.
Analisando em conjunto os dados do censo e das Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios no período de 1990 a 2010 [7] é possível concluir que:
Levando em consideração gênero e raça, a desigualdade de aprendizagem começa cedo, aos sete anos de idade;
A desigualdade racial entre negros e brancos começa com uma diferença de 4% para estudantes de cinco anos de idade, crescendo rapidamente para 13% entre os de seis anos e 21% aos sete anos. Depois começa a diminuir, terminando em 3% para alunos de 14 anos.
No Censo de 2000 é possível perceber que essa desigualdade está diretamente relacionada à renda familiar: a taxa de analfabetismo nas famílias pobres (renda menor do que um salário mínimo) é vinte vezes maior do que nas famílias mais ricas (renda de mais de dez salários mínimos) [8].
Letramento e renda familiar
Os dados das pesquisas confirmam uma opinião que é a de diversos educadores: regiões carentes, alguns grupos raciais e famílias com renda mais baixa têm mais dificuldade para aprender a ler e escrever.
Por outro lado, eu avalio que esses estudos são falhos num ponto: eles usam dados do censo, que considera alfabetizados todos com mais de cinco anos de idade que saibam escrever um bilhete simples. Entram nessa conta quem já aprendeu a ler e escrever mas esqueceu, assim como quem só sabe escrever o próprio nome. Esse pensamento pode até servir para definir quem é alfabetizado, mas na sociedade atual não chega nem perto do que se espera que um letrado domine. Para entender a diferença entre alfabetizado e letrado, veja este texto.
Outro problema do censo é que suas informações são baseadas somente na opinião do membro da família que responde às perguntas. Não há testes reais. Alguém pode mentir para soar mais inteligente ou até mesmo errar ao julgar o que as outras pessoas da família podem fazer, por exemplo.
Parece que uma perspectiva sociológica pode ser muito mais válida se os estudos usarem dados de avaliações padronizadas. O problema é que os testes padronizados são recentes no Brasil e até agora só foram aplicados nos ensinos médio e superior.
Avaliações padronizadas
O Prova Brasil é um bom exemplo de avaliação padronizada. O teste foi aplicado pela primeira vez em 2005 com os alunos do quinto e nono ano. A gente pode até usar os dados do teste de quinta série para supor os níveis de alfabetização, mas não é um indicador preciso porque cobra conhecimentos além do que é esperado de alguém em processo de alfabetização.
A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é a ferramenta mais adequada para avaliar os problemas do aprendizado de leitura e escrita entre o primeiro e o terceiro ano – período oficial da alfabetização. Ele fornece uma pontuação que reflete as habilidades dos alunos, algo bem mais representativo do que a pergunta que o censo faz aos pais para contabilizar quem é alfabetizado.
Outro ponto interessante é que a ANA informa aspectos sociais e econômicos das famílias que são atendidas pelas escolas [9], como o nível de escolaridade dos pais, a renda e os bens que possuem. A ANA também inclui um índice que aponta o nível de escolaridade e a experiência de cada professor.
Com os dados da ANA, temos como cruzar diversas variáveis, incluindo o desempenho do aluno, sexo, raça, classe social, localização geográfica da escola, recursos escolares (dados retirados de censos educacionais) e formação do professor.
Infelizmente, de 2013 até agora apenas três edições da ana foram feitas. Se conseguirmos aplicar essa avaliação anualmente, certamente teremos mais chances de acompanhar a evolução dos estudantes e avaliar o impacto de novos projetos e/ou metodologias que sejam adotadas pelas escolas. Só assim seremos capazes de reduzir os baixos índices de alfabetização que existem no Brasil.
[2] Neri, M. (2009). Motivos da evasão escolar. Brasília: Fundação Getulio Vargas.
[3] Qedu. (2015). Aprendizado dos alunos: Brasil.Retrieved from http://goo.gl/R6BX3w
[4] Globo. (2012, November 26). DFTV 2ª Edição. Brasília, DF: Rede Globo. Retrieved from http://goo.gl/8n6ACD
[5] Ferraro, A. R. (2002). Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos. Educação & Sociedade, 23(81), 21-47.
[6] Beltrão, K. I. (2003). Alfabetização por sexo e raça no Brasil: um modelo linear generalizado para explicar a evolução no período 1940-2000. Retrieved from http://hdl.handle.net/11058/2691
[7] Ferraro, A. R. (2011). A trajetória das taxas de alfabetização no Brasil nas décadas de 1990 e 2000. Educação & sociedade. 32(117). 989-1013.
[8] Pinto, J. M., Oliveira, L. L. N., Brant, C. E. M. S., & Pascom, A. R. P. (2000). Um olhar sobre os indicadores de analfabetismo no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 81(199).
[9] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2013). Nota Explicativa da Avaliação Nacional da Alfabetização. Retrieved from http://goo.gl/E4NTq5
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
As crianças podem exercitar o que aprendem na escola com as tarefas de casa no menu “Atividades” do Escribo Play! O visual é um pouco diferente para as professoras e para as famílias, por isso, fizemos um passo a passo de como cada público pode aproveitar o que a ferramenta pode oferecer!
Famílias
Na tela de seleção de jogos (1), toque em “Atividades” no canto superior direito da tela.
Na próxima tela, mostramos o prazo para entrega, os acertos e as finalizações dos jogos (2). Além disso, também indicamos se a criança fez atividade no prazo (cor verde), com atraso (amarelo) ou se ainda não fez a atividade (vermelho). Toque no nome do jogo desejado para abri-lo e iniciar a partida.
Para agendar as atividades, a professora precisa tocar no botão jogar sem coletar dados (3), como indica a imagem acima.
Toque no pacote (4) onde está a atividade que será agendada.
Depois, na tela de seleção de jogos, toque no jogo selecionado e, quando a janela acima surgir, toque em Agendar atividade (5).
Na próxima tela, escolha o prazo de entrega e as turmas que vão fazer a atividade na aba Para turma ou, para selecionar e enviar a um grupo de alunos, toque na aba Para grupo (6). Em ambos os casos, finalize tocando no botão Agendar (7). Com essa funcionalidade, professoras e professores podem personalizar ainda mais o uso dos jogos pedagógicos de acordo com as necessidades de cada criança ou grupos de crianças em uma mesma turma.
O acesso dos professores e das professoras ao menu Atividades também fica no botão no canto superior direito da tela de escolha de jogos (8).
Nele, as professoras veem os jogos passados para casa, a data de agendamento e de entrega das atividades. A partir daqui, a professora pode seguir dois caminhos: ou tocar no nome do jogo para acompanhar o andamento das crianças ou selecionar o menu Quadro de Atividades (9), no canto direito da tela, como na imagem acima.
O professor pode ver o status da atividade para cada criança (tarefa feita, não feita ou com atraso). Além de listar o andamento das atividades, o Quadro de Atividade mostra também o percentual de realização de atividades para a turma. É bastante útil para que a escola acompanhe as crianças e turmas com melhor aproveitamento e as que precisam de mais estímulos diretos.
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Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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