Você tem o costume de contar histórias para o seu filho?
Com a aceleração da vida cotidiana alguns hábitos muito comuns entre pais e filhos foram perdendo a força ao longo do tempo. Ler para as crianças era umas das principais formas de conectar e aproximar pais e filhos e a contação de histórias era esperada com ansiedade e alegria pelos pequenos.
Hoje em dia, segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto Pró-livro em 2012, 50% dos brasileiros ainda não são considerados leitores. Aprofudando um pouco, é interessante observar alguns números referentes a influência da contação de histórias na infância.
Entre os considerados leitores, mais da metade dos respondentes relataram a experiência de narração de livros advindas de seus pais, tendo esse costume influência direta no estímulo a leitura do estudantes. Essa experiência entre os não leitores cai pela metade, apenas cerca de 26% do respondentes relataram tal hábito familiar na infância.
Muitos pais e mães tão logo a criança é alfabetizada acreditam que apenas comprar livros possíveis irá por si só promover o desenvolvimento leitor de suas crianças. A medida apesar de positiva, não pode ser encarada como a melhor forma de estímulo leitor, ou mesmo será a que mais impactará a capacidade de oralidade e letramento a longo prazo.
Apenas comprar livros para as crianças não vai estimular a leitura e o desenvolvimento.
Isso porque a aptidão para a leitura e compreensão de textos começa bem antes, está ligada ao desenvolvimento linguístico das crianças, ainda nos primeiros três anos de vida. Tem relação com o nível de vocabulário aprendido por ela mesmo antes da alfabetização, que é adquirido pela interação diária entre pais e filhos.
Nesse sentido, quanto maior o contato com histórias contadas e o desenvolvimento da oralidade melhor será o nível de aprendizado dos pequenos.
Narrar histórias, recitar poesias e rimas mais do que entreter as crianças são hábitos essenciais para seu desenvolvimento. É importante propiciar, portanto, o contato com diferentes palavras em diferentes contextos.
Os livros infantis nesse caso são excelentes auxiliadores por abarcarem uma infinidade de temas. Além disso, uma boa alternativa para diversificação de vocábulos é quando os pais podem adaptar uma história conforme seu propósito do dia.
No livro Banda da Floresta, por exemplo, a abordagem para narração do livro fica a critério do pai, que conta com imagens que “saltam” do livro e interagem com o leitor durante o decorrer do enredo.
A ideia inovadora mescla, justamente, a necessidade de comunicação e interação entre pais e filhos.
No livro “mágico”, os animais ganham vida através de um tablet ou smartphone e interagem com o leitor conforme o toque, garantindo a atenção das crianças muito facilmente durante a narração.
Para entender como funciona basta dar uma olhada no vídeo abaixo.
Você interage o suficiente com o seu filho?
O nível de vocabulário aprendido pelas crianças mesmo antes da alfabetização e a importância do cultivo desde cedo da interação entre pais e filhos, é comprovada por pesquisadores dos Estados Unidos.
Segundo uma pesquisa divulgada por especialistas da Universidade do Kansas, aos 3 anos de idade há uma diferença de vocabulário de 30 milhões de palavras entre crianças de famílias mais ricas e àquelas de baixa renda.
O estudo observou e analisou durante dois anos e meio a rotina de 42 famílias de diferentes níveis socioeconômicos uma hora por mês.
O objetivo era compreender tudo que comumente acontece nessas casas entre os três primeiros anos de idade, durante o momento que as crianças estão aprendendo a falar.
Os resultados mostraram que os níveis de interação e contato com a língua diferiam consideravelmente entre as famílias de acordo com o nível socioeconômico, com disparidades extraordinárias entre o número de palavras faladas, bem como os tipos de mensagens transmitidas.
Durante o estudo, os pesquisadores constataram que de 86% a 98% das palavras registradas no vocabulário de cada criança consistia em palavras também registradas no vocabulário de seus pais.
E não eram só as palavras usadas eram praticamente idênticas, mas também o número médio de palavras utilizadas, a duração das conversas, e os padrões de fala estavam todos surpreendentemente semelhantes aos de seus cuidadores.
Além disso, eles também perceberam que no momento que a criança completava três anos de idade as tendências de quantidade de interação, crescimento do vocabulário e estilo de interação já estavam bem estabelecidas. E sugeriam um agravamento das disparidades observadas entre as crianças de níveis econômicos diferentes.
