Melhorar o rendimento em sala de aula é um assunto de amplo interesse para educadores e professores.
É comum percebermos que a maioria das aulas não consegue manter os alunos interessados, ou não atingem o potencial esperado pelo professor.
Sem dúvida, uma boa pista é olhar para o tempo de interação professor-turma: se por qualquer motivo esse tempo é reduzido, as chances da aula ser prejudicada são altas.
Por esse ser um problema pertinente, há bastantes estudos e pesquisa feitas para entender quais fatores influenciam a qualidade das aulas.
Nem sempre é possível identificar exatamente o que está interferindo no processo de aprendizagem, mas alguns elementos podem ser condicionados para otimizar o tempo em sala.
Ao analisar estudos e pesquisas, separei os três números mais importantes para que você possa melhorar as aulas. A ideia é catalisar o processo de docência influenciando e alterando fatores que independem das particularidades de ensino (das características do professor ou da aula).
Pronto para descobrir as 3 estatísticas mais preocupantes sobre a sala de aula brasileira e o que você pode fazer a respeito?
1. +100h de aula são gastas em… nada
Fazer chamada, apagar o quadro, distribuir ou recolher trabalhos e exercícios.
Parecem atividades simples certo? Bem tradicionais ao cotidiano de qualquer sala de aula.
Surpreendentente, segundo um estudo recém lançado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essas atividades rotineiras ocasionam a perda de 13% do tempo de aula.
Em um ano, a perda acumulada por simples aspectos ligados ao gerenciamento organizacional de ensino passa de 100h.
Apesar de parecer um número bastante elevado, é só imaginarmos, por exemplo, uma turma com 50 alunos, e o tempo desperdiçado pelo professor para marcar na caderneta a frequência ou ausência de cada um deles.
Sabemos que nem sempre é possível eliminar facilmente de atividades burocráticas, elas acabam sendo inevitáveis em determinadas situações, podendo ser minimizadas com um planejamento apropriado.
É fundamental, porém, que além de um bom preparo por parte do professor, a escola ofereça o suporte adequado aos docentes, garantindo uma estrutura escolar que acelere aspectos rotineiros.
2. Os professores passam um dia por semana pedindo silêncio
Indisciplina e bagunça acabaram se tornando frequentes em sala de aula, casos de professores que perdem grande parte do tempo tentando controlar a turma se multiplicam de maneira preocupante no país.
E é fato comprovado por estudos: de acordo com relatório publicado esse ano também pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma pesquisa realizada entre 33 países sobre o rendimento dos alunos, apontou o Brasil como o número um do ranking em desperdício de tempo com bagunça em sala de aula.
Com cerca de 20% do tempo de aula dedicado a por a classe em ordem. O número elevado, ganha ainda maior dimensão quando somado ao tempo perdido com burocracia.
Diminuir as conversas em sala, ou mesmo maximizar atenção do aluno, são tarefas complicadas, que exigem bastante dos professores. A melhor maneira de lidar com esses fatores é através da construção um sensível, porém importante, canal de relacionamento eficaz com os alunos.
O que os interessa? De que forma esses interesses podem ser aliados as táticas de ensino?
A interatividade entre docentes e discentes precisa ser trabalhada e adaptada constantemente.
Além disso, a construção de uma cultura escolar que incentive o desenvolvimento de projetos e atividades, participação do pais ou responsáveis, troca de conhecimentos entre alunos e/ou entre salas, e estímulo ao feedback, moldam-se essenciais para a melhoria do aprendizado dos alunos.
3. Brasileiros perdem 3x mais tempo copiando conteúdo do que o país referência da América Latina
Tanto no momento da alfabetização, quanto nas série mais avançadas é comum observarmos a utilização da cópia no processo de aprendizagem.
Enquanto para o menores a atividade acaba sendo utilizada pela repetição constante de determinadas palavras ou exercitação mecânica para memorização ou treino ortográfico.
Entre os alunos mais velhos a prática geralmente acontece pela replicação de atividades dos livros didáticos, ou transcrição de conteúdo disponibilizado pelo professor unicamente através da escrita no quadro, sem possibilidade de material de apoio disponível.
