No Reino Unido, uma notícia recente ganhou notoriedade. A linguagem de programação “Python” ultrapassou o francês como língua mais popular ensinada nas escolas primárias, segundo pesquisa divulgada nesse último mês.
De acordo com o estudo, seis em cada dez pais preferem que seus filhos em idade escolar aprendam a linguagem de codificação no lugar de francês. Enquanto 75% das crianças afirmaram que preferem aprender a programar um robô do que estudar uma língua estrangeira.
A pesquisa analisou respostas de 2000 estudantes divididos entre as faixas etárias de 5 a 11 anos e 11 a 16 anos, e cerca de 1000 pais com filhos em idade escolar. Realizada pela Ocado Technology, ela visava avaliar e entender os progressos realizados com o novo currículo de computação nos colégios do Reino Unido, cuja implantação completou um ano semana passada.
Em resposta aos resultados, a Ocado Technology está pedindo ao governo para tornar a matéria de ciência da computação obrigatória como matemática e Inglês, e aumentar a formação de professores para ministrar o currículo.
A pauta não é exatamente uma surpresa. Nos últimos anos temos visto uma tendência crescente por uma educação que atenda melhor as novas demandas da sociedade atual. No Brasil, por exemplo, tivemos em 2008 a inserção de música nos currículos escolares brasileiros como matéria obrigatória aos anos iniciais.
Mas seria uma linguagem de programação tão – ou mais – importante que o aprendizado de uma segunda língua?
Controvérsias à parte, o ensino de programação no colégios vem ganhando diversos aliados. Bill Gates, Mark Zuckerberg e outros executivos na área de tecnologia num vídeo chamado What Most Schools Don’t Teach (O que a maioria das escolas não ensinam, em tradução livre) comentam justamente sobre importância desse aprendizado.
Eles relatam a escassez atual de bons programadores, e demonstram apoio a linguagem de programação como disciplina tão importante quanto outras presentes nas atuais grades curriculares dos colégios.
A ideia central no vídeo gira em torno, principalmente, do seguinte fato: enquanto computadores estão em toda parte e a tecnologia é – ou tem se tornado – base de apoio a qualquer área de atuação, a linguagem de programação continua sendo estudada por parcela pouco significativa da sociedade.
Segundo o clipe, temos um déficit (a nível mundial) estrondoso de profissionais especializados, e isso não pode ser mudado sem o estímulo crescente de investimentos no setor.
Tal como esportes ou aprender a tocar um instrumento a linguagem de programação pode aparentar ser um desafio, mas se trata, sobretudo, de aplicar um conhecimento básico de matemática para conseguir soluções. É preciso apenas determinação para aprender.
Ainda sobre o vídeo, Satya, CEO da Microsoft, comenta que a ciência da computação leva às melhores oportunidades no mundo. Enquanto o instituto que promoveu o clipe, chamando CODE, defende que todos os alunos, em todas as escolas, devem ter a oportunidade de aprender ciência da computação.
Diante desses argumentos e de volta a nossa discussão, o estudo da linguagem de programação encontraria, portanto, maior justificativa em detrimento ao aprendizado de uma segunda língua?
Bom, talvez. Em países cuja língua materna é o inglês, a resposta é provavelmente mais fácil. Além do inglês ser a linguagem universal, é também ele o mais usado em códigos de computação. Dessa forma, o estudo de outro idioma nessas condições, acabaria sendo minimizado em detrimento ao estudo da linguagem de programação.
Por outro lado, quando pensamos no Brasil e em outros países cujo primeiro idioma não é o inglês, a história já não é tão simples. O estudo da linguagem de programação por si só exigiria um conhecimento básico do inglês, causando uma relação de dependência de um sob o outro.
E que ganha dimensão ainda maior aqui no país, já que ocupamos a 38º posição no ranking de proficiência em inglês entre nações que não possuem esse idioma como língua nativa.
Independente, porém, de qualquer conexão estabelecida entre o ensino de uma segunda língua e a linguagem de programação, é coerente afirmar que os largos avanços em tecnologia e a importância atual dos computadores em nosso cotidiano não pode ser ignorada.
Desse modo, a adição da linguagem de programação aos currículos escolares nada mais é do que uma resposta as necessidades da sociedade contemporânea. Enquanto o estudo de outros idiomas (ao menos em países com proficiência em inglês), segue como complemento de aprendizagem, sem acumular, porém, o peso do estudo de programação.
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Como visto, a linguagem de programação está sendo defendida e adotada nos currículos escolares de diversos países.
Você acha que em breve teremos essa adoção na grade curricular brasileira? Concordaria com ela?
E com relação ao aprendizado de uma segunda língua: valeria a pena adicionar programação em detrimento do ensino do espanhol no contexto atual da educação brasileira?
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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