O pesquisador e autor Betty Hart descreveu os resultados de suas observações:
“Simplesmente em palavras ouvidas, a média das crianças menos favorecidas estava tendo metade do desempenho por hora (616 palavras por hora) que a média das crianças de renda média (1.251 palavras) e menos do que um terço do que uma criança de uma família de alta renda (2,153 palavras)”.
Levando em consideração uma semana típica de interação, as crianças de classe mais favorecida possuem uma média de 215 mil palavras de experiência com o idioma contra 125 mil nas de renda média e as tímidas 62 mil palavras nas de classe menos favorecida.
Aos quatro anos de idade uma criança de uma família de alta renda teria acumulado experiência com quase 45 milhões de palavras, uma criança de renda média com 26 milhões, e uma criança de classe baixa com 13 milhões de palavras.
Para garantir que as descobertas tinham implicações a longo prazo, 29 das 42 famílias foram recrutadas anos mais tarde para um estudo de acompanhamento quando as crianças estavam na terceira série.
Os pesquisadores descobriram que os resultados percebidos aos três anos de idade foram altamente indicativos quanto ao desempenho aos agora nove e dez anos de idade dessas crianças, tanto em vocabulário, quanto no desenvolvimento da linguagem e compreensão de leitura. Assim, o desenvolvimento construído aos três anos de idade teve uma grande influência sobre o progresso posterior.
O resultado impressionante traz, dessa forma, sérias reflexões sobre o impacto do estilo de vida proporcionado pelos pais aos filhos, já que as crianças de baixa renda acabam não possuindo as mesmas oportunidades de experiência e desenvolvimento proporcionadas por famílias economicamente melhores.
Conectando pais e crianças
A ideia de um paradidático mesmo antes da alfabetização, como o Banda da Floresta, tenta solucionar essa lacuna de desenvolvimento que pode acontecer com o não-estímulo a oralidade.
Para intensificar a compreensão e desenvolvimento, você pode durante a leitura:
Utilizar gestos e expressões faciais para ajudar as crianças a entenderem o sentido das palavras novas. Por exemplo, ao mencionar a palavra “alegria”, sorrir e movimentar os braços transmitindo assim o que ela significa.
Brincar com o novo vocabulário através de músicas, poesias ou rimas para reforçar seu significado.
Fazer perguntas, comentários, e estimular os pequenos a também eles pensarem e partilharem suas ideias.
Utilizar as ilustrações como forma de fornecer pistas sobre o significado das palavras.
As vantagens de uma abordagem inovadora
Pais que leem de forma inovadora com suas crianças estão promovendo a elas:
Desenvolvimento criativo e imaginativo
Estímulo à oralidade e capacidade linguística
Gosto leitor
Aumento do vocabulário
Ampliação do senso crítico
Ampliação do senso argumentativo
Reflexo mais tarde na capacidade de compreensão de texto
Fomento ao desenvolvimento da escrita ao londo dos anos
Experiência afetiva e educativa
Potencialização da sua concentração e atenção
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E você, cultiva o hábito da leitura com seus filhos?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Na última semana de novembro, o Porto Digital comemorou 15 anos de parque tecnológico. O empreendimento, que desde sua criação acumula uma jornada de realizações e prêmios, se tornou uma referência no país em inovação e tecnologia. As duas empresas iniciais deram lugar a uma rede de empreendedorismo e inovação hoje formada por 259 organizações.
Incubadoras, aceleradoras, multinacionais, startups, instititutos de pesquisa e companhias já consolidadas hoje integram o ecossistema do local. São mais de 7 mil profissionais que respiram inovação 24 horas por dia e desenvolvem projetos de software, serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa para setores como educação, bancos, indústria e comércio.
Nos últimos três anos o parque tecnológico faturou mais de 1,3 bilhão, com 65% de contratos originados fora do Estado, e continua a crescer.
A história de sucesso do Porto Digital se mescla com a trajetória de realizações da Escribo. Em 2004 fomos uma das empresas pioneiras no local, participamos do Conselho de Administração por vários anos e ajudamos a transformar o Porto no principal parque tecnológico do Brasil.
Em mais de uma década de atuação, somamos diversas conquistas que trouxeram visibilidade ao polo, entre elas o Prêmio Santander de Empreendedorismo e Inovação na categoria tecnologia em 2006 e o prêmio Young Creative Entrepreneur, promovido pelo British Country, em 2008. Também recebemos o Prêmio Finep de Inovação como empresa mais inovadora do Nordeste e uma das cinco mais inovadoras do Brasil em 2009 e 2012.
Fomentamos também o desenvolvimento de startups, através de mentorias, desenvolvimento de projetos e capacitações por meio de redes colaborativas, que acabaram atraindo novos empreendimentos ao local.