A tática, entretanto, acaba sendo bastante questionada por pesquisadores da área. Buscando compreender porque estudantes cubanos geralmente obtinham desempenhos melhores quando comparados a outros da América Latina, um economista americano realizou um estudo entre 36 escolas de Cuba, Chile e Brasil.
Entre os resultados, uma das conclusões do estudo verificou que o tempo de cópia em território nacional é o triplo do que o registrado nas salas de aula cubanas, colocando em cheque a utilização desse método.
É interessante observamos, portanto, que a utilização pedagógica da cópia só deve acontecer quando seu propósito resultar, de fato, na aprendizagem do aluno.
No caso dos alunos mais novos, se a tática favorece o desempenho de escrita e leitura, não se tratando apenas de uma transcrição vazia para preenchimento de tempo, ela pode acontecer sem grandes problemáticas.
No caso dos estudantes mais velhos, porém, o processo de cópia geralmente está ligado apenas a falta de material de suporte adequado, e interfere no tempo dedicado pelo professor a transmissão de fato dos conhecimentos da matéria.
Nessa hipótese, a melhor saída é o desenvolvimento de material pedagógico que otimize a construção do conhecimento em sala.
Há um jeito integrado de corrigir os problemas mais comuns com a sala de aula brasileira?
Driblar os aspectos descritos são tarefa cotidiana. Mudanças e inclusão de novos processos devem ser incorporadas pouco a pouco, incrementando o processo educacional e adaptando-se a realidade de cada escola.
Ademais às alternativas citadas, hoje em dia a tecnologia consegue aprimorar de maneira bastante satisfatória o processo educacional, e nos casos descritos acima, poderia ser determinante para o sucesso dos professores em sala de aula.
Aspectos burocráticos conseguem ser acelerados facilmente por ela, com chamadas eletrônicas e automáticas, ou envio e recolhimento de atividades ocorrendo virtualmente.
A utilização de material de apoio interativo, por sua vez, poderia aumentar bastante o interesse e disposição dos alunos, reduzindo a bagunça e desatenção, além de erradicar drasticamente a cópia pela cópia.
Aliás, isto já é unanimidade entre os professores: soluções pedagógicas com um cunho tecnológico auxiliam, por reduzir o tempo gasto em planejamento de aula, em correção de atividades e aumentar o engajamento dos alunos.
A única ressalva dos professores, como mostrou uma pesquisa realizada pela Fundação Lemann em parceria com a Instituto Paulo Montenegro e o Ibope Inteligência, é a necessidade de treinamento e capacitação no sistema pedagógico implantando.
Contudo, uma vez que treinados, cerca de 92% dos docentes vêem como algo positivo a disponibilização de materiais didáticos digitais de qualidade.
Para tanto, a escolha dos materiais, bem como suas formas de uso e aplicação precisam ser coordenadas e discutidas entre professores, coordenadores e diretores, de modo que sua inserção seja bem alocada e gere usufrutos positivos, alinhados aos objetivos pedagógicos e organizacionais da escola.
Onde podemos chegar se corrigirmos esses problemas?
Com o ensino de qualidade acontecendo livre de barreiras, e num cenário educacional promissor, é unanimidade a compreensão que os resultados são bastante positivos a curto e longo prazo.
O desenvolvimento da educação propicia, afinal, a redução significativa da diferença entre pobres e ricos, já que retira da marginalidade as classes sociais mais baixas.
A multiplicação de oportunidades fomenta, por sua vez, o desenvolvimento econômico: alterações significativas no sistema educacional do país promoveria ao Brasil multiplicar por 7 o valor do seu PIB.
Consegue imaginar esse cenário? Um país mais igualitário, justo e com mais oportunidades para todos? Isso está a nosso alcance.
Basta focarmos no que podemos melhorar: a educação!
Américo é doutor em educação pela Johns Hopkins University. Pesquisador em educação, fundou a Escribo onde trabalha com as escolas para fortalecer o aprendizado das crianças.
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