Mais de 40 produtos, entre jogos, aplicativos, redes sociais, portais, desenhos animados interativos, foram desenvolvidos desde então pela Escribo. Utilizando-se das mais variadas tecnologias para contribuir com o aprimoramento da educação, do entretenimento e da comunicação.
Esses produtos são utilizados hoje por milhares de alunos e professores em mais de 115 países e são frutos de uma postura de incentivo à inovação em diversos níveis, característica principal dos negócios desenvolvidos pelo Porto Digital.
No aniversário de 15 anos do parque, a Escribo comemora junto ao Porto Digital e divide a alegria de ter feito parte desse percusso de realizações e conquistas, construindo a história do Porto junto à própria história.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Segundo pesquisa divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o terceiro país que mais investiu proporcionalmente na educação. 82% a mais em relação a 2005 . Apesar disso, o gasto por aluno ficou entre os três piores dentre os mais de 30 países estudados.
Os dados fazem parte do mais recente relatório publicado mundialmente nesta terça-feira (24): Education at a Glance (Um olhar sobre a educação, em tradução livre). Em 2012, mais de 17% do total do investimento público brasileiro foi destinado à educação, ficando atrás apenas do México e Nova Zelândia.
Mesmo com o investimento total alto, o gasto por aluno da educação básica ainda continua baixo: cerca de 3.000 dólares anuais por aluno. O valor atinge aproximadamente um terço do que a média dos países da OCDE, que gastam cerca de 8.200 dólares por aluno dos anos iniciais, 9.600 por aluno dos anos finais e 9.800 por aluno do ensino médio.
Noruega e Suíça investem quase dez vezes mais que o país, e o Brasil perde ainda para latino-americanos como Chile e México, que gastam o dobro. Os índices nos inserem na 32ª colocação no ranking, dentre os 37 países com dados disponíveis analisados.
Avanços
Em outra perspectiva de análise, porém, mesmo os índices negativos apontados podem ser considerados promissores. O volume de recursos investidos em educação básica no Brasil foi da ordem de 4,7% do PIB, enquanto a média OCDE é de 3,7%. Quando comparado a 2005, o investimento por aluno da educação básica no país cresceu 210%, enquanto na média da OCDE esse crescimento foi de 121%.
Francisco Soares, presidente do Inep, em declaração concedida terça (23) durante o lançamento do relatório no Brasil, apontou que a dívida educacional brasileira “é muito grande, mas está sendo paga”.
E comentou sobre as diferenças econômicas e sociais entre os países pesquisados. “Quando se diz que o Brasil aplica um terço [de recursos por aluno] de países como a Bélgica, entende-se que é possível termos o mesmo valor aqui. Não é possível. A Bélgica tem quase três vezes o PIB [per capita] do Brasil ”
O comentado por ele, se deve em consideração ao fato da OCDE ser uma organização internacional formada em sua maioria por países desenvolvidos, de economias com elevados PIB per capita e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Enquanto o Brasil não faz parte do grupo, é apenas um dos parceiros.
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Como investimentos em educação possuem um retorno lento, e o Brasil apresenta um déficit grande no setor, ainda enfrentamos uma realidade longe da ideal. O cenário, no entanto é promissor: os efeitos são tímidos comparados aos países estudados, mas significativos diante dos índices anteriores.
Mesmo com o sistema educacional brasileiro em crescimento, você acredita que estamos dedicando o máximo potencial que poderíamos a educação?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
Com o avanço da tecnologia, o ensino tradicional pouco a pouco tem se modernizado. As escolas, atentas à popularização das ferramentas de informação e comunicação, investem cada vez mais em novo métodos de ensino e aprendizagem que atendam às demandas atuais dos estudantes.
Apesar de caminhar a passos lentos, a reforma educacional é uma realidade necessária e em ascensão. Contrariando antigos métodos, o principal objetivo das escolas se torna permitir uma maior aplicação do conhecimento teórico à prática e desenvolvimento dos alunos em sua totalidade. E nada mais é do que uma adaptação a uma realidade já vivida pelos estudantes.
Com isso, diversas tendências tem adentrado o cenário escolar e provocado uma verdadeira revolução a nível mundial no ensino. Enquanto os recursos tecnológicos incrementam e favorecem o compartilhamento de conhecimento, o aprendizado em si tem sido otimizado através de novas didáticas e perspectivas empregadas pelo professor em sala de aula.
A seguir, listamos algumas tendências de mudanças para a educação brasileira que devem ser fortalecidas em 2016. Tais rumos, ainda que incipientes na realidade do país, carregam consigo um enorme potencial de crescimento dado seu alto grau de impacto educacional.
1. Ensino adaptativo
Dois alunos não aprendem da mesma maneira, de tal modo que um modelo único de educação não consegue promover o desenvolvimento adequado em sala de aula.
Tem entrado em cena, então, oensino adaptativo, que nada mais é do que uma soma de diferentes estratégias adotadas em sala para comportar os diferentes tipos e estilos de aprendizagem percebidos nos alunos.
Por exemplo, alunos introvertidos nem sempre se dão bem em atividades em grupo ou apresentação de trabalhos, o que não quer dizer que não tenham habilidades diferenciadas em outros modelos de tarefa. Respeitar as diferenças é fundamental, promovendo assim oportunidades igualitárias.
É interessante observar, inclusive, que diversas tendências educativas têm se baseado nesse principio, como, por exemplo, a gamificação e as novas formas de avaliação empregadas; rumos que serão detalhados nos tópicos a seguir.
2. Gamificação
A gamificação é o uso de estratégias de interação e cooperação tipicamente encontradas em elementos de videogame na educação. Significa, em outras palavras, ensinar através de jogos e desafios.
Como características a esse método de ensino temos o estimulo ao cumprimento de determinados objetivos, o feedback constante, a competição e recompensa; podendo ser utilizado em sala com ou sem suporte tecnológico.
Além de ser uma tática que gera rápido engajamento entre os alunos, a gamificação tem a vantagem de promover o ensino adaptativo mencionado no tópico anterior, porque leva em conta as peculiaridades e ritmos de cada estudante de maneira personalizada.
Conteúdos que já foram/são trabalhados tradicionalmente por muitos anos ganham, dessa forma, nova perspectiva, devido a atmosfera diferenciada promovida por essa abordagem.
3. Novas formas de avaliação
Provas objetivas são tradicionalmente o método mais empregado para avaliação do aprendizado nas escolas. Apesar disso, esse sistema avaliativo tem entrado em declínio dada sua limitação, já que mensura apenas uma das dimensões da aprendizagem.
A tendência para 2016 é que um mix de ferramentas avaliativas sejam cada vez mais utilizadas, englobando não apenas provas escritas, mas também seminários, trabalhos em grupo, debates, relatórios individuais, autoavaliação e observação.
Um exemplo de forma de avaliação interessante acontece na França, onde a nota do aluno vai de 0 a 20. O “10” aqui tradicionalmente empregado como nota máxima, cumpre a função do nosso 7, representando que o aluno ficou na média, apresentando desempenho mediano. O 17 assume então a posição do 10, o que significa que o aluno cumpriu o potencial esperado pelo professor.
O grande diferencial dessa metodologia é que o espaço entre o 17 e o 20 está reservado aos alunos que de alguma formar supreeenderam o professor, indo além das expectativas. Estimulando assim, o desenvolvimento do potencial em sala.
4. Livros digitais interativos
Outro recurso que tem ganhado destaque por conta dos seus impactos educacionais são os livros digitais interativos, ferramentas utilitárias bem mais ricas do que meros e-books.
Um livro digital interativo permite não apenas a visualização em tela do conteúdo do livro, mas também aplicações práticas através de jogos, animações, simuladores e infográficos, promovendo de modo mais completo a aprendizado.
Com o crescimento do uso de tablets em sala, diversas editoras têm investido da adaptação de seus livros para esse mercado, o que tem intensificado o uso por parte das escolas.
Para o nosso projeto de musicalização infantil o Turma do Som, por exemplo, desenvolvemos uma versão digital bastante rica, que inclui jogos, atividades e desenhos animados.
5. Inserção de atividades extracurriculares
Aula de xadrez, dança, teatro, circo, balé e atividades no âmbito tem sido cada vez mais adotadas como matérias opcionais nas grades curriculares. O motivo? São atividades que influenciam diretamente o rendimento dos alunos ao provocar melhoras na autoestima, criatividade e até mesmo raciocínio lógico.
Além disso, elas acrescentam e transformam os conteúdos escolares, complementando de maneira mais inovadora o ensino e indo muito além que simples eventos pontuais promovidos ao longo do ano como feiras culturais, por exemplo.
Colégios que adotam essas atividades tornam a escola um universo mais lúdico e atraente, ampliando os horizontes das relações educativas.
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Os parâmetros escolares devem ser compreendidos como um processo contínuo de constante modificação. A educação é, afinal, retrato da sociedade e precisa sempre se adequar a ela.
Essas tendências, em especial, ganham foco por colocarem o aluno no centro da aprendizagem, já que transformam a esfera coletiva da educação em massa num processo mais personalizado e adaptativo.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
A educação brasileira ainda passa por desafios longe de serem solucionados. A desvalorização dos professores e alta evasão de alunos ainda na educação básica são exemplos de alguns dos sintomas de um sistema fraco, cujos poucos avanços nem mesmo os índices conseguem disfarçar.
O analfabetismo hoje
De acordo com a última pesquisa divulgada pela IBGE, o índice de analfabetismo caiu de 8,7%, em 2012, para 8,5% em 2013. O resultado, fruto da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), considera o índice de brasileiros com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever.
Apesar de ligeira melhora, os resultados não podem ser comemorados quando comparados as pesquisas mais recentes realizadas na educação básica dos colégios brasileiros.
Segundo resultados obtidos através da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, 56,17% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental de 20 estados apresentou desempenho fraco em leituras.
O 3º ano foi escolhido como marca por ser um divisor de águas: de acordo com o MEC, nessa fase escolar as crianças já teriam bagagem suficiente para ler e escrever adequadamente.
Aos 8 anos de idade, mais da metade dos estudantes brasileiros atingiram os níveis mais baixos de avaliação (que varia de 1 a 4), o que significa que são capazes apenas de ler textos muito simples e, em alguns casos, não conseguem entender sobre o que ele trata.
Num panorama geral o resultado mostra que a cada 100 alunos, 22 não possuem sequer o nível mínimo (1) de leitura; na prática, significa que não conseguem ler uma frase inteira.
Analfabetos funcionais
A falta de progresso foi tão alarmante que comprometeu a aplicação do estudo: com a iminência de repetição dos maus resultados o Ministro da Educação suspendeu a aplicação do exame nacional de alfabetização em 2015.
A incoerência nos dados entre o PNAD e ANA forma um alerta imenso para a educação brasileira: estamos formando apenas analfabetos funcionais.
Como o PNAD avalia apenas o simples ato de ler ou escrever, já que seu sistema funciona por um formulário de perguntas respondido por um integrante do domicilio, ele desconsidera graus de desempenho nessas atividades.
Por outro lado, o ANA traça um panorama mais completo: é possível identificar os níveis de leitura ou escrita de cada aluno em particular. E com índices tão baixos alcançados, o futuro dessas crianças fica comprometido e limitado por uma alfabetização extremamente básica, quase rudimentar.
O Plano Nacional da Educação (PNE) lançado em 2014 que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos, contempla a universalização da alfabetização em sua Meta 5, prevendo que todas as crianças do país devem estar alfabetizadas, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental, até 2024.
As negligências e dificuldades de implementação, porém, já tiveram início: passado um ano desde sua aprovação, nem todos os planos estaduais nem os municipais de educação tiveram lei aprovada e sancionada. Além disso, o corte de R$ 9,42 bilhões na verba do Ministério da Educação acentua ainda mais a dimensão do problema.
As soluções possíveis
O caminho para a melhora da alfabetização no país em teoria também é contemplada por algumas iniciativas do PNE, é preciso:
1. Estabelecer uma política de valorização dos profissionais da educação, com salários atrativos e condições de trabalho adequadas, além de oportunidades de crescimento.
2. Garantir suporte educacional ao aluno, uma vez que os professores estejam de fato engajados e dotados de condições para ministrar as aulas. Isso quer dizer o acesso pleno a escola, uma base pedagógica de qualidade, além da articulação com espaços educativos, culturais e esportivos, revitalizando os projetos pedagógicos nessa direção.
3. Uso da alavanca tecnológica para influenciar na otimização das aulas. Embora não explorada pelo PNE essa última dimensão poderia causar um impacto muito positivo no rendimento dos alunos rumo à alfabetização plena. Não quer dizer disponibilizar tablets ou computadores aleatoriamente, mas oferecer material didático interativo, dinâmico e com instrumentos de avaliação estruturados.
A redução da taxa de analfabetismo impacta diretamente o desenvolvimento do país e é um dos grandes desafios enfrentados pela educação brasileira hoje.
Não se trata de maquiar ou minimizar os índices nem mesmo utilizar-se de medidas paliativas. Refere-se, porém, ao impulsionamento da qualidadepedagógica de nossas escolas, provocando sensíveis mudanças em nosso sistema educacional. O objetivo é garantir, assim, melhores perspectivas e oportunidades aos alunos desde o ensino básico.
